Reflexões sobre relacionamentos. Produzido pelo HBO e
jogando na tela conflitos dentro de relacionamentos, o cineasta canadense Norman Jewison nos faz embarcar em
diálogos que vão desde futilidades do cotidiano, passando pelo relacionamento
de um casal até as descobertas sobre as verdades do próprio casamento. Jantar entre Amigos, baseada na
premiada peça teatral escrita por Donald
Margulies é um daqueles filmes marcantes que ficam em nossa memória por
muito.
Na trama, conhecemos os críticos gastronômicos Gabe (Dennis Quaid) e Karen (Andie MacDowell), um apaixonado casal
que viaja bastante. Certo dia, ele chamam seus melhores amigos para jantarem em
sua casa, o casal Beth (Toni Collette)
e Tom (Greg Kinnear), mas só a
primeira aparece e logo solta uma bomba: ela está se separando do marido. A
notícia pega Gabe e Karen de surpresa e ao longo de intensas conversas vamos
entendendo como esse fato acaba modificando a maneira de todos de enxergarem
suas próprias relações.
Os conflitos são eminentes, os pontos de vista variados. Ao
longo da projeção vamos entendendo os porquês, quase um desabrochar da relação
entre quatro paredes. O choque da realidade chega mais forte em Gabe e Karen
pois esses acabam ficando em uma posição de medo talvez por não querem parar
para pensar como anda a relação deles. Uma crise de meia idade? Qual o posição
de um amigo nessas horas? Há julgamentos constantes? É pra julgar sem ouvir as
partes? Qual o sentido da solidão em um relacionamento? Muitas perguntas chegam
ao espectador.
O roteiro utiliza um recurso interessante sobre a não
linearidade, ele volta na década de 80 para mostrar o início dessa amizade, os
primeiros encontros e desencontros dessa amizade que já tem mais de uma década.
Assim, podemos entender as mudanças ou não sobre algumas questões que de alguma
forma se tornam paralelos com seus presentes.
Não é bem o poder, não é bem a ganância, é o egoísmo. Nos
colocando sobre os olhares dentro das quatro paredes do declínio de um
relacionamento O Refúgio nos mostra
as correntes do rompimento pelas fraquezas mais conhecidas pelo ser humano. Aqui
não há dilemas, há certezas inconsequentes, algo que de alguma forma molda toda
a trajetória de todos os integrantes dessa família. Em seu segundo
longa-metragem como diretor (o primeiro foi o ótimo Martha Marcy May Marlene), o cineasta canadense Sean Durkin consegue refletir pelo
tenso caminho abstrato das emoções perdidas.
Na trama, ambientada na década de 80, conhecemos Rory (Jude Law), um britânico que mora nos
Estados Unidos junto da esposa Allison (Carrie
Coon) e dos dois filhos do casal. Rory não está feliz e consegue um emprego
na Inglaterra fazendo uma enorme mudança na vida de todos da família. Só que
por lá, na terra da rainha, as coisas não saem conforme o planejado, o egoísmo
e o ego do protagonista levam a abalos perceptíveis nos alicerces da família.
Em meio a calorosas discussões e palavras fortes jogadas ao vento, a inconsequência
toma as rédeas em ações descontroladas e distantes.
Há um grande análise sobre o casal, algo que acontece dentro
de paralelos que nos mostram as ações e consequências que acabam influenciando
a todos os personagens. De um lado Rory e sua ganância sem fim beirando à
megalomania, que lida com um forte conflito do seu passado na recriação do seu
presente deixando a busca por dinheiro e principalmente status social tomar
conta de seus focos. Do outro lado, temos Allison, uma mulher que se encontra completamente
sozinha, em um país que não se sente à vontade, sem amigos, com a família
(principalmente seu marido) passando por mudanças bruscas. Tanto Jude Law quanto Carrie Coon dão um verdadeiro show em cena.
A infelicidade muitas vezes chega ao seu extremo nessa história,
com a paranoia tomando conta quando o pensar em um oásis se torna algo distante
e nada objetivo. Mas o lado emocional, muito bem explorado dá margem também
para pensarmos sobre o mundo naquele instante, em uma Inglaterra vazia de
ideias empreendedoras, dentro de um conservadorismo evidente, um país
completamente diferente do subúrbio norte-americano em que estavam, onde as
ideias inovadoras saltavam a cada esquina.
Há um exercício interessante para o espectador, definir o que
seria o refúgio do título. De bate pronto podemos acoplar o sentido à
trajetória dos dois personagens, nos desencontros da vida em outro país em dois
momentos distintos de suas vidas juntos.
Quando a comédia encaixa na ação. Chegou aos cinemas na
primeira semana de agosto um filme divertido, empolgante que encaixa tons
cômicos dentro de uma série de sequências de ação de tirar o fôlego. Trem-Bala, dirigido pelo cineasta David Leitch, tem um roteiro dinâmico,
contando ao público histórias dentro de outras histórias de forma eletrizante.
Se piscar perde uma parte do quebra-cabeça imposto que ainda possui grandes
atuações com um elenco nota 10 encabeçado pelo astro mundial Brad Pitt. O roteiro, grande trunfo dessa
produção, é escrito por Zak Olkewicz,
baseado no romance homônimo do escritor japonês Kōtarō Isaka.
Na trama, conhecemos um assassino de aluguel, zen, que não
usa armas, que diz ter falta de sorte que para uma nova missão recebe o
codinome de Joaninha (Brad Pitt).
Essa missão consiste em entrar em um trem bala no Japão, roubar uma maleta
cheia de dinheiro e sair imperceptível. A questão é que outros personagens
estão dentro dessa locomotiva urbana com objetivos parecidos. Assim conhecemos
uma dupla de assassinos que estão levando o filho de um terrível assassino de
volta ao lar, uma jovem enigmática mas que já se antecedeu a tudo que poderia
acontecer nessa jornada e outros personagens que vão se somando a uma sequência
eletrizante atrás da outra.
Um filme de ação violento ou uma comédia de riso fácil
(pastelão)? Rodado todo em Tóquio, no Japão, o projeto caminha por linhas
tênues entre a ação e a comédia. Essa fórmula acaba se encaixando com o
dinamismo e força do roteiro que introduz muitos personagens sem deixar de nos
mostrar ações e consequências de cada um deles. A estrutura pode ser
considerada parecida com um jogo de RPG, nessa criação de narrativas em torno
de um enredo, dando a impressão sempre após as reviravoltas que estamos vendo
uma história dentro de outra história.
