17/12/2024

Crítica do filme: 'Cidade de Asfalto'


Focado nas angústias e verdades de realidades vistas pelo cotidiano de um jovem que entra para o corpo de oficiais de emergência de uma das mais famosas cidades do planeta, Cidade de Asfalto é um compilado de situações que colocam em xeque a sanidade mental, a ética, e as incertezas sobre a moral. Nessa linha tênue entre o que é certo e o que dá pra fazer, o protagonista enfrenta uma incansável crise existencial buscando galhos de esperança através das referências que encontra pelo caminho. Tudo isso é composto por uma narrativa visceral, nua e crua, que também leva à reflexões.

Na trama conhecemos Ollie (Tye Sheridan), um esforçado novato na função de paramédico que se dedica também aos estudos para uma vida melhor. No seu ofício, no complexo turno da noite, logo de cara enfrenta o caos das emoções que chegam forte por um cotidiano repleto de dor e emoções conflitantes. Aos poucos busca na sua única referência, Rut (Sean Penn), um experiente na função, algum sentido para seu presente. Mas nada será tão simples.

Indicado à Palma de Ouro em Cannes no ano de 2023, esse projeto busca sem sutilezas nos levar para uma situação de luta pela sobrevivência através do psicológico conturbado de um alguém sem diretriz. Partindo desse ponto, logo em subcamadas, percebemos uma imersão no que gira ao redor do protagonista. Um relacionamento distante logo afetado por seu trabalho, um parceiro de turno que de referência vira um ponto de interrogação pela absorção do caos na própria vida, as dificuldades em sobreviver quando tudo desmorona. Essa visão pessimista sobre os desandares urbanos se torna o alicerce de um roteiro que recorta situações para preencher o todo, uma fórmula que pode agradar ou desagradar, sem meio termo.

Dirigido pelo cineasta francês Jean-Stéphane Sauvaire, Cidade de Asfalto joga luz para funções com forte carga emocional, aqui com os holofotes apontados para os paramédicos. Essa profissão tão explorada no mundo dos projetos seriados, ganha nesse longa-metragem algo mais ‘pés no chão’, através de verdades de noites e mais noites no combate para salvar vidas mas abrindo brechas para reflexões sobre os contextos. Guiados pelo ótimo elenco, que além de Sheridan e Penn, tem a ótima Kali Reis e uma participação especial de Mike Tyson, o filme busca as verdades da rua através de heróis que nunca deixam de estar de frente para o que der e vier.