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05/01/2024

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Crítica do filme: 'Showgirls' (Revisão)


Um absurdo ou uma sátira escancarada do American Dream? Nascido de um rabisco em um guardanapo durante as férias do roteirista húngaro Joe Eszterhas, que recebeu quase quatro milhões de dólares pelo roteiro, um dos filmes mais polêmicos dos últimos 50 anos, Showgirls até hoje gera ótimos debates. Orçado em cerca de 45 milhões de dólares, um valor bem elevado para os filmes daquela época, o projeto busca de algumas formas explícitas, exageradas, com algumas cenas realmente chocantes, mostrar as desilusões e a ambição abraçadas na inconsequência tendo como pano de fundo a exploração de strippers em uma Las Vegas dos anos 90 aos olhos de uma conturbada protagonista.

Na trama, conhecemos Nomi (Elizabeth Berkley), uma jovem com um passado misterioso que parece ter se metido em muitas encrencas mas sempre tendo o sonho de ser uma dançarina profissional. Ela então resolve ir para uma cidade de oportunidades de vida noturna pulsante, mas seu início já se apresenta com o pé esquerdo. Mal chega à Las Vegas, de carona, é roubada mas esse acontecimento a faz encontrar Molly (Gina Ravera), uma figurinista do show mais badalado da cidade que nunca dorme. Assim, Nomi começa a buscar entender essa cidade e fica fascinada com as oportunidades que vai conseguindo até chegar ao desejo de ser a estrela principal do mais badalado show do lugar.

O ano de 1995 ficaria marcado na carreira do cineasta holandês Paul Verhoeven, responsável pela direção dessa obra. Se unindo ao já mencionado roteirista Joe Eszterhas, que escreveu os sucessos Flashdance e Instinto Selvagem, tinha a missão de transformar em imagens e movimentos uma crítica social tendo como elementos um recorte do caos emocional e o brilho de um sonhar sob a ótica de uma mulher sem muitas escolhas na vida. O caminho adotado, gera interpretações diversas e marcou para sempre a trajetória profissional da atriz Elizabeth Berkley.

Existe uma certa obviedade que o filme busca, através de uma crítica social, refletir sobre o caos da junção entre ambição e oportunidade em um mundo desigual, onde o entretenimento está aliado ao poder. Mas é super compreensivo que o chocar dentro da narrativa além das cenas constantes de nudez podem atrapalhar um pouco os olhares nessa direção. Mas a questão que pode mais deixar em total confusão o olhar do espectador é em relação a trajetória de conflitos de sua principal personagem, seu arco dramático é embolado limitando as reflexões para as chamativas cores pulsantes usadas em grande parte das cenas que denotam intensidade mas que não se completam com o caminho da misteriosa protagonista. 

A piada sensual, pode virar sensacional depende de como você enxerga. Impopular e em alguns casos até ridicularizado por muito tempo, Showgirls foi um enorme fracasso de bilheteria, inclusive indicado ao famoso ‘Framboesa de Ouro’, na sua décima sexta edição, onde levou muitos prêmios. Um fato curioso foi que o diretor Paul Verhoeven compareceu pessoalmente para receber aos prêmios, se tornando o primeiro cineasta a ir buscá-los numa cerimônia. Mas as críticas negativas daquela época não apagaram outros olhares futuros para a obra, logo se tornando um clássico cult.

Além de tudo, essa é uma produção repleta de curiosidades fora do set de filmagem. O papel principal foi disputado por nomes famosos como: Angelina Jolie, Denise Richards (que trabalhou com Verhoeven mais tarde no ótimo Tropas Estelares) e Charlize Theron. Imagina algumas dessas atrizes nesse papel? Outro fator curioso é que o filme foi banido na Irlanda sendo exibido por lá somente nos anos 2000. E não podemos esquecer do sucesso que foi a venda de home vídeos (vhs, Dvd, bluray) desse filme que beirou a casa dos 100 milhões em vendas!

Em resumo, essa produção seguirá sendo debatida ao longo dos próximos anos. É um daqueles casos de amo ou odeio! 

 

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29/12/2023

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Crítica do filme: 'Assassinos da Lua das Flores'


A ganância e os absurdos contra uma tribo indígena. Lançado aos olhos do mundo no Festival de Cannes desse ano, Assassinos da Lua das Flores, novo trabalho do aclamado cineasta Martin Scorsese nos mostra mais um retrato doloroso da história americana que envolve a ganância de intrusos brancos a um território rico dos indígenas Osage em um período que também marcou o início do hoje conhecido FBI, agência na época liderada por J. Edgar Hoover. Baseado em um livro homônimo do jornalista nova iorquino David Grann e com um orçamento na casa dos 200 milhões de dólares além de uma narrativa impecável somos guiados por um imenso vale de lágrimas, rastros de dor e tristeza que alguns tentaram esconder mas que agora, mais que nunca, jamais serão esquecidos.

Na trama, conhecemos Ernest (Leonardo DiCaprio), um jovem que acabara de voltar da primeira guerra mundial e vai de encontro a William Hale (Robert De Niro), um tio influente na região de Oklahoma, terra essa dos indígenas Osage que ao longo do tempo foram descobrindo uma enorme riqueza ligadas ao tão cobiçado petróleo transformando aquela região em uma das mais ricas do mundo na década de XX. Dentro desse cenário, Ernest descobre o amor entrando na sua vida a indígena Mollie (Lily Gladstone) mas também logo se mete nos planos de uma enorme conspiração de homens brancos contra os indígenas, com direito a manipulações, explorações e assassinatos.  

Antes de qualquer coisa, a importância do reaparecimento dessa história, agora viva não só pelo livro mas principalmente a chegada desse filme, apagada de contextos, é fundamental para que as reflexões sobre as verdades não sejam esquecidas e sim debatidas! Dito isso, o recorte da época do filme, muito bem transmitido pelas lentes de Scorsese, era um cenário total de manipulação feita por homens brancos, sedentos pelo dinheiro jorrando na região com cúmplices em escala federal. Sim, aqui não tem só um vilão!

Scorsese, antes de ampliar sua discussão para o todo, opta pelo olhar ao relacionamento de Ernest e Mollie, desabrochando suas personalidades completamente distintas além de todo o passado cultural de um e de outro. O embate entre o que Ernest tinha de sabedoria e o que Mollie absorveu de toda sua cultura indígena viram elementos importantes para entendermos alguns porquês que seguiriam pelos destinos dos personagens. Sem passar o pano e metendo o dedo em feridas dolorosas de páginas que muitos quiseram que ficassem esquecidas da história americana, a brilhante narrativa arranca até o último suspiro da ganância e interesses que logo se interligam. Não há dúvidas que Scorsese sabe como contar uma história!

Uma variável que chega com tremenda importância e talvez tenha sido o fator surpresa para os engravatados que comandavam os jogos de interesse pela aquelas terras foi que nesse mesmo período dava-se o início aos primeiros grandes avanços na forma da lei do departamento federal de investigação, o Federal Bureau of Investigation, ou sua sigla mais conhecida, FBI, agência na época liderada por J. Edgar Hoover que entra de cabeça na investigação dos assassinatos. A importância desse fato é fundamental para mudanças em alguns rumos.