O filme, produzido pelo cineasta e também produtor Antoine Fuqua, é bastante violento e
ganhou uma alta classificação. Lembra Tarantino? Sim. Mas lembra muito mais filmes
orientais sobre vingança onde os duelos mortais são o epicentro e dão maior
sentido para a trajetória dos personagens. Os diálogos aqui, alguns simplesmente
sensacionais, são as molas propulsoras de abre alas para ações constantes.
Trem-Bala é um
filme para você que gosta de se divertir vendo um filme, sem se importar com os
detalhes. Você ri, se surpreende e até mesmo conversa muito sobre ele quando a
sessão acaba.
O refletir que passa por cima do moralismo. Sensação da
última temporada no universo das séries, The
White Lotus é um projeto fascinante quando pensamos nas reflexões sobre os
aspectos humanos, no refletir sobre o caráter sob pontos de vistas
completamente diferentes. Intrigante até o último minuto, esconde muito bem
seus mistérios, muitos desses colocados de planos de fundo para um abre alas
das profundezas argumentativas das individualidades da razão humana. A HBO Max
inclusive já renovou para uma segunda temporada que serão no estilo antologia,
onde personagens diferentes, em situações diferentes, exploram as mesmas
temáticas.
Criada por Mike White,
The White Lotus nos leva para uma
fascinante jornada até um badalado hotel, caríssimo, que fica no Havaí. Nossos
olhos são alguns personagens que chegam até o local em um barco disponível
apenas para os hóspedes vips. Assim, conhecemos uma família que beira ao disfuncional,
uma solteirona carente e com muitos problemas emocionais que tem como objetivo
jogar as cinzas da mãe no mar, um casal que acabara de se casar e vai passar
parte da lua de mel no hotel. Esses completam um lado da história que tem seu
complemento com a visão dos funcionários do hotel sobre todas as curiosas
situações que acontecem durante o tempo desses vips no lugar, principalmente o
gerente do hotel e a administradora do SPA aberto para clientes do hotel.
Desde o primeiro episódio sabemos que alguém morre mas isso
nem é 1% de interessante quando pensamos na profunda análise comportamental que
é proposta. Na verdade essa é uma informação que você esquece até o último dos
seis episódios dessa primeira temporada já toda disponível na HBO Max. Nada é
tabu aqui nessa estrada de conflitos que mostra lados profundos de
personalidades distantes umas das outras. Assim vamos vendo uma ampla análise
da estrutura social em forma de crítica onde cada peça acaba preenchendo seu
espaço dentro do universo das questões morais.
Dentro das subtramas acompanhamos algumas batalhas entre hóspedes
e os funcionários, conflitos esses que nos levam para embates sociais e um
paralelo interessante de alguns personagens que chegam ao estopim exatamente
nesse resort tropical. Esses arcos conclusivos dos personagens e a maneira como
chegam até eles levam o espectador em uma gangorra de emoções entrando a fundo
em um casamento que tá na cara que não vai dar certo, um casal em crise após 20
anos juntos, um descontrolado gerente que acaba sendo interseção de muitos
desses conflitos chegarem ao seu clímax, entre outras situações.
The White Lotus abre
uma janela enorme com a realidade, mostrando em alto e bom tom uma sociedade
destruída emocionalmente, confrontando o espectador a cada cena sobre se existe
um medidor sobre o que é certo ou errado.
As eternas dificuldades de se entender como ser humano. Caminhando
nas linhas do humor non-sense, um dos grandes sucessos recentes da HBO é sem
dúvidas a curiosa série Barry. Com
episódios que giram em torno de 30 minutos, vamos acompanhando a saga de um
ex-militar, hoje assassino profissional, que após ter o contato com o mundo da
atuação vê sua vida mudar radicalmente. No papel principal o ator, e também um
dos criadores da série, Bill Hader,
que volta e meia é indicado aos maiores prêmios da televisão norte-americana.
Na trama, acompanhamos um depressivo assassino profissional
chamado Barry (Bill Hader) que mora no meio-oeste norte-americano. Quando é
chamado para um serviço em Los Angeles, de forma inusitada, acaba parando em
uma aula de teatro, fato que o faz repensar muito sobre seu momento e sua vida
como um todo. Agora, buscando o equilíbrio entre sua profissão arriscada e o
novo mundo que aparece em sua frente, Barry passará por enormes conflitos
emocionais em busca de dias melhores.
O absurdo aqui é força motriz, dentro de profundos dramas
não só de seu protagonista mas também dos ótimos coadjuvantes. Barry é uma alma
introspectiva, repleta de maus exemplos por toda uma vida que se vê na
interpretação de outros uma maneira para ter mais tranquilidade no seu pensar.
Frio e calculista, acaba embarcando nas linhas sempre complicadas da atuação,
onde é testado a todo instante longe de uma perfeição que sempre buscou atingir
na sua conflituosa profissão. Dentro das linhas do humor non-sense o seriado
busca explicações para uma auto análise.
O interessante em
Barry é que não há uma grande história de background por onde caminham os
personagens, tudo gira em torno das novas descobertas do problemático
protagonista um homem que não consegue respirar sem que a violência chegue na
sua frente. Esse conflito compõe boa parte dos curtos e objetivos episódios.
Não consigo evitar me apaixonar. Um dos filmes mais
aguardados de 2022 finalmente chega as salas de cinema de todo o Brasil, Elvis, novo blockbuster do experiente
cineasta australiano de 59 anos Baz
Luhrmann é uma jornada por muitas fases da vida do inesquecível cantor e
por muitas estradas onde sua trajetória e conflitos encontra a do controverso empresário
coronel Tom Parker. Ao longo de impactantes 169 minutos de projeção vamos
acompanhando desde a infância, suas referências, seus amores, seus dramas e a
carreira meteórica marcada por recordes nunca mais alcançados. No papel título,
o ator californiano Austin Butler
marca de vez sua carreira com uma interpretação de tirar o fôlego.
Na trama, cheia de recortes de notícias, muito por conta do
circo midiático que tinha em cima de sua vida profissional e pessoal,
acompanhamos as primeiras referências musicais em Memphis de um jovem que seria
uma estrela, um ícone, da música mundial, Elvis Presley (Austin Butler). O encontro com Tom Parker (Tom Hanks, em desempenho também brilhante) indicaria uma relação
conflituosa de muitos anos, onde inúmeros sucessos foram criados, shows
inesquecíveis foram realizados e calorosos conflitos foram vistos. Em meio ao sucesso, dramas
começam a contornar a carreira da estrela mundial, que viveu várias fases e
pressões para mudar seu jeito de ser em um mundo repleto de preconceitos,
segregação racial, onde Elvis se tornaria uma importante voz além da música.
