26/10/2020

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #149 - Letícia Mota


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Aracaju. Letícia Mota é natural de Aracaju, Sergipe, mas atualmente mora em Minas Gerais. Faz licenciatura em Letras na Universidade Federal de Minas Gerais, tem 18 anos e foi introduzida no mundo do entretenimento relativamente cedo. Acabou se afastando um pouco do hábito de consumir conteúdo por motivos pessoais, mas agora, com certa frequência, resolveu registrar suas impressões no perfil Um filme todo dia (@_umfilmetododia).

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Curiosamente (para não dizer tragicamente), o acesso ao cinema é bem limitado na minha cidade de origem. A rede de cinema é monopolizada pelo Cinemark, que quase exclusivamente exibe Blockbusters. Ainda assim, existe um cinema local chamado Cine Vitória, que exibe produções alternativas e brasileiras. Me recordo de ter assistido lá um dos meus filmes nacionais favoritos, Hoje eu quero voltar sozinho.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

O segundo filme da franquia Vingadores. Eu não gosto de filmes de herói (apesar de entender seu peso cultural), mas fui com um grupo de amigos e entendi naquele dia o quanto o cinema e o entretenimento em geral pode causar as mais diversas emoções nas pessoas: tristeza, raiva, euforia. Presenciei pessoas em lágrimas, aplaudindo o final do filme; foi uma experiência e tanto.  

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Tim Burton. Meu filme favorito dele é A noiva cadáver, por causa do apego nostálgico que eu tenho a ele. Eu sempre amei animação, e essa foi a trama que me introduziu, quando mais nova, a uma linha narrativa diferente do que estava acostumada (Disney/DreamWorks).

 

4) Qual seu filme nacional favorito e porquê?

Que horas ela volta. Talvez por ter vivido uma situação parecida, com também pela empatia desenvolvida ao longo dos anos pela história retratada no filme. Não somente isso, mas a entrega de atuação de todos os atores e as cenas extremamente significativas; me toca muito.

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Reconhecer que um filme é bom mesmo não gostando dele. Não classifico como entender de semiótica ou ver todos os filmes da recorrente expressionista alemã, mas entender que algumas produções, apesar de desagradáveis ao nosso tato por questões pessoais, são bem feitas e bem construídas.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Depende do que se concebe como "entender de cinema"; muitas pessoas não gostam de consumir aquilo que se mostra como cultura de massa e eu entendo esse posicionamento. Depois que se começa a ter contato com produções mais trabalhadas, com o objetivo de causas sensações - não vender -, fica difícil tentar absorver alguma coisa de uma trama que tem como finalidade única gerar bilheteria. A questão é que, às vezes, o cinema como local físico e experiência sensorial oferece uma dose de leveza necessária. Eu amo blockbusters, amo filmes clichês com o final previsível; talvez as salas de cinema não sejam feitas para quem "entende" de cinema, mas essas pessoas também podem aproveitá-las.

 

7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Tive essa discussão com uns amigos recentemente. Apesar de estarmos imergindo num momento voltado ao streaming, essas plataformas nunca vão oferecer a mesma experiência que uma sala de cinema. O ato de sair de casa, encontrar amigos, comprar (ou não) comida e dividir um espaço com desconhecidos que, aparentemente, têm as mesmas preferências e interesses que você nunca vai conseguir ser reproduzido de forma fidedigna pelas plataformas de streaming.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

A gente se vê ontem. É um filme perdido na Netflix, mas extremamente bem feito, com um tema muito relevante; me deixou angustiada por pelo menos três dias. É maravilhoso.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?

Nós brasileiros não conseguimos absorver completamente ainda como colocar em prática as normas de segurança e higiene. Por isso, não acho que o cinema deve ser reaberto agora, como também não acho que bares e shoppings deveriam estar abertos também; deveríamos priorizar programações ao ar livre e eu creio que o cinema poderia se adaptar a isso. Seria uma tentativa interessante.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Sempre gostei das produções cinematográficas nacionais. O cinema brasileiro é lindo, de muita qualidade e deveria ser mais valorizado.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Gosto muito da Sônia Braga; não consigo pensar em uma produção que ela esteja e não seja boa.

 

12) Defina cinema com uma frase:

A habilidade de resumir uma boa história de uma forma marcante e satisfatória.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:

Lançou, em 2013, salvo engano, o documentário daquela banda One Direction. Presenciei as fãs roubando o cartaz de papelão da sala de cinema e correndo pelo shopping, detidas pelo segurança pouco tempo depois. Foi engraçado.

 

14) Defina 'Cinderela Baiana' em poucas palavras...

Carla Perez é uma mulher extremamente excêntrica; seu filme também.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?

Acho isso engraçado até. Um escritor precisa ter uma carga positiva e negativa de leitura para se guiar, bem como um fotógrafo e um musicista. Não acho que seria diferente com o cinema.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida?

A Barraca do Beijo. Vi o filme com uma amiga, então não queria ter a descortesia de desligar a televisão e ir dormir; tudo naquele filme é terrível pra mim, desde a atuação das personagens à escolha da trilha sonora. Dispensarei comentários sobre a história.

 

17) Qual seu documentário preferido?

Secreto e Proibido. Me debulhei em lágrimas, é lindo. Todo mundo deveria ver.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão?  

Por incrível que pareça, não. Me sinto um pouco desconfortável em fazer esse ato, mas entendo quem o faz.

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu?

Caça às Bruxas; não costumo ver filmes na linha de gênero em que ele costuma atuar.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

Costumo dar uma lida no AdoroCinema vez ou outra, mas consumo mais conteúdo pelo Instagram. Estou sempre acompanhando o naquartaparede, 100.filmes, resenhaseila e o oxentepipoca. Não conhecia o Guia do Cinéfilo, mas estarei interagindo sempre que possível!