Assassinos da Lua das Flores é um importante registro histórico, um filme que brinda os cinéfilos com suas quase três horas e meia de duração no mais alto nível cinematográfico, fruto de uma mente brilhante e sua inquietude em mostrar algumas verdades de seu próprio país.  



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Crítica do filme: 'Vidas Passadas'


A incontrolável contramão do destino. Debutando na carreira de diretora, a cineasta sul-coreana Celine Song não podia ter começado com um melhor pé direito. Seu filme transborda sentimentos conflitantes aos olhos de duas almas que parecem complementares mas que o momento certo de se encontrarem muda completamente os rumos de seus destinos. Vidas Passadas é uma poesia em forma de cinema, onde declamações marcantes são vistas, sentimentos borbulham, nos levando de forma avassaladora para o núcleo do sentimento mais profundo que existe.

Na trama acompanhamos em algumas passagens de tempo a relação de amizade e quem sabe até mesmo amor entre Nora (Greta Lee) e Hae Sung (Teo Yoo). No início amigos de escola, com a imigração da primeira para um outro país ficam distantes, voltando a se encontrar pela internet mais de uma década depois. Após mais uma pausa, sem conseguirem dar aquele passo necessário na relação, se reencontram mais uma década depois, já adultos e estabelecidos profissionalmente, ela uma escritora em Nova Iorque casada com o também escritor Arthur (John Magaro), ele um engenheiro ainda na Coreia do Sul. Um último encontro pelas ruas da cidade mais famosa do mundo, contemporânea, acontece, onde precisam lidar com o que o tempo e o destino tem para oferecê-los. Será o suficiente?

Uma amizade? Um possível amor? A narrativa navega de forma dinâmica e nada melancólica pelos caminhos turbulentos dos encontros e desencontros onde a saudade, palavra forte mas que só tem real significado na nossa língua, acaba virando uma variável constante mesmo na contramão do destino. O roteiro se fortalece com diálogos profundos (alguns fabulosos), na linha ‘pés no chão’, longe de qualquer fantasia, próximo do real, aproximando do espectador as reflexões sobre as inúmeras formas de amar. Há um elemento também forte por aqui, a lembrança. Por ela, conseguimos entender a força que essa relação não definida (e pra que definição né?) ganha novos capítulos com o passar do tempo.

Nessa relação que se estabelece à distância, em distantes linhas temporais, dentro de um discurso que nunca perde o sentido sobre o que se propõe a falar, era necessário uma dupla de artistas que entendessem as interrogações dos borbulhantes sentimentos. Isso acontece. O elenco é fabuloso, Greta Lee e Teo Yoo se completam em cena elevando a qualidade do projeto.

Tendo a força do destino como algo inalcançável, como é na realidade, seja pelas ruas de Nova Iorque ou de qualquer cidade do mundo, Vidas Passadas deixa enormes lições sobre algumas verdades do viver.


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17/12/2023

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Crítica do filme: 'Propriedade'


O choque guiado pelo não diálogo. Exibido em diversos festivais no Brasil e no mundo, um dos mais impactantes filmes brasileiros dos últimos tempos finalmente chega ao circuito exibidor trazendo no colo uma história forte, aterrorizante, onde os conflitos de classes se mostram evidentes entre dois mundos que entram em um confronto inconsequente. Escrito e dirigido por Daniel Bandera, Propriedade traça paralelos importantes com a sociedade de hoje, principalmente nos distanciamentos aos diálogos construtivos e a falta de compreensão para que se resolvam diferenças.


Na trama, conhecemos Tereza, uma mulher de família rica (Malu Galli) que no passado fora vítima de um assalto que acabou na morte do assaltante, fato que a deixou traumatizada. O tempo passa e junto ao seu marido resolvem fazer uma viagem para a fazenda da família no interior. Só que chegando no lugar, os trabalhadores que prestam serviços lá, liderados por Dona Antônia (Zuleika Ferreira), se revoltam por uma série de situações e tomam o lugar. Tereza consegue se trancar no seu carro mas sem ter a chance de fugir. Assim, começa um jogo psicológico onde a não comunicação se torna um elemento importante para refletirmos sobre o que assistimos até o último segundo de projeção.


Como se colocar no lugar do outro? Rodado antes da pandemia, no segundo semestre de 2018, em São José da Cora Grande, cidade de pouco mais de 20.000 habitantes, situada no litoral sul de Pernambuco, o longa-metragem, de passagens marcantes em inúmeros festivais de cinema, embarca em uma narrativa repleta de tensão onde o chocar se torna uma ferramenta importante para o refletir. Os conflitos emocionais logo viram combustível de sobrevivência, aqui sob duas óticas, onde chegamos em interrogações, as principais: afinal, tem alguém certo nessa história? Tem heróis e vilões? As respostas podem ser bem diversas para essas questões.


A habilidade de Bandera ao conduzir essa história é vista nos detalhes, na força do discurso fortemente encravado nas linhas do roteiro pelo duelo das antagonistas. Tereza e Dona Antônia, brilhantemente interpretadas por Malu Galli e Zuleika Ferreira, respectivamente, nos guiam de forma angustiante para os abismos no diálogo de posições sociais distintas que parecem nunca se entenderem. De um forte drama somos surpreendidos para uma grande virada, um abre alas onde chega o terror, um lugar em que a aflição toma conta da nossa atenção.

 


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Crítica do filme: 'Tia Virgínia'


A solidão e o despertar. Uma reunião familiar para o natal vira o palco para relações deterioradas pelo tempo, por atitudes repetitivas aos olhos de uma protagonista amargurada,  muitas vezes com o olhar perdido, como se não pudesse controlar o tempo que se passou. Vencedor de cinco Kikitos e uma menção honrosa no Festival de Gramado, o longa-metragem Tia Virgínia, escrito e dirigido por Fabio Meira joga pra escanteio a melancolia de escolhas no passado para trilhar a estrada do se reinventar.


Na trama conhecemos Virginia (Vera Holtz), uma mulher solteira, que nunca teve filhos ou se casou, que cuida da sua mãe de quase 100 anos em uma casa confortável. Ela está prestes a receber a visita das duas irmãs, o esposo de uma delas e alguns de seus sobrinhos para comemorarem juntos aquele que pode ser o último natal da mãe já bem debilitada. Ao longo de memórias da família, situações que beiram ao constrangimento, Virgínia passa esse dia prestes a perceber que é a hora de realizar tudo aquilo que sempre sonhou, entrando em conflito com quem quer que seja.


A narrativa nos joga para dentro de desabafos, desilusões, escolhas de integrantes de uma família com um jogo de olhares fixados em Virginia, a única solteira e a escolhida pra cuidar da mãe. Igual a muitos lares, parece a vida real! Em 24 horas ali presa naquele lugar e com os mesmos confrontos que chegam de quem tá do lado de fora, uma série de acontecimentos, como se fosse um vulcão em erupção, a faz ver o filme de sua vida tomando de loucuras o caminho que ainda falta. Mas será loucura mesmo desabrochar, tomar coragem e ser feliz?


