Pensando nesse sentimento bonito que existe entre a
comunidade cinéfila espalhada por todo Brasil e pelo mundo, resolvi, eu, um
humilde cinéfilo carioca entrevistar de maneira bem objetiva, e aproveitando
para matar a saudade dos pensamentos cinéfilos dos amigos, diversos amantes da
sétima arte. Famosos ou não, que trabalham com cinema no Brasil e/ou no mundo
ou não.
Para iniciar essa coluna que vai ter espaço semanal nesse
espaço cinéfilo, entrevisto abaixo um dos mais cinéfilos cariocas, Hsu Chien. O mais taiwanês dos
brasileiros, formado em uma das melhores faculdades de Cinema do Brasil, a UFF de
Niterói, é um dos mais requisitados assistentes de direção do mercado
audiovisual brasileiro (tem ficha extensa no IMDB), ramo esse que atua desde a
década de 90, tendo no currículo cerca de 50 filmes de longa-metragem, fora os
excelentes curtas que realizou. Ele respira cinema como poucos. Figurinha
carimbada no Festival do RJ e seguido por uma legião de cinéfilos desde os
tempos distantes do Orkut, Hsu tem
mais de meio século de histórias nesse mundo mágico do cinema.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Vario entre o circuito Estação e o Itaú, ambos em Botafogo,
berços da cinefilia carioca. Ambos têm programação que mescla filmes de arte
com filmes de circuito, são bem localizados, perto de metrô, com bom
atendimento e promoção durante o início da semana. E também porque é point
certo para encontrar amigos cinéfilos, além de terem livraria para passar o tempo
e esperar o filme começar.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Os Saltimbancos trapalhões.
O filme fala sobre magia, lúdico, sonhos e ambições para se tornar um artista.
Fala sobre cinema, Hollywood, ou seja, para mim que sempre quis trabalhar com
cinema, o filme foi o ideal para alimentar esse desejo por querer ver e contar
histórias para o público.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Woody Allen. "Manhattan"
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
O Céu de Suely. O
filme é um assombro de bom: primeira vez que vi Hermila Guedes, essa atriz extraordinária, dominar as telas em um
filme baseado em história real sobre uma personagem que busca sua felicidade,
mesmo não sabendo aonde encontrá-la. Um filme que fala sobre amor, desamor,
frustração, sonhos roubados, com lindas cenas de sexo e um drama visceral.
Jamais esqueci o embate entre Suely e sua avó, que bate nela para valer. A
fotografia de Walter Carvalho e a
trilha sonora são inesquecíveis.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
É estar vivo. Não consigo passar um dia sem ver um filme, é
o que me alimenta. Sou Cinéfilo que assiste de tudo, de A a Z, sem restrições,
sem preconceitos.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por
pessoas que entendem de cinema?
Depende do que você chama de "entender de cinema".
O cinema atinge qualquer classe social, qualquer faixa etária, qualquer
escolaridade. Cada um tem os seus gêneros preferidos, mas a função social do
cinema, a principal, é entreter. E isso sim, atinge.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Nunca, jamais. É o segundo lar de todos os cinéfilos raiz. O ritual de ir ao cinema, estar na sala
escura e compartilhar emoção com outras pessoas, é insubstituível.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
O Rei de King Island.
Um filme para rir, se emocionar, chorar e conhecer o trabalho desse ator jovem
fenomenal, Peter Davidson.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Essa pergunta é pegadinha. Para mim que não vivo sem uma
sala de cinema e não vejo a hora de estar em uma, sim, quero ir, nem que seja
com máscara, luvas, o que for. Sei que existem pessoas de grupo de risco que
infelizmente não podem, mas eu moro sozinho então sou eu comigo mesmo.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Brilhante, tem filme para todos os gostos e gêneros com
perfeição técnica. O que tem que parar, são os chatos de plantão que insistem
em detonar o filme popular. Tem que aceitar que o filme popular tem público,
então esse filme não é para você. Parem de reclamar e agradeçam que o filme
rendeu trabalho para centenas de profissionais e faz muita gente se divertir.
Parem de elitizar a arte, achando que tudo tem que ser para um público seleto e
distinto.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Karin Ainouz.
12) Defina cinema com
uma frase:
Duas horas para esquecer que o mundo lá fora tá chato
demais.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema
Uma vez, durante uma sessão lotada do Festival do Rio, eu
segurei a cadeira ao lado da minha com minha mochila enquanto minha amiga
Kathia Pompeu estava no banheiro. Chegou uma pessoa, parou do meu lado, pegou
minha mochila e jogou longe, gritando que não podia segurar lugar. Fiquei tão
pasmo que nem reagi.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Tenho o Dvd e o Vhs. Não preciso dizer mais nada.
Um dos próximos trabalhos que Hsu Chien participou, Veneza
(de Miguel Falabella), no qual foi co-diretor,
deve estrear logo após o reestabelecimento completo das salas de cinema, muito
provavelmente no ano que vem.