Não podemos acreditar no fim do amor. Exibido no Festival de
Locarno, a comédia dramática The
Big Sick, no original, é uma daquelas gratas surpresas que aparecem no
circuito. Falando de um assunto bastante abordado em longas metragens ao longo
dos anos, o amor proibido por conta da religião e costumes de uma das partes, Doentes de Amor, título nacional desse
projeto, possui peculiaridades que vão do roteiro baseado na história de vida
do ator principal Kumail Nanjiani, que escreveu o roteiro com sua mulher, Emily
Gordon, até atuações equilibradas e um grande cheiro de Oscar para Holly
Hunter, deslumbrante, e com um carisma que impressiona.
Produzido pelo famoso diretor Judd Apatow, o filme conta a
história do indiano Kumail (Kumail Nanjiani), um jovem motorista de Uber que
faz de tudo para entender os costumes e tradições de sua família e foge sempre
que o assunto é sobre seu futuro como advogado. Kumail faz Stand Up pela cidade
onde mora e em um desses shows acaba conhecendo Emily (Zoe Kazan), uma
estudante por quem acaba se apaixonando perdidamente. Só que tudo vai por água
abaixo quando Kumail termina com Emily por conta de sua família, que deseja que
ele se case com uma indiana. Mesmo sofrendo muito, os dois seguem em frente,
até Emily entrar em coma, e, assim, Kumail passa os dias a visitando no
hospital e acaba conhecendo melhor a família dela, principalmente o pai Terry (Ray
Romano) e a mãe Beth (Holly Hunter).
O equilíbrio eleva a força dos personagens de maneira
bonita, quase poética. O protagonista é um cidadão norte americano ainda preso
a costumes por conta de sua família. Com medo de ser banido, faz mil e uma
piadas coerentes sobre isso, e tenta aos poucos convencer sua família sobre
suas escolhas, não só no campo amoroso mas no profissional. Mesmo assim, sua
mãe sempre que vão jantar, chama uma jovem de outra família indiana para
apresentar a ele. Mas essa é apenas uma parte de sua vida. Seu sonho é ser
comediante profissional e se apresentar em palcos pelos Estados Unidos, o foco
de suas piadas obviamente são suas histórias e tradições da cultura de sua família.
O fator amor chega na figura de Emily. Completamente
encantado, começa a ganhar coragem para tomar decisões que antes eram um tabu
em sua cabeça. A maior parte da transformaçãoo do protagonista acontece no segundo
ato em diante quando entra a família de Emily na história. Terry e Beth são um
casal comum, cheio de problemas e que tem em Emily um elo eterno. O carinho de
Jumail por sua filha aproxima os três personagens que entre idas e vindas, em
situações hilárias em alguns momentos, vão descobrindo novas maneiras de ver o
mundo, sempre através do amor ao próximo. Beth domina muitas dessas cenas,
fruto de uma atuação espetacular de Holly Hunter que merece mais uma indicação
ao Oscar.
A emoção rola solta em muitos momentos. É impossível após as
duas horas de filme você não sair apaixonado por essa história.