O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Aracaju. Letícia Mota é natural de Aracaju,
Sergipe, mas atualmente mora em Minas Gerais. Faz licenciatura em Letras na
Universidade Federal de Minas Gerais, tem 18 anos e foi introduzida no mundo do
entretenimento relativamente cedo. Acabou se afastando um pouco do hábito de
consumir conteúdo por motivos pessoais, mas agora, com certa frequência,
resolveu registrar suas impressões no perfil Um filme todo dia (@_umfilmetododia).
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Curiosamente (para não dizer tragicamente), o acesso ao
cinema é bem limitado na minha cidade de origem. A rede de cinema é
monopolizada pelo Cinemark, que
quase exclusivamente exibe Blockbusters. Ainda assim, existe um cinema local
chamado Cine Vitória, que exibe
produções alternativas e brasileiras. Me recordo de ter assistido lá um dos
meus filmes nacionais favoritos, Hoje eu
quero voltar sozinho.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
O segundo filme da franquia Vingadores. Eu não gosto de filmes de herói (apesar de entender seu
peso cultural), mas fui com um grupo de amigos e entendi naquele dia o quanto o
cinema e o entretenimento em geral pode causar as mais diversas emoções nas
pessoas: tristeza, raiva, euforia. Presenciei pessoas em lágrimas, aplaudindo o
final do filme; foi uma experiência e tanto.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Tim Burton. Meu
filme favorito dele é A noiva cadáver,
por causa do apego nostálgico que eu tenho a ele. Eu sempre amei animação, e
essa foi a trama que me introduziu, quando mais nova, a uma linha narrativa
diferente do que estava acostumada (Disney/DreamWorks).
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Que horas ela volta.
Talvez por ter vivido uma situação parecida, com também pela empatia
desenvolvida ao longo dos anos pela história retratada no filme. Não somente
isso, mas a entrega de atuação de todos os atores e as cenas extremamente
significativas; me toca muito.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Reconhecer que um filme é bom mesmo não gostando dele. Não
classifico como entender de semiótica ou ver todos os filmes da recorrente
expressionista alemã, mas entender que algumas produções, apesar de
desagradáveis ao nosso tato por questões pessoais, são bem feitas e bem
construídas.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Depende do que se concebe como "entender de
cinema"; muitas pessoas não gostam de consumir aquilo que se mostra como
cultura de massa e eu entendo esse posicionamento. Depois que se começa a ter
contato com produções mais trabalhadas, com o objetivo de causas sensações -
não vender -, fica difícil tentar absorver alguma coisa de uma trama que tem
como finalidade única gerar bilheteria. A questão é que, às vezes, o cinema
como local físico e experiência sensorial oferece uma dose de leveza
necessária. Eu amo blockbusters, amo filmes clichês com o final previsível;
talvez as salas de cinema não sejam feitas para quem "entende" de
cinema, mas essas pessoas também podem aproveitá-las.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Tive essa discussão com uns amigos recentemente. Apesar de
estarmos imergindo num momento voltado ao streaming, essas plataformas nunca
vão oferecer a mesma experiência que uma sala de cinema. O ato de sair de casa,
encontrar amigos, comprar (ou não) comida e dividir um espaço com desconhecidos
que, aparentemente, têm as mesmas preferências e interesses que você nunca vai
conseguir ser reproduzido de forma fidedigna pelas plataformas de streaming.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
A gente se vê ontem.
É um filme perdido na Netflix, mas
extremamente bem feito, com um tema muito relevante; me deixou angustiada por
pelo menos três dias. É maravilhoso.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Nós brasileiros não conseguimos absorver completamente ainda
como colocar em prática as normas de segurança e higiene. Por isso, não acho
que o cinema deve ser reaberto agora, como também não acho que bares e
shoppings deveriam estar abertos também; deveríamos priorizar programações ao
ar livre e eu creio que o cinema poderia se adaptar a isso. Seria uma tentativa
interessante.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Sempre gostei das produções cinematográficas nacionais. O
cinema brasileiro é lindo, de muita qualidade e deveria ser mais valorizado.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Gosto muito da Sônia
Braga; não consigo pensar em uma produção que ela esteja e não seja boa.
12) Defina cinema com
uma frase:
A habilidade de resumir uma boa história de uma forma
marcante e satisfatória.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Lançou, em 2013, salvo engano, o documentário daquela banda One Direction. Presenciei as fãs
roubando o cartaz de papelão da sala de cinema e correndo pelo shopping,
detidas pelo segurança pouco tempo depois. Foi engraçado.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Carla Perez é uma
mulher extremamente excêntrica; seu filme também.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Acho isso engraçado até. Um escritor precisa ter uma carga
positiva e negativa de leitura para se guiar, bem como um fotógrafo e um
musicista. Não acho que seria diferente com o cinema.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
A Barraca do Beijo.
Vi o filme com uma amiga, então não queria ter a descortesia de desligar a
televisão e ir dormir; tudo naquele filme é terrível pra mim, desde a atuação
das personagens à escolha da trilha sonora. Dispensarei comentários sobre a
história.
17) Qual seu
documentário preferido?
Secreto e Proibido.
Me debulhei em lágrimas, é lindo. Todo mundo deveria ver.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Por incrível que pareça, não. Me sinto um pouco
desconfortável em fazer esse ato, mas entendo quem o faz.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Caça às Bruxas;
não costumo ver filmes na linha de gênero em que ele costuma atuar.
20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?
Costumo dar uma lida no AdoroCinema vez ou outra, mas consumo mais conteúdo pelo Instagram. Estou sempre acompanhando o naquartaparede, 100.filmes, resenhaseila e o oxentepipoca. Não conhecia o Guia do Cinéfilo, mas estarei interagindo sempre que possível!