Nós cinéfilos adoramos listas. J Todo ano olhamos nossas
anotações e selecionamos os 10+ em várias categorias. Abaixo, seguem os 10+ que
vi esse ano na categoria: Filmes lançados
no circuito brasileiro no ano de 2017
La La Land: Cantando
Estações
O futuro pertence àqueles que
acreditam na beleza de seus sonhos. Filme de abertura do último Festival de
Veneza ano passado, La La Land - Cantando Estações é um
daqueles filmes que dificilmente sairão de nossa memória. Falando
sobre a magia de Hollywood, o impactante som do Jazz e principalmente sobre as
inúmeras tentativas do ser humano em alcançar os seus sonhos mais lindos, o
longa metragem, que deve ser o grande vencedor do próximo Oscar, é uma aula em
como fazer o público se divertir através do olhar de protagonistas
(interpretados magistralmente por Ryan Gosling e Emma Stone) que louvam o amor.
O jovem cineasta Damien Chazelle (do impressionante Whiplash) mais
uma vez brinda os cinéfilos com uma pequena obra prima.
Na trama, ambientada em Los Angeles,
conhecemos o pianista Sebastian (Ryan Gosling), um amante do Jazz que vive
buscando seu espaço em meio a mudanças constantes que a vida coloca em seu
caminho. Rabugento e completamente sozinho, de maneira inusitada, acaba
conhecendo a sonhadora Mia (Emma Stone), uma jovem que partiu para Los Angeles
para buscar a difícil carreira de atriz mas que hoje trabalha em uma espécie de
Starbucks dentro de um famoso Estúdio de gravações de filmes. Logo o amor entre
os pombinhos acontece e, entre as estações do ano, precisarão compreender como
é viver a vida a dois e o tamanho que o sonho de cada um tem na vida do outro.
Cidade de estrelas, você está
brilhando só para mim? Em pouco mais de duas horas de projeção – que desejamos
que nunca acabe – o roteiro, também assinado por Chazelle, navega na busca pelo
sonho tendo um inesquecível amor que nasce de plano de fundo. Todas as fases do
relacionamento entre os protagonista é decifrada de maneira nua e crua, real.
Sentimos toda a dor e sofrimento, que são aliviadas, talvez, pela atmosfera
musical que o filme se completa. O amor de dois sonhadores pode nem sempre
terminar em um final feliz mas outras possibilidades existem e a grande cereja
do bolo maravilhoso de Damien Chazelle é exatamente apresentar para nós meros cinéfilos
um leque de possibilidades para esse desfecho numa sequência final que deixa a
todos nós praticamente sem conseguir respirar e onde a emoção transborda até
mesmo nos corações mais durões.
É este o início de algo maravilhoso e
novo? Ou mais um sonho? O filme também presenteia o público com uma singela
homenagem aos musicais e a uma Hollywood e sua magia que sempre fizeram parte
do imaginário de todos que amam a sétima arte. A poesia do filme e todos os
sentimentos expostos pelos brilhantes personagens é algo mágico, um sentimento
que somente o cinema pode proporcionar, toca bem profundo em nossas emoções. A
trilha sonora é digna de prêmios e adicionamento em nossas playlists para uma
eternidade. As atuações são magistrais, Gosling e Stone cantam, dançam e
emocionam em interpretações históricas, marcantes.
La La Land - Cantando Estações estreia nos cinemas
brasileiros na próxima semana e sem dúvidas será um grande sucesso de público.
Amor, Jazz, charme, Hollywood, sonhos, escolhas. Louvando Hollywood, o filme
mostra que a realidade nem sempre é como nos filmes. Esse projeto é um Oasis em
nossos corações sofridos, uma chance de encararmos a realidade com muito mais
leveza.
