Mostrando postagens com marcador Star Plus. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Star Plus. Mostrar todas as postagens

28/08/2023

,

Crítica do filme: 'O Sexto Sentido' *Revisão*


Você sabe porque sente medo quando está sozinho? Nos guiando para olhares diversos sobre o medo e o luto sob uma peculiar perspectiva, O Sexto Sentido e sua hipnotizante trama tem no seu alicerce o trauma como a estrada que percorrem dois protagonistas que se unem por respostas para seus conflitos. Escrito e dirigido pelo cineasta M. Night Shyamalan, Indicado para seis Oscars, esse projeto é aquele que na segunda vez que assistimos tudo fica mais óbvio. Então as surpresas de uma primeira jornada só se tem uma vez.


Na trama, ambientada no sul da Filadélfia, conhecemos Malcolm (Bruce Willis) um psicólogo infantil que após um trauma com um antigo paciente vê seu casamento entrar em uma crise profunda, sua esposa nem mais o olha sequer. No outono depois, apresentado a um novo paciente, um jovem com diversos conflitos e repleto de medos de algo que não conta a ninguém e por isso tem um cotidiano conflituoso com a mãe. Aos poucos, paciente e psicólogo vão embarcando em uma jornada onde um ajuda o outro quando as surpresas pelo caminho começam a serem reveladas.


“Eu vejo pessoas mortas”, uma frase que se tornou emblemática, um símbolo de uma obra-prima do suspense que é muito mais profundo quando fazemos uma análise ampla sobre os intrigantes conflitos do personagens. Como mencionado, o trauma é a estrada que percorrem os dois protagonistas. Um jovem que associa seus medos a um fato inusitado de enxergar pessoas que já se foram, não conseguindo se encaixar socialmente, vivendo uma rotina solitária buscando soluções para sobreviver dentro do caos emocional que só transborda. Do outro lado, vemos um experiente psicólogo que de tanto se dedicar aos seus pacientes, esqueceu do próprio casamento e dos momentos com a esposa sendo punido pelo destino quando o passado lhe traz um forte trauma, algo difícil de esquecer. Quando essas correntes se encontram, um terceiro ponto, o luto, se torna ferramenta importante da pulsante narrativa.


O filme, que completa 24 anos em 2023 e que colocou M. Night Shyamalan em outra prateleira aos olhos de Hollywood, foi o segundo maior em bilheteria no ano de seu lançamento, 1999, perdendo apenas para Star Wars: Episódio I – A Ameaça Fantasma. No ano de sua chegada às locadoras, foi o filme mais alugado com a incrível marca de mais de 80 milhões de aluguéis. O projeto marca uma das grandes atuações da carreira de Bruce Willis no cinema.


Pra quem se interessar, o filme está disponível no catálogo da Star Plus.



 

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Sexto Sentido' *Revisão*

12/08/2023

,

Crítica do filme: 'Scarface' *Revisão*


Quando a ganância encontra a inconsequência. Mostrando os avanços do crime organizado, principalmente o tráfico de drogas em um Estados Unidos tomados por avanços criminosos por todos os lados, Scarface, ao longo de suas quase três horas de duração, escancara a violência sem deixar pelo caminho críticas sociais de uma terra de oportunidades. Dirigido pelo genial Brian de Palma e com roteiro assinado por ninguém mais ninguém menos que Oliver Stone, baseado num livro homônimo escrito por Armitage Trail, o filme completa 40 anos em 2023.


Na trama, conhecemos Tony Montana (Al Pacino) um perigoso criminoso cubano que chega aos Estados Unidos no início da década de 80 ao lado de alguns comparsas e logo busca seu espaço na ilegalidade se infiltrando em organizações criminosas pela cidade de Miami. Com um histórico violento ele começa a ascender na organização e prepara o terreno para assumir seus próprios negócios que envolvem em grande parte o contrabando de drogas de países sul-americanos para os Estados Unidos. O tempo vai passando e o império de Montana só aumenta o levando a ser alvo de concorrentes e ações policiais ao mesmo tempo em que se perde de sua própria realidade.


Para um melhor entendimento sobre essa obra, é preciso entender o contexto daquela época. No início da década de 80, o até então manda chuva de Cuba, Fidel Castro, abriu um dos portos de seu país com a oportunidade para cubanos com parentes da terra do tio Sam pudessem enfim sair de Cuba, porém, muitos criminosos embarcaram nessas viagens (que passaram das 3.000 embarcações). Esse é o pontapé inicial dessa história, com um protagonista que se encaixa nesse perfil de criminosos que chegaram em Miami pra tocar o terror.


Filmado quase todo em Los Angeles, mesmo que o filme seja ambientado em uma Miami dos anos 80, a ascensão e queda de Montana, esse terrível traficante e alucinado usuário de drogas, passa por todo um sistema. A narrativa é bastante detalhista nesse sentido. Corrupção policial, de banqueiros, uma região em crise pelo avanço de drogas pesadas, disputas territoriais pelo comando do contrabando, tudo é visto pela ótica do protagonista.


Scarface é um dos trabalhos mais impactantes, e lembrados, da carreira de Pacino no mundo do cinema. Pra quem ainda não viu, ou quer rever esse clássico de Brian De Palma, o filme está disponível no streaming da Star Plus.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Scarface' *Revisão*

28/07/2023

, , , ,

Crítica do filme: 'O Lobo Atrás da Porta' *Revisão*


Do que o ser humano é capaz? Com um excelente roteiro, inspirado num caso que chocou o Brasil, conhecido como Fera da Penha, O Lobo Atrás da Porta completa 10 anos em 2023 sendo considerado por muitos um dos grandes filmes brasileiros da última década. Nos mostrando o sumiço de uma criança, um tenso interrogatório com versões de uma mesma história, o filme passa um raio-x na obsessão, impulsividade, na violência. Quem está mentindo? Qual a verdade? Ao longo dos 101 minutos de projeção detalhes de um chocante crime vão sendo revelados dentro de um alto clima de tensão.


Na trama, conhecemos Bernardo (Milhem Cortaz), um fiscal de uma empresa de ônibus, casado com Sylvia (Fabiula Nascimento) com quem tem uma filha. Quando a garota desaparece misteriosamente após ser pega por alguém na creche em que estava, Bernardo e Sylvia vão até a polícia onde um tenso interrogatório acontece. O delegado de plantão (Juliano Cazarré) começa a desconfiar de algumas versões da história e logo se descobre que Bernardo tem uma amante chamada Rosa (Leandra Leal) que também é convocada para prestar depoimento. O tempo passa e as verdades começam a aparecer.


Exibido em muitos festivais de cinema, inclusive no Festival de Toronto (onde estreou) e também no Festival do Rio (onde levou dois prêmios), O Lobo Atrás da Porta tem uma narrativa brilhante, tudo funciona para não deixar o clima de tensão escapar, onde o vai e vém nas histórias dos envolvidos acabam trazendo enormes surpresas. A traição é um ponto central, onde tudo começa, se desenvolve e termina, há um olhar minucioso para conflitos nos relacionamentos, onde o lado psicológico chama a atenção em relação as ações e consequências nas portas que são abertas para esses conflituosos personagens.


Rosa é a mais intrigante personagem, sonsa, obsessiva, dissimulada, se mostra capaz de qualquer coisa para não sair da sua bolha de carência que é repensada com a chegada de um novo amor, mesmo esse sendo casado e a usando como objeto de desejo. As reflexões sobre nossa sociedade e as formas de enxergar a violência, a vingança, se colocam sob as ações dessa chocante personagem. Brilha em cena Leandra Leal, uma das melhores atrizes em atividade no nosso cinema.


Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta Fernando Coimbra, em seu primeiro longa-metragem, o filme teve orçamento abaixo dos 2 milhões de reais, muito abaixo de outras produções nacionais. O projeto nas bilheterias brasileiras alcançou nem 30.000 espectadores. O que gera várias perguntas: Por que as pessoas não foram assistir? Será que ainda existia/existe algum pré-conceito ou mesmo preconceito com as produções brasileiras no nosso próprio país? Quantas salas de cinema colocaram o filme? Será que as salas de cinema que não colocaram o filme em cartaz estavam repletas de produções internacionais? Para se pensar!


Para quem se interessou em conferir, o filme está disponível na Star Plus, na Netflix e na HBO Max.



Continue lendo... Crítica do filme: 'O Lobo Atrás da Porta' *Revisão*

24/07/2023

,

Pausa para uma série: 'A Superfantástica História do Balão'


Com um dos trailers mais bombásticos de um projeto brasileiro com estreia no mundo dos streamings dos últimos tempos, A Superfantástica História do Balão, série documental de três capítulos disponível na Star Plus busca apresentar visões do começo, meio e fim de uma história repleta de variáveis de um conjunto musical de sucesso, depois astros de um programa de televisão na emissora mais poderosa do país, que marcaram gerações de fãs, lembrados até hoje, a Turma do Balão Mágico. Com polêmicas e buscando se aprofundar na visão do negócio, dos bastidores, esse projeto apenas fica na superfície em algumas questões na rica história que todo o Brasil conhece.


40 anos depois do início da banda e 10 anos depois do último encontro, os antigos artistas mirins, Toby, Simony, Mike e Jairizinho se reúnem novamente em um papo franco, juntos e de forma individual, botando para fora toda sua visão dessa intensa experiência de uma carreira de sucesso mas também que gerou traumas, lágrimas, logo no início da vida deles. Em complemento, depoimentos de personalidades, como: Lázaro Ramos, Fabio Jr, Pepeu Gomes, Baby do Brasil, Simoninha, Raul Gil, Rita Cadillac que vivenciaram cada qual de uma forma o sucesso do grupo. Há um destaque, em depoimento separado dos demais, de um ex-diretor musical do grupo mas não é explicado o motivo dele dar seu depoimento longe dos outros.


O pioneirismo tem preço? Recordes de vendas de discos, sucesso de audiência na televisão, a cena cultura brasileira dos anos 80 foi impactada com a chegada no ano de 1983 desse conjunto musical composto por crianças que fariam um tremendo sucesso, numa época onde a faixa etária infantil não era público alvo de artistas. Nas paradas musicais mais de 5 milhões de cópias vendidas, na televisão líderes de audiência por quase três anos com mais de 1000 programas produzidos. Quando grande parte do grupo abandonou o projeto, outros integrantes chegaram mas já perto do fim do grupo. Os altos e baixos dessa trajetória, além de alguns conflitos, são vistos nos três episódios. Uma das perguntas que fica no ar é: Por que o grupo acabou?


O que acontece quando você cresce? Diversos pontos de vistas sobre situações que viveram e também uma análise atual sobre aqueles tempos ajudam a responder a pergunta acima. Mas a certeza é que não foi uma coisa instantânea, foi com o tempo. Nesse ponto, algumas questões se entrelaçam, como as estratégias de mercado e a troca da primeira empresária. Há tempo também para pequenos recortes das vidas pessoais de cada um dos quatro principais integrantes do grupo, nesse momento a história de Michael Biggs, o Mike, rouba a cena, com revelações bombásticas sobre sua vida.


A Superfantástica História do Balão pode ser visto como um complemento de informações e curiosidades para os fãs do grupo, busca em sua linha narrativa mostrar o antes e o depois de um grupo que marcou para sempre seu nome na história da cultura popular brasileira.



Continue lendo... Pausa para uma série: 'A Superfantástica História do Balão'

08/07/2023

Crítica do filme: 'Chevalier: A Verdadeira História Nunca Contada'


Quando a maior maldade é nos convencer que não temos escolha. Nos tempos de Mozart e Maria Antonieta, nos prelúdios da revolução Revolução Francesa, um espetacular músico franco-caribenho luta contra o preconceito e consegue seu lugar na alta sociedade francesa se posicionando de forma impactante nas mudanças sociais de uma França à beira de mudanças. Exibido no Festival Internacional de Cinema de Toronto do ano passado, Chevalier: A Verdadeira História Nunca Contada mostra com maestria a história nunca contada desse exímio músico negro que escreveu sinfonias, concertos, óperas e marcou para sempre seu nome no cenário cultural europeu. A direção é assinada pelo ótimo Stephen Williams.


Na trama, conhecemos Joseph Bologne (Kelvin Harrison Jr.), nascido em Guadalupe, lugar que fica nas ilhas ao sul do mar do Caribe que pertence à França, filho de uma escrava e um senhor de terras que desde pequeno mostra sua vocação para música. Ele, sempre muito confiante e driblando o preconceito de muitos ao seu redor, consegue entrar na prestigiada Academia La Boessière onde desenvolve inúmeras habilidades virando um genial esgrimista, um gênio do violino. Os anos se passam e Joseph consegue grande destaque na alta sociedade francesa e em um determinado ponto, com um olhar crítico para tudo que acontece em uma Paris empolvorosa, escolhe seu lado na luta pelos direitos humanos.


A direção de Stephen Williams é primorosa. O cineasta com longa passagem no mundo dos seriados, dirigindo episódios de renomadas seriados como: Lost, Watchmen, Westworld, Bloodline apresenta sua contagiante narrativa através de detalhadas passagens de tempo na vida de Bologne. Suas dores, seus dilemas, suas angústias, seu grande amor, sua relação com a mãe, correm em paralelo com todo o contexto político dessa turbulenta época da história francesa que desagua em um clímax profundo, cheio de reflexões, um concerto em prol dos direitos humanos que ficou marcado na sua trajetória.


O contexto por aqui é fundamental para imersão do espectador, uma grande aula de história ao longo das pouco menos de duas horas de projeção é vista. Em 1789, o povo se revoltou contra a monarquia e principalmente contra a figura sempre controversa de sua rainha (no filme interpretada por Samara Weaving). A construção do protagonista nos mostra o todo de desse período, entre duelo de violinos, e pontos marcantes na vida do coroado Chevalier de Saint Georges. Sua relação com a mãe também é um dos pontos altos do filme. Ela que era propriedade de seu pai, com a morte desse, alforriada, é entregue a Joseph. Um diálogo emocionante entre mãe e filho, já no arco final diz muito sobre o que se escorre nas entrelinhas em uma época de muito preconceito.


Há uma importância gigante, cultural e social, dessa história ser contada. Quando Bonaparte apareceu no cenário político, anos após Antonieta, reestabeleceu a escravidão nas colônias francesas e por consequência proibiu Bolagne de se manifestar pelo seu ofício, fato que deixou grande parte da obra do artista cair aos poucos em esquecimento sendo somente redescoberta anos mais tarde. Que bom que existe o cinema, entre outras artes, que resgatam histórias que servem de inspiração e não deixam cair no esquecimento fatos importantes de outrora.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Chevalier: A Verdadeira História Nunca Contada'

05/07/2023

,

Pausa para uma série: 'Agentes do FBI'


O que foi, o que é, e o que pode ser. A visão de uma turma de aprendizes do FBI sobre o mundo virtual mapeando o mundo real, conectadas por novas leis ligadas a avançada nova tecnologia, é a base de Agentes do FBI, minissérie disponível na Star Plus criada por Tom Rob Smith. Em três linhas temporais, uma no presente, uma no passado e uma no futuro, vamos percorrendo a obsessão pelo trabalho, os dilemas pessoais, as difíceis escolhas, os traumas que nunca vão embora de diferentes personagens e seus respectivos pontos de vistas na hora de entender mudanças drásticas na instituição que fazem parte. As relações pessoais são a base do refletir dessa distopia, através de um microscópio social proposto.