A câmera posicionada de forma fixa em muitos momentos transformam nossos olhares em um personagem que acompanha tudo como se estivéssemos com o buraco da fechadura em aberto. As reflexões da terceira idade ganham moldes, o eventual rancor se mostra de forma madura acoplando num despertar para a vida que sempre quis, isso tudo sob o plano de fundo impactada pela belíssima trilha sonora assinada por Cesar Camargo Mariano.


Tia Virgínia é um atemporal peça de teatro sobre a vida, aqui numa versão cinematográfica. As cores ganham força, a melancolia é apenas detalhada como transição, o futuro pertence somente aqueles que conseguem se desprender daqueles olhares com tom de repreender, ah, e o aprender não tem idade... o viver então...



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14/12/2023

Crítica do filme: 'Wonka'


A magia e o poder do chocolate. Depois de duas versões para o universo do cinema, uma na década de 70 e outra já pelos anos 2000, o universo fantasioso de A Fantástica Fábrica de Chocolates, escrito pelo britânico Roald Dahl já é algo marcante nos corações cinéfilos. Nesse ano, um prequel (uma história anterior) ao que já sabíamos, ganhou um colorido filme, repleto de efeitos que busca resgatar a essência dos primeiros aprendizados e obstáculos na vida do chocolateiro e engenhoso Willy Wonka. A direção fica a cargo do norte-americano Paul King, responsável pela direção da franquia As Aventuras de Paddington.


Na trama, conhecemos um jovem Willy Wonka (Timothée Chalamet), uma alma em busca de seu grande sonho: viver fabricando chocolates e fazendo as pessoas felizes. Chegando em uma grande cidade, ainda com enorme tristeza pela não mais presença da mãe, aos poucos vai conquistando todos ao seu redor mas precisará enfrentar um verdadeiro cartel do chocolate que não está nada satisfeito com sua chegada. Ao lado de amigos que vai fazendo pelo caminho, Wonka mostrará que todo sonho pode ser realizado.


O que fazer com um conjunto de ideias mirabolantes e transformar tudo isso em um discurso eficiente? O roteiro assinado por Simon Farnaby e pelo próprio diretor Paul King busca fazer um ponte para uma narrativa dinâmica, repleta de números musicais empolgantes, com a força da metáfora aliada à fantasia, sem perder a força dramática só que em sua primeira parte bastante redundante fato que pode atrapalhar a interação com os olhares mais observadores.


Feito para todas as idades, navegamos pelos conflitos do jovem sonhador e os traumas de subtramas que caminham pela delicadeza ao mostrar conflituosas e absurdas situações sofridas ao longo da história com contextos relevantes que se acoplam na narrativa de forma implícita. Há críticas sociais, a maior delas o analfabetismo de um protagonista que vê sua bondade ser sugada por opressores. Os tumultuados embates capitalistas que aqui se tornam personificados por vilões da ampla concorrência de um produto adorado por todos também são destacados.


Como em todo musical, a parte da trilha sempre merece algumas linhas de comentários. Ficou responsável pelas canções originais do filme, o músico britânico de 53 anos Neil Hannon, vocalista da banda The Divine Comedy.


Wonka como um todo cumpre seu papel que é o de divertir e transmitir um discurso de recomeços e que os sonhos podem se tornar realidade mesmo que parte do mundo venha com tempestades, os famosos obstáculos, algo que a vida preenche ao longo de qualquer caminhada.



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03/09/2023

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Crítica do filme: 'Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado'


No ano seguinte após o sucesso estrondoso de Pânico, um outro filme do subgênero do terror, o slasher, chegou aos cinemas uma obra repleta de tensão que aborda as consequências de uma escolha na visão de jovens amigos à beira de fases importantes de suas vidas. Dirigido por Jim Gillespie, com roteiro assinado pelo craque Kevin Williamson, baseado no romance homônimo da escritora Lois Duncan, Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado é um daqueles filmes que envelhecem mal.


Na trama, acompanhamos quatro jovens amigos que voltando de uma noitada na praia no dia da independência norte-americana, pegam o carro e numa distração, em meio as curvas perigosas de uma estrada, acabam atropelando uma pessoa. Tendo que decidir em minutos quais os passos a se seguirem nessa situação, optam pela pior opção que é a de não chamar a polícia e ainda por cima jogam o corpo na água. O tempo passa e logo percebemos como o ocorrido impactou suas vidas e para piorar um deles recebe um bilhete que diz exatamente o título do filme:  Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado. Assim, começam uma busca para saber quem era aquela pessoa que eles atropelaram e quem está causando mortes pela cidade.


Rodado em quase dois meses na Califórnia, o projeto busca sua força na questão da escolha em momentos chaves na vida. Desde a apresentação dos personagens, seus sonhos, seus desejos, são colocados ao público, assim chegamos nas personalidades distantes de quatro personagens que caminham pela trama mas com uma forte ótica de uma protagonista feminina. Conhecemos um playboy mimado que sonha em ser jogador de futebol americano, uma jovem que acabara de ganhar o prêmio de rainha em um festival da cidade, uma estudiosa e exemplar aluna prestes a entrar numa grande faculdade e um jovem de classe social diferente dos demais ainda em busca de sonhos para seu futuro. Assim, quando a hora da decisão de ajudar ou não o atropelado chega, as dúvidas aparecem e principalmente sobre o que seria do destino deles.


Quando as peças são apresentadas e uma caçada mortal começa a se configurar, a narrativa se perde na obviedade, abrindo espaço para os clichês, deixando o superficial tomar conta, restando apenas as incertezas de alguma surpresa. A tensão não é contida, sustos aparecem, mas o desenvolvimento do roteiro acaba ficando arrastado, sem brilho. Eu Sei o que Vocês Fizeram no Verão Passado, mesmo sendo considerado um enorme sucesso comercial, não é nem de longe o melhor filme onde um assassino misterioso aparece e uma busca por sua identidade vira o objetivo dos sobreviventes. É um filme que envelhece mal, daqueles que a cada vez que assistimos gostamos menos.



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Crítica do filme: 'Um Estranho no Ninho'


A personificação do antagonismo. Uma das maiores bilheterias de todos os tempos em alguns lugares do planeta, principalmente quando pensamos no lucro que o filme teve: custou cerca de três milhões e faturou mais de cem, Um Estranho no Ninho nos mostra diversos personagens em conflitos presos em um lugar onde a esperança de dias melhores se perdem nos métodos distantes, frios e com a falta de sensibilidade de quem deveria acreditar num melhor desenvolvimento dos tratamento que executam. Baseado no livro homônimo escrito por Ken Kesey e dirigido pelo cineasta tcheco Milos Forman, o longa-metragem venceu cinco Oscars, inclusive todos das categorias principais.


Na trama, conhecemos R.P. McMurphy (Jack Nicholson), um criminoso de 38 anos de idade chegando em uma clínica psiquiátrica para ser analisado se é um doente mental ou não. Aos poucos, o protagonista começa a quebrar as regras e as rotinas do lugar, se aproxima de outros pacientes colocando forte influência e novas ideias do viver ali, fato que o leva a um confronto com a cruel enfermeira Ratched (Louise Fletcher).