Monsieur & Madame
Adelman]
Se
você fosse um livro, pensaria nas melhores palavras. Debutando na direção de um
longa-metragem após trabalhos como roteirista e ator, o cineasta Nicolas Bedos
(também um dos protagonistas desse filme) pisa com o pé direito em sua
estreia. Monsieur & Madame Adelmané contagiante, sensual,
levanta polêmicas e argumentos importantes sobre inusitadas visões sobre
relacionamentos, seja esse como for. Com uma trilha sonora absolutamente
fantástica e um casal de protagonistas praticamente impecáveis, o longa
percorre décadas de um relacionamento sem deixar de mostrar todo o contexto de um
planeta que viveu muitas modificações ao longo do tempo, assim como essa linda
história de amor.
Na
trama, logo em seu início tem um funeral de um escritor importante no mundo da
literatura francesa, por isso, um jornalista é enviado até lá para entrevistar
a companheira dele de toda uma vida. Com o gravador ligado, começa essa
inesquecível história, com muitas verdades e uma impactante reviravolta. Assim,
conhecemos mais detalhadamente Victor (Nicolas Bedos) e Sarah (Doria Tillier)
um casal apaixonado que vão viver juntos durante décadas em busca de
realizações, um lar feliz, desejos profissionais sempre um dando muito apoio ao
outro mesmo com todos os problemas que ocorrem. Essa saga de romance moderno
(feminista com boas pitadas), começa na década de 70, onde, Sarah conhece
Victor em uma decadente boate de Paris e se apaixona perdidamente. Nos meses
seguintes, há o primeiro desencontro e eles voltam a se encontrar para viverem
toda uma vida tendo o outro ao lado. O longa é dividido em 14 capítulos, ao
longo de 120 minutos de projeção, tem uma pegada sexy, é envolvente, misturando
hilários diálogos e situações inusitadas. E, talvez o melhor de tudo, um final
arrebatador que deixará o público bastante surpreso.
Você
se parece com você. É linda como você. Antes de mais nada, é importante
frisar: Monsieur & Madame Adelman é uma história de amor.
Nas idas e vindas desse casal e todos os fatos preponderantes na vida deles,
principalmente os sucessos literários do romântico e complexo Victor (que
escreve muitas vezes em primeira pessoa, escrevendo sobre muitos que o cercam
causando certo receio e atitudes impensadas de alguns), Sarah se torna o centro
dessa saga romântica pois todo oímpeto desajustado de Victor chega com impacto
nas emoções da protagonista. O roteiro, longe de ser delicado, opta pela
verdades de seus personagens, sem esconder uma vírgula de personalidade, erros
e acertos. As viradas na trama são abruptas e chocantes onde o público fica
ansioso aguardado o próximo passo desses inesquecíveis personagens. Somos
testemunhas de uma autópsia cruel e árdua sobre a arte de manter um
relacionamento.
O
que cerca os personagens chega por meio de atitudes dos mesmos. Os altos e
baixos de Victor, muito incompreendido por sua rica família se vê amado pela família
de Sarah e assim fica mais seguro para seguir no relacionamento. Vemos cenas
lindas de declarações ao longo desse tempo que ficam juntos, brigas também
fazem parte e atitudes desesperadas/incontroladas de um jovem escritor que
desafia suas angústias e sua baixo estima a todo instante mesmo tendo uma
forte, fiel e companheira ao seu lado. Os desabafos de Victor com seu
psicólogo ao longo do tempo são hilários e passam um verdadeiro raio-x sobre a
personalidade conturbada do escritor, suas angústias e o reflexo das situações
que vai vivendo refletem em uma última cena hilária com seu psicólogo mais
velho no leito de um hospital. Já no último arco, na terceira idade e com a
saúde de Victor debilitada podemos notar mais claramente o trabalho impressionante
de maquiagem.
As
ações de Sarah são preponderantes na vida do casal, ela comanda o cotidiano
seja no lado profissional do marido, seja no lado familiar do casal. Com a
chegada dos filhos, com tratamento oposto de Victor em relação ao primeiro
filho do casal principalmente, Sarah segue firme e forte na luta por uma boa
harmonia. Há uma linha de interseção entre sucesso e desastre que é bastante
explorada, tornando-se um paralelo às antigas tragédias gregas que muito
conhecemos. Segredos são revelados já no desfecho e assim conseguimos juntar as
últimas peças que faltavam desse relacionamento que rompeu barreiras em busca
de uma certa felicidade.