Na trama, acompanhamos um grupo de novos recrutas que são selecionados para fazerem parte de uma nova turma do FBI que vai se formar no ano de 2009. Assim, acompanhamos alguns protagonistas e suas dificuldades no início do recrutamento, depois no presente, já com alguma experiência na nova profissão, e também no futuro, onde uma série de situações acaba culminando na chegada forte de uma inteligência artificial que passa a realizar julgamentos de futuros transformando leis em donos de destinos onde o estado democrático aos poucos de torna um perigoso autoritarismo.


Ficção científica camuflada de drama policial, Class of '09, no original, joga luz sobre os recortes profundos sociais quando surge a variável da tecnologia desenfreada ligada às leis. As evidências, as relevâncias, entre outros pontos, se tornam variáveis com enorme peso, como se as linhas do algoritmo criado fosse capaz de prever situações através de uma estatística cheia de falhas. A visão dos personagens nessa trajetória é fundamental para entendermos as ações que são tomadas ao longo da longa linha temporal. Onde mais enxergamos pontos de refletir através da desconstrução na maneira de pensar é no personagem Tayo (interpretado pelo indicado ao Oscar Brian Tyree Henry), um brilhante agente que de aprendiz virou o chefe do FBI no futuro e se vê em conflito quando percebe as reais interpretações do que seriam as novas ‘Buscas pela justiça’.


Ao longo dos vigorosos oito episódios, o espectador precisa estar atento, em um mesmo episódio é um vai e vem danado na linha temporal. Como o debate proposto sobre a tecnologia é muito impactante, algumas subtramas (relacionadas a vidas pessoais) não conseguem profundidade, mas nada que atrapalhe a narrativa que executa com muito dinamismo as linhas do roteiro.


Agentes do FBI se torna marcante por trazer para debate os perigosos caminhos que se chega em uma ditadura, no autoritarismo, na censura, onde códigos culturais são substituídos por códigos artificiais.



Continue lendo... Pausa para uma série: 'Agentes do FBI'

27/05/2023

Crítica do filme: 'Sob o Sol de Toscana'


Procurar e não encontrar, não quer dizer que não exista! Dirigido pela cineasta californiana Audrey Wells, que na carreira só dirigiu esse e outro longa-metragem chamado A Lente do Desejo no final da década de 90, em Sob o Sol da Toscana as desilusões se misturam com um leque de possibilidades quando a vida de uma escritora e crítica literária se torna vazia, triste, percorrendo um caminho rumo a maturidade em se redescobrir. Com um ótimo elenco e com uma atuação absolutamente fabulosa da indicada ao Globo de Ouro por essa atuação, Diane Lane, esse filme encantador completa 20 anos agora em 2023.


Na trama, conhecemos Frances (Diane Lane), uma esforçada crítica literária, moradora da cidade de San Francisco, que também e professora e tem uns livros que está escrevendo estacionados na gaveta. Sua vida ia bem, casada, com um ótimo emprego, até que ela descobre que seu marido a está traindo. Tempos depois o divórcio acontece, e de maneira bem prejudicial para a protagonista, que além de entregar a casa onde morava com ele a vida toda, ainda teve que pagar pensão para o traidor. O tempo passa e Frances não consegue encontrar mais a felicidade, vive seus dias tristes sendo consolada muitas vezes pela melhor amiga Patti (Sandra Oh). E por essa amiga é onde chega uma oportunidade que mudará sua vida, Patti consegue uma passagem para Frances viajar até a Itália, na região da Toscana. Quando embarca, não sabe ela que laços profundos vão ser criados nesse novo lugar.


A decepção vai de encontro a oportunidade. Quem nunca se decepcionou com um possível amor? A narrativa é cirúrgica em pegar as linhas do roteiro e transformar em belíssimas cenas e diálogos onde percebemos toda a carga emocional envolvida nos conflituosos sentimentos que chegam para Frances. Essa que passa por péssimos dias, um sofrimento danado quando descobre a traição do marido e na hora do divórcio ainda precisa pagar pensão alimentícia e perder a casa onde morou durante todo o casamento. A oportunidade de mudança chega pela melhor amiga: uma passagem para a Itália, mais precisamente na região da Toscana, um lugar maravilhoso cheio de obras de artes da arquitetura renascentista, além de vinhedos fantásticos. Aqui a imaginação de pensar sobre a real possibilidade de enxergar mudanças através desse lugar se torna realidade.


A desconstrução da protagonista chega com tons de aprendizado sobre como ser feliz com o se tem. Praticamente monta sua base em uma casa de mais de 300 anos, onde revê passos do passado, dá pitacos sobre o amor, ajuda em um momento difícil da melhor amiga, troca conselhos com outra conhecida mulher estrangeira da região, encontra amizades verdadeiras, não deixa de encontrar novamente decepções amorosas, até a fé se aproxima dela nas figuras católicas que são sempre homenageados por essa região central da Itália onde ela resolve recomeçar, conhece a cultura e a culinária local, aprende a cozinhar, vai ao cinema (onde está passando, em italiano, George, o Rei da Floresta, com o atual vencedor do Oscar de Melhor Ator Brendan Fraser). Uma personagem muito próximo da realidade, que sofre, que se alegra, que se decepciona, que busca a volta por cima mesmo sem saber que está a caminho disso.


Com o objetivo de fazer refletir sobre o encontrar o olhar de forma positiva mesmo nos momentos mais difíceis, Sob o Sol de Toscana não esconde de ninguém que a vida não é fácil, que vamos encontrar decepções amorosas nas nossas estradas, mas que sempre podemos esperar que alguma coisa boa vai acontecer.

 


Continue lendo... Crítica do filme: 'Sob o Sol de Toscana'

22/04/2023

,

Crítica do filme: 'Dissonantes'


Quem vive de passado é museu. Contornando os paralelos entre sonhos e oportunidades na visão de um desajustado que tinha uma banda de rock promissora nos anos 90, o longa-metragem Dissonantes, que teve uma rápida passagem nos cinemas brasileiros (em uma parceria exclusiva com apenas uma rede de salas de cinema), é uma comédia dramática que anda no compasso da melancolia buscando criar suas reflexões nas frustrações dos personagens. O roteiro ainda encontra espaço para uma forte crítica em cima do artista como produto de mercado. A direção do projeto é de Pedro Amorim.


Na trama, conhecemos Paulo (Marcelo Serrado), um homem de meia idade imerso nas desilusões dos sonhos perdidos. Ele tinha uma banda de rock algumas décadas atrás chamada Super Fuzz, na qual era guitarrista e vocalista. O empreendimento musical não foi pra frente e nos dias atuais ele vive em situação difícil: com aluguel atrasado, sem muitas perspectivas de continuar no complicado mercado fonográfico, além de ter que lidar com o sucesso de outros integrantes da banda que encontraram espaço em um reality musical. Para complicar mais ainda sua situação, seu relacionamento de 18 anos com Clara (Maria Manoella) se desfaz, o levando a uma tristeza profunda. Certo dia, ele conhece Loly (Thati Lopes), uma criativa artista que vira um produto da indústria nas mãos de seu antigo parceiro musical. Paulo e Loly percebem que juntos podem encontrar algum sentido para as soluções de seus respectivos conflitos.


