14/03/2024

Crítica do filme: 'A Noite do Traidor'


A guerra é o pior momento de se apaixonar. Escondidinho no catálogo da Prime Video está uma pérola europeia que apresenta com brilhantismo um indigesto encontro premeditado com o objetivo de descobrir que matou uma pessoa anos atrás. Dirigido pela cineasta francesa Josée Dayan, o filme lançado em 2008, A Noite do Traidor parece uma mistério de Agatha Christie, daqueles mesmo onde só descobrimos o culpado nos últimos minutos.

Na trama, conhecemos Marie (Nathalie Baye), uma mulher da alta sociedade francesa no pós guerra que resolve reunir alguns amigos de um grupo que fez parte da resistência francesa durante a ocupação nazista mas que não se viam faz mais de uma década. Após amistosas reapresentações, o clima esquenta, com o grupo descobrindo que seu líder, morto em uma possível emboscada durante os conflitos de outrora, foi traído por um deles. Assim, uma pergunta terá que ter respostas, qual deles foi o traidor?

É um exercício interessante pensar sobre a direção de arte e os enquadramentos, já que são muitos personagens em cena que se passam em dois cômodos complementares de uma casa. O preenchimento em tela, usando a criatividade do posicionamento parece transportar um ar teatral com impacto de quem está no comando da oratória. Assim, versões de fatos se confrontam. Com a mira em constante mudança, parece que estamos vendo um julgamento onde muitos personagens vão se revezando em um banco de réus imaginário.

A narrativa insiste em apresentar de forma contundente o confronto. Suspeitas antigas, rusgas do passado, um balé de desconfiança que levam a becos sem saídas. Passados políticos se misturam com hipocrisias até então colocadas como inquestionáveis, a tal da falta de auto crítica em qualquer debate nessa direção. Indo e voltando dentro de um contexto de guerra e os novos pensares no pós guerra colocam em choque antigos dilemas apresentando as fraquezas de muitos personagens em conflitos.

Remake de um clássico do final dos anos 50, A Noite do Traidor é uma obra audiovisual exigente no seu discurso e na sua forma fato que leva o espectador a uma jornada que incita a reflexão.