Dirigido pela cineasta alemã Margarethe von Trotta (do
inteligente Vision - Aus dem Leben der Hildegard von Bingen), Hannah
Arendt é um drama sobre uma mulher importante para o mundo da filosofia
política que possuía um leve ar inconsequente. O roteiro é deveras
interessante, se auxiliando de flashbacks e pensamentos, só deixando a desejar
em relação a maiores explicações para os leigos em filosofia. Quem já conhece
Hannah Arendt vai entender muito melhor as explicações dadas neste filme do que
quem nunca ouvir falar sobre ela.
Numa época que pensadores originais não precisavam de
diploma para lecionar, conhecemos a filósofa política alemã de origem judaica,
Hannah Arendt que trabalhou como jornalista e professora universitária além de
publicar obras importantes sobre filosofia política. Sempre rodeada por livros
e textos que contribuíram para com a sua obra, somos apresentados aos amigos
(alguns deles famosos pensadores) e a toda uma problemática pessoal provocada pelo
seu pensamento que culminou na transformação de um julgamento em uma questão
filosófica.
Entre um trago e outro, um clima de tensão vai moldando o
filme do meio para frente. Considerada por muitos um poço de arrogância e
insensibilidade, a prestigiada filósofa é diversas vezes questionada se realmente
amava o povo a qual pertencia. Tudo por conta de um acontecimento emblemático,
um julgamento que mobiliza uma legião de pessoas diretamente ou indiretamente
afetadas pelas ações absurdas dos nazistas na segunda guerra.
Um dos recursos interessantes do filme é que vamos
descobrindo sua maneira de pensar através de memórias que surgem para o público
em forma de flashbacks pincelados de acordo com a cronologia da história.
Acompanhamos a criação de um dos mais comentados livros do século XX,
entendemos melhor a sociedade em que vivia a protagonista onde pensar era uma
atividade solitária.
A atriz alemã Barbara Sukowa (Veronika Decide Morrer)
ficou com a árdua tarefa de dar vida a protagonista, uma das vozes mais marcantes
na sociedade daquela época. Passou com louvor no teste! Outro destaque, Janet
Mcteer (Albert Nobbs) e sua presença sempre contagiante viram
protagonistas de ótimas cenas. Impressiona como a atriz britânica de 51 anos
rouba a cena quando aparece. Exatamente como fez no interessante Albert
Nobbs, onde atuou como coadjuvante de Glenn Close.
Um prato cheio para quem curte discussões sobre questões
sociais, existenciais e que realmente quer conhecer a fundo o mundo da
filosofia. Não deixem de conferir esse bom trabalho!