Mostrar em um filme de menos de três horas, conflitos,
grande parte da carreira, ascensão, declínios, de uma lenda da cultura pop é
algo muito difícil. Luhrmann acaba
pegando um atalho interessante, transformando a figura de um ganancioso
empresário como sendo o narrador, os olhos de uma trajetória que marcou o
planeta e gera discussões até hoje. Na verdade o roteiro vira dois rios, que a
princípio paralelos, se convergem, mostrando visões, pensares, sobre muitas
questões. Num primeiro momento há um resgate dos primeiros passos da
inesquecível voz do sul dos Estados Unidos, com grande influência da música feita
pelos negros em uma época de preconceitos, onde até mesmo havia divisões em
show entre brancos e negros. Em sequência, os dramas familiares, com o pai
sendo preso e sendo uma pessoa de pouca confiança aos olhos de muitos, com o
forte laço com sua mãe, ganham contornos durante toda a fita. O amor chega de
maneira inesperada, dentro do arco narrativo que mostra a ida de Elvis à
guerra, uma imposição de políticos que não se agradavam com o mexe e remexe alucinante
de seus shows. A consolidação de sua importância como artista mundial chega de
forma impactante o levando a conflitos com seu empresário e a todos que o
limitavam nos palcos.
Na continuação das linhas finais do parágrafo anterior,
chegamos no que posso afirmar ser o grande clímax desse projeto. Onde nos
perguntamos e vemos respostas sobre: ‘Qual o papel do artista em relação ao
mundo que o conhece?’ Essa discussão é feita até hoje e contorna muito do filme
de Luhrmann. Elvis busca se impor a pressão de uma sociedade conservadora, onde
quem comanda quer controlar, quer que o destaque se torne algo moldado dentro
de um pensamento que interrompe os avanços que precisamos ter como seres
humanos. Muitas vezes sozinho em seu pensar, entre um show e outro, se vê
cercado por um empresário impostor que só quer lucrar com sua figura a qualquer
preço. Nesse momento, quando cai a ficha, os poucos amigos que pode confiar,
além de sua amada esposa Priscila, acabam ajudando. Uma ótima sequência
mostrada no filme, a amizade com o grande BB King, o leva ao refletir sobre
várias questões.
Perto dos 40 anos, o Rei do Rock and Roll chega ao seu
limite, situações que o levaram a um quadro do qual nunca sairia, preso em
contratos que nem sabia, viciado em remédios, sendo uma marionete nas mãos de
um inescrupuloso empresário. Argumentos não faltam para nos fazer pensar sobre
os responsáveis pela sua chegada a um labirinto sem saída.
Baz Luhrmann consegue
o improvável, colocar mais ingredientes, resgatar sua forte personalidade, para
tornar Elvis mais vivo do que nunca para toda uma nova geração que se pergunta
a todo instante: qual o papel do artista em relação a tudo que acontece ao seu
redor.
Buscando resgatar as histórias do início da era vitoriosa de
um dos times de basquete mais famosos do mundo, os Los Angeles Lakers, Lakers: Hora de Vencer consegue de
forma muito dinâmica nos ambientar em uma época ainda de início da famosa NBA e
como essa liga se tornou uma das maiores ligas de esportes norte-americanos de
todos os tempos. A fama, as dúvidas, os conflitos, as escolhas, são muitas
variáveis que se encontram nesse ótimo seriado disponível na HBO MAX. Vale
também o destaque para a atuação impactante do grande ator John C. Reilly.
Nessa primeira temporada, que possui 10 eletrizantes
episódios com cerca de uma hora de duração, acompanhamos a trajetória quase
desorganizada de Jerry Buss (John C.
Reilly) um empresário quase fanfarrão que resolve do dia para a noite
comprar um time de basquete chamado Los Angeles Lakers, uma franquia na época
que não era tão vitoriosa dentro de uma liga, a NBA, que ainda começa a
engatinhar como força nos esportes norte-americanos. Assim, vamos acompanhando
a primeira campanha vitoriosa de um time que acabara de draftar (escolher
atletas dos esportes universitários) Magic Johnson (Quincy Isaiah), um astro do basquete que viria a se tornar uma
verdadeira lenda.
Nesse polêmico seriado, há a utilização constante do recurso
que mais aproxima a plateia de interagir criticamente com as ações dos
personagens: a quebra da quarta parede. Essa
forma de integrar a narrativa, mesmo em demasia nesse caso, acaba deixando a
trama mais dinâmica até com explicações que vão além das cenas. Nossos olhos
ficam em atenção à Jerry Buss, o grande narrador dessa história que possui
dentro de suas extravagâncias e ações megalomaníaca um enorme medo de seu
investimento o levar à falência rapidamente. Os dramas do mulherengo Buss são
vistos mais profundamente na relação com a mãe Jessie (Sally Field) e a filha Jeanie (Hadley
Robinson).
Dentro das quadras, e muito fora delas, vemos também um
desfile de astros do basquete que fizeram parte dessa enorme mudança na maneira
de jogar esse jogo tão legal. O carismático armador Magic Johnson e seus
primeiros momentos na principal liga de basquete do mundo ganham muito tempo de
tela e assim conhecemos melhor os medos, aflições, como lidava com a fama, além
de toda a dificuldade inicial de interagir ao seu jeito com um time de astros
que vão desde o ex-jogador Jerry West (Jason
Clarke) até o lendário pivô Kareem Abdul-Jabbar (Solomon Hughes). A comissão técnica também ganha forte presença com
a escolha de Jack McKinney (Tracy Letts)
para comandar o time em um primeiro momento e depois a chegada do vitorioso Pat
Riley (aqui interpretado pelo vencedor do Oscar Adrien Brody).
Muita gente pode se perguntar: Lakers: Hora de Vencer é feito apenas pra quem curte a NBA e conhece
os nomes que aparecem na tela? A resposta é não! A produção, que deve conseguir
alguma indicação nos próximos prêmios da televisão norte-americana é um recorte
profundo do início de uma dinastia ambientada em uma época que não volta mais.
As escolhas que fazemos pelo caminho podem vir repletas de
inconsequências. Caminhando nos ofícios da profissão de jornalista mostrando o
conflito cultural entre um jovem norte-americano entusiasmado pelo que faz trabalhando
no principal jornal de um país completamente diferente do seu, Tokyo Vice chegou ao streaming da HBO Max de forma tímida, sem muito alarde,
e nos seus minuciosos oito episódios da primeira temporada (todos já disponíveis)
conquista de vez toda nossa atenção. É um episódio melhor que o outro. Há muitos
tipos de conflitos dentre fascinantes personagens que estão contidos nessa
ótima trama baseada em fatos reais.
