O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Cuiabá (Mato
Grosso). Larissa Canavarros tem 22
anos. Aluna da primeira turma do curso de Cinema e Audiovisual da Universidade
Federal de Mato Grosso, atualmente no 6º semestre. Participou do júri oficial
da 17ª Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina
(MAUAL) do Cineclube Coxiponés da UFMT, em 2018, e em 2019 integrou a Comissão
de Seleção de Curtas-metragens da 18ª edição da mostra. Além de ser uma das
proponentes do projeto “Retrospectiva MAUAL 18 anos”, coordenou exibições
cineclubistas através da REC-MT (Rede Cineclubista de Mato Grosso), também já
tendo realizado experimentos audiovisuais, incluindo a produção e direção de
vinhetas para a MAUAL e um curta-metragem.
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Por aqui, até onde eu saiba, só temos as salas multiplex
para cinema comercial. De todas as redes, a que mais me agradava – quando ainda
frequentava meses antes da pandemia – era a Cinemark. Era a única com a qual eu
poderia contar para assistir a alguns filmes mais fora do eixo, ainda que os
horários fossem problemáticos. Me lembro que houve uma época em que a maior
diversidade de exibição era com eles.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Talvez Lisbela e o
Prisioneiro (2003). Eu era pequena e deve ter sido um dos primeiros filmes
nacionais com que tive contato. O simples fato de ser em minha língua nativa
era um diferencial a mais; as atuações me encantavam (alguns dos quais eu já
conhecia pelas telenovelas), a trilha sonora era viciante. Provavelmente foi o
“gostinho brasileiro” que me fez pensar em como aquilo era diferente do que eu
estava habituada a consumir.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Christopher Nolan,
e meu favorito provavelmente é Amnésia
(2000);
4) Qual seu filme
nacional favorito e porquê?
Difícil escolher um só, fico entre O Auto da Compadecida (1999) e Assalto
ao Trem Pagador (1962). O primeiro marcou minha infância, me lembro de ver
ainda em VHS, e ainda é uma espécie de rito sagrado na minha família, sempre
que encontramos passando, ou bate uma saudade, assistimos. O segundo me foi
apresentado no primeiro semestre da faculdade e eu nunca esqueci; apaixonei
pela atuação do Grande Otelo ali também.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Pra ser sincera, eu não me considero muito cinéfila, no que
tange o acompanhar de filmes. Mas parando pra pensar, acredito que vai muito
além de apenas apreciar filmes e assistir o maior número de títulos possível; é
uma questão de paixão, algo que te move, te ensina. Uma espécie de força
externa que te tira da inércia.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas
que entendem de cinema?
Não. As programações são feitas por pessoas que entendem de
mercado, do que rende mais. Elas visam o lucro, e nem todo cinema é voltado
para o meio comercial. Isso explica, por exemplo, o porquê de termos diversas
salas em um mesmo complexo exibindo os mesmos blockbusters, enquanto outras
obras ficam de fora do ciclo de exibição.
7) Algum dia as salas
de cinema vão acabar?
Acredito que não. Ir ao cinema é mais do que simplesmente
assistir ao filme: é um evento social. Sair com os amigos/companheiros, ou
mesmo sozinh@, para acompanhar um enredo, em uma sala escura, cercada por
estranhos, por algumas horas ainda move uma série de sentimentos e motivações
que o streaming, por exemplo, não consegue proporcionar.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram mas é ótimo.
Eu sempre indico A
Onda (2009), um filme alemão do diretor Dennis Gansel, que vi em sala de aula, ainda no ensino médio. Acho
importantíssimo o enredo dele e a forma como é trabalhado.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
É uma resposta complicada. Eu particularmente não fui ao
cinema desde o início da pandemia, e mesmo agora que já tomei a primeira dose,
não me sinto segura o suficiente. Por um lado é um jeito muito fácil de
espalhar o vírus: são cadeiras compartilhadas, máscaras baixadas ou
completamente ignoradas com a justificativa de estar comendo, etc. Em
contrapartida, existem funcionários que dependem dessa movimentação de clientes
para garantir seu sustento, porque a realidade é que as leis de auxílio
emergencial não chegam para todos e muitos acabam desempregados. Em Cuiabá, as
salas estavam exibindo apenas uma sessão por dia para dar tempo de higienizar
as poltronas, então acredito que, apesar de não ser um serviço essencial, não
há tanto problema, desde que os protocolos de biossegurança sejam realmente
respeitados.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Acredito que o cinema em si entrou em uma espécie de
recesso. O audiovisual se voltou para outras formas de produção (seriada,
televisiva), e isso não necessariamente é algo ruim. Mas de um modo geral, falta
investimento. Não apenas financeiro para a produção, mas desde a ordem
acadêmica, sabe? A formação do profissional já é precária e aos trancos e
barrancos se chega a algum lugar. Eu imagino como uma espécie de efeito
borboleta: se existe investimento na educação, os traços, os moldes, dos
profissionais se alteram e consequentemente o produto final. Claro que é
preciso também a garantia de uma janela de exibição de qualidade, então os
incentivos talvez ainda sejam os maiores impasses para uma produção contínua,
por exemplo.
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Fernanda Montenegro.
12) Defina cinema com
uma frase:
Arte em luz, som e movimento.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Não me lembro bem o que era, mas um comentário inocente de
uma criança na sessão de Rei Leão
(2019) fez o público rir e amenizou o clima triste na famosa cena da morte do
Rei Mufasa.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Nunca vi.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta
precisa ser cinéfilo?
Depende do que cada um acredita por ser cinefilia, se for
algo como o que eu acredito, então sim.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Hardcore Henry
(2015).
17) Qual seu
documentário preferido?
Jogo de Cena
(2007), do Eduardo Coutinho.
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Sim, da última vez foi quando vi Bacurau (2019).
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Cidade dos Anjos
(1998).
20) Qual site de cinema
você mais lê pela internet?
IndieWire.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Amazon Prime e HBO
Max.