Os personagens são aos poucos apresentados, uns mais, outros menos, vemos alguns dos porquês de estarem por lá. Em certo momento do desenvolvimento há um foco no tipo de tratamento que é o que acreditam os que estão ali. Sessões de terapia de forma onde o confronto vira o foco, remédios e mais remédios, além de choques quando precisam de alguma forte punição. Entre voluntários e pacientes sob custódia, rápidas alegrias e tristezas profundas, a narrativa consegue navegar na essência daquele lugar principalmente sob o ponto de vista de McMurphy.


O foco são os duelos entre McMurphy e Ratched, o criminosos rebelde a opressora. A enfermeira vê sua influência se dissipar com a chegada do novo paciente, esse é o estopim de uma luta de ações e consequências que acabam influenciando a vida de todos dentro do hospital. O filme não deixa de ser uma crítica social a alguns métodos aplicados em pacientes com problemas psiquiátricos.


As atuações são fantásticas. Jack Nicholson venceu o Oscar, o Bafta e o Globo de Ouro de Melhor Ator por sua interpretação no papel que na década de 30 foi de Kirk Douglas, em uma adaptação para o teatro. O filme marcou a carreira de Louise Fletcher, falecida em 2022. Outros rostos conhecidos também fazem parte do elenco, como: Danny DeVito e Christopher Lloyd, e sobre esse último, o projeto marca a primeira aparição dele em um filme.


Uma das maiores bilheterias de todos os tempos em alguns lugares do planeta, principalmente quando pensamos no lucro que o filme teve: custou cerca de três milhões e faturou mais de cem, Um Estranho no Ninho é um daqueles filmes que assistimos e nunca mais esquecemos.



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02/09/2023

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Crítica do filme: 'Os Suspeitos' (1995)


O maior truque que o diabo já usou foi convencer o mundo de que ele não existia. Vencedor de dois Oscars, o filme que abriu as portas de Hollywood para o até então desconhecido cineasta Bryan Singer, é um drama policial que se mistura num intenso e surpreendente suspense com uma narrativa que busca seu potencial na importância dos detalhes. Uma sala de suspeitos, um caminhão roubado, a receita federal junto à Polícia querendo respostas, um grupo de pessoas que são induzidos à uma ação perigosa, esses elementos e alguns outros se reúnem num quase enigma a ser montado, peça por peça através de um interrogatório, flashbacks e um imprevisível narrador. Os Suspeitos é hipnotizante e a última cena se consolidou como uma das maiores reviravoltas da história do cinema.


Na trama, vamos vendo um interrogatório de um sobrevivente, criminoso, aleijado, de uma ação em um navio que deixou quase três dezenas de mortos questionado duramente por uma autoridade federal e também um outro sobrevivente numa cama de hospital, com o corpo tomado de queimaduras fazendo o retrato falado de quem seria o grande responsável pelo ocorrido. Assim, conhecemos a história de um grupo de experientes criminosos que são levados por autoridades policiais até uma sala de suspeitos da polícia de nova Iorque questionados por serem responsáveis por um suposto roubo de um caminhão com uma carga valiosa. Após esse encontro, eles planejam um outro crime, fato que os leva a cruzar o caminho de um alguém muito poderoso e temido, os levando para o protagonismo em um trabalho suicida à mando de um temível psicopata de quem ninguém nunca viu o rosto, conhecido por histórias de violência por todos os lados, uma espécie de bicho papão da criminalidade, Keyser Soze. Durante o interrogatório mencionado, as verdades vão começando a aparecer.


As surpresas de um roteiro que consegue o mérito de esconder suas verdades por um longo tempo. A estrutura narrativa desse projeto à princípio pode ser considerada bem corajosa, nada é muito simples por aqui. Da introdução até a conclusão, um desenvolvimento engenhoso com peças jogadas num tabuleiro proposto que começam a se locomoveram na direção de suas verdadeiras respostas através de sequências em paralelo que apresentam flashbacks através de um narrador (que está sendo interrogado) que se dedica a jogar o foco no detalhe, nas entrelinhas.


O responsável pelo espetacular roteiro é o norte-americano Christopher McQuarrie que depois ficou conhecido como diretor, inclusive ele dirigiu alguns dos últimos filmes da mais famosa franquia protagonizada por Tom Cruise: Missão: Impossível - Nação Secreta, Efeito Fallout e o mais recente Acerto de Contas - Parte Um. McQuarrie venceu o Oscar de Melhor Roteiro por esse longa-metragem. Filmado em um mês com um orçamento girando em torno de seis milhões de dólares, considerado de baixo orçamento para a época, o projeto faturou mais de vinte milhões em bilheteria.


Entre conflitos, violência, investigações policiais, dramas pessoais, quando rumamos para o fim, uma pergunta começa a fazer muito sentido: afinal, quem diabos é Keyser Soze? Para saber dessa resposta você deve assistir até os últimos segundos de projeção, e posso adiantar, vai valer a pena! Pra quem se interessar, o filme tem para aluguel por um precinho camarada no youtube e na google play filmes.



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16/08/2023

Crítica do filme: 'Retratos Fantasmas'


Exibido no Festival de Cannes e no Festival de Gramado de 2023, antes de ganhar as salas de cinemas do sempre conflituoso circuito brasileiro de exibição, o novo trabalho de um dos principais cineastas brasileiros da atualidade, Kleber Mendonça Filho, Retratos Fantasmas, mescla o antes e o depois de um Recife em constante mudanças, um reflexo de outras grandes cidades brasileiras. Com muitas reflexões nesse caminho dentro de um recorte profundo, pessoal, com alta carga de sentimentos ligados à memórias familiares, vamos das euforias às incertezas com a certeza de que o tempo foi alterando os lugares.


Em atos que definem bem toda a estrutura narrativa, essa jornada repleta de críticas sociais começa com um olhar familiar, no bairro Setúbal (situado entre avenidas Barão de Souza Leão e Armindo Moura), na zona sul de Recife, onde o narrador (o próprio Kleber) viveu durante muitos anos acompanhando as mudanças estruturais, emocionais, políticas, econômicas, sociais. Abrindo o baú de memórias, com vídeos antigos, lembranças de pessoas importantes em sua trajetória, percebemos aos poucos a importância desse lugar como um reflexo de outros tantos.


O que morre mas continua vivo. Não vai ter happy end? No segundo momento, estacionamos no epicentro da narrativa, o ponto que se liga com os outros, as memórias dos/nos cinemas. Art Palácio, Veneza, Trianon, São Luiz, todos grandes salas históricas em Recife, cada um ganha um pequeno espaço para o mundo conhecer algumas de suas ricas histórias. Alguns viraram igrejas, alguns viraram cinemas e antes eram igrejas. Lugares que foram alterados com o tempo, e que antes da extinção de alguns desses, levaram milhões de pessoas para assistir aos mais diversos filmes em muitas décadas de existência. Kleber navega em mais lembranças, nos tempos que trabalhou para uma sala de cinema, nos papos com um amigo projecionista, nas lembranças de filmes que passaram por ali. Como esquecer de lugares tão especiais? Impossível! Espaços que gosta de se reencontrar mesmo que atualmente de fora para dentro.


