30/07/2020

Crítica do filme: 'Deus é mulher e seu nome é Petúnia'

A força de uma mulher. Dirigido pela cineasta Teona Strugar Mitevska e exibido no Festival de Berlim do ano passado, Deus é mulher e seu nome é Petúnia é uma peculiar história de uma jovem um pouco perdida no que vai fazer de sua vida profissional que acaba, no impulso, sendo jogada em um grande debate sobre tradições e machismo na comunidade onde vive. O filme, que desembarcou no Brasil no final do ano passado, é um bom retrato sobre a cultura que pouco conhecemos, ainda de pensamentos antigos, da Macedônia (mais precisamente a do Norte), além de validar a força feminina para quebrar preconceitos que já nunca deveriam existir.  

Na trama, acompanhamos a história de Petunia (Zorica Nusheva), uma jovem perto de trinta e poucos anos que do dia pra noite vira notícia na cidadezinha que mora. Formada em história mas atualmente desempregada, a personagem principal, possui uma relação bastante conturbada com a mãe mas um apoio incondicional do pai. Todo ano, em uma cerimônia religiosa liderada pelo padre local, esse mesmo joga uma cruz num rio para que homens busquem por ela pois ela dará sorte pro ano todo. Dessa vez, Petúnia entra na água quase imperceptível e consegue ser a primeira a encontra a cruz. Mas os participantes e o padre local não aceitam sua vitória e assim se inicia um conflito que mexe com a polícia da cidade, uma jornalista e tradições machistas.

Na sala de interrogatório, onde parte do clímax do filme se passa, vemos toda uma exposição de constrangimento perante a jovem do comandante da polícia que não sabe o que fazer com a situação pois além de saber que Petúnia não fez nada, não quer ficar mal com a ‘autoridade da igreja’. Há uma exposição do machismo constante em grandes parte das linhas do roteiro assinado por Elma Tataragić. Que não só se mostra no epicentro da trama, mas já na entrevista constrangedora de emprego que a protagonista vai, sendo praticamente humilhada por um homem sem caráter nenhum que a denigre com violência verbal e física.

O papel da imprensa é colocado de maneira meio espalhafatosa na ambígua personagem Slavica (Labina Mitevska), nunca sabemos se ela quer a polêmica para dar audiência ou se realmente ela quer ajudar Petúnia com os absurdos que passa. Gospod postoi, imeto i' e Petrunija, no original, busca também falar muito sobre o desemprego mas a profundidade não é desenvolvida.