Até onde vai a força de um pai lutando pela sobrevivência de
um filho? Chega dos Estados Unidos (mas bem longe de ser um blockbuster que
todos assistirão), um dos filmes mais intrigantes deste ano: Midnight
Special. Com um ritmo alucinante, envolvendo tiroteios intensos e
explosivas perseguições de carros, o longa-metragem dirigido pelo cineasta Jeff
Nichols (dos ótimos O Abrigo e Amor Bandido) explora bem profundamente
a possibilidade de uma vida extraterrestre e como entidades governamentais e
religiosas as explorariam a situação caso realmente existissem esses indícios.
Esse realmente é um filme que Fox Mulder gostaria de participar.
Na trama, somos rapidamente apresentados a um pai chamado
Roy (Michael Shannon) e seu filho chamado Alton (Jaeden Lieberher) que estão em
uma fuga alucinante pelas estradas norte-americanas contando com a ajuda apenas
de Lucas (Joel Edgerton), um policial que abandonou toda sua vida para ajudar a
dupla em seu objetivo. Aos poucos vamos descobrindo o porquê desta fuga, que
envolve uma seita religiosa, o governo dos EUA e uma analista de inteligência
do FBI, esse último interpretado por Kylo Ren (ou Adam Driver se preferirem). Midnight Special possui sua própria
personalidade nas intensas e inteligentes rotações de gênero que possui ao
longo dos quase 120 minutos de projeção.
Os arcos do filme são muito bem explorados dentro do
excelente roteiro. Após uns 10 minutos iniciais de tirar o fôlego, somos
situados em uma trama paralela (mas ao mesmo tempo simultânea) para podermos
entender os porquês das escolhas dos personagens e seus verdadeiros objetivos
dentro do contexto. Assim, somos apresentados a uma seita em que o pai e filho
mencionados faziam parte, um analista do FBI começa a descobrir segredos sobre
os enigmas que o são apresentados, e aos poucos as habilidades do menino são
reveladas ao público gerando uma série de perguntas sobre quem ele realmente é.
O intrigante nisso tudo é que o filme se torna um quebra-cabeça de ações e
objetivos, oriundos de uma ideia inicial de que o menino em questão tem poderes
especiais.
Já na metade final da trama, entra na história uma figura
que completa grande parte do quebra cabeça: a mãe, interpretada com bastante
competência por Kirsten Dunst. Com o ciclo familiar apresentado e as razões
para eles estarem juntos nesse momento explicados, o longa, que não tem
previsão de estrear nos cinemas brasileiros por enquanto, entra em seu louvável
ato final com todos sofrendo as consequências de suas escolhas. Midnight
Special é a prova de como um roteiro poderoso pode transformar um
longa-metragem em uma singela obra prima de um gênero explorado muitos vezes
por ideias sem força e com fundamentos explicados apenas na superfície.