Os centros esquecidos, aqui, chegam quase na conclusão. Nesse ponto, o campo de reflexão é mais amplo, passando rapidamente numa mudança da onde o dinheiro circula. Os contextos com os lugares que percorreu se juntam às suas memórias, levando o espectador a um tour por registros históricos e culturais importantes, algo que pode traçar paralelos com outras cidades brasileiras.


Algo que percorre todo o documentário e que se torna uma certeza sobre Kleber: sua vida conversou com suas obras. Seja em Aquarius, em O Som ao Redor, nas referências de filmes rodados ali naquela cidade, somos testemunhas de pontos que se encontram entre a ficção e a realidade, onde a magia do cinema sempre foi uma saída para gerar reflexões mas sem nunca esquecer o passado, onde tudo começou.


Retratos Fantasmas estreia dia 24 agosto nos cinemas.



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12/08/2023

Crítica do filme: 'Casa Vazia'


Um recorte doloroso sobre o olhar de uma caminhada na constante solidão. As aflições de um mundo, sem nem ao menos uma pitada de esperança, é o pontapé inicial de Casa Vazia, dirigido por Giovani Borba, que aborda a falta de oportunidades, o desespero, a inconsequência aos olhos de um homem pacato, sem muitas palavras, que está num presente solitário, abandonado pela família. Perdido no seu cotidiano de perdas, sem muitas escolhas, limitado em relação a estudos, vemos um protagonista que se distancia cada vez mais do que seria uma importante pausa sobre as inconsequências de seus atos. Muito bem filmado, com imagens e movimentos que dão beleza às reflexões da narrativa, o projeto foi exibido no Festival do Rio e chegou ao circuito exibidor nesse ano.


Na trama, conhecemos Raul (Hugo Nogueira), um homem que mora em uma casa simples no meio de uma estrada. Desempregado e com óbvios problemas com bebida num passado muito próximo, se vê em um presente sem opções, fruto da falta de qualificação já que a mão de obra limitada se perde em meio a tecnologia em constante evolução. Pra piorar o cenário, é abandonado pela esposa. Flertando com a tragédia, sua única forma de sobrevivência dentro desse cenário é aceitar o bico de ladrão de gados em ações noturnas repletas de perigos por todos os lados. Assim, conforme situações acontecem, Raul precisará parar e entender as possibilidades do que fazer com sua vida.


Ambientado e filmado na fronteira com o Uruguai, na cidade de Santana do Livramento, município do Rio Grande do Sul de pouco mais de 80.000 habitantes, que tem um foco gigante na agricultura e pecuária, Casa Vazia consegue dentro de sua bolha melancólica explorar os porquês de um personagem principal em conflito abrindo seu foco para o contexto da vida no campo em uma região que associa a falta de oportunidades a rara mão de obra qualificada. O espectador precisa ter paciência porque o desenrolar é lento mas há um simbólico objetivo nisso, as pausas para reflexão são constantes nos levando para um desfecho interpretativo.


Casa Vazia e seus muitos méritos, vai da fé até a crise familiar, passando por constantes ‘bang bangs’ na calada da noite, elementos que se juntam para explicar a falta de solução na vida de um homem que perdeu a esperança faz muito tempo e agora se vê passando por cima das inconsequências, muito pelas dificuldades financeiras, chegando até a sobrevivência, o único foco de uma vida limitada, sem muitas saídas.



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Crítica do filme: 'No Outro Encontro Você'


Os vários recortes em um só. Com uma narrativa contornada pela melancolia e as desilusões da vida, seja no lado pessoal, ou no profissional, o longa-metragem brasileiro No Outro Encontro Você busca seu alicerce numa espécie de ‘cansaço de si mesmo’ dentro de lembranças embaralhadas com o não sucesso em um presente cercado de tristeza. Esse liquidificador de emoções acaba sendo a base do que assistimos ao longo de pouco mais de uma hora e meia de projeção desse projeto dirigido por André Bushatsky.


Na trama, ambientada no último mês do ano, conhecemos quatro amigos que se reúnem pela última vez na casa de campo de dois deles, já que a residência será vendida após o falecimento da matriarca da família. Tem playboy enrolado com seus empreendimentos furados, tem administrador boa praça endividado, uma artista introspectiva que está de mudança para outro país, além de uma dondoca que se joga numa traição em busca de algum sentido existencial. Nesse grupo de pessoas que se conhecem faz muito tempo, vamos acompanhando um recorte do presente deles, maduros ou imaturos, que convivem com segredos, mentiras e traições.


Os seus problemas são menores que os meus problemas? O que é o fracasso? Com algumas perguntas ligadas aos obstáculos da vida, que circulam na trajetória desses conflitantes personagens, No Outro Encontro Você tem seu epicentro nos relacionamentos em crise, buscando um olhar aos sentimentos mais íntimos dentro de uma montanha russa de emoções. Com uma locação apenas, vários assuntos contornam a trama, algumas de forma mais profunda, outras no campo superficial. O aborto, o rompimento com o ponto básico de um casamento, a infelicidade nos negócios, o não se desprender de uma bolha egoísta, mimada, ligada à criação que teve, os paralelos com o real são constantes, são personagens que dentro de suas características podemos enxergar do lado de cá da telona.


No Outro Encontro Você promove um refletir sobre recortes do cotidiano de quatro almas que se encontram com seus pensamentos diversos sobre a vida, jogando uma luz marcante dentro dos fracassos nos caminhos que os seres humanos precisam lidar. Pra quem se interessar, o longa pode ser assistido no NOW, no Vivo e na Amazon Prime Video (para aluguel).




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05/08/2023

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Crítica do filme: 'O Acidente'


Nem tudo que a gente enxerga é real. Uma briga de trânsito acaba sendo um marco inicial de uma história de perdas, sexualidade, sentidos de família, que nos leva sob o olhar de uma protagonista em crise existencial que se joga em um curioso e improvável laço entre duas famílias. O Acidente, estreia na direção em longas de Bruno Carboni nos faz refletir sobre uma pergunta que percorre tudo que assistimos: Se conectar com outras histórias faz parte do nosso aprendizado?


Na trama, conhecemos Joana (Carol Martins), uma jovem que trabalha como tradutora e está grávida do primeiro filho com a namorada, Cecília (Carina Sehn). Certo dia, durante um trajeto ao trabalho de bicicleta, acaba se envolvendo em uma ríspida situação no trânsito, inclusive sendo atropelada. Ela resolve deixar pra lá, não que dar queixa, mas um vídeo da situação é publicado na internet fazendo a mudar de ideia e acaba entrando na vida da família que causou o acidente. Durante esse período, busca entender os personagens dessa história, principalmente o filho da mulher que a atropelou.


Tirar ou não satisfação numa questão de trânsito? Por mais que esteja certa, vale a pena se colocar em risco? Essas perguntas ficam em plano de fundo, escondem um olhar muito intimista sobre tudo que se desenrola a partir de uma variável incontrolável que contorna a sociedade. Partindo desse princípio, com uma narrativa que adota um ponto de vista exclusivo na protagonista percebemos um embarque no trauma dos outros fato que leva Joana remexer sobre seu próprio emocional, sua rotina, seus amores, seus dramas, suas perdas, suas escolhas.