Em Tokyo Vice,
acompanhamos Jake Adeltein (Ansel Elgort)
um jovem e recente ex-universitário vindo do Estado de Missouri que se muda
para o Japão e após uma seletiva super acirrada, consegue ser o primeiro jornalista
estrangeiro a trabalhar em um jornal japonês, isso na década de 90. Buscando se
ambientar ao novo país e a forma como eles trabalham jornalisticamente Jake e
sua curiosidade (que chama a atenção) acaba batendo de frente com a Yakuza, os conflitos
éticos dentro da força policial japonesa e acaba mantendo uma relação de
amizade com um incorruptível investigador Katagiri (Ken Watanabe). Paralelo a isso, a história de Samantha (Rachel Keller) e Sato (Shô Kasamatsu), a primeira uma
norte-americana que fugiu de sua família e tenta realizar seus sonhos de vida
em boates poderosas, já o segundo um integrante de um dos clãs da Yakuza que possui
muitos conflitos. A estrada de todos esses personagens, e outros, vão se cruzar
de alguma forma.
Um dos méritos desse intrigante seriado é conseguir
aproveitar muito bem todos seus personagens e respectivos conflitos. Todos são
interessantes para a trama. Mesmo as histórias em paralelo acabam de alguma
forma encontrando suas interseções e surpreendendo o público a cada novo
episódio. Até mesmo as escaramuças que aparecem, fruto, algumas dessas, de
contornos emocionais desequilibrados agidos no calor do momento tem algum
sentido para o desenrolar de todos os fatos apresentados no ao que parece
insolucionável mas mesmo assim interessante grande caso que contorna o background
da primeira temporada.
Aqui não há tempo para personagens fúteis ou narrativa
pleonástica. Há violência, há um profundo relato sobre as ações da Yakuza no seu
auge, nos anos 90, há o aperto na ferida quando pensamos nas ações éticas e
corruptivas da corporação policial (essa sempre na linha tênue entre as
soluções e os pedidos de criminosos perigosos). O conflito cultural que Jake se
encontra, na maneira de como ir atrás da notícia em um país repleto de ações no
seu submundo, é uma das partes mais legais de se acompanhar pois assim também
enxergamos todo o amadurecimento do personagem que chega no último episódio da
temporada com uma bagagem e uma desconstrução que são notórios. Se tem um
pecado, podemos dizer nas poucas aberturas dos conflitos familiares do
personagem principal, talvez algo a ter mais tempo de tela nas futuras temporadas.
Com uma narrativa que busca seu frescor na troca constante
da sua estrutura, mesclando seus conflitos, e muitas vezes a troca do
protagonista único para muitos protagonistas, Tokyo Vice se consolida como uma das melhores séries lançadas nesse
primeiro semestre de 2022. Que venham mais temporadas!
A saga de um herói americano. Dirigido pela dupla de
cineasta Andrew Erwin e Jon Erwin, chegou recentemente ao
catálogo da HBO Max, o drama com contornos esportivos American Underdog que conta a saga de um dos jogadores mais
precisos da NFL (a liga mais famosa de futebol americano), o quarterback Kurt
Warner. O foco aqui são nos conflituosos caminhos que o ex-jogador precisou
passar para enfim se consolidar como um dos mais respeitados atletas dos
Estados Unidos. Um filme que deve chamar a atenção de todos aqueles que amam o
mundo dos esporte e suas histórias de persistência e superação. O
longa-metragem é estrelado por Zachary
Levi e a vencedora do Oscar Anna
Paquin.
Na trama, conhecemos Kurt Warner (Zachary Levi) um jovem que sonha em ser um jogador de futebol
americano. Ele, desde os tempos da faculdade, se destacou como um preciso
lançador (ou melhor dizendo: quarterback), a posição mais importante dentro
desse jogo que mexe com milhões de pessoas (não só nos Estados Unidos). Um dia
conhece Brenda (Anna Paquin), uma
ex-militar, mãe solteira de duas crianças, por quem logo se apaixona. O casal
precisará enfrentar e superar todas as dificuldades não só de um relacionamento
mas também das frustrações que a vida coloca no caminho deles.
Importante aqui contextualizar as dificuldades que é entrar
numa liga tão concorrida como a NFL. Centenas de histórias de superação foram
vistas ao longo dos anos. A de Kurt Warner segue essa trajetória de insistência
em realizar o grande sonho, de viver do esporte que ama. Enfrentando muitas
dificuldades que vão desde uma enorme chance perdida até mesmo as escolhas que
precisa fazer para sustentar sua família, o atleta sempre muito fiel aos seus
princípios foi navegando entre derrotas e vitórias. Quando o amor chega em sua
vida, mais escolhas aparecem pelo caminho dele mas sem nunca desistir nem de
seus sonhos nem de ninguém.
O universo do cinema adora histórias de superação e mesmo o
roteiro buscando a todo instante momentos apoteóticos, a mensagem, fator importante
aqui, é transmitida com muita leveza mas sem deixar de estar próxima da realidade.
As consequências após a tragédia. Buscando retratar o
período pós traumático de uma jovem de 16 anos após acontecimentos terríveis
que presenciou em sua escola, A Vida Depois
é um profundo drama sobre escolhas, descobertas e as inúmeras maneiras de
passar por um trauma. A relação com os amigos, com a família, o medo, a
ansiedade, as verdades do sentir ficam escondidas, presas dentro de uma jovem
que enxergava tudo de forma diferente até o ocorrido. Escrito e dirigido pela
cineasta canadense Megan Park,
estreando em longas-metragens, protagonizado pela atriz Jenna Ortega.
Na trama conhecemos Vada (Jenna Ortega), uma jovem que possui alguns amigos e tem uma forte
relação de carinho e amizade com a irmã mais nova. Certo dia, quando estava na
escola, um atirador entra no local levado o terror para os corredores do
colégio. Vada consegue se esconder no banheiro, onde acaba encontrando Niles (Niles Fitch) e Mia (Maddie Ziegler). Os três passam por
esse trauma tremendo e após o ocorrido buscam um no outro forças para seguir em
frente. Com o foco em Vada, vamos vendo todas as consequências desse pós
trauma, suas escolhas, descobertas e novas formas de tentar entender o mundo
que acaba se tornando bem diferente do que ela achava que era.
Com grande êxito, o roteiro busca a todo instante mostrar,
ou pelo menos fazer refletir sobre as diferentes formas de processar as
emoções. Assim, vemos Vada descobrir uma nova forte amizade com Mia, se
aproximar de Niles e buscar neles algum tipo de auxílio emocional já que eles
entendem tudo o que ela passou naqueles minutos intermináveis de desespero. A
forma como cada um reage ao ocorrido, a reação da família não sabendo direito
como lidar com a situação, tudo isso se transforma em uma bomba emocional que
Vada não estava preparada para interpretar, para receber, o que a leva para
dentro de caminhos conflituosos para buscar antes de mais nada si entender. A
figura da psicóloga Anna (participação especial da atriz Shailene Woodley) acaba sendo uma força na ajuda desse interpretar
o ocorrido.