Lançado
na França bem recentemente, em meados de março desse ano, Monsieur
& Madame Adelman chega ao Brasil no próximo dia 06 de julho.
Podemos considerar, já na metade de 2017, que esse belo trabalho é um dos
filmes inesquecíveis que você verá esse ano nos nossos cinemas.
Como Nossos Pais
Minha dor é perceber que apesar de
termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos. Falando sobre a dura
rotina impossibilitada do sonhar de uma mulher perto dos quarenta anos que
descobre segredos de família e precisa lidar com um casamento em declínio, Como
Nossos Pais, novo trabalho da excelente cineasta Laís Bodanzky (Bicho de
Sete Cabeças), é um filme que emociona e gera reflexões, aliada a uma
impactante atuação da atriz Maria Ribeiro que consegue prender a atenção do
público do início ao fim. A Rosa de Laís Bodanzky é tão ou mais forte que a
Clara de Kleber Mendonça Filho. É lindo ver dois dos grandes filmes nacionais
dos últimos anos terem protagonistas femininas tão marcantes, inesquecíveis.
Na trama, conhecemos Rosa (Maria
Ribeiro) uma mulher guerreira que está em crise no casamento com seu marido
Dado (Paulo Vilhena), infeliz no emprego que tem e ainda é pega de surpresa com
uma notícia atordoante de sua mãe Clarisse (Clarisse Abujamra) que seu pai
Homero (Jorge Mautner) na verdade não é seu pai. Essa notícia mexe bastante com
a protagonista que passa por uma grande transformação ao longo de todos os 102
minutos de projeção.
Uma super heroína dos nossos tempos,
Rosa, precisa conciliar seu tempo com a educação de suas filhas pequenas, tentar
ajustes em seu casamento recheado de desconfiança e crise financeira, e uma
perturbação inquieta para tentar se encontrar com seu verdadeiro pai que possui
um alto cargo do governo. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje.
Como para todo ser humano as atitudes, chegam em forma de inconsequência, como
a aproximação com o pai de um dos alunos da escola de suas filhas e as
explosões em diálogos emocionantes e marcantes com sua mãe. Em uma atuação
irrepreensível, Maria Ribeiro dá não só vida a personagem, a torna muito real
e, assim, em nossas lembranças mais curtas podemos encontrar uma Rosa em cada
esquina.
Na parede da memória, a lembrança é o
quadro que dói mais. Epicentro, estopim, da virada na história e quando
acontece a virada da personagem, a dúvida de ir ou não atrás do pai biológico
chega ao mesmo tempo que memórias com seu pai de criação, o maluco beleza
Homero (Jorge Mautner) afloram em seus pensamentos mesmo que entrando em
conflito com as atitudes irresponsáveis dele na vida.
Nessa última semana estreou
Mulher-Maravilha nos cinemas. Mas a história muito mais marcante, talvez a
verdadeira Mulher-Maravilha, a da vida real, que troca a luta com super poderes
por tentativas diárias de conseguir esticar as 24 horas do relógio e ser feliz
chega aos cinemas brasileiros no final de agosto e você simplesmente não pode
perder.
Cidadão Ilustre
Vencedor do prestigiado prêmio Goya
esse ano na categoria melhor filme Iberoamericano e nomeado ao disputado Leão
de Ouro na categoria melhor filme no Festival de Veneza do ano passado, o longa
metragem argentino O Cidadão Ilustre mescla o desenrolar da
reclusão às cômicas e inusitadas consequências de um retorno para o primeiro
lar transformando as duas horas de projeção em momentos tragicômicos que
ficarão na memória dos cinéfilos mundo a fora. Oscar Martínez, que interpreta o
protagonista dessa história, merece muitos créditos pela sua bela
interpretação.
Na trama, conhecemos o recluso e
porque não dizer rabugento escritor argentino Daniel Mantovani (Oscar Martínez),
um senhor de idade que mora a cerca de 40 anos na Europa e ganhou recentemente
o grande prêmio Nobel de Literatura. Certo dia, recebe um convite da prefeitura
de sua cidade natal, Salas, na Argentina, para ser homenageado. Depois de muito
pensar, acaba aceitando o convite e embarca em uma jornada alucinante onde
colocará em prova tudo o que representa para os habitantes do local e alguns
velhos conhecidos.