Juíza da situação? Se conectar com outras histórias faz parte do nosso aprendizado? Quando entendemos melhor o detalhado recorte na vida de Joana, percebemos seu traçar paralelos a partir dos que cruzaram sua vida. A família em questão, vive em pé de guerra, com um pai militar rígido na educação de seu filho, uma mãe que está forte estresse, sem saber como agir. Nesse momento, o sentido de ser mãe aflora na jovem que logo se conecta com o filho do casal, como se tivesse algo a acrescentar, ou até mesmo uma troca de experiências, na rotina solitária do rapaz. O Acidente parte de uma situação extrema de violência para tantas outras, um olhar real sobre o viver, sobre o aceitar, sobre se conhecer.


Vencedor do prêmio de Melhor Roteiro no Festival de Beijing, o projeto faz parte da seleção do Festival de Cinema de Gramado na competição de longas gaúchos e estreia nos cinemas no dia 24 de agosto.



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28/07/2023

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Crítica do filme: 'O Lobo Atrás da Porta' *Revisão*


Do que o ser humano é capaz? Com um excelente roteiro, inspirado num caso que chocou o Brasil, conhecido como Fera da Penha, O Lobo Atrás da Porta completa 10 anos em 2023 sendo considerado por muitos um dos grandes filmes brasileiros da última década. Nos mostrando o sumiço de uma criança, um tenso interrogatório com versões de uma mesma história, o filme passa um raio-x na obsessão, impulsividade, na violência. Quem está mentindo? Qual a verdade? Ao longo dos 101 minutos de projeção detalhes de um chocante crime vão sendo revelados dentro de um alto clima de tensão.


Na trama, conhecemos Bernardo (Milhem Cortaz), um fiscal de uma empresa de ônibus, casado com Sylvia (Fabiula Nascimento) com quem tem uma filha. Quando a garota desaparece misteriosamente após ser pega por alguém na creche em que estava, Bernardo e Sylvia vão até a polícia onde um tenso interrogatório acontece. O delegado de plantão (Juliano Cazarré) começa a desconfiar de algumas versões da história e logo se descobre que Bernardo tem uma amante chamada Rosa (Leandra Leal) que também é convocada para prestar depoimento. O tempo passa e as verdades começam a aparecer.


Exibido em muitos festivais de cinema, inclusive no Festival de Toronto (onde estreou) e também no Festival do Rio (onde levou dois prêmios), O Lobo Atrás da Porta tem uma narrativa brilhante, tudo funciona para não deixar o clima de tensão escapar, onde o vai e vém nas histórias dos envolvidos acabam trazendo enormes surpresas. A traição é um ponto central, onde tudo começa, se desenvolve e termina, há um olhar minucioso para conflitos nos relacionamentos, onde o lado psicológico chama a atenção em relação as ações e consequências nas portas que são abertas para esses conflituosos personagens.


Rosa é a mais intrigante personagem, sonsa, obsessiva, dissimulada, se mostra capaz de qualquer coisa para não sair da sua bolha de carência que é repensada com a chegada de um novo amor, mesmo esse sendo casado e a usando como objeto de desejo. As reflexões sobre nossa sociedade e as formas de enxergar a violência, a vingança, se colocam sob as ações dessa chocante personagem. Brilha em cena Leandra Leal, uma das melhores atrizes em atividade no nosso cinema.


Escrito e dirigido pelo ótimo cineasta Fernando Coimbra, em seu primeiro longa-metragem, o filme teve orçamento abaixo dos 2 milhões de reais, muito abaixo de outras produções nacionais. O projeto nas bilheterias brasileiras alcançou nem 30.000 espectadores. O que gera várias perguntas: Por que as pessoas não foram assistir? Será que ainda existia/existe algum pré-conceito ou mesmo preconceito com as produções brasileiras no nosso próprio país? Quantas salas de cinema colocaram o filme? Será que as salas de cinema que não colocaram o filme em cartaz estavam repletas de produções internacionais? Para se pensar!


Para quem se interessou em conferir, o filme está disponível na Star Plus, na Netflix e na HBO Max.



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27/07/2023

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Crítica do filme: 'Depois de Ser Cinza'




A palavra certa que esclarece sentimentos. O perdão, as abruptas despedidas, a culpa, o adeus, como lidar com assuntos mal resolvidos, são alguns dos caminhos que passam Depois de ser Cinza longa-metragem dirigido por Eduardo Wannmacher, com roteiro de Leo Garcia. O projeto rodado em Porto Alegre e na Croácia, nos transporta para pontos de vistas de três personagens femininas apresentando com detalhes e inúmeras interpretações através de um mesmo homem que se relacionou com elas.


Na trama, conhecemos Raul (João Campos), um sociólogo gaúcho, com pós em antropologia, com intensas crises de ansiedade, perdido em histórias de amor no passado que não tiveram o final que queria. Num primeiro momento conhecemos seu encontro com a artista Isabel (Elisa Volpatto) na longínqua Zagreb, uma imigrante brasileira amargurada, inquieta que parece buscar encontrar sentidos para seu presente. Em meio a apresentação desses dois estranhos, mentiras, dificuldades em se abrir se colocam em evidência e assim vamos conhecendo também a história de Suzy (Branca Messina), uma estudante que extravasa seus vazios existenciais em festas e consumos desenfreados de seus vícios, presa na conflituosa relação com o pai, um pesquisador que já se foi, talvez o grande amor da vida de João. E em paralelo, chegamos na história de Manuela (Silvia Lourenço), uma terapeuta bem sucedida que não consegue se desprender da perda de um grande amor que agora está com sua irmã e num momento de sua vida também se envolve com João.


Os perigos de uma única verdade. A narrativa fragmentada em tempos onde giram em torno de fortes emoções à princípio pode parecer confusa mas os elos se encontram ao longo dessa história. E mesmo se perdendo na linha do tempo, o que importa é a força dos sentimentos que fazem nossos olhos cruzarem com o real sentido dessa história. O imaginário das relações e os embates com a dura realidade permeiam momentos chaves na vida de um protagonista que não se desprende de sua rotina de angústia. As transformações pessoais, que acontecem para todos os personagens, ganham luz principalmente através do olhar das mulheres que cruzam o caminho do protagonista.


Ebulições emocionais, pessoas em conflitos, qual o limite para o vazio existencial? O que é interpretado como ajuda ou como necessidade? Através de olhares distintos rumamos à melancolia, até mesmo um estado de tristeza profunda tendo como pilar central o não se conformar. Depois de ser Cinza, brinda o público com cenas belissimamente bem filmadas sem esquecer do refletir de que na vida nem tudo são flores sendo importante as alegrias e tristezas que lidamos pela nossa jornada emocional.



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19/07/2023

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Critica do filme: 'Oppenheimer'


Como resumir uma história complexa que envolve sentimentos conflitantes e brilhantismo em paralelo a impactantes poderes dentro de um cenário bélico mundial que se estende até os dias atuais? O novo trabalho do cineasta britânico Christopher Nolan, baseado no livro vencedor do Pulitzer, American Prometheus, uma biografia de J. Robert Oppenheimer escrito pela dupla Kai Bird e Martin J. Sherwin, explora com maestria o uso das possibilidades de uma narrativa, buscando em detalhes chaves os elos para contar uma história de brilhantismo e caos emocional que influenciou poderes que vemos até hoje na geopolítica mundial. Sem adotar o tão batido CGI (imagens geradas por computador), o filme mais longo da carreira de Nolan, com 180 minutos, nos mostra de forma impactante a vida, os romances, os fundamentais encontros, sua relação conturbada com o governo americano, as decisões polêmicas do ‘pai da bomba atômica’.


