Selecionado para a Mostra de SP, Delírio é um filme pra lá de insólito – no sentido de estranhamento - que congela algumas tentativas de criar tensão, sem elementos convincentes de construção de uma narrativa que parece não sair do lugar. Jogando todas suas fichas nos detalhes e no silêncio – que não soa ensurdecedor-, e com poucos personagens, o longa-metragem vai sugerindo conflitos de forma lenta, deixando o público abraçado – ou não – pela paciência.
A partir do olhar sobre três gerações de mulheres da mesma
família - com relações deterioradas ao longo do tempo e marcas do passado
acompanhando suas trajetórias -, somos testemunhas de uma curiosa adição do
sobrenatural em meio a conflitos mundanos. As sensações e os medos buscam
ganhar forma e movimento, numa imersão com muitas pontas soltas. Ao sugerir
mais do que explicar, o trabalho escrito e dirigido por Alexandra Latishev Salazar vira uma missão para pessoas com grande
paciência.
A médica Elisa (Liliana
Biamonte) precisa passar um tempo com a mãe já debilitada, Dinia (Anabelle Ulloa), e leva consigo Masha (Helena Calderón), sua filha. Após algumas
noites com sensações estranhas e barulhos esquisitos pela casa, Elisa percebe
que algo está estranho naquele lugar, tomando algumas atitudes para entender o
que acontece e proteger a filha.
A princípio parece que há uma história interessante - o
roteiro tem questões importantes para reflexões, como a falha parental, mais ligada
ao afeto. Mas é impressionante como, ao tentar contá-la, tudo fica muito
confuso, em uma simplicidade que até confunde. Um exemplo é quando observamos
mais de perto os conflitos entre as gerações, principalmente entre Elisa e
Dinia: percebemos uma mágoa profunda, algo nada detalhado expressando-se
através de um discurso indireto, quase disfarçado.
Mas o ponto que mais pega é a relação da filha mais nova com
um provável fantasma - uma figura representativa no âmbito familiar, marcada pela violência. Uma situação que, bem desenvolvida, poderia elevar a obra de patamar, abrindo
inclusive camadas importantes que não são encontradas pela narrativa.
Em resumo, Delírio, ao abraçar a sensação, esquece-se de apresentar questões de forma mais clara e convincente, conduzindo o público para uma jornada na qual olhar o relógio é a única certeza.