O roteiro, assinado por Andrés Duprat
(do ótimo O Homem ao Lado), é cirúrgico. Consegue prender o espectador
do primeiro ao último minuto. A história está longe de ser um show de simpatia
dos personagens, pelo contrário, o protagonista enfrenta todo tipo de opinião
sobre sua pessoa, que vão desde de um pai pedindo ajuda para seu filho
deficiente (como se fosse a obrigação do escritor ajudar) até o curioso
secretário ligado às artes que o persegue por conta de um veto de Daniel em um
simples concurso de pintura. O filme arranha um novelão quando um antigo amor
aparece mas consegue driblar qualquer dramalhão mexicano com situações para lá
de engraçadas, uma em particular,ótima, envolvendo a filha de sua ex-amada.
A mudança na maneira de pensar
acompanha o protagonista do segundo arco em diante quando acaba cedendo em
algumas situações, muito provocado por dívidas que são criadas com seu passado.
O lado emocional do famoso escritor acaba tendo uma virada, sem saber o que
esperar quando chega na cidade, acaba percebendo em alguns momentos que virou
alvo de seus próprios contos. No resumo de sua história, podemos afirmar que um
homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para
encontrá-lo: uma boa história para contar.
Paterson
Não é a altura, nem o peso, nem os
pés grandes que tornam uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho. Depois
de um hiato de três anos desde seu último trabalho, o excelente Amantes
Eternos (2013), o veterano cineasta norte-americano Jim Jarmusch volta às
telonas com o sensível longa Paterson. O filme, grande sucesso de
crítica e público pelos lugares onde já fora exibido, como em Cannes ano
passado, é uma grande jornada emocional com recheios poéticos onde atravessamos
e somos testemunhas de uma alma quase solitária que busca em seu rotineiro
cotidiano, sem grandes eventos, formas lindas de ver a tão pacata vida.
Na trama, com cortes que vão se
segunda a segunda, conhecemos Paterson (Adam Driver), um simpático e tímido
motorista de ônibus que mora na cidade onde nasceu, Paterson (sim, o nome da
cidade também é Paterson), onde vive uma vida simples com sua esposa Laura
(Golshifteh Farahani). O protagonista tem um hobby que é escrever poesias todos
os dias, geralmente com idéias que chegam para ele pelos papos e personagens
diferentes que circulam sua vida constantemente, entre uma viagem e outra.
Ainda não teve esse ano personagem
tão amável quanto esse motorista que conquista todos nós por sua sensibilidade
sem tamanho. Interpretado com grande maestria pelo ótimo ator californiano Adam
Driver (Star Wars: O Despertar da Força), Paterson, é especial, bom amigo,
um homem correto de alma sensível. Expressa seus sentimentos através das
palavras, mesmo essas não tendo som, é escutado de alguma forma pelo universo.
Somos testemunhas ao longo das quase duas horas de projeção de encontros
peculiares com personagens fascinantes, vendo as reações dele quando algo que
estava em seu particular ganhar forma de certa maneira com situações e pessoas.
Seu cotidiano é pacato, quase silencioso, e mesmo assim Paterson transforma sua
vida em um lindo livro cheio de emoções e pensamentos que vão do amor às
grandes forças da natureza.
Sua relação com a esposa, bastante
explorada pelo roteiro, é causadora de pequenos momentos cômicos – muito por
conta da excentricidade dela; seja nas pinturas preto e branco e circulares dos
vestidos, das cortinas, das almofadas, seja nos dois sonhos de ser
empreendedora no mercado de cupcakes e ser uma cantora country de sucesso
começando com um violão (das cores que gosta) que gastou centenas de dólares
comprando pela internet. A relação dos dois possui muito amor e compreensão,
Paterson demonstra, às vezes, não gostar de uma coisa ou outra mas sempre
elegante e carinhoso busca as melhores das palavras para encantar seu amor. Os
dois vivem juntos com um lindo cachorrinho mas levada pra caramba que apronta
talvez o mais terrível dos absurdos para uma alma tão sensível como a do
motorista.