Disponível no catálogo da HBO Max, A Vida Depois é um forte drama que busca nos seus recortes
reflexões sobre os conflituosos caminhos que enfrentamos a partir de momentos
que mudam nossas vidas para sempre.
A busca pela essência do lado sombrio dentro de reflexivas
expressões emocionais. Chegou aos cinemas, finalmente, mais um filme de um dos
mais conhecidos e queridos super-heróis dos quadrinhos, The Batman. No filme, dirigido pelo cineasta nova iorquino Matt Reeves, vemos o protagonista nos
seus primeiros anos de luta, descobrindo como proteger a poderosa cidade de
Gotham do total caos do cotidiano passando por uma auto descoberta de
personalidade muito profunda impulsionada por traumas de um passado que não
consegue esquecer. Trabalhando esse psicológico complicado do personagem,
tantas vezes trazido para o cinema, o roteiro corre o risco de perder o fôlego
em alguns momentos, sendo até mesmo redundante em detalhes, crescendo quando
outros fortes personagens se juntam ao suspense investigativo que se molda. The Batman é um filme para fãs do personagem,
que conhecem passagens dos quadrinhos, e uma apresentação de um recorte sombrio
do mesmo para a nova geração.
Na trama, conhecemos o pacato e introspectivo Bruce Wayne (Robert Pattinson), um herdeiro
bilionário que durante a noite é um justiceiro que mapeia Gotham City atrás de
justiça. Quando uma série de assassinatos misteriosos começam a acontecer,
sempre com um bilhete de charada direcionado para conclusões do Homem-Morcego,
o protagonista se une ao fiel escudeiro Alfred (Andy Serkis) inspetor da Polícia James Gordon (Jeffrey Wright) em busca da solução de quem está por trás dos
crimes. Paralelo a isso, somos apresentados a uma trama dos bastidores do crime
na cidade, onde conhecemos o temido chefão Carmine Falcone (John Turturro), a justiceira Selina (Zoë Kravitz), Oswald Cobblepot (o Pinguim,
Interpretado por Colin Farrell),
entre outros. Assim, esses paralelos irão se juntar para nos mostrar segredos
dos que cercam o passado do super-herói.
Pavimentando a nova saga, o novo recorte, da história de Batman, Matt Reeves e companhia adaptaram a essência de histórias em
quadrinho protagonizadas por ele, como: Year
One (1987) e The Long Halloween
(1996-1997). Assim, somos levados para uma Gotham City como sempre conhecemos,
repleta de problemas políticos, submundo do crime dominando ações e vilões de
todos os tipos espalhando o caos por onde passam. Batman está ainda em fase
inicial de sua jornada como justiceiro, com vingança no nome, tomado por um
psicológico conturbado, longe mesmo de cenário mais narcísico como visto nos
disfarces de Bruce Wayne em adaptações anteriores.
Nesse super lançamento de 2022, Batman é mais um
investigador. Esse filme se molda em torno mais de mistérios do que de uma ação
preponderante incisiva. Aqui peças se encaixam com dificuldade, para muitos é
um novo retrato de um emblemático personagem, como é o primeiro de prováveis
outras produções reúne-se em detalhes a todo instante para buscar explicações
dentro de um passado e conflitos que não estava preparado, como os pecados do
pai. O despertar dos verdadeiros vilões é uma construção muito bem feita,
destaque para os ótimos Charada (Paul
Dano) e o início da jornada de um dos mais famosos vilões, o Pinguim (com Colin Farrell irreconhecível pela
maquiagem e em atuação destacada).
Com sua narrativa surpreendente, complexa estruturalmente na
forma como é contada esse recorte, esse ponto de partida de descobertas em
muitos sentidos do personagem, The
Batman é um filme que reflete sobre a dor, sobre a indignação, um furacão
de emoções em conflitos dentro de um herói que precisa escolher em ter que
fazer o bem ou querer fazer o bem.
Dos games para as telas! Buscando recriar na telona e assim
apresentar as origens de um famoso jogo de ação e aventura lançado
primeiramente no ano de 2007, Uncharted
- Fora do mapa chega aos cinemas com grandes expectativas de quem já
conhece o game mas também para todo o público que gosta de um filme nos moldes
de Indiana Jones ou até mesmo A Lenda do Tesouro Perdido. Dirigido
pelo cineasta Ruben Fleischer (da
ótima franquia Zumbilândia) o projeto
nos apresenta o primeiro de alguns capítulos na trajetória de seu simpático
protagonista, um jovem muito inteligente que é movido pelas descoberta
preciosas do passado de outros.
Na trama, conhecemos Nathan Drake (Tom Holland) um jovem órfão, que fora criado com seu irmão em um
orfanato, e hoje vive uma vida simples como bartender de um muito frequentado
restaurante. Certo dia, seu caminho cruza com o do misterioso e aventureiro Victor
Sullivan (Mark Wahlberg), um homem
que tem um passado com o sumido irmão do protagonista e o convida para embarcar
em uma aventura para recuperar uma fortuna, hoje em dia bilionária, do
navegador Fernão de Magalhães e perdida há 500 anos. Assim, a dupla de novos
amigos se jogam em uma aventura alucinante onde precisarão enfrentar diversos
obstáculos para concluir seus objetivos.
Buscando a aventura em coreografadas cenas desde o primeiro
minuto, o roteiro acaba sendo superficial em muitos instantes mas com enormes
possibilidades de acréscimos à história, já que por conta do final abre-se uma
brecha enorme para novos filmes dessa nova franquia. Mas ser superficial acaba
não sendo um grande problema, há muito carisma e harmonia entre Holland e Wahlberg.
As pistas do tesouro fazem o espectador de alguma forma interagir o tempo todo
com a dupla que também tem lá seus momentos cômicos principalmente na linha do
conflito de idades entre eles.
Há muita honestidade do projeto em criar um novo mundo para
esse universo já mapeado por gamers de todo o mundo. Aqui é o começo dessa
história, como se conheceram, sua primeira aventura, o vilões, os amigos, e
todo tipo de obstáculos que precisam enfrentar dentro de um ritmo alucinante
que nos fazem grudar na tela. Sem pretensão de ser o melhor filme de aventura
do mundo, o longa-metragem cumpre seu papel em fazer divertir.
