Brasil, terra do futebol, das lindas mulheres, da corrupção,
dos governos festeiros, e, óbvio, a terra do carnaval. Uma data festiva, que
todos comemoram, vista por muitos como importante para o turismo em nosso país.
Agitos dos trios elétricos mais barulhentos do planeta, bundas rebolando,
curtição, bebedeira, pegação, Ivete, Claudia, calor e uma ressaca terrível no
dia seguinte. Legal! #sqn.
Para quem foge de momentos como esse, vista o seu abadá
cinéfilo, vá ao cinema, alugue um montão de filmes, entre no ar condicionado e
faça a sua folia!
Abaixo, 10 filmes para você curtir o carnaval se deliciando
como todo e bom cinéfilo:
10. Selma: Uma Luta
Pela Igualdade
Ser profundamente amado por alguém nos dá força, amar alguém
profundamente nos dá coragem. Dirigido pela cineasta norte-americana Ava
DuVernay, um dos filmes concorrentes ao Oscar de Melhor Filme esse ano no Oscar,
chega as nossas telonas, estamos falando do ótimo Selma: Uma Luta Pela
Igualdade. Tendo como principal tema central em seu roteiro a luta pelo direito
a votação dos negros nas eleições norte-americanas, o filme de 128 minutos
possui uma excelente direção, além de discursos fervorosos, empolgantes e uma
atuação brilhante e inspirada do ator David Oyelowo que interpreta o
protagonista Martin Luther King Jr.
Os diálogos entre Luther King e sua esposa são maravilhosos,
fazem o público ficar com os olhos fixos na telona. Há tanta verdade nas
interpretações dos artistas. A diretora nessa hora, também merece receber os
méritos, nos sentimos sentados ao lado dos personagens, cada palavra, cada cena
mostrada, nos fazem borbulhar em raciocínios, opiniões e lembranças. Selma: Uma
Luta Pela Igualdade emociona do início ao fim, e merecidamente teve seu
reconhecimento com diversas nomeações à festivais de cinema ano passado. É um
filme que todos nós devemos assistir e conhecer um pouco mais sobre a história
da humanidade.
09. Whiplash – Em
Busca da Perfeição
O preço da perfeição é a prática constante. Escrito e
dirigido pelo cineasta, de apenas 29 anos, Damien Chazelle, Whiplash – Em Busca
da Perfeição é o tipo de filme que vai levar o espectador a um grande sorriso
assim que os créditos começarem a subir. Eletrizante, emocionante, magnífico,
espetacular. Impossível você sair da sala de cinema e não estar arrepiado com
tamanha força que essa história possui, e, pra completar essa busca pela
perfeição, o filme conta com a grande interpretação de um ator no ano passado:
J.K. Simmons está simplesmente espetacular!
08. Violette
Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas
apenas existe. Em seu quinto longa-metragem, o cineasta francês Martin Provost
resolve contar uma história real, forte e cheia de detalhes que impactaram o
modo de pensar francês durante todo o século passado. Com um grande desfile de
astros da literatura e filosofia, um roteiro primoroso e a dupla Emmanuelle
Devos e Sandrine Kiberlain inspiradas, Violette
se transforma ao longo dos 139 minutos de fita um retrato contundente sobre uma
figura ímpar em uma sociedade careta que recebe um tapa em cada linha de seus
polêmicos textos.
Na história, roteirizada pelo próprio diretor, conhecemos
mais profundamente a vida da escritora Violette Leduc, uma mulher guerreira que
encontrou a salvação através da escrita. Sua amizade e sua paixão por Simone de
Beauvoir também é meticulosamente bem mostrada. Se sentindo em um deserto que
monologa, desafiando o convencional da época, quebrando tabus, sendo admirada
por ilustres escritores do século XX, a protagonista é muito poderosa. Emmanuelle
Devos embute uma energia vigorosa que é fundamental para que tenhamos empatia
por Violette. Uma grande atuação dessa excelente atriz, talvez, pouco conhecida
aqui no Brasil.
07. Canção para
Marion
E se acontecer de você vir a garota mais bonita do mundo?
Cante para ela! Explodindo carisma e alegria, principalmente do elenco da
terceira idade, um dos projetos mais legais do ano, o drama com pitadas cômicas
Canção para Marion. A simpatia e a
alegria de todos no coral vão gerar lindos sorrisos na maioria dos
espectadores. O filme trata de um tema duro, denso, complicado mas a história
se desenrola de maneira tão doce e amável que chega bem forte em nossos
corações.