Paterson chega aos
cinemas brasileiros no próximo mês de abril. Mais um presente de Jarmusch para
todos que amam as delicadezas que encontramos na nossa forma de amar a vida.
Afinal, como dizia o eterno poeta português Fernando Pessoa, o poeta é um
fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que
deveras sente.
Mulheres do Século 20
Viver é a coisa mais rara do mundo. A
maioria das pessoas apenas existe. Após o tocante Toda Forma de Amor,
o cineasta e roteirista californiano Mike Mills volta às telonas, seis anos
depois de seu último trabalho, para apresentar ao público, provavelmente, sua
grande obra prima no mundo mágico da sétima arte. Mulheres do Século
20, roteiro que emociona os corações mais durões, suas atuações acima
da média um desenrolar em forma de retrospectiva que faz análises de uma
cultura pop que marcou gerações e debate com muita inteligência a visão de
diversas pessoas de idades diferentes sobre o tão complicado e revigorante é o
simples ato de viver.
Na trama, ambientada no final da
década de 70 nos Estados Unidos, acompanhamos a complexa saga de Dorothea
Fields (Annette Benning, em atuação deslumbrante) que precisa criar seu filho
Jamie (Lucas Jade Zumann) sozinha e enfrenta as inúmeras transformações da fase
adolescente do mesmo. Ao mesmo tempo, aluga quartos em sua casa para duas almas
solitárias: a amante de fotografia, ex-moradora de Nova Iorque, Abbie (Greta
Gerwig) que vem enfrentando uma doença ingrata e incertezas sobre seu futuro, e
também, William (Billy Crudup) um faz tudo que teve diversos relacionamentos e
vira uma espécie de faz tudo para sobreviver. Mesmo não alugando quarto, nem
sendo filha de Dorothea, Julie (Elle Fanning) é uma peça importante
do quebra cabeça principalmente por sua forte relação com o filho da
protagonista. Todos esses personagens passarão por diversas situações e
buscarão ajuda uns nos outros para vencer todos os obstáculos sempre à procura
da tão sonhada felicidade.
Adepta da ideia de que ter uma
decepção amorosa é uma ótima maneira de entender melhor o mundo, revisando suas
ações todos os dias sem largar seu hábito de fumar, usando papete (uma sandália
estilo antigo) porque é uma contemporânea, nunca namorando o mesmo homem por
muito tempo , a incrível protagonista deste belíssimo trabalho, Dorothea,
debutando a maternidade já na casa dos 40, busca a cada ano que passa entender
melhor seu filho adolescente. As situações que passa são inúmeras: a cena punk
da década já mencionada, suas visões e ações sobre o tão falado feminismo, a
política e suas posições. Passa por uma transformação quase radical quando
resolve adotar a todos que circulam sua casa na criação de seu meu amor no
mundo. Dorothea é uma mulher forte, de atitude e ao longo das quase duas horas
de projeção vamos vendo ela se reinventando e redescobrindo sonhos perdidos.
Uma super heroína da maternidade, uma mulher à frente de seu tempo.
Como complemento à saga da personagem
principal, vemos um olhar perdido mas muito inteligente de Abbie que adiciona
diversas lições a essa história. Correndo pela beirada e sem muito destaques
mas com muitos momentos em fortes e emocionantes diálogos com os que os cercam,
William, um homem gentil que tenta a cada dia entender melhor as mulheres.
Talvez uma das peças mais complexas nesse quebra cabeça sobre a vida, Julie,
que possue uma forte ligação com a família da protagonista mas que em sua
própria casa se sente distante, invadindo o quarto de Jamie quase todas as
noites, onde se sente bem e feliz com a simples amizade (na visão dela). Já
Jamie é cercado de todas essas histórias com alguma experiência, vive meses de
grandes descobertas buscando marcar seu lugar no mundo.