A crise de meia idade no compasso da melancolia transforma a narrativa em uma lenta análise sobre o vazio existencial. O protagonista é um acomodado nas suas frustrações, imagina que as coisas vão cair do céu e assim o tempo foi passando. Abandonado aos poucos por todos que eram próximos, seu choque de realidade acaba acontecendo quando conhece Loly, e nas aflições que encontram horizontes em comum. Não há uma óbvia desconstrução do personagem, o que talvez esconda ou mesmo não alcance o clímax para a trama.


Há uma interessante crítica sobre a situação do artista como produto de mercado. Como o filme mostra, alguns produtores investem suas apostas em caminhos que muitas vezes não são os que os detentores do talento querem e nessa gangorra as opções podem ser: fazer sucesso se caracterizando como algo que não queria ou mesmo buscar o cenário independente para brilhar e chegar as grandes audiências. Essas ‘leis do mercado’ podem ser avassaladoras para o artista. Por aqui, os dois personagens atravessam de suas formas embates contra esse mercado.


Dissonantes agora está disponível no streaming da Star Plus e pra você que gosta de assistir a filmes brasileiros que buscam reflexões sobre sonhos e oportunidades, esse pode ser o filme que você está procurando.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Dissonantes'

15/04/2023

,

Pausa para uma série: 'Ringo: Glória e Morte'


Dinheiro e medo, nós nunca teremos. Inspirada em fatos reais e com pouca divulgação em sua chegada ao catálogo da Star Plus, a produção argentina Ringo: Glória e Morte nos leva ao ano de 1976 onde um famoso pugilista argentino perderia sua vida de forma trágica num lugar onde estava em busca da volta aos tempos de glória. Ao longo de sete episódios, essa minissérie busca trazer um profundo recorte da vida de um ídolo do boxe argentino, uma figura que chegou até mesmo a lutar de igual para igual contra o mais famoso pugilista da história, Muhammad Ali.


Na trama, com começo já na parte de total declínio na carreira do boxeador argentino Oscar "Ringo" Bonavena (Jerónimo Bosia) acompanhamos suas inúmeras tentativas de conseguir uma revanche contra o super campeão Muhammad Ali, fato que nunca iria acontecer. Um ping pong temporal entre Estados Unidos e Argentina nos mostra o início da sua carreira, ascensão meteórica e com algumas polêmicas, passando por importantes lutas na carreira contra o já mencionado Ali e também Joe Frazier, chegando até seu assassinato repleto de circunstâncias misteriosas até hoje. Um fato curioso é que seu apelido, Ringo, foi dado por causa da semelhança com o cabelo do mundialmente famoso baterista dos Beatles, Ringo Starr.


Em duas linhas temporais que buscam um entendimento por completo nos principais recortes da vida desse polêmico lutador, o roteiro abre espaço para duas subtramas que se sustentam durante toda a narrativa. Os conflitos intensos com a família, que fica cada vez mais distante nas suas tentativas de alcançar a fama fora da Argentina é um do alicerces para o desequilíbrio emocional que passa o lutador, sem saber lidar com essa questão, colocando a carreira na frente de todos. Há também uma subtrama sobre um casal de empresários cafetões que estavam em tentativas de transformar Reno, em Nevada, no polo das grandes lutas do boxe, um esporte que sempre foi muito rentável para os produtores desses eventos, personagens que seriam peças chaves para o desfecho trágico do protagonista.


Filmado todo em Buenos Aires, o projeto, com muita competência, também explora os bastidores do auge desse atleta que tinha uma enorme necessidade (marcada pelo ego) de se promover no pré luta. Há flashbacks importantes, incluindo a passagem de Ringo nos Jogos Pan-americanos em São Paulo no início da década de 60. Também há passagens no início da sua carreira quando chegou a ser punido por ter mordido o peito de outro atleta durante um combate, além é claro, talvez do seu maior feito como atleta, sua luta contra Ali que bateu recorde de audiência na televisão argentina, só sendo superada anos mais tarde pela seleção argentina de futebol em uma edição da copa do mundo.


Ringo: Glória e Morte está disponível na Star Plus. Pra quem curte histórias do esporte, você precisa conhecer essa minissérie.



Continue lendo... Pausa para uma série: 'Ringo: Glória e Morte'

Crítica do filme: 'Amém: Perguntando ao Papa'


A fraternidade é inegociável. O que você perguntaria ao líder da igreja católica se tivesse a oportunidade de estar frente a frente com ele? No documentário da Star Plus, Amém: Perguntando ao Papa, jovens entre 20 e 25 anos, católicos e não católicos, com experiências de vida diversas, praticantes da língua espanhola, tem a chance de conversar com uma das pessoas mais influentes do mundo em um bate-papo franco, honesto, sem deixar de navegar em temas conflitantes, polêmicos. Longe dos muros do Vaticano, já que o papo ocorreu em um bairro de Roma chamado Pigneto em junho do ano passado, a roda de conversa vai da questão da migração, passando pelo aborto, pela identidade de gênero e orientação sexual, até os abusos na igreja, entre outros temas.


Quem julga é incoerente. Ao longo de pouco mais de uma hora, em relatos, muitas vezes emocionantes, os jovens vindos de países como: Espanha, Senegal, EUA, Perú, Colômbia, Argentina, abrem o coração ao Papa buscando uma fonte de reflexão sobre angústias que sentem em relação a muitos temas. A maior autoridade católica, conhecido por seu bom humor, aborda no início do papo a diminuição dos adeptos católicos em todo mundo, algo que pode estar ligado ao passado da igreja no epicentro de colonizadores, além do fato da igreja católica durante muito tempo não assumir tudo o que houve nesse tempo. Depois, emenda sobre a imigração, principalmente nas fronteiras europeias, com duras críticas em cima de uma ação política imatura adotada por muitos países (que ele não citou) quando se pensa sobre o tema.


A formação religiosa, em alguns casos, é baseada em abuso psicológico? Entrando nessa tensa questão vemos o relato de uma jovem, ex-freira, que não se sentia mais feliz no convento e abandonou tudo e foi viver a vida longe das rédeas da igreja. Hoje inclusive namora uma outra mulher. E em falar em abuso, os padres abusadores ganham os holofotes via um depoimento emocionado de um jovem que foi abusado por um desses integrantes da Igreja Católica e sua indignação pela forma como a igreja lidou com a questão.


A sexualidade, o sexo, a identidade de gênero, o aborto, são temas que os jovens mais interagem com Francisco, principalmente esse último onde percebemos uma choque de experiências de vida em um embate entre uma feminista declarada e uma fiel fervorosa. Dentro da proposta desse encontro, com o objetivo de aprendizado mútuo, existem momentos um pouco mais tensos, onde os pontos de vistas se encontram em extremos difíceis de se encontrarem mas com um certo respeito, afinal, todos nós somos filhos de Deus.


Há um momento com espaço para reflexões sobre os avanços das interações digitais, nessa linha principalmente ligados à comunicação, com a chegada das redes sociais. Nesse momento, Papa Francisco é confrontado até mesmo sobre o Tinder e o que achava do aplicativo. Esse ponto sobre redes sociais e a questão da moralidade, mais especificamente sobre as escolhas quando se usam esses dispositivos ganham luz no debate.


