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08/11/2023

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Crítica do filme: 'Obrigado, Rapazes'


A liberdade para quem se acostumou com a reclusão. Integrante da ótima seleção do Festival de Cinema Italiano 2023, a comédia com fortes traços de drama existencial Obrigado, Rapazes foca seus esforços para refletir sobre o papel da arte e o significado de uma mudança no olhar para a realidade. Invocando um dos maiores dramaturgos do século XX para encontrar sentidos para abaladas trajetórias de vida, a narrativa rumo para a esperança através de uma jornada de descobertas por meio de um protagonista que percebe rapidamente a troca mútua que o espera. Remake do longa francês A Noite do Triunfo, Obrigado, Rapazes tem uma singela poesia, cheia de metáforas, que nos aproxima dos personagens a todo instante.


Na trama, conhecemos Antonio (Antonio Albanese), um experiente ator, pai de uma jovem, já na casa dos 30 anos que mora no Canadá, que trabalha no seu presente como dublador de filmes para adultos e parece não estar nada feliz com os rumos que sua vida e carreira levaram. Certo dia, após receber uma ajuda de um amigo dono de teatro, tem a chance de um novo trabalho como professor de um curso de teatro dentro de um presídio italiano. Assim, conhece alguns presidiários mais a fundo, os ajudando a encenar a peça Esperando Godot, do autor irlandês Samuel Beckett. Será esse o empurrãozinho que precisavam para enxergar suas vidas com outros olhos?


A prisão como um lugar de esperança na reabilitação. A dramédia invoca uma obra escrita no final da década de 40, uma das mais famosas do autor Samuel Beckett, com uma história que diz muito do que vemos na trajetória dos personagens. O valor da arte como elemento agregador na reabilitação é uma das reflexões mais interessantes que o longa-metragem dirigido por Riccardo Milani nos leva. A ressignificação da vida por aqui é um mola propulsora para debates existencialistas.


A contextualização e atualidades são resgatadas nas entrelinhas de uma narrativa que foge do riso fácil, onde o drama e a busca pela esperança contornam as desconstruções dos personagens. Temas sobre a sociedade atual não são esquecidos. Além da própria reflexão sobre a ressocialização dos presos, a imigração também ganha holofotes, além das oportunidades de trabalho. O professor Antonio acaba sendo um espelho que reflete na vida dos presos, numa relação mútua na busca pelo tão sonhado encontro com a esperança pelos caminhos de direção da própria vida.


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Crítica do filme: 'A Sombra de Caravaggio'


Os detalhes que fazem a perfeição. Um dos destaques da seleção do Festival de Cinema Italiano 2023, excelente mostra de filmes gratuita com exibições em algumas salas e online, A Sombra de Caravaggio nos mostra alguns recortes da vida de Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio, um influente pintor do final do século XVI e início do XVII que marcou a arte barroca em todo o mundo com uma extensa obra que buscava a associação do que era divino e do que era humano numa época onde a igreja católica mandava e desmandava na Itália. Dirigido pelo cineasta italiano Michele Placido, a narrativa se joga pelas imagens e movimentos de elementos emocionais conflitantes, característicos do protagonista.


Na trama, conhecemos parte da vida de Caravaggio (Riccardo Scamarcio), um famoso pintor que fez carreira na Itália e usava sua maestria arte como uma espécie de desabafo pelas associações que traçava em relação a tudo que via. Transformando em arte, a dor e angústia da humanidade, navegamos na fase final de vida do artista quando conseguiu abrigo após ser acusado de assassinato chegando à Nápoles em 1609, à espera de um perdão papal. Em paralelo a isso, acompanhamos a investigação da Igreja Católica, na figura do enigmático Ombra (Louis Garrel), para saber se o protagonista merece ou não o perdão.


O fascínio, o amor, o ódio. Elementos emocionais conflitantes guiavam a trajetória da genialidade de um artista complexo, intrigante, muitas vezes provocado, punido, senhor de grandes angústias numa reta em busca de validar seu espírito livre o que o levara para os lados interpretativos da inconsequência. Amados por alguns, odiados por tantos outros, Caravaggio era uma figura difícil de ser definida. Talvez por isso a narrativa se fixa nos diversos conflitos nessa fase de vida que o filme retrata, consumido pela angústia de não saber seu destino, andando entre Milão, Nápoles e Malta, criando arte a partir de expressões marcantes com referências em pessoas que encontrava nas noites em que não dormia.


Um dos inúmeros pontos positivos desse filme é o alcance de um poderoso recorte de uma época. Em paralelo a história do artista, enxergamos o olhar da Igreja Católica, até então definidora de destinos com seu poder de punição, sem saber o que fazer com um talento reconhecido por todos que apresentava suas obras ligadas ao divino de uma forma nunca antes vista. A personificação disso chega na figura sombria do personagem de Louis Garrel. Há também o olhar da alta sociedade sobre a situação do pintor, protegido em grande parte por famílias influentes, adoradores de seus trabalhos, ao longo de toda a Itália, como a influente Família Colonna aqui mencionada pela personagem de Isabelle Huppert, Costanza.


Com direito a intensos duelos de espadas, passagens históricas das origens de alguns obras lembradas até hoje e grandes imagens que representam o conjunto de angústias de um homem em eterno conflito, A Sombra de Caravaggio busca apresentar os fatos que compõem a reta final de vida do artista que marcou o movimento barroco.




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