O poder que reina nos conturbados laços familiares. Uma das
sensações no universo das séries dos últimos tempos, Succession é um poderoso drama que nos mostra os bastidores de uma
família bilionária e as confusões que eles se metem por conta da ganância incentivada
por um pai nada carinhoso. O mérito vem pela lupa que é colocada nas ações e consequências
dos seus conflituosos personagens, deixando os intensos episódios com subtramas
que vão desde iminente traições até laços de aliança improváveis. A certeza assistindo
a esse seriado é que você sempre acabará o episódio surpreendido/pasmo com
alguma questão. O elenco é fenomenal!
Na trama, criada por Jesse Armstrong, conhecemos a família
Roy, comandado por Logan (Brian Cox)
um magnata do ramo da mídia e entretenimento que apavora o mercado com sua mão
de ferro no cotidiano do poder. Seus filhos, cada um com suas particularidades
o cercam e acabam fazendo parte das estratégias e ações dos negócios da
família. O mais velho deles, Connor (Alan
Ruck) não quer saber dos negócios da família e sempre arranja uma fuga para
não se comprometer. Shiv (Sarah Snook)
é a única mulher e trabalha nos bastidores de campanhas de políticos mas sempre
está de olho no que acontece na empresa da família. Roman (Kieran Culkin) é um bom vivant, um jovem mimado que gasta o dinheiro
de todas as formas possíveis sem ter muito comprometimento com seu cargo na
empresa do pai. Kendall (Jeremy Strong) é talvez o principal foco dessa
primeira temporada, usa e abusa dos seus embates com o pai para tomar decisões
que de alguma forma influenciam os rumos da empresa.
A relação familiar é o epicentro de dramas, disputas, duelos
que fazem dessa família disfuncional uma das mais polêmicas já vistas em um
seriado. Por conta da disputa pelo poder, já que Logan está em fase de
recuperação de uma enfermidade que quase o matou, novas peças são jogadas nesse
complicado tabuleiro como Tom (Matthew
Macfadyen), marido de Shiv, e o primo Greg (Nicholas Braun), neto do irmão de Logan. Manobras políticas,
traições inesperadas, qualquer faísca se transforma em conflitos constantes
para muitos dos personagens.
Nessa primeira temporada há um foco maior em Kendall, o
filho mais próximo da empresa do pai. A relação entre eles é exposta a todo
instante com vários momentos de humilhação de Logan para com Kendall. Esse
último é um ex-viciado que busca no sucesso de sua posição no poder ser o
primeiro na linha de sucessão de todo o conglomerado erguido pelo pai. Por
conta desse conflito há um jogo de interesses que acabam envolvendo inimigos de
longa data, um passado com suas marcas e um possível encontro com verdades
esquecidas.
Succession tá disponível
na Hbo Max e se eu fosse você corria para maratonar!
As filosofias do refletir sobre a existência. Filme de
estreia do cineasta brasileiro radicado em Los Angeles, Edson Oda, Nove Dias é
um longa-metragem com várias interpretações mas que se pensarmos mais basicamente
mostra as aventuras da redescoberta existencial de um protagonista bastante
curioso que nos apresenta um universo cheio de alternativas. Podemos definir
como um criativo mergulho no universo espiritual que aborda questões sobre a
vida a todos os instantes. Interessantíssimo trabalho de Oda.
Na trama, conhecemos Will (Winston Duke), um homem que vive em uma casa longe de tudo e todos
que passa seus dias acompanhando por meio de algumas televisões a vida de
algumas pessoas que vamos saber já estiveram perto dele. Até que uma dessas
pessoas morre em um acidente, deixando uma vaga para uma nova vida na Terra.
Assim, ao longo dos nove dias seguintes, almas não nascidas começam a bater em
sua porta para uma espécie de um processo de seleção e por essa mesma seleção é
onde chega Emma (Zazie Beetz), um
alguém que o fará refletir sobre a própria vida. O filme teve estreia mundial
no Festival de Cinema de Sundance e passou pela Mostra de SP em 2020.
Quem nunca pensou no antes de tudo? Como se deram os primeiros
passos da escolha, se sim ou se não estar em um mundo, viver nessa terra...há
predisposições? A jornada de Nove Dias busca
nas suas criativas linhas de roteiro nos fazer refletir sobre a existência. Na figura
d eum protagonista muitas vezes confuso que tem a árdua tarefa de enviar, ou
até mesmo reenviar, almas que vagam em outra superfície de volta para Terra. Se
partirmos do princípio que a figura do protagonista representa um Deus, seja
ele qual for, os objetivos de seu método de escolha ficam confusos mas bem na
linha do interpretativo. Na verdade há uma reviravolta bem sutil na história
desse grande personagem, uma auto análise é embutida nas sequência que compõem
os arcos do meio até o desfecho.
Recriações da dor, do andar de bicicleta, de como lidar nos
conflitos, um vestibular para enfrentar algumas questões que com certeza cairão
na prova da vida. Tudo é colocado como se fosse parte de um processo
imaginativo mas que tem muito sentido se pensarmos sobre a questão social, da
importância do diálogo e do dividir suas histórias com alguém. Nove Dias busca sua originalidade nas
regras da vida nas perguntas que respondemos e fazemos quando entendemos nosso
sentido para tudo que é nos apresentado ao longo de duas horas de projeção.
A união pode fazer a força. Charadas mirabolantes, quebra
cabeças de tirar o fôlego, fugas espetaculares e faltando segundos para um
desastre, mesmo repetindo basicamente tudo da fórmula passada, quando pensamos
na ideia do roteiro, Escape Room 2
busca em resgates da origem do jogo algumas novas adições à trama onde novamente
encontramos pessoas buscando a sobrevivência em Jogos Mortais. Dirigido por Adam Robitel (diretor também do
primeiro filme), o longa-metragem teve curta passagem nos cinemas brasileiros
após a reabertura das salas por conta da Covid.
Continuando de onde parou o primeiro filme, nesse segundo
episódio da franquia acompanhamos novamente Ben (Logan Miller) e Zoey (Taylor
Russell) que ao entrarem em um metrô se veem presos nele junto com outros
pessoas que também já escaparam do jogo mortal que eles enfrentaram no primeiro
filme. Assim, esse novo grupo de pessoas precisará de muita união para
conseguirem sair vivos mais uma vez desse que parece ser um Torneio dos
Campeões de jogos passados.
O roteiro é muito confuso em seu desfecho, até faz um certo
sentido se nos esforçarmos na ótica dos novos personagens mas há muita
inconclusão, talvez resolvida futuramente em próximas edições da franquia. Escape Room segue navegando na onda de
Jogos Mortais e outros filmes, dessa vez buscando alguma originalidade em
alguns porquês que ganham uma minutagem até certo ponto expressiva entre uma
cena de tensão e outra. Um fato negativo são os efeitos, alguns forçados outros
muito mal feitos. Para quem busca um entretenimento fácil, esse filme pode
agradar.