O papa é pop! Com 86 anos, já com a mobilidade reduzida, Papa Francisco, sucedeu o Papa Bento XVI cerca de 10 anos atrás. Amém: Perguntando ao Papa é a constatação do valor de um homem que provocou uma verdadeira mudança em relação a tabus que circulavam ao redor da Igreja católica, que com a cabeça mais aberta do que a de seus antecessores, participa de diálogos frequentes, sempre com respeito ao próximo, aberto a ouvir a todos provocando reflexões e mudanças.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Amém: Perguntando ao Papa'

03/04/2023

Crítica do filme: 'Rye Lane: Um Amor Inesperado'


Um dia muito especial. Em seu primeiro longa-metragem da carreira, a cineasta de 33 anos, Raine Allen-Miller, traz aos olhos do público uma narrativa dinâmica, inteligente, pulsante, atual, que aborda as desilusões amorosas por meio de dois personagens que estão se recuperando de términos recentes. Escrito pela dupla Nathan Bryon e Tom Melia, Rye Lane: Um Amor Inesperado é cativante, com diálogos memoráveis, faz refletir sobre conflitos de muitos, em muitas idades, sem perder o ritmo contagiante tendo como plano de fundo a parte de Londres que fica ao sul do rio Tâmisa.


Na trama, conhecemos Dom (David Jonsson) e Yas (Vivian Oparah), dois jovens que se encontram de forma inusitada, numa galeria de arte e resolvem sair daquele lugar e irem andando pela cidade onde moram. Aos poucos vamos conhecendo essas duas almas. Dom é um jovem desiludido, até mesmo depressivo, abalado profundamente pelo término de um relacionamento onde descobriu por meio de uma foto que seu melhor amigo o estava traindo com sua namorada. Contador de profissão, tem uma paixão por música. Já Yas é super alegre, com uma energia contagiante. Ela tem o sonho de ser figurinista e também está passando por um recente término de relacionamento com feridas ainda em aberto. Essas duas almas vão buscando entender um ao outro enquanto se conhecem melhor.


Situações de relacionamentos passados contornam esse dia especial. O pontapé da história, e onde a narrativa mantém sua base, é o complexo universo dos términos de relacionamentos. Nesse mundo tão instantâneo em que vivemos, onde a informação aparece por todos os lados, as dores e conflitos de um término se tornam cada vez mais incômodas quando pensamos na nossa privacidade. Quando não temos alguém para dividir mais profundamente o que estamos sentindo, tudo fica maior. Nessa parte, a do desabafo, é onde esse filme consegue jogar sua âncora nos fazendo a seguinte pergunta: como alguém tão diferente de mim consegue me entender tanto? Mas depois, outra é logo feita: Mas será que esse outro alguém é tão diferente de mim?


Em menos de uma hora e meia de projeção um leque de reflexões aparece em nossa frente, seja para mostrar a vida ao sul de Londres, seja para conhecermos gostos e conflitos dos carismáticos personagens. Há tempo também do roteiro falar sobre imigração, assunto muito debatido em todo o mundo. Nesse ponto, conhecemos um pouco mais sobre Brixton, bairro ao sul de Londres, um lugar com muitos descendentes de jamaicanos.


Com participação especial de Colin Firth (em uma cena rápida e bem engraçada), esse projeto lançado diretamente no streaming da Star Plus aqui no Brasil, é um filme contagiante, com personagens carismáticos, que reflete sobre as dores dos amores mas também abre uma janela de esperança de que mesmo quando tudo parece perdido, sempre há alguém para se encontrar por esse mundão.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Rye Lane: Um Amor Inesperado'

16/02/2023

,

Pausa para uma Série: 'Santo Maldito'



As dúvidas já dentro da incerteza pelos caminhos tumultuados do acreditar. Buscando refletir sobre diversos temas tendo como sua força motriz a fé, o seriado brasileiro Santo Maldito, de forma muito inteligente, propõe ao espectador um passeio investigativo canalizado pelos abstratos passos de um vazio existencial com forte ligação ao imprevisível, ao acaso, jogando seus holofotes para um professor de cursinho, declarado ateu, que ganha uma chance de sair da sua bolha de lassidão mas antes tendo que passar por um túnel de constantes questionamentos. Criado pela dupla Rubens Marinelli e Ricardo Tiezzi, com um elenco que merece muitos aplausos, Santo Maldito, disponível na Star Plus é um dos grandes seriados brasileiros lançado na ‘era do streamings’.


Na trama, conhecemos Reinaldo (Felipe Camargo), um estudioso professor e escritor de meia idade que bate no peito defendendo seu ateísmo para todos desde sempre. Ele vive com sua esposa, a doutoranda Maria Clara (Ana Flavia Cavalcanti) e sua filha adolescente Gabriela (Bárbara Luz) em uma casa de classe média de uma grande cidade brasileira. Certo dia, sua esposa acaba sendo atingida por uma bala perdida e entra em coma praticamente irreversível. Desesperado, e não aguentando mais aquela situação ele vai tomar uma drástica atitude quando milagrosamente sua esposa desperta. Durante essa situação chocante, ele é filmado por um enfermeiro bastante religioso e o vídeo viraliza chamando a atenção do pastor Samuel (Augusto Madeira), o líder de uma pequena igreja, que vai lhe fazer uma inusitada proposta.


Será que o desespero do caos nos fazer acreditar em qualquer coisa? Ao longo dos oito episódios (um melhor que o outro), o surpreendente roteiro desse projeto passeia pelas tumultuadas incertezas do acreditar sem deixar de nos apresentar um completo raio-x de seu intrigante protagonista, um homem com orgulho de seu ceticismo que se vê totalmente perdido e com a necessidade de se descontruir entrando em ebulição quando se vê em conflito com suas antigas certezas.


Ajudando a contar essa intrigante trama, ótimos coadjuvantes brilham e aos poucos vamos descobrindo que na verdade estamos rumando para um enorme duelo entre dois homens, um anti-herói com atitudes moralmente questionáveis e um enigmático homem de fé que pode estar escondendo outras facetas, assim somos levados a explicações bem profundas sobre suas maneiras de enxergarem o mundo através de seus traumas. Todo o elenco está fantástico, mas temos que destacar Felipe Camargo e Augusto Madeira, que nos proporcionam cenas com forte oposição de ideias que geram reflexões por todos os cantos.


A violência também ganha espaço de reflexões por aqui, na verdade é até mesmo um elo intercessor dos eventos que rumam para o mais exposto ponto de tensão de qualquer narrativa. As atitudes de controle de quem comanda a região de onde fica a igreja de Samuel, o porquê Samuel é um cadeirante, a ação sofrida por Maria Clara. A fé e a violência acabam se encontrando em muitos momentos.


Santo Maldito é uma enorme, insinuante e surpreendente estrada de um improvável santo, maldito no sentido de estar condenado a enfrentar seus conflitos através de seu estado de espírito amargurado. Um projeto que pode fazer você também se questionar sobre aquela famosa frase: ‘Só uma coisa que sabemos: é que não sabemos nada’.



Continue lendo... Pausa para uma Série: 'Santo Maldito'

02/02/2023

, ,

Crítica do filme: 'Os Banshees de Inisherin'


Solidão que não encontra a solitude. Escrito e dirigido pelo britânico Martin McDonagh, Os Banshees de Inisherin, indicado à 9 Oscars é um projeto repleto de reflexões. Uma busca pela fuga da mesmice desencadeia o rompimento de uma longa amizade o que acaba trazendo novos conflitos dentro de uma espécie de síntese da loucura, tudo isso em um curto período de tempo numa fictícia pequena comunidade na Irlanda, uma ilha no litoral, chamada inisherin. O elenco é brilhante, não à toa todos os intérpretes dos personagens que vemos em tela com poder de subtramas foram indicados ao Oscar em 2023.


