O incesto
mental que vira poesia aos olhos do mais romântico cinéfilo
Para ela, com ela, sem ela. Dirigido pelos cineastas Jonathan Dayton e Valerie Faris, “Ruby Sparks”
aborda o amor como tema central, de uma maneira inusitada, transformando o
espectador, desde o primeiro minuto, torcedor para o casal dos sonhos ter um
final feliz. À bordo de uma máquina de escrever antiga, o público é levado para
dentro dessa grande história, metáforas misturadas em sonhos preenchem a trama.
Na trama, Calvin, um jovem escritor de sucesso se encontra
em um momento difícil em sua vida profissional. Ele sofre de um bloqueio criativo e não
consegue mais escrever. Sendo figurinha carimbada em um consultório de psiquiatria,
tem na amizade do irmão o único ombro amigo nesse momento difícil, além do seu
cachorrinho Scott (homenagem ao famoso escritor Scott F. Fitzgerald). Um dia sonha com uma mulher perfeita chamada
Ruby e resolve escrever sobre ela. Mas o que ele não esperava é que sua vida
mudaria totalmente, quando magicamente, a mulher perfeita de seus textos
torna-se real.
Um jovem em crise, um escritor de um sucesso buscando a
volta à profissão, um gênio e seus problemas. Calvin pode ter várias citações
como as acima. Um personagem extremado e profundo. Paul Dano merece todos os elogios, interpretando maravilhosamente
bem esse tímido ser. Suas idas e vindas ao psiquiatra são hilárias para o
público, já para o personagem são a busca das soluções de seus problemas. As
crises de ‘criador x criatura’ levam esse inusitado casal ao limite. Cada vez
que Calvin escreve para mudar algo em sua Ruby perfeita uma avalanche de
mudanças chegam como consequência. O sonho vira realidade. Incesto mental? O
amor não tem lógica! Ruby ajuda Calvin a ter uma relação melhor com a família,
os pais excêntricos (interpretados pelos ótimos Antonio Banderas e Annette
Bening) rendem ótimas sequencias.
É o irmão mais novo do filme “Mais Estranho que a Ficção” (por conta da semelhança de trama
central). O roteiro é jovem, dinâmico e com ótimos diálogos. É o novo “Antes do Amanhecer” (por conta da forma
poética que mostra o amor), bem mais descontraído e com a mesma essência
inteligente nas detalhadas e profundas reflexões. O entrosamento da dupla de
protagonistas é um dos pontos altos da trama, há uma naturalidade que
impressiona, o público sente isso a todo momento. A sequencia do ‘escreve/muda’,
já quase no desfecho, é eletrizante e dramática ao mesmo tempo, se fosse no
teatro aplausos calorosos inflamariam, da plateia.
Os diretores de “Pequena
Miss Sunshine” acertam outra vez. O longa chega bem próximo da perfeição. É
uma grande diversão além de um ótimo longa. Veja mil vezes, só não conte o
final!