O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.
Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de São Bernardo do Campo (São Paulo). Ligia Helena Villon tem 31 anos. Formada
em Cinema Digital e animação. Atua principalmente como montadora, produtora,
diretora e roteirista. Co-produtora no coletivo independente Alguma Coisa
Filmes, colaboradora do Coletivo Quadrinhos do Mundo e na página Mulheres
Audiovisual, cineasta independente, dirigiu 6 curtas e um média metragem.
Possui história publicada pela editora Skript no quadrinho "Pândega"
com mais outros artistas que foi ilustrada por Mazure Moganash. E como uma
colaboração no livro "Al Azif - O Necronomicon", e na HQ "Crônicas
de 2020".
1) Na sua cidade,
qual sua sala de cinema preferida em relação à programação? Detalhe o porquê da
escolha.
Essa pergunta é bem interessante porque, como eu cresci na
década de 1990, os cinemas de rua já tinham sido praticamente instintos e só
havia salas de cinema de shopping. E no caso de São Bernardo, havia menos
opções ainda. Então onde eu moro tinha um lugar que era um “point” não pela
qualidade ou pelas opções, mas sim pela falta delas. Era o Cinemark do Extra Anchieta. Ele é bem localizado e abrange SBC,
Diadema, SCS. Depois, com o tempo, outros cinemas melhores apareceram em outros
shoppings. Mas todas as grandes pré-estréias àquele cinema faziam filas de dar
voltas gigantescas em todo hipermercado. Infelizmente, São Bernardo carece de
diversidade de programação, Bacurau
aqui, por exemplo, ficou só uma semana em cartaz em uma sala apenas.
2) Qual o primeiro
filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.
Olga (2004) - Jayme
Monjardim.
3) Qual seu diretor
favorito e seu filme favorito dele?
Anna Muylaert - Que
horas ela Volta? (2015).
4) Qual seu filme
nacional favorito e por quê?
Que horas ela Volta?
(2015) – Anna Muylaert, pelo o tema
e como ele foi abordado.
5) O que é ser
cinéfilo para você?
Adorar filmes, mas não só de ver filmes, de todos os
aspectos dos que abrangem um filme como, por exemplo, a construção de um filme.
6) Você acredita que
a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feita por pessoas
que entendem de cinema?
Sim e não, quem faz a programação de um cinema entende
cinema, mas do ponto de vista financeiro. Ele olha para o filme e calcula se
aquele filme vai trazer retorno financeiro para ele. Falar sobre o tripé do
cinema (produção, exibição e distribuição) no Brasil é bem mais complicado do
que parece. Cada filme tem seu próprio acordo de distribuição e nosso país tem
sérios problemas de distribuição e exibição.
7) Algum dia as salas de cinema vão acabar?
Não, é normal achar isso, mas a quebra de paradigma já
aconteceu antes com a televisão e os cinemas não acabaram, apenas se
reinventaram. O mesmo vai acontecer agora com a evolução dos streamings e a
covid-19.
8) Indique um filme
que você acha que muitos não viram, mas é ótimo.
Cléo das 5 às 7
(1962) – Agnès Varda.
9) Você acha que as
salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid-19?
Não. Salas de cinema são ambientes fechados com
ar-condicionado. Amo cinema, mas a vida vem antes. Existem soluções
alternativas como drive-ins, por exemplo.
10) Como você enxerga
a qualidade do cinema brasileiro atualmente?
Como sempre muito boa, é que as pessoas têm pouco acesso aos
produtores menores. Temos uma variedade muito boa de filmes, séries e etc. que
não são tão conhecidos pelo público nacional. Por exemplo, você conhece a
web-série Punho-Negro?
11) Diga o artista
brasileiro que você não perde um filme.
Eu acho que não tenho nenhum artista favorito, nem nacional
ou internacional, que me faça assistir todos os filmes dele. Eu apenas vou
assistindo os filmes conforme me dá vontade. Eu vou pela história, se tem algum
elemento que me chamou a atenção, eu assisto.
12) Defina cinema com
uma frase:
A arte de contar histórias com imagens em movimento.
13) Conte uma
história inusitada que você presenciou numa sala de cinema:
Numa sessão do que fui para o Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012) o cinema estava quase vazio,
mas tinha um grupo de adolescentes, que do nada, antes dos trailers começarem
decidiram fazer uma volta olímpica pela sala de cinema.
14) Defina 'Cinderela
Baiana' em poucas palavras...
Necessário, ele é tão ruim que fica bom. E a luta contra o
trabalho infantil é nobre.
15) Muitos diretores
de cinema não são cinéfilos. Você acha
que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo?
Sim, quando eu fiz faculdade de cinema eu pensava “Ok, eu
vou ter que assistir de tudo agora”. E é isso mesmo, tiveram aulas que foram
assistir filmes. Alguns colegas ficaram revoltados, mas não faz sentido. É como
você ser médico e ter medo de sangue. É intrínseca à profissão, para você ser
cineasta você tem que ter background, saber o que já foi feito. Tem que gostar
de ver filmes.
16) Qual o pior filme
que você viu na vida?
Eu não lembro o nome exato, mas a sala começou meia cheia e
terminou com 4 pessoas (eu, minha irmã, o namorado dela e mais uma pessoa). Num
festival latino-americano, um documentário de uma hora e meia sem diálogos de
uma menina andando pelo deserto do Atacama. Acho que era “Alice en La cidades”. Só no final explicava o porquê que a menina
estava andando no deserto e só 4 pessoas sabem o porquê depois de uma prova de
resistência.
17) Qual seu
documentário preferido?
Ilha das Flores
(1989) – Jorge Furtado
18) Você já bateu
palmas para um filme ao final de uma sessão?
Já, mais de uma vez, principalmente em festivais.
19) Qual o melhor
filme com Nicolas Cage que você viu?
Homem-Aranha no
Aranhaverso (2019)
20) Qual site de
cinema você mais lê pela internet?
Nenhum. Atualmente, eu tenho percebido uma tendência de sites
de cinema a escrever qualquer asneira só pelo click. Então eu evito ao máximo.
Eu sigo alguns colegas da área e a newsletter da Revista do Exibidor.
21) Qual streaming
disponível no Brasil você mais assiste filmes?
Eu assisto bastante coisa pela Netflix, HBOMax e Amazon
Prime Video, algumas coisas no Disney
Plus. Mas tem também alguns streamings não tão conhecidos que valem a pena
conhecer onde eu descobrir vários filmes: CineSesc,
Darkflix, TelaTrans e Mulheresflix.