Na trama, ambientada em 1923 num lugar onde tiros de canhões e espingarda são audíveis vindo do continente (pois são tempos de guerra civil), conhecemos Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) um homem confortável na sua monotonia que vive seus dias sem muitas pretensões morando numa casa humilde com sua irmã Siobhán (Kerry Condon). Sua maior diversão (e a de todos ali naquela ilha) é ir até o bar e beber. Ele sempre faz isso com o melhor amigo Colm (Brendan Gleeson). Certo dia, ao chamar o amigo, ele percebe que algo está errado e Colm deseja romper a amizade que eles tem, o que acaba gerando enormes conflitos com variáveis imprevisíveis.


A forma como a história é contada é fundamental para nos vermos em reflexões sobre várias situações. O conflito é logo apresentado, a ruptura de uma amizade e o embarque de dois passageiros em um lamento deprimente, até mesmo não explicado. Reunindo as peças jogadas pelo caminho tentamos entender Colm e suas questões. Morador sozinho de uma casa próximo ao mar se desprendeu da monotonia para a busca de um recomeço, como se tivesse outras coisas a fazer no que lhe resta da vida, o que traça paralelos com o significado de Banshee algo como um espírito do folclore irlandês que anuncia a morte de um membro da família.  


Já Pádraic é alegre com o pouco tem, definido pelos outros como limitado, acredita que vive uma boa vida fato que o faz cair de um enorme abismo emocional quando a amizade é desfeita. A raiva e a violência tomam conta de suas ações quando se vê prejudicado em outros campos e relações. Assim o personagem entra em uma desconstrução profunda. Os Banshees de Inisherin não entrega de bandeja ao espectador os porquês do que são ditos, refletimos em relação ao que entendemos de cada personagem. Essa linha muito pessoal, totalmente interpretativa, deve gerar ótimos debates numa mesa de bar.


Outros ótimos personagens embarcam em suas próprias descobertas a partir da situação inusitada vivida pelos dois ex-amigos. Um jovem perdido que se arrisca na iminente desilusão amorosa de uma mulher mais velha, a irmã de um deles e as escolhas de oportunidades no continente que se colocam em seu caminho.


Tendo sua première mundial no Festival Internacional de Cinema de Veneza, Os Banshees de Inisherin explora os caminhos para a solitude em um filme repleto de personagens carismáticos que mesmo sendo enigmáticos e imprevisíveis, principalmente sobre o que passam por seus pensamentos, não deixam de contagiar o público com uma ótima história.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Os Banshees de Inisherin'

21/01/2023

Crítica do filme: 'O Menu'


O inusitado recorte da comida como protagonista de conflitos. Depois de uma grande experiência dirigindo episódios de seriados de sucesso, como: Succession, The Affair e até mesmo Game of Thrones, o cineasta britânico Mark Mylod chega ao seu quarto longa-metragem da carreira trazendo para o público uma sátira sobre rejeição e medo, ao mesmo tempo inteligente que navega nos fenômenos que podem ocorrer na mente humana. A vibe gourmet que acompanha a narrativa nada mais é que uma alegoria já que o subliminar das refeições aqui traçam um paralelo com o instantâneo desabrochar dos pensamentos dos personagens, um reflexo de como enxergam a vida ao seu redor. O roteiro é assinado pela dupla Seth Reiss e Will Tracy, esse último teve a ideia durante sua lua de mel passada na Noruega, quando entrou em um barco para um restaurante chique em uma ilha particular.


Na trama, conhecemos um jovem casal, que logo perceberemos que não andam em compasso de harmonia, Tyler (Nicholas Hoult) um milionário que tem um verdadeiro fascínio pela alta gastronomia e Margot (Anya Taylor-Joy) uma mulher cheia de personalidade e também segredos. Eles e mais um grupo de selecionadas pessoas, pagaram um valor bem alto para terem uma experiência gastronômica de um dia em um restaurante que fica numa ilha chamada Hawthorn, com quase cinco hectares de florestas e pastos, sendo essa comandado pelo brilhante chef Slowik (Ralph Fiennes). Ao longo desse dia, coisas estranhas começam a acontecer e os clientes serão surpreendidos a cada minuto que passa.


O filme, que estreou no prestigiado Festival Internacional de Cinema de Toronto no ano passado, anda em cima das interpretações, muitas vezes ambíguas, do desprazer e satisfação provocadas pelas estradas de vida de cada um dos personagens, as linhas do afiado roteiro, que possui pitadas generosas de duplo sentido, nos mostra horizontes dentro das imperfeições da natureza humana aqui quase como se cada personagem se colocasse de frente a um espelho onde a partir de suas ações caminham para aceitações ou não da situação que estão metidos. Esse olhar dos selecionados para aquele menu e para tudo o que acontece em quase 110 minutos de projeção tiram de trás da cortina uma sátira de rejeição e medo muito inteligente.


Já ambientado nos tempo atuais, no pós pandemia da Covid-19, e com filmagens que incluíram a costa da Ilha Jekyll (na Georgia) o filme é um terror elegante, com entradas teatrais, que parece com muita calma, e usando do chocar como ferramenta, oferecer ao público o marinar, liquefazer, esterificar, geleificar, dentro de um cardápio de interpretações para seu desfecho impactante.



 

Continue lendo... Crítica do filme: 'O Menu'

20/01/2023

Crítica do filme: 'Casamento Sangrento'


As loucuras do olhar para o matrimônio de uma família perturbada. Lançado no final de 2021 no catálogo da Star Plus, o intenso longa-metragem dirigido brilhantemente pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett, Casamento Sangrento é uma mistura de ação, comédia e terror que se joga em uma narrativa eletrizante, com altas doses de críticas sociais, na busca pela profundidade de um recorte bastante peculiar para uma milionária família e uma protagonista que tinha apenas um sonho: se casar!


Na trama, conhecemos Grace (Samara Weaving), filha de pais adotivos que sempre sonhou em ter uma família e está prestes a realizar seu sonho já que encontrou seu príncipe encantado, Alex (Mark O'Brien), um apaixonado futuro marido. No dia do casamento, ela vai passar as futuras horas na mansão da família do rapaz (que fez fortuna ao longo do tempo no início com uma fábrica que criava baralhos, depois vendia jogos de tabuleiros, e mais pra frente empreendedores bem sucedidos), e lá acaba conhecendo melhor uma tradição macabra onde o destino pode ser definido ao puxar uma carta que faz parte de um jogo que vem de ancestrais passados. Assim, em uma enorme mansão, cheia de passagens secretas, câmeras por todos os lados, vemos uma surpreendida protagonista que vai precisar ser muito corajosa em uma luta pela sobrevivência.


Com um modesto orçamento de seis milhões de dólares (arrecadando quase 10 vezes mais em bilheterias em todo o mundo), Casamento Sangrento é um terror que se camufla no terrir para abordar as linhas psicológicas de intrigantes personagens que passeiam pela tela em uma noite repleta de emoções. O esteriótipo aqui se torna peça chave para entendermos as ambiguidades das mentes perturbadas que conhecemos fazendo o espectador pensar o que faria se estivesse na situação de Grace. Os paralelos sendo trazidos em partes para com os conflitos entre sogros e nora são ótimos. A maneira como é contada essa história (que também chamamos de narrativa) é bastante certeira, embaralha os conflitos de sentimentos definindo muito bem as peças nesse enorme tabuleiro da loucura.