O filme, que estreia no final de
março no circuito exibidor brasileiro e foi absurdamente esquecido em várias
categorias do Oscar deste ano, é uma grande lição de vida, apresenta mais
argumentos aos debates sobre o feminismo tudo isso e mais um pouco reunidos em
um roteiro sublime que nunca deixa suas lacunas sem argumentos convincentes.
Sem dúvidas, esse trabalho é um daqueles que não serão esquecidos facilmente
pelos milhares de corações que ficarão emocionados com essa linda história.
Resumindo, o coração cinéfilo sempre fala mais alto sobre qualquer premiação.
Toni Erdmann
Sábio é o pai que conhece o seu
próprio filho. Depois de um hiato de sete anos na direção de um longa-metragem,
a cineasta alemã Maren Ade volta à telona em grande estilo com a hilária e doce
dramédia Toni Erdmann. Contando a história de um pai cheio de
impulsos cômicos na busca constante pela atenção de sua sisuda filha, o
projeto, indicado a muitos prêmios internacionais e um dos favoritos para
ganhar o próximo Oscar de Melhor filme Estrangeiro é um daqueles filmes imensos
(2 horas e 40 de projeção) mas que não desejamos que acabe nunca, sempre à
espera da próxima gracinha que Toni Erdmann vai aprontar.
Na trama, acompanhamos a árdua saga
de Winfried Conradi (Peter Simonischek), um dedicado pai que muito se
entristece com o distanciamento na relação com sua única filha Ines (Sandra
Hüller), essa última, uma jovem em ascensão na empresa onde trabalha o que a
transforma em uma Workholic sem limites. O problema é que Ines trabalha demais
e pouco tempo de sua agenda é dedicada à sua família. Quando o o cachorrinho de
Winfried morre, ele decide encarar o desafio de ter mais atenção de sua filha e
para isso, entre outras coisas, viaja para vê-la quando ela está a trabalho e
desenvolve um personagem, um Alter ego de nome Toni Erdmann. Não é
preciso nem dizer as inúmeras e hilárias que esses dois vão se meter ao longo
desse complexo processo de melhoramento na relação pai e filha.
Escolhido o Melhor Filme Estrangeiro
de 2016 pelos críticos de Nova York, um dos sinais de sua provável indicação ao
próximo Oscar, Toni Erdmann navega pelo humor para mostrar o
cotidiano de um relacionamento conturbado entre pai e filha. De personalidades
completamente diferentes, os dois embarcam em uma jornada basicamente de auto
descoberta. Aos poucos, após uma quantidade absurda de insistência, Ines vai
conseguindo se reconectar com seu pai, o que provoca uma cena de desfecho para
lá de emblemática. Mesmo tendo quase três horas de duração o que dificulta sua
entrada no circuito de cinema brasileiros, talvez um dos pontos para nenhuma
distribuidora ter ainda comprado os direitos no filme no Brasil, o filme é uma
delícia de assistir e essas horas passam voando.
O foco no primeiro arco é a
personalidade forte de Ines em paralelo as trapalhadas e atos incompreendidos
de Winfried. Tudo começa a fazer mais sentido, praticamente a virada na trama,
quando chega o Sr. Toni Erdmann, com sua peruca para lá de
chamativa e dentes falsos para lá de explícitos. Esse Alter Ego transforma
demais a visão de Ines sobre a personalidade cativante de seu pai. Assim, o
longa-metragem cresce demais em emoção, o inusitado começa a ter sentido e fica
num tom cômico na medida conforme as antes constrangedoras agora com sentido
situações. Toni Erdmann, rouba a cena, transforma o mais difícil
dos conflitos paternos em uma aula de amor e afeto.
O filme, que não tem previsão de
estrear no Brasil, ainda é forte concorrente a alguns prêmios esse ano. Merece
todos os prêmios, da direção ao roteiro e atuações, a produção joga por música,
mexe com nossas emoções e transforma esse filme de quase três horas em algo
obrigatório para todos que amam o bom cinema. Bravo!
Dunkirk
Ainda sem texto nesse blog.
A Criada
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Uma Mulher Fantástica
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