Um dos mais esperados filmes nacionais deste ano, enfim,
chega ao circuito nacional. Com uma tática de lançamento inusitada, começando
pelo nordeste antes de estrear em outros lugares, o curioso trabalho de Halder
Gomes (As Mães de Chico Xavier) é uma jornada de um sonhador atrás de
seu objetivo. Desde os créditos iniciais até as citações e críticas nas letras
que aparecem no final, percebemos uma reverência não só a sétima arte mas
também a todos os profissionais que ajudam a criar esse universo mágico de
entretenimento chamado cinema.
Com cenas ao melhor estilo Tela Class (um seriado
que passava na ex-Mtv), Cine Holliúdy conta a incrível
jornada de Francisgleydisson (Edmilson Filho) e sua família que abandonam tudo
e partem rumo ao desconhecido, com o sonho de abrir novamente uma sala de
cinema em alguma cidade. A chegada maciça da televisão nas pequenas cidades do
Brasil, nos anos 70, coloca em perigo os pequenos cinemas e essa é uma luta que
Francisgleydisson, à bordo da sua
Wanderlea (apelido curioso de seu carro amarelo), luta a todo instante. Em uma
cidade onde cinema é uma lenda, o simpático personagem terá mais uma chance de
levar a magia do cinema a todos.
O filme não perde o humor em nenhum momento deixando vazios
quando tenta encostar nos dramas dos personagens. É como se a emoção não fosse
a fundo, fato que poderia encorpar muito mais todas as ideias e objetivos dos
personagens. O foco é no protagonista, um contador de histórias absurdas que
lembra em muitos aspectos Ed Bloom (personagem principal do clássico de Tim
Burton Peixe Grande e suas Maravilhosas Histórias (2003)).
O personagem principal, Francisgleydisson, possui um carisma
bastante particular. O ator Edmilson Filho (As Mães de Chico Xavier)
esbanja talento e competência. Grande revelação do nosso cinema. Vamos conferir
em breve muitos outros bons trabalhos deste talentoso artista. Roberto Bomtempo
(Ponto
Final) na pele do prefeito Olegrio Elpdio possui ótimas cenas e também
se destaca mesmo aparecendo poucas vezes.
Os coadjuvantes tem papel importante no ritmo acelerado da
história. Figuras peculiares e algumas conhecidas como o cantor Falcão enchem a
tela com sotaques e expressões típicas do nordeste brasileiro. As legendas em
um filme nacional, fato quase inédito, cria uma dinâmica inusitada muito bem
aceita pelo público. A magia do cinema está em cada cena, seja nas interações
dos personagens sejam nas referências aos filmes orientais trash de
antigamente.
A vida não existe sem histórias. Cine Holliúdy bate nesta
tecla a todo instante. Criar um universo de alegria e emoção mesmo com as
dificuldades da vida, como Roberto Benigni fez em A Vida é Bela , é o
objetivo desta história escrita pelo próprio diretor. Um indicativo de que a
criatividade e originalidade do nosso cinema está vivo. Vida longa e próspera a
esse tipo de cinema, o que faz a gente sonhar! Bravo!