O medo mata a mente. Muito antes de sermos surpreendidos por
disputas entre casas que comandam reinos, no tremendo sucesso Game of Thrones, algo parecido já havia
sido criado, só que bem longe do universo medieval e sim pelas galáxias. Duna é uma aclamada obra da literatura
escrita por Frank Herbert, inclusive
sendo considerada o livro de ficção científica mais vendido de todos os tempos.
Ganhou uma adaptação na década de 80 pelas mãos do cineasta David Lynch, e, uma nova agora, bem
recente, nesse ano de 2021, assinada pelo canadense Denis Villeneuve. Sobre essa última, em meio a toda a complicação
que é explicar uma obra tão complexa, se perde nos primeiros arcos mas aos
poucos vai ganhando o selo de épico não só pelas sequências eletrizantes de
ação e aventura mas também pela excelente composição do drama, principalmente no
recorte complicado nessa saga de mãe e filho.
Na trama, ao longo das quase três horas de duração dessa
primeira parte (sim, terá uma segunda parte lançada futuramente) acompanhamos a
saga da família Atreides composta pelo duque Leto Atreides (Oscar Isaac), sua esposa (ou melhor,
concubina) Jessica (Rebecca Ferguson,
em grande atuação) e o filho deles Paul (Timothée
Chalamet). Importante mencionar que Jessica é uma Bene Gesserit, uma
poderosa e antiga ordem formada apenas por mulheres. Os Atreides governam um
planeta tranquilo, repleto de água e recursos minerais. Um dia, em meio a toda
uma parte política que se estabelece nesses tempos quase pós Terra (ela existe
mas a civilização foi para outros lugares), depois de um acordo com a
organização que administra os blocos de planetas que a humanidade já consegue
chegar, Leto assume a administração do perigoso planeta Arrakis (também
conhecido como Duna). Assim a família e seus mais nobres guerreiros embarcam
para lá e enfrentam traições e uma terrível batalha com a casa Harkonnen que
quer destruí-los a qualquer custo. Os que sobrevivem à batalha, precisarão
lutar pela sobrevivência em um ambiente hostil, cercado de perigos e areia por
todos os lados mas que acaba se tornando uma poderosa jornada de auto
descobrimento e distância do medo. Paralelo a isso, e ainda bem aos poucos Paul
descobre que possui poderes (como manipular a mente, entre outros) e pode ser
um falado Messias que chegaria, conhecido por toda a galáxia.
O arco introdutório já começa no início da jornada e
conhecemos o protagonista, Paul. Mas essa questão de protagonismo é um mero
detalhe pois praticamente todos os personagens possuem gigantesca influência
sob os acontecimentos que se sucedem de maneira quase eletrizante. O roteiro
assinado por Eric Roth, Jon Spaihts e o próprio Villeneuve
foca já em um presente tentando mostrar os elementos de vida do momento e a
situação da evolução humana que consegue naquele universo fazer viagens interplanetárias,
não usa a inteligência artificial (há algumas questões não explicadas sobre
isso mas parte da tecnologia foi banida do cotidiano). Os detalhes são
importantes e mostrados na maior parte do tempo mas parecem migalhas pelo
caminho, principalmente para quem não é próximo ou sabe alguma coisa sobre essa
história, esse universo. O filme começa a se aproximar de todos quando vem à
luz a ótica sobre os relacionamentos e os conflitos que os sucedem, seja entre
as casas rivais seja nos caminhos cheios de obstáculos entre a família Atraides
e todas as outras peças que se juntam nesse imenso tabuleiro. Paralelo a tudo
tem as explicações complementares sobre as diferentes formas de viver pelos
planetas.
Ora um filme de ação, ora um drama existencial, a melancolia
não toma conta do que assistimos por mero detalhe por mais que faça parte da
características, as razões e emoções dos que mais aparecem em cena. O elenco é
fabuloso, Chalamet, Isaac, Josh Brolin,
Stellan Skarsgård, Charlotte Rampling, Jason Momoa, Javier Bardem, Dave Bautista
se doam bastante para a intensidade e força de seus personagens. Na parte
dramática, cresce em cena a figura de Jessica com uma interpretação fabulosa da
atriz Rebecca Ferguson. De longe a
personagem mais intrigante dessa primeira parte (na segunda Paul devo ganhar o
total protagonismo), vamos entendendo muito dos lapsos de poderes de Paul
através de seu passado, seu conhecimento e seus conflitos.
Mesmo sendo dirigida e pensada em sua adaptação por uma das
mentes mais brilhantes do cinema, Duna não
é um filme fácil, uma história fácil. As explicações vem aos poucos. Em um
mundo tão instantâneo como o de hoje pode gerar rasos julgamentos de alguns mas
a certeza de que uma inspiradora jornada épica que nasce está presente, é só
querer enxergar.
Depois de dirigir Aquaman
em 2018, o cineasta malaio James Wan
volta às suas origens mexendo com o suspense e o terror sempre com a
instauração de uma clima cheio de surpresas. Um dos mais competentes filmes de
terror lançados logo após as reaberturas dos cinemas, depois da pausa pela
COVID no mundo, Maligno possui um
engenhoso roteiro, repleto de referências, seja nos detalhes de um suspense na
linha do psicológico ou mesmo nas estradas que o filme caminha dos sustos e
descobertas alucinantes. Protagonizado pela atriz britânica Annabelle Wallis, o projeto deve
agradar aos amantes dos filmes que surpreendem e dão sustos!
Na trama, conhecemos Madison (Annabelle Wallis) uma mulher que vive em um relacionamento abusivo e
está grávida, após diversas tentativas frustradas em ser mãe. Certo dia, após
um trágico acontecimento vê sua vida virar de ponta a cabeça com uma série de
assassinatos violentos que acontecem que podem ou não estar ligados fortemente
ao seu passado conturbado. Assim, o filme navega na solução de um grande
mistério que envolve a polícia, a irmã da protagonista e um passado escondido.
Desde 2004, quando deixou pasmo milhares de cinéfilos com o
filme Jogos Mortais o cineasta James Wan vem provando porque ele é dos
grandes diretores do gênero de suspense/terror. Mesmo flertando com o universo
dos filmes de ação, dirigiu o já citado Aquaman,
um dos filmes a franquia Velozes e
Furiosos e até um episódio do seriado MacGyver,
os seus fãs não viam a hora dele voltar ao gênero que o consagradou!
