‘Em um mundo tão belo, eu queria ser especial. Mas eu sou
insignificante. Eu sou um esquisitão. Que diabos estou fazendo aqui?’ Creep da extraordinária banda Radiohead, encaixa muito bem quando
pensamos em American Animals. Um dos
mais comentados filmes do último Festival de Sundance desse ano, tem em seu
roteiro criativo seu enorme pilar para apresentar ao público uma história real,
com diversos pontos de vista e uma auto avaliação dos verdadeiros autores desse
curioso roubo que ocorreu nos Estados Unidos alguns anos atrás. Escrito e
dirigido pelo excelente Bart Layton
(do ótimo O Impostor), o projeto é
uma espécie de ação/ficção com documentário. Envolvente do primeiro ao último
minuto, é, com toda certeza, um dos grandes filmes do ano.
Na trama, conhecemos Spencer (Barry Keoghan), um estudante de arte bastante introspectivo que
dorme e acorda pensando em encontrar algum sentido para sua vida. Certo dia,
durante uma visita à biblioteca da universidade que estuda, descobre alguns
livros raros que ficam em uma sala especial protegidos por uma bibliotecária.
Assim, junto com seu amigo Warren (Evan
Peters), e mais outros dois, começa a bolar um plano mirabolante para
roubar as raridades. Para dar mais ingredientes à trama, realidade e ficção se
unificam durante as quase duas horas de projeção, transformando um simples
filme de roubo em algo muito interessante e esclarecedor.
Qual o sentido da vida? Viver o sonho americano nunca é
fácil. Aos olhos dos dois maiores protagonistas da trama, conseguimos enxergar
motivos e razões para entendermos seus atos. A troca entre realidade e ficção,
dita o ritmo do roteiro, com pontos de vistas entrelaçados e diferentes sobre
determinados detalhes. Um trabalho primoroso de Layton. Indo mais a fundo nas
palavras e contextos desse roteiro, se pensarmos em um protagonista, Spencer se
encaixa, onde nossos olhos mais se concentram pois é o personagem que se
constrói e desconstrói com uma rapidez gigante, divide as atenções com o
excêntrico Warren, o motor do filme, o explosivo, dúbio, grande incentivador do
roubo e inconsequente em seus atos.
Qual a razão dos jovens realizarem algo tão audacioso? Uma
das grandes perguntas do filme, é respondida a toda a instante, pelos
personagens reais que aparecem relatando seus pontos de vista. Não só os que
participaram do roubo mas também familiares e envolvidos no caso que marcou
época na história recente norte-americana. American
Animals é muito mais que um simples retrato sobre o panorama jovem norte
americano, é um crítica social profunda, repleta de camadas, onde cada um de
nós, do lado de cá da tela, recebemos diversos argumentos para chegarmos ao
nosso próprio final sobre todas as interrogações que o filme entrega.