O que começa
em novembro e não termina nunca mais. Discussões em familiares, bebedeiras e
caça entre amigos, o novo trabalho do aclamado diretor, criador do movimento
Dogma 95, Thomas Vinterberg (Submarino) é um daqueles filmes
inesquecíveis onde sentimos do lado de cá da telona toda a angústia e injustiça
que ocorre nas sequências desse que até o momento é, disparado, o melhor filme
do ano.
Em A Caça,
conhecemos um professor alto astral, de bem com a vida, que é muito querido por
toda a comunidade em que vive. Certo dia, uma acusação de uma de suas alunas
(filha de seu melhor amigo) deixa o professor exposto em um caso de pedofilia.
Ao seu lado, somente sua nova namorada, seu filho e um dos seus inúmeros
amigos. A agonia e aflição do protagonista é algo que chega de maneira intensa
ao espectador. A dor, o medo, as incertezas são moldadas genialmente pelo intérprete
do personagem. Mads Mikkelsen (O Amante da Rainha) tem uma atuação
magnífica, impactante. Um dos melhores atores desse planeta, não tenham dúvida
disso.
A construção
dos personagens dentro do contexto, especialidade de Vinterberg é o grande
pilar desse drama comovente que gera uma comoção do público. Poucas vezes
assistimos um filme e já pensamos nos debates que podem acontecer. O absurdo maior fica com as atitudes da dona
do colégio e como a mesma guia suas terríveis suspeitas. Acaba virando uma vilã
inconsequente aos olhos de quem sofre junto com o personagem injustiçado. Cruel
e demonstrando uma total inexperiência na função de diretora, gera indignação
de todos na sala de cinema.
A
desconfiança, a busca pelos seus direitos, a destruição de uma vida. Na segunda
metade do longa, vemos as consequências dos acontecimentos que abalam de vez
aquela pacata cidade e principalmente a vida do homem marcado por uma denúncia
imatura de um certo porão imaginário. Vinterberg sabe como poucos explorar
histórias conflituosas, como essa. O desfecho é emblemático, a licença para a
caça do filho de alguém que sempre terá um olhar desconfiado dos seus próprios
amigos.
A culpa, o
perdão, a indignação. Sentimentos que andam em conjunto destruindo
emocionalmente os personagens e brindando o público com uma verdadeira obra de
arte. Cinema bom é assim mesmo, faz o público refletir. Bravo!