Sorte? Destino? Precisando passar por momentos surpreendentes, até mesmo um pisque esconde aterrorizante, a protagonista é um elemento fundamental nessa história. Muitas vezes nos sentimos dentro de um jogo de videogame, onde a heroína está bem definida aos nossos olhos. Ela precisa embarcar nos absurdos para entender e saber agir dentro de todo o contexto. E por falar em contexto, Casamento Sangrento tem um desfecho arrebatador, até mesmo desafiante e corajoso, que vai gerar inúmeras interpretações.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Casamento Sangrento'

16/12/2022

Crítica do filme: 'Veja como eles Correm'


Pulsante comédia com muitas referências ao processo criativo. Sabe aquele jogo famoso de tabuleiro chamado detetive criado no início da década de 40 pelo músico e compositor inglês Anthony Ernest Pratt que foi um sucesso no planeta antes da era digital? Veja como eles Correm longa-metragem que estreou no mês de dezembro no catálogo da Star Plus busca sua interação dentro de uma comédia com camadas generosas de suspense, naquele estilo já bem conhecido do ‘quem matou?’, flertando com a metalinguagem e abordando o processo criativo de forma leve e bem-humorada. Tudo isso em um recorte pelos bastidores encantadores mas também avarentos da cena teatral londrina dos anos 50.


Na trama, primeiro longa-metragem da carreira do cineasta britânico Tom George, ambientada em uma Londres dos anos 50, mais precisamente na badalada West End (tipo uma Broadway inglesa) conhecemos os bastidores da peça A Ratoeira, da famosa escritora britânica Agatha Christie, onde após uma comemoração de artistas e produtores pela centésima apresentação, Leo (Adrien Brody), o futuro diretor da adaptação cinematográfico da obra é encontrado morto. A partir desse crime, entram em cena o Inspetor Stoppard (Sam Rockwell) e a jovem policial Stalker (Saoirse Ronan) que se jogam em uma série de entrevistas para a resolução do assassinato.


Flertando com a metalinguagem, em debochados diálogos, Veja como eles Correm reflete sobre o processo criativo na figura de artistas do entretenimento, um olhar bastante curioso sobre o que acontece atrás das cortinas. O ego, o narcisismo, o pensamento capitalista embutido no meio da arte, entre outras características ganham modelagens cômicas nesse projeto alto astral que até mesmo quebra a quarta parede em um momento específico.


Repleto de referências sobre a cena teatral britânica, o roteiro assinado por Mark Chappell nos leva a uma série de homenagens para uma montagem do livro já mencionado, e de sucesso, da dama do mistério Agatha Christie. Richard Attenborough e a sua mulher, Sheila Sim, no filme representados por Harris Dickinson e Pearl Chanda, respectivamente, foram alguns dos primeiros artistas a interpretar os papéis no teatro. Pra quem não conhece, Sir Richard Attenborough interpretou anos mais tarde, no cinema, o personagem John Hammond na franquia Jurassic Park.


Mas tem mistério também! Caminhando pela estrada da experiência em contraponto a inexperiência, o filme nos mostra os conturbados momentos da investigação na visão de um alcóolatra emburrado e uma jovem aprendiz do departamento de polícia. Sempre de forma leve e puxando ganchos importantes sem perder a trama principal, Veja como eles Correm é um agradável passeio por uma década de 50 em grande ebulição no cenário artístico europeu (sempre impulsionado pelo o que acontecia em outro continente, lá na América do Norte, nos Estados Unidos, numa uma Hollywood a todo vapor) onde você podia atravessar a rua e encontrar nomes que estariam na história do mundo das artes.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Veja como eles Correm'

23/11/2022

,

Pausa para uma série: 'Meu Querido Zelador'


O egocentrismo do desequilíbrio. Explorando conflitos de um enigmático protagonista que mora faz mais de 30 anos em um prédio onde é o zelador durante todo esse tempo, o seriado argentino Meu Querido Zelador nos leva para uma jornada com paradas na psicologia, na sociologia, onde assistimos um metódico modo de pensar egoísta entrar em descontrole. Com uma narrativa puxada para a comédia, onde brilha o veterano ator argentino Guillermo Fancella, esse seriado lançado em 2022, sem muita badalação, conquista o público deixando um gosto de quero mais.


Criada pelo trio Mariano Cohn, Gastón Duprat e Martin Bustos, ao longo de onze episódios de cerca de 30 minutos de duração acompanhamos a história de Eliseo (Guillermo Francella), um quase senhor de idade, bastante ativo, que é zelador de um prédio de classe média alta numa região central de uma grande cidade na Argentina. Seus dias são intensos, com muitos afazeres e tentando agradar a todos os moradores a todo instante. Mas o protagonista tem um lado obscuro ligado ao seu egocentrismo marcante buscando levar vantagens em situações do dia a dia.  Seu controle sobre tudo acaba indo por agua abaixo quando um dos moradores, o narcisista Matías Zambrano (Gabriel Goity) resolve colocar em prática uma votação para criar uma piscina no último andar do prédio, exatamente o lugar onde Eliseo mora. Ao mesmo tempo, o projeto prevê a demissão dele. Assim, o intrigante personagem principal dessa história embarcará em uma jornada para convencer a maioria dos moradores do prédio a votarem a seu favor.


A sociopatia é um traço marcante por aqui. Dono de ações absurdas, como: chantagens, colocação de outros personagens em ‘sinuca de bico’, mentiras deslavadas, esse empreendedor da malandragem egocêntrica, eterno observador, não tem limites quando o objetivo é conseguir o que quer. Profundo, Eliseo é apresentado pelos seus dois lados e muito do que assistimos é fruto de uma solidão, alguém que encontrou uma forma de viver na comodidade como se realmente fosse um dos moradores. Mas a realidade chega de forma visceral, no desleixo da empatia, no ar de superioridade de um vizinho igualmente intrigante. Nesse ponto é estabelecido um duelo. O Anti-heroísmo é óbvio mas a situação que domina a narrativa nessa primeira temporada de alguma forma transforma o protagonista para lapsos de reflexões sobre o próprio jeito de ser e a maneira como lida com os outros.


O cotidiano dos conflitos de um condomínio viram cenário para reflexões sobre classes sociais, o preconceito, expressando-se muitas vezes em diálogos que mostram a complexidade do ser humano. Nessa engrenagem tudo funciona pela boa administração das pitadas cômicas e a grande atuação do genial ator argentino Guillermo Francella.



Continue lendo... Pausa para uma série: 'Meu Querido Zelador'

17/11/2022

,

Pausa para uma série: 'Reboot'


As redescobertas da vida com toques de humor. Chegou esse ano na Star+ um seriado que por meio de sua proposta de metalinguagem nos leva a reflexões sobre o antes e depois de algumas pessoas que trabalham no universo de um seriado que ganhou uma nova chance após 20 anos. Camuflado de comédia, o projeto é um poderoso drama que aborda conflitos diversos que caminham na imaturidade das relações humanas. Criado por Steven Levitan, um dos criadores do sucesso Modern Family, Reboot é uma aula de abordagem à temas tabus de forma leve e inteligente.


Na trama, conhecemos quatro artistas que são novamente chamados para revisitar seus antigos personagens de um seriado que estreou duas décadas atrás. Tem o Reed (Keegan-Michael Key), um ator que após largar a série original acabou não tendo mais sucesso na carreira. Tem a Brie (Judy Greer), uma artista de poucos trabalhos q largou a profissão para se casar com um Duque em outro país. Tem o Clay (Johnny Knoxville) que luta contra o alcoolismo em um momento onde busca redenção para todos seus dramas do presente que são ligados ao passado. Tem o Zack (Calum Worthy), um jovem de 24 anos, que na época do seriado original era apenas uma criança, e agora busca sua identidade em uma carreira de altos e baixos. Além dos artistas, há um foco grande também nos criadores da série: Gordon (Paul Reiser) e Hannah (Rachel Bloom).


