Quando a responsabilidade bate na porta. Exibido no Festival de Berlim, o drama iraniano Até Amanhã aborda as escolhas de uma jovem mãe e os dilemas que precisa enfrentar quando o destino e suas inconsequências se chocam em um dia intenso onde viverá horas de incertezas, descobertas e muitos aprendizados. Escrito e dirigido pelo cineasta Ali Asgari, o longa-metragem tem seu alicerce nas emoções conflitantes de uma forte protagonista na busca pelos seus sonhos e independência, driblando os olhares julgadores de um país onde a repressão contra a mulher ainda é um chocante retrato dessa sociedade.
Na trama, acompanhamos um dia tenso na vida da jovem Fereshteh
(Sadaf Asgari), que vive sozinha na
capital do Irã onde estuda e trabalha em uma gráfica para sustentar sua filha
recém nascida de 2 meses. Quando um parente sofre um acidente e logo
hospitalizado na cidade de onde mora, seus pais resolvem visitá-la. A questão é
que eles não sabem da existência da criança. Assim, sem saber em quem confiar,
ela precisa encontrar um lugar para a criança ficar enquanto seus pais estão
por perto embarcando em uma série de conflitos que se seguem.
A responsabilidade, o papel de mãe, é algo que caminha
durante toda a narrativa, que alcança um dinamismo eficiente detalhando as
chocantes surpresas que a personagem principal encontra pelo caminho. A relação
distante com o pai da criança (que não quis assumir a filha), o medo de contar
a verdade aos pais, os absurdos que precisa lidar para manter sua mentira, o
não saber em quem confiar, são alguns dos pontos que logo se tornam elementos
importantes para uma desconstrução de um personagem que ruma para um desfecho
emblemático que diz muito sobre tudo que aprende durante o intenso dia que
vive.
O roteiro, também abre caminhos para uma reflexão mais ampla
de um país que associado as suas tradições não se desgarra de limitações quando
pensamos em igualdade entre homens e mulheres. Com a iminência dos seus segredos
virarem certezas para os outros, a protagonista embarca em conflitos que
esbarram nessa contextualização. Até
Amanhã se consolida como um forte recorte de uma mãe em busca de certezas
para seu futuro e o de sua filha em um país onde o olhar para a mulher é
insuficiente, preconceituoso.