Na trama, em meio a passagens de tempo, voltamos até o início do século XX, onde um prodígio aluno do curso de química da prestigiada universidade de Harvard, J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy) daria seus primeiros passos rumo a física teórica, viajando pelos principais centros de estudos do tema, conhecendo nomes depois renomados da ciência, até chegar ao comando do ‘Projeto Manhattan’ encarregado de desenvolver armas de destruição em massa, no laboratório de Los Alamos, e onde foi criada as famosos bombas atômicas que atingiram Hiroshima e Nagazaki já no final da segunda guerra mundial. Em paralelo a isso, vamos conhecendo também sua vida pessoal, repleta de amores, traições, problemas nos relacionamentos interpessoais, e seus embates com a política norte-americana, muito por conta dos tempos em que foi considerado comunista, inclusive o filme retrata o tempo em que foi vítima da caça às bruxas durante o Macartismo.


Nesse segundo filme onde Nolan encontra um recorte para sua narrativa dentro do cenário caótico da segunda guerra mundial (o outro foi Dunkirk), passamos a refletir sobre por boa parte de um dos períodos mais conflitantes da história norte-americana, próximo do fim da segunda guerra mundial, com a não acenada dos japoneses em se renderem. Mas antes de encontrar esse ponto da história, vamos percorrendo a vida de estudos e descobertas do personagem título, um homem que parecia uma chaminé ambulante que se dedicava de forma integral ao seu trabalho. O lado psicológico aqui também ganha destaque, o protagonista se vê em um quadros depressivos constantes e ao longo de sua trajetória foi se aproximando dos movimentos políticos pelo mundo principalmente depois dos impactos do nazismo e fascismo. Ele se associou ao partido comunista nos Estados Unidos, apoiou greves, ajudou amigos cientistas a saírem de uma Europa em chamas, entre outras ações, algumas delas são relatadas no filme.


Mecânica quântica, física nuclear... O fisiquês aqui é mostrado de forma bem didática, objetiva, um caminho inteligente para uma narrativa que quer trazer o refletir para o máximo de pessoas possíveis. Desde a descoberta do Neutron até a concepção de uma bomba com poder de várias, períodos que acabam andando em paralelo a vida de Oppenheimer, contar essa história do início ao fim acaba sendo um dos grandes desafios da produção. Um fato curioso, é que Nolan ligou o sinal positivo de realizar essa obra, entre outros pontos, quando recebeu de presente um livro sobre a vida de Oppenheimer dado a ele pelo ator Robert Pattinson.


Com um elenco estelar, com nomes como: Robert Downey Jr, Emily Blunt, Florence Pugh, Matt Damon, e claro, Cillian Murphy , Oppenheimer é mais uma obra-prima de um diretor que usa da inteligência, da grande pesquisa, para ampliar a imersão do espectador dentro de uma sala de cinema.

 

 

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05/07/2023

Crítica do filme: 'O Crime é Meu'




As verdades e mentiras com ar teatral. Baseado em uma peça teatral escrita por Georges Berr e Louis Verneuil em meados da década de 30, o novo trabalho do ótimo cineasta francês François Ozon aborda a gangorra de emoções de uma jovem que vai da tristeza e anonimato até as flores e os aplausos após ser acusada de assassinato. Com diálogos ágeis, ritmo contagiante, e todo um ar teatral, o filme passa, de maneira superficial, por assuntos como: machismo, preconceito e até mesmo a cumplicidade moral em uma França perto da Segunda Guerra Mundial.


Em uma época onde os cinemas exibiam o filme Semente do Mal de Billy Wilder, conhecemos Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz) uma jovem atriz com uma carreira que não decola, com conflitos na vida amorosa, sem dinheiro quase sempre, devendo aluguel todo mês. Ela divide um apartamento no sexto andar de um edifício em Paris com a amiga Pauline Mauléon (Rebecca Marder), uma jovem advogada sem emprego que parece ser o único apoio de Madeleine no presente. Certo dia, após passar horrores em uma reunião, a protagonista acaba sendo acusada de assassinar um famoso produtor. A partir daí, sua vida ganha novos rumos quando verdades aparecem.


Mais ou menos cinco anos antes de começar a Segunda Guerra Mundial, em meados da década de 30, a França vivia dias de desenvolvimento artístico e cultural muito forte, inclusive Picasso pintara um de seus famosos quadros nessa época na própria capital francesa. O cinema se tornou cada vez mais relevante o que fez de objetivos de muitos e muitas serem artistas. Nesse contexto encontramos a protagonista, desiludida na vida, talvez até mesmo por não ter talento para a profissão escolhida, sofrendo os horrores do machismo por todos os lados. Quando sua vida muda, a partir de uma alegação de legítima defesa, a narrativa embarca no olhar da mudança de perspectiva dela através de olhares de muitos que a julgavam.    


Comédia biruta? História sem sentido? Ritmo alucinado? Um pouco disso mas há mais que isso! O espectador que não conseguir se conectar com as poucas mas existentes reflexões que há nas entrelinhas, ir até o fim do filme pode ser uma jornada sonolenta. Mas há pontos importantes para reter nossa atenção, é só ter um entendimento do contexto, das referências que o projeto traz.   


Com filmagens que duraram apenas dois meses, com locações na Bélgica e na França, O Crime é Meu tem um ótimo elenco, que mescla artistas renomados como: Isabelle Huppert, André Dussollier, Fabrice Luchini e Dany Boon, com duas jovens artistas da nova geração francesa.



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27/06/2023

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Crítica do filme: 'Horizonte'


Grande Vencedor do Prêmio de Melhor Longa-metragem na segunda edição do Festival de Cinema de Vassouras no Vale do Café, Horizonte nos mostra de forma delicada e poética a história de um homem condenado a vive em um cubículo, tendo seus direitos jogados para fora de um lugar que já chamou de lar, juntamente com seus restos de sonhos, ficando preso a uma solidão angustiante. A virada nesse projeto é um ponto de partida para surpresas e emoções, quando a coragem bate à sua porta e um novo amor chega trazendo de volta para sua vida tudo que lhe havia sido roubado. Dirigido por Rafael Calomeni, filmado em grande parte na cidade de Aparecida de Goiânia, segundo município mais populoso do estado de Goiás, Horizonte nos mostra que, as vezes, nas mais simples histórias estão inesquecíveis reflexões sobre a vida.


Na trama, conhecemos, um senhor já na parte final de sua vida (Raymundo de Souza) que se vê em um presente tumultuado, com a família em conflito após a morte de um membro. Morando numa casa onde não é bem-vindo, onde a solidão bate mais forte a cada segundo que passa, certo dia, após ouvir um anúncio numa rádio local, resolve se mudar para um condomínio de casas que está sendo construído com o apoio da prefeitura. Nesse lugar descobre um novo sentido da vida e até mesmo é surpreendido por um novo amor.