Há uma harmonia muito interessante na narrativa que consegue explorar a cada episódio vários conflitos que seus ótimos personagens percorrem ao longo de toda a jornada de gravações e criações do seriado. Nada fica preso a um personagem, todos tem espaço. A metalinguagem aqui tem um papel de nostalgia, fazendo o público relembrar outros tipos de comédia que eram feitas em grande quantidade e muitos paralelos com as relações, ligados pela veia cômica, traçando assim debates sobre a carreira profissional, relações amorosas mal resolvidas, frustrações, imaturidade, as descobertas dos obstáculos para um primeiro amor, a sexualidade. Reboot navega com muito inteligência em assuntos tabus trazendo um frescor leve e contemporâneo para pontos de vistas diferente sobre vários assuntos.


Uma das gratas surpresas no universo das séries lançadas nesse segundo semestre de 2022, Reboot objetiva as polêmicas jogando no ventilador hilários debates num choque divertido entre o passado e o presente.   



 

Continue lendo... Pausa para uma série: 'Reboot'

07/11/2022

Crítica do filme: 'Noites Brutais'


Quando o inesperado acontece. Com uma narrativa eletrizante com peças que vão se encaixando aos poucos, sempre guiado por um clima de tensão constante, o longa-metragem Noites Brutais, que estreou recentemente no streaming da Star Plus, é um filme para ser observado sob diversas óticas. Escrito e dirigido pelo norte-americano Zach Cregger, o filme traz uma certa originalidade no contraponto da perspectiva tendo como elemento o medo.


Na trama, conhecemos uma jovem chamada Tess (Georgina Campbell) que chega em Detroit para uma importante entrevista de emprego e aluga uma casa pelo Airbnb. Só que quando chega ao local, uma região bem complicada longe do centro da cidade, acaba dando de cara com Keith (Bill Skarsgård) que também fez a mesma reserva da casa para aquela noite. Eles entram em acordo e ambos dormem no lugar. No dia seguinte, ao voltar pra casa Tess acha um corredor no porão escondido e lá é surpreendida. Logo após isso, conhecemos um outro importante personagem AJ (Justin Long) que vai acabar encontrando Tess em um momento perturbador.


A desconfiança é o primeiro elemento a ser analisado. Na visão de uma jovem que chega em um lugar inóspito, em busca de um emprego dos sonhos, percebemos as primeiras linhas do roteiro a encostar no medo, na desconfiança, algo que está presente mas precisa ser confrontado de alguma forma. As escolhas aqui parecem óbvias mas nada acaba sendo simples. Quando há descobertas conflitantes em relação ao fator medo, uma chave se liga e um instinto de sobrevivência é colocado em prática testando a todo instante as linhas emocionais.


Outro ponto interessante é o caos emocional que se liga ao desespero. Aqui, conhecemos numa linha paralela de tempo (que logo se choca com o outro destino), um jovem ator que vê seu mundo desabar após uma denúncia que modifica sua vida acomodada e ao partir para encontrar soluções se vê de frente com o inusitado, com o aterrorizante, que traça paralelos com o seu modo de vida, onde escolhas novamente se jogam no seu caminho e suas verdades aparecem novamente em seu presente.


Em Noites Brutais, o elemento ‘natureza humana’ é muito bem explorado sob seus respectivos pontos de vista. O filme consegue gerar reflexão sobre o ser humano em meio ao caos da tensão, das escolhas e do medo. Interessantíssimo trabalho de Zach Cregger.



Continue lendo... Crítica do filme: 'Noites Brutais'

23/10/2022

,

Pausa para uma série: 'O Rei da Tv'


Realidade ou ficção? Chegou recentemente ao ótimo catálogo da Star Plus um seriado que por si só já seria polêmico pois tem a árdua missão de recriar alguns passos para o estrelato do maior apresentador da história da televisão, Silvio Santos. Desde os tempos em que era de uma família humilde que morava na lapa no Rio de Janeiro até a ascensão nos tempos em que a televisão estava surgindo no Brasil, O Rei da Tv apresenta personagens conhecidos (como Roque e Gugu), algumas passagens que ficaram conhecidas por notícias e outros personagens que nunca ouvimos falar.


Na trama, voltamos à décadas atrás, no início no Rio de Janeiro na época dos bondinhos onde o carioca Senor Abravanel vivia com seus pais (uma mãe dona de casa e um pai com problemas com jogos) e começara a entender que tinha um certo dom para vendas e logo se inicia como camelô pelas ruas do centro da cidade maravilhosa. Ele começa a aproveitar as oportunidades que a vida lhe coloca pelo caminho e parte para São Paulo, onde conhece Manuel de Nóbrega (seu grande padrinho) e começa a fazer shows e descobrir o fascinante e recém criado universo televisivo, além do lucro que alcança com o polêmico Baú da Felicidade criado no final da década de 60, nessa fase já era conhecido pelo nome artístico: Silvio Santos. Em paralelo, vamos vendo o protagonista já na sua fase mais velha, buscando soluções para um problema na voz, sempre com a ajuda da esposa Iris (Leona Cavalli), e da crise que se instaura no SBT, além de disputa com a toda poderosa Globo mais presente aqui na figura de Rossi, um alto executivo da emissora. Silvio, nessas três fases é interpretado pelos atores: Guilherme Reis, Mariano Mattos Martins e José Rubens Chachá.


A história de vida do Silvio realmente daria um filme! Nesse seriado de oito episódios que possui uma narrativa longe do linear, que anda em paralelo em três fases na vida do protagonista se perde muitas vezes nessa linha temporal, prejudicando o andamento do enredo que é recheado de fatos que encostam na realidade em alguns momentos e em outros na ficção. Às vezes parece que estamos conhecendo pela primeira vez fatos marcantes da vida desse que é o maior apresentador da história da televisão brasileira. Mas os fatos que são mostrados apresentam linhas tênues onde podemos refletir sobre a ética, moral, principalmente no caso mais complicado de entender que é o Baú da Felicidade, onde um cliente adquire um carnê que dever ser pago mensalmente para assim ser elegível a concorrer a um sorteios de prêmios. Em complemento, após um prazo, esse mesmo cliente poderia trocar o valor pago por mercadorias à sua escolha nas lojas do grupo.


Toda biografia que é traduzida para o audiovisual acaba sendo marcada por polêmicas. Por aqui não foi diferente. Até mesmo para traçar paralelos com a realidade, de como os fatos aconteceram, é importante dar um ‘google’ e pesquisar. Por exemplo, aqui tem um personagem chamado Stanislau que é tipo um CEO do Grupo Silvio Santos e do SBT, algo que é bem complicado de entendermos pois o controle das empresas sempre esteve nas mãos de Silvio, que sempre foi muito presente nos seus negócios. Talvez essa referência chegue por alguém que era próximo no comando das empresas, ou até mesmo uma junção de pessoas que tem sua representação por esse personagem. Esses recortes dos negócios tem momentos tensos e decisões importantes para a carreira do protagonista.


A série consegue um aprofundamento maior quando aborda a família, onde conhecemos num primeiro momento a primeira esposa de Silvio Santos, Cidinha (Roberta Gualda) que esteve com ele desde o início mas se sentiu distante do apresentador porque ele basicamente não a assumia para todos (o seriado deixa claro que muitos que o cercavam nem sabiam da existência da esposa). Anos mais tarde, com Irís o relacionamento é diferente com ela inclusive dando pitacos na programação do SBT.


Andando numa linha tênue entre a ficção e a realidade, O Rei da Tv apresenta um recorte ligado a emoções, sonhos, polêmicas, e muito foco de uma das figuras mais importantes da televisão brasileira.



 

 

 

Continue lendo... Pausa para uma série: 'O Rei da Tv'