Uma abertura simples em um barco subindo rio acima, com uma
fotografia que chama a atenção, é o start do novo trabalho do competente
cineasta Gabriel Mascaro. O filme chama a atenção pelas imagens, somos
testemunhas de uma beleza natural em todas as sequências. Isso por um lado é
bom, por outro é ruim. O lado bom é mais uma vez acompanhar a competência de
Mascaro com a câmera nas mãos. O lado ruim é que isso acaba se tornando maior
que a própria história, o que distancia o público até certo ponto do que
acontece no andamento dos personagens.
Na trama, conhecemos a bela Shirley (Dandara de Morais) uma
corajosa mulher que largou a cidade grande para cuidar de sua avó. Ela trabalha
em uma plantação, ouve música alternativa e vive de seus sonhos de ser
tatuadora. Morando em uma vila, a rotina desses habitantes é bem simples e
nunca há nada de novo, até a chegada de um pesquisador de ventos que faz o despertar
de muitos dos personagens.
Mascaro disseca com profundidade os personagens de forma tão
honesta e verdadeira que impressiona. Mas não pensem que é uma história comum,
vista muitas vezes no cinema. Ventos de
Agosto é uma mostra do cotidiano de pessoas que se limitam a viver na escassez
até do próprio sonhar, onde qualquer situação fora do normal daquela rotina se
torna um grande acontecimento no lugar onde eles vivem.
É um retrato do Brasil que não aparece nos noticiários, um
Brasil que não conhece o Facebook nem vai perder seu tempo querendo saber o que
é whatsapp. Ventos de Agosto é uma
tentativa válida de mostrar que o cinema também pode ser visto como poesia.
Para ajudar nessa validação, a fotografia do filme beira ao espetacular o que
nos proporciona flashes de um nordeste lindo. Esse trabalho merece ser visto
pelo público, precisamos conhecer nossas belezas e nossas histórias. Esse também
é o nosso Brasil.