Tudo aquilo que sou, ou pretendo ser, devo a um anjo, minha
mãe. Filme de abertura da última Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, a
co-produção Itália/França dirigida pelo marcante cineasta italiano Marco
Bellocchio é um daqueles filmes que conseguem chegar bem fundo em nossas
emoções, trazendo um encanto de poesia na relação impactante de um filho com as
lembranças de sua mãe. Profundo,
elegante, emotivo, a produção passa com louvor na avaliação criteriosa dos
corações cinéfilos, principalmente aos que percebem uma analogia extraordinária
entre seu enredo e uma letra famosa escrita por Renato Russo anos atrás. Belos Sonhos é sem dúvidas um dos mais
belos e honestos filmes desse ano que termina.
Baseado no livro Fai Bei Sogni, de Massimo Gramellini, Belos Sonhos, distribuído pelas Mares
Filmes no Brasil, conta a história de Massimo, um amante do futebol que tempos
mais tarde vira jornalista de um importante jornal que possui um grande trauma,
quase uma lacuna não preenchida sobre as lembranças que cercam o falecimento de
sua mãe quando Massimo era apenas uma criança. Percorrendo uma linha do tempo
que vai e volta, no melhor estilo Bellochio, vamos juntando aos poucos o
complexo quebra cabeça da trajetória emocional de Massimo com muitas surpresas
e momentos de redenções ao longo dos emocionantes 134 minutos de projeção.
Dorme agora, é só o vento lá fora. O roteiro explora com
louvor toda a tempestade de lembranças que passa o protagonista ao longo de sua
tumultuada trajetória de vida. Desde a infância e os momentos dançantes com sua
mãe, até os horrores da guerra vistas de uma maneira bastante profunda. O trabalho do ator italiano Valerio
Mastandrea (o Michael Fassbender da Itália), que interpreta Massimo em sua fase
adulta, é irretocável, passa uma pureza no olhar que impressiona. O espectador
sai do filme sabendo que assistiu a uma baita atuação.
Me diz, por que que o céu é azul? Explica a grande fúria do
mundo! Os embates cheio de cargas emocionais entre o pequeno Massimo e o religioso
que lhe ensinava na escola sobre a origem das coisas é muito interessante e
traça um paralelo certeiro com a história de vida do menino. Há uma saudade que
ele sente de tudo que ele ainda não viu.
Você diz que seus pais não entendem, mas você não entende
seus pais. Um dos mais marcantes clímax que possui a película, o reencontro do
protagonista com seu pai em uma reunião simbólica para lembrar de jogadores de
futebol do time do Torino que morreram em uma trágico acidente aéreo anos atrás.
Já mais velhos e mais calejados pela vida, o desabafo do pai ao filho ao falar
sem mistérios sobre sua mãe, é bastante emocionante e toda a emoção contida
nessas fortes sequências mexem muito com quem possui fortes ligações com a
família.
É preciso amar as pessoas como se não houvesse amanhã. O
filme é tão bem realizado que prepara o espectador para um gran finale repleto
de sentimentos guardados e que precisavam escapar para que o protagonista
seguisse em frente com sua vida. Lindos momentos, reflexões sobre sua vida.
Nesse final de ano, sendo uma gota d'água ou um grão de areia, veja esse filme
e corra para abraçar as pessoas que você ama.