E vem da Hungria – possivelmente – o filme mais esquisito do
ano, Cabaré
Biblicoteca Pascoal. Estranho em muitos sentidos, o trabalho do diretor
Szabolcs Hajdu não é uma experiência fácil de entender, se o cinéfilo conseguir
envolver-se emocionalmente a uma das inúmeras subtramas que compõe o trabalho,
sairá da sala de exibição com a sensação gostosa de ter sido cobaia de uma
experiência única dentro da sala de cinema.
Ao longo dos 111 minutos de muitas metáforas e sonhos, somos
guiados para a história por uma cigana chamada Mona (Orsolya Török-Illyés) que
vive nas ruas da Hungria ganhando a vida como artista. Logo do início da trama,
ela vai precisar convencer um assistente social de que pode ser uma mãe responsável
e assim recuperar a guarda de sua filha. Para isso, a bela persoagem irá contar
histórias fantásticas que ultrapassam as fronteiras da realidade, construindo
um mundo de sonhos e ilusões para tentar amenizar a dor que sofreu ao longo do
tempo. Assim, começa a viagem do espectador.
A grande discussão gira em torno do roteiro. Uns acharão um
trabalho terrível, outros gostarão. A narrativa é um pouco confusa e a não
linearidade do filme se perde em alguns momentos pois não ficam muito nítidos
os desfechos dos personagens nos retornos temporais. Mesmo com essa confusão
que o espectador pode ser testemuha, não deixa de ser um roteiro corajoso, com
a cara de David Lynch e lembranças do eterno clássico de Tim Burton Peixe
Grande e suas Maravilhosas Histórias.
A romena Orsolya Török-Illyés simplesmente dá um show na
pele da protagonista. Maluquices do
roteiro à parte, a desconhecida atriz europeia constrói e desconstrói sua
personagem de maneira brilhante. Somos envolvidos em diversas histórias que se
dividem de maneira segura na ótica de sua personagem. Criamos um laço profundo,
quase poético com Mona – a protagonista. Sofremos juntos e torcemos para um
final feliz em seu desfecho.
Muitas vezes dentro de uma sala de cinema, somos alvo da
experiência de mentes criativas. Esse filme húngaro não é uma exceção neste
quesito. Você pode até não gostar do resultado mas a história possui elementos criativos
que fazem a gente voar e voar através dos sonhos, da nossa poltrona até a
metáfora mais próxima. Que beleza maior existe senão sonharmos com as histórias
que nos são apresentadas? Não deixe de conferir este trabalho único.