Há riqueza bastante no mundo para as necessidades do homem,
mas não para a sua ambição. Um dos filmes mais polêmicos desse ano de 2017, Fome de Poder, explora a história da
criação de uma das marcas mais famosas do mundo, o Mc Donald’s. Dirigido pelo
bom cineasta texano John Lee Hancock (Um
Sonho Possível), o filme apresenta argumentos sólidos, mostrando todo o
início da empresa pelos olhos do ambicioso Ray Kroc. Na condução do
protagonista, Michael Keaton usa e abusa de sua experiência para conseguir
empatia com o público.
Na trama, conhecemos o vendedor de máquinas de Milk Shake,
Ray Kroc (Michael Keaton), um desiludido ser humano que busca há mais de 50
anos uma grande oportunidade empreendedora. Certo dia, após receber uma ligação de seu
escritório, dirige rumo à rota 66 e encontra um empreendimento fabuloso do ramo
alimentar, principalmente em sua ágil linha de produção, criado pelos irmãos
Dic (Nick Offerman) e Mac (John Carroll Lynch) Donald’s. Assim, resolve
estreitar laços com os irmãos e vira um franqueado da rede de sanduíches. Mas
com sua ambição batendo toda hora em sua consciência, Ray resolve ter como
objetivo de vida aumentar a rede para mais franqueados e com o passar do tempo
um Mc Donalds era inaugurado a todo instante em todo os Estados Unidos.
O filme passa por todas as fases do início do Mc Donald’s,
avançando sobre sua linha de produção e rapidez inovadora para época, onde hambúrgueres
eram vendidos à incríveis 35 centavos de dólares. Os irmãos Donald’s eram
conservadores em relação a muitas inovações exatamente para não se perder a
qualidade no produto que criaram. Já Ray, autodenominado o Fundador, pensava
diferente em alguns pontos e queria adicionar algumas inovações mais rentáveis
para seus franqueados. Essa parte do filme, o marketing e administração por
trás do grande negócio é o ponto alto da história, até sua conclusão com a
expulsão dos verdadeiros criadores de toda a ideia Mc Donald’s.
O filme muito se assemelha com A Rede Social (o filme sobre a criação do Facebook dirigido por
David Fincher) em muitos sentidos. Parece que para a criação de uma empresa com
sucesso espetacular em seu meio você precisa se impor como um lobo e sem se
importar com consequências. Ray Kroc era a cara da ambição e o roteiro escrito
por Robert D. Siegel (O Lutador)
deixa bem claro todas as facetas desse grande empreendedor mas talvez nem tão
grande homem. O seu relacionamento frio com sua esposa Ethel, interpretada pela
sempre ótima Laura Dern, é completamente abalado quando os negócios como
franqueado do Mc Donald’s começa a decolar e até um novo amor surge sem dó nem
piedade. Kroc é impiedoso, um vilão meticuloso que abre suas verdadeiras
facetas conforme é atacado. Destrói sonhos dos outros para alcançar status e
sucesso. Keaton, na pele desse conturbado Kroc, demonstra mais uma vez sua
qualidade como ator.
Fome de Poder teve
seu lançamento adiado tentando buscar alguma vaguinha no Oscar (fato que não se
concretizou). O longa estreia em março aqui no circuito brasileiro e deve criar
uma grande curiosidade no público para conhecer a verdadeira história por trás
do sucesso da maior rede de fast food do mundo.