Dirigido pelo estreante Dante Ariola, Arthur Newman é quase uma
grande brincadeira de faz de contas onde a realidade vai ficando para trás
dando lugar a sonhos, desejos e ações executados por alter egos diversos. O
filme, que conta com mais uma atuação maravilhosa de Colin Firth, é uma grande
estrada sem direção, o que pode incomodar alguns. A falta de objetivos dos
personagens é abordada dentro da trama. Eles são guiados por desejos
reprimidos, fantasias do que acham ser a felicidade. Tem uma personalidade de
um road movie mas na verdade é um drama profundo e inteligente que tem como
pano de fundo a relação entre pais e filhos.
Na trama, conhecemos um homem desiludido com sua vida
profissional e pessoal. Certo dia, resolve fugir e plantar evidências do seu
desaparecimento em uma deserta ilha longe de casa. Na estrada, à bordo de um
conversível clássico esbarra com uma mulher completamente insana e juntos vivem
dias intensos vivendo literalmente a vida de outras pessoas. A fita tem um
dinamismo peculiar que se encaixaria como uma luva no formato peça de teatro.
Seria uma interessante adaptação, desde já fica a dica aos que circulam pelo
mundo do teatro no Brasil.
Por incrível que pareça, e a sinopse não entrega isso de
jeito nenhum, o longa-metragem roteirizado por Becky Johnston (que escreveu o
roteiro do maravilhoso Sete Anos no Tibet), é um grande
drama familiar, com foco na relação pais e filhos. Conforme somos apresentados
aos fatos do passado dos personagens, subtramas ricas em emoção, principalmente
os diálogos interessantes que surgem entre o filho abandonado e a atual mulher
abandonada surgem para completar as lacunhas de algumas dúvidas que surgem
sobre os objetivos dos personagens.
Emily Blunt já é expert em construção de personagens
esquisitos. Vimos isso em Sunshine Cleaning e Your
Sister’s Sister. A bela atriz britânica precisa tomar um certo cuidado
para não cair na mesmice, algumas de suas personagens são muito parecidas.
Nesse filme, por exemplo, sua personagem para a continuação de outras que já
teve na carreira. Já o ganhador do Oscar Colin Firth, mais competente do que
nunca, consegue passar toda a aflição de seu difícil personagem com a maestria
de sempre.
O filme tem alguns momentos água com açucar mas ganha um
ritmo bacana quando os personagens começam a viver a vida de outros casais,
isso acontecendo na história, o filme eleva sua qualidade guiado pela ótima
sintonia entre os protagonistas. É um longa muito indicado para psicólogos,
sociólogos. Esses, terão vários assuntos para discutir com seus alunos em sala
de aula. Não percam!