É impressionante o impacto que um ótimo cineasta consegue em
um filme de suspense. Em Maligno, a
trama toda é construída através do que achamos estarmos entendendo dos personagens,
com as emoções jogadas na tela por meio de rodopios de câmeras, alcance de 360
graus, cores acinzentadas, uma composição artística sublime onde conseguimos alcançar
a profunda atmosfera desse clima de tensão onde as imagens provocam os efeitos
para seus impactos. Mas na verdade isso tudo é uma grande clima de ilusão do
ilusionista Wan. Em paralelo, as verdades vão sendo mostradas e quando acontece
a linha da interseção ficamos nas dúvidas dentro de um jogo de ping pong entre
a razão e a emoção. Ótimo filme disponível na Hbo Max!
Nem tão água com açúcar assim. Seguindo na linha dos filmes
românticos, nos encontros e desencontros de duas almas perfeitas um para o
outro, o longa-metragem Pode Guardar um Segredo? tem tentativas de profundidade
em assuntos ligados ao campo profissional e ao campo amoroso mesmo derrapando
nos encontros com os clichês que são plantados pelo caminho. Protagonizado e
produzido pela atriz nova iorquina Alexandra
Daddario. O filme está disponível no catálogo da Amazon Prime Video.
Na trama, que tem direção de Elise Durán, conhecemos Emma (Alexandra Daddario) um jovem que
trabalha como assistente de marketing em uma empresa em grande ascensão nos
Estados Unidos. Mas ela não é nada feliz no seu trabalho e pra completar ainda
vive um romance sem amor com Connor (David
Ebert) um homem pra lá de chato. Mas sua vida da uma volta de 360 graus
quando durante um voo acaba ficando nervosa por conta da tempestade que
enfrenta o avião e conta todos os detalhes de sua vida para pessoa que está ao
seu lado, Jack Harper (Tyler Hoechlin).
Só que o que ela não sabia que essa pessoa pra quem contou tudo de sua vida na
verdade é o dono da empresa onde ela trabalha.
Baseado em um livro de muito sucesso da escritora Sophie Kinsella, o projeto fala sobre
uma certa crise de meia idade que envolve muitos campos da vida de uma jovem
indecisa sobre várias questões que aparecem na sua frente. Entendemos bem a personagem
nas conversas da mesma com suas amigas de quarto, com sua relação conturbada em
uma empresa que quase não a valoriza, e principalmente no campo amoroso e sobre
as verdades e mentiras que podem acontecer quando há uma busca constante de
realizar sonhos e desejos. O roteiro não se precipita, apresenta os personagens
de maneira bastante detalhada e os conflitos buscam a essência da profundidade
exatamente para buscar reflexões do espectador.
Fechar os olhos e sonhar pode ser o início da saída de algum
lugar que anda em círculos. No ano em que a seleção brasileira de futebol
ganhou a Copa do Mundo nos Estados Unidos, chegava aos cinemas de lá e de todo
o mundo Gilbert Grape – Aprendiz de
Sonhador, dirigido pelo cineasta Lasse
Hallström. O longa fala sobre conflitos de um protagonista no epicentro de
problemas sem saber direito o que fazer com seu futuro. O roteiro busca a
ternura na melancolia buscando objetivar razões e emoções dentro da premissa
que há muitas formas bonitas de enxergar o amor. Esse emocionante trabalho, rendeu
a primeira indicação ao Oscar de Leonardo
DiCaprio.
Na trama, acompanhamos Gilbert Grape (Johnny Depp). Um jovem que trabalha em uma pequena mercearia que
não tem muito público desde a chegada de um enorme supermercado na cidade. Ele vive
com a família, o irmão Arnie (Leonardo
DiCaprio) que tem autismo, suas outras duas irmãs Amy (Laura Harrington) e Ellen (Mary Kate Schellhardt) e sua mãe (Darlene Cates) que não sai de casa faz
sete anos em uma cidade chamada Endora, no interior dos Estados Unidos. Cidade
da qual nunca saiu e onde nasceu e foi criado. Sem saber muito o que é realizar
sonhos, ou mesmo sonhar, ele vive seus dias para ajudar sua família nas
dificuldades diárias. A chegada de uma jovem que mora em um trailer, Becky (Juliette Lewis) uma nômade que viaja de
cidade em cidade ao lado de sua avó, mudará um pouco o modo de pensar o mundo
do protagonista.
O roteiro no paralelo entre as escolhas e as perspectivas.
Tem um ritmo lento mas consegue sua força nas ótimas interpretações e quando o
espectador consegue entender tamanha profundidade nos conflitos que passa o complicado
personagem principal, esse último que se cobra demais, que só acena para um
egoísmo distante mas que faria parte de suas melhores escolhas, quem sabe. Fechar
os olhos e sonhar pode ser o início da saída de algum lugar de quem anda em círculos.
A importância da família e a força de vontade na busca de
ser um ser humano melhor para si mesmo e para os outros. Disponível no ótimo
catálogo do streaming da HBO Max, Sob o
Pé de Toranja - A História de CC Sabathia é um documentário muito interessante
que nos mostra as conquistas e os dramas de uma lenda da liga profissional de
Baseball norte-americana, o arremessador CC Sabathia. Ao longo de menos de uma
hora e dez de projeção, vamos vendo sua forte ligação com a família, e o seu
auge como atleta quando enfrentou um grave problema de Alcoolismo que o deixou
à beira de perder tudo que conquistara até ali. Por meio de depoimentos, vídeos
e imagens, vamos entendendo um pouco da vida desse talento raro.
Tudo começou em Vallejo (Califórnia), no quintal de sua avó.
Ela tinha um imenso pé de toranja e o protagonista sempre que a visitava jogava
as frutas que caia tendo uma cadeira como alvo. Ali, naquele lugar simples CC
Sabathia (que viria ser um dos maiores esportistas das grandes ligas dos
esportes norte-americanos), podia sonhar com tudo que queria em sua vida. Aos
poucos ele cresce e os conflitos começam a aparecer na sua frente: o
afastamento da relação com o pai após a separação com a esposa (mãe de
Sabathia); mais perdas que viriam acontecer pelo caminho; suas dificuldades no
casamento de muitos anos ao lado da esposa que ajudou como pode o jogador nos
momentos mais difíceis; o grave e quase silencioso problema de alcoolismo que
passou.
Segundo ele mesmo: “sempre que uma coisa boa acontecia,
outra ruim vinha logo em sequência”. Nos mostrando parte de seu último ano como
atleta, após 19 anos como profissional de um esporte muito querido pelos
Estados Unidos e vestindo a camisa de um dos times mais tradicionais da maior
liga de baseball do mundo, o documentário busca nos mostrar a maior parte da
vida desse pai, marido que, quando estava longe dos estádios, das competições, muitas
vezes não soube lidar com os problemas que apareciam na sua frente mas de muitas
formas deu a volta por cima.
O filme gera seu impacto mas também grandes pontas de
esperança. Belo projeto, que sirva de inspiração para muitos outros atletas ou
não atletas.