Onde há esperança em meio ao caos de um cotidiano triste, sem vida? As traduções de linhas do abstrato mundo dos sentimentos camuflados pela solidão, em muitas histórias dentro de uma casa dividida, acaba sendo o pontapé inicial desse roteiro surpreendente. Uma câmera inquieta, em constante movimento, busca completar lacunas por meio de detalhes. Seja num gesto, num olhar, num ato de confronto, aqui o espectador precisa estar preparado para refletir sobre a desconstrução, principalmente quando quatro paredes logo se tornam oito em um recorte profundo sobre a solidão que nunca encontra a solitude.


Se queres que eu sofra é grande o teu engano! Um clima de conflitos e mais conflitos, longe de primeiros passos para uma possível fuga acaba despertando no protagonista uma necessidade de viver melhor o tempo que lhe resta, ele sabe que só terá uma oportunidade quando essa chegar. É o que acontece! Quando resolve desbravar o mundo, sempre com seu violão no colo, a redescoberta da vida logo chega. E com ela, surpresas. Nesse caminho para um tantinho de esperança tudo começa a fazer mais sentido aos seus olhos, que não estão chorando!


Produzido por Dostoiewski Champangnatte (um dos roteiristas do sucesso Fala Sério, Mãe!), o filme conta com boa direção de Calomeni, uma fabulosa e inesquecível atuação do experiente ator Raymundo de Souza. Horizonte deixa suas reflexões pelo caminho, com um final aberto que deve gerar várias interpretações. A única certeza é de que é um filme que merece ganhar o circuito de exibição e emocionar plateias de todos os cantos de nosso país.



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10/05/2023

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Crítica do filme: 'Acima de qualquer Suspeita' (Revisão)


Os deslizes das emoções. Campeão de bilheteria na década de 90, Acima de Qualquer Suspeita é um clássico filme de tribunal, repleto de variáveis que instigam o espectador a enxergar sob diversos pontos de vista uma mesma situação. Trazendo para o público os desenrolares de uma investigação de assassinato que explora os caminhos da ética, da política, do casamento, somos testemunhas de reviravoltas chocantes. O projeto é dirigido por Alan J. Pakula com roteiro baseado no best seller homônimo de Scott Turow.


Na trama, conhecemos Rusty Sabich (Harrison Ford), um prestigiado promotor de um grande centro dos Estados Unidos que vê sua vida dar um verdadeiro nó quando é acusado de matar a ex-amante, a também promotora Carolyn (Greta Scacchi). Esse fato praticamente despedaça seu casamento com a matemática Barbara (Bonnie Bedelia), o faz se afastar do seu emprego, além de ter que provar sua inocência custe o que custar. Ao longo dos intensos 127 minutos de projeção, também por meio de flashbacks, vamos entendendo melhor a relação do promotor com a vítima.


Um bode expiatório ou tem culpa no cartório? Ou as duas coisas? A análise minuciosa em relação ao protagonista nos leva a enxergar todas as variáveis dessa complexa trama que envolve personagens com motivações das mais diversas. Tem o lado político, já que o chefe de Rusty está à beira de uma reeleição e o caso de assassinato cai como uma bomba. Tem o lado do romance intenso do protagonista em um passado recente, uma mulher cheia de mistérios, envolvente que se afasta dele quando consegue subir na carreira. Por fim, pra completar esse triângulo de situações, a enorme crise conjugal ganha espaço na trama, os conflitos emocionais envolvidos são profundos, cheio de memórias angustiantes, conflitantes, que levam o relacionamento de Rusty e sua esposa à beira do precipício.


O interessante do roteiro é que tudo se torna possível dentro da história, será Rusty inocente ou culpado? Como a sociedade lida com o pré-julgamento? Essa última pergunta, até bastante atual em meio ao caos do mundo em meio ao cancelamento virtual constante que acontece diariamente muitas vezes sem nem apurarem os fatos, caindo em fake News ou mesmo narrativas contaminadas por algum lado.


Acima de Qualquer Suspeita usa como escudo a ética para se aprofundar sobre a moral, em uma história que só é revelada suas verdades nos minutos finais. E que final!



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Crítica do filme: 'O Despertar de Aurora'


Como ter esperança em um mundo tão cruel? Exibido no Festival É Tudo Verdade 2023, O longa-metragem O Despertar de Aurora nos leva a uma viagem impressionante, e que de fato aconteceu, aos olhos de uma jovem que viu seu mundo se despedaçar se tornando sobrevivente do genocídio armênio. Dirigido pela cineasta Inna Sahakyan, esse projeto armênio é uma história repleta de momentos tensos, quase inacreditáveis, que nos leva de um massacre até Hollywood, adotando a técnica de animação em conjunto com depoimentos de sua protagonista e ainda partes recuperadas de um filme realizado na época do cinema mudo sobre a protagonista.


Na trama, voltamos em uma extensa linha temporal, até a Primavera de 1925 onde conhecemos Aurora, uma jovem até então com 14 anos que travou uma enorme luta para fugir dos horrores do genocídio armênio e anos depois conseguiu chegar em Nova York onde conheceu as várias facetas da fama em meio a uma Hollywood na era do cinema mudo. Contando sua história ao mundo, no forte mercado de cinema, interpretou a si mesma no filme Auction of Souls (Leilão de Almas, 1919), um filme que se perdeu com o tempo, caindo no esquecimento.


Para entender melhor essa história, é preciso se basear nos relatos históricos, dos porquês de algumas questões. Durante o período de início da Primeira Guerra Mundial, o antigo Império Otomano (que se desmembrou e hoje é a atual Turquia) iniciou um extermínio contra os Armênios por conta de posições política de parte desse povo na primeira grande guerra. Tal fato gerou a morte de milhares de pessoas. Um fato que chama a atenção, é que hoje, passados dezenas de anos, os turcos ainda não reconhecem o genocídio. O Brasil, inclusive oficialmente não reconhece. Os EUA reconheceram formalmente em 2021.


Dentro desse contexto, conhecemos Aurora que tinha uma família feliz, que encenavam peças teatrais no quintal de casa mas vê uma reviravolta na sua trajetória com a primeira guerra se aproximando. Em apenas dois meses, perdeu quase toda sua família e precisou entrar em modo de sobrevivência, passando por terríveis situações e humilhações, até enfim conseguir fugir e chegar aos Estados Unidos, com o objetivo de contar ao mundo o que estava acontecendo naquela parte conflituosa da Europa.


Nesse segundo momento da trajetória de Aurora, ela se depara com uma Hollywood quase nos anos 20, que queria transformar sua história em filme, fato que aconteceu com o lançamento de Auction os Souls. Num primeiro momento, se vê fascinada por esse novo mundo mas logo conforme o passado a alcançava, sua história comoveu ate Charles Chaplin, se vê em um novo conflito, dessa vez na figura da ganância de alguns integrantes da principal indústria cinematográfica do mundo.


O Despertar de Aurora apresenta essa história que beira ao inacreditável, de uma jovem lutando contra a probabilidade, fugindo da escravidão, da matança, e se tornando uma eterna sobrevivente.  



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