Terrence Stamp e seu Arthur, e a eterna dama Vanessa
Redgrave e sua Marion possuem uma sintonia afiada em todas as cenas deste belo
projeto. Para complementar e ser o chantilly dessa deliciosa história, Gemma
Arterton e sua delicada personagem Elisabeth dão o toque, o elo, que a trama
necessitava, deixando essa fita bem mais especial. Há carisma em todos os
curtos 90 minutos de fita, os diálogos são profundos, as músicas emocionantes.
O filme ainda tem o mérito de colocar os artistas para cantar e isso aparecer
no filme, diferente do medroso filme de Dustin Hoffman, O Quarteto.
06. Allegro
O passado nunca reconhece o seu lugar, está sempre presente.
Dirigido pelo competente cineasta dinamarquês Christoffer Boe (do ótimo
thriller Alting bliver godt igen), e
praticamente desconhecido do público brasileiro, o complexo filme Allegro é uma mistura de realidades
utópicas, definidas pela paixão de um homem, que se perde em seus mais secretos
desejos de amar. Protagonizado pelo espetacular ator Ulrich Thomsen, o
longa-metragem de modestos 88 minutos é uma versão metafórica do amor com vários
toques de Matrix.
A direção de Boe é algo fabuloso. Tenta cercar o espectador
de angústia e mistérios com captação de imagens belíssimas que descascam todas
as emoções dos personagens. O corajoso roteiro, percorre o consciente humano e
se aproxima da lógica que vimos em filmes como Matrix e A Origem.
Taxado como Sci-fi pela crítica internacional, Allegro é muito mais que ideias inovadoras na arte de figurar o
sentimento, é uma história sólida sobre a redescoberta das emoções. Há uma raiz
filosófica e dá muita margem para discussão.
05. A Alegria de Emma
As delicadezas do ser humano podem ser descobertas das
maneiras mais duras ou inusitadas pelas pessoas. Depois de 8 anos sumido do circuito
carioca de cinema, estreou no Rio de Janeiro na quinta-feira (06.11), o
maravilhoso filme alemão A Alegria de
Emma. Essa produção do ano de 2006, dirigida pelo ótimo diretor Sven
Taddicken, é uma lição de como nossos sonhos podem estar guardados tão
profundamente dentro de nós e que, às vezes, só partimos para realizá-los
quando um fato impactante acontece em nossas vidas. O filme incomoda, é duro,
mostra com muita verdade os dilemas de seus personagens principais,
interpretados muito bem pelos atores Jördis Triebel e Jürgen Vogel.
As peculiares características dos personagens principais são
o grande charme do filme. Começamos a análise com Max, um ser humano calado que
nunca se arriscou por nada em sua vida. Vive seu cotidiano reprimindo,
trabalhando com algo que não gosta e sem conseguir chamar sua secretária para
sair. Quando recebe uma terrível notícia, desperta, percebe que não tem mais
tempo e embarca em uma viagem de descobertas, dessa vez nada com nada
pré-planejado, sai totalmente de sua zona de conforto e conhece o real
significado de viver. Emma também vive em seu próprio mundinho, possui um certo
carinho pelos porquinhos que é obrigada a cortar, faz questão de ser dura com o
único homem que a procura, um policial da região, e esconde sua delicadeza e
ternura para si até a chegada de Max em sua vida. Esse encontro realmente era algo
que os dois necessitavam para descobrirem de fato o que é se sentir vivo.
A Alegria de Emma
é um desafogo na alma de qualquer pessoa que acredita no sonhar.
04. O Batismo
A amizade desenvolve a felicidade e reduz o sofrimento,
duplicando a nossa alegria e dividindo a nossa dor. Falando sobre o sofrimento
mundo das escolhas e do passado que volta e meia retorna assombrando, o filme
polonês O Batismo é uma aula de como
deixar o público incomodado e com os olhos perplexos a todo instante. Dirigido
por Marcin Wrona, esse filme conta com excelentes atuações, principalmente do
espetacular ator Wojciech Zielinski que dá vida à Michal, personagem principal
dessa forte história.
São singelos 86 minutos eletrizantes de muitos dramas,
escolhas e onde a arte do viver é posta em cheque a cada momento. As fortes
sequências deixam o público incomodado mas com certeza faz parte da história e
nada é tão gratuito assim. O espectador que conseguir se conectar à trama
principal da amizade e das escolhas que todos os personagens precisam tomar,
chegará a conclusão que está diante de um dos melhores filmes do ano. Não
tenham dúvidas.
03. Uma Lição de Vida
A educação é uma baita escolha no caminho para você ser
feliz. Com um hiato de 3 anos, chegou ao circuito de cinema no Brasil ,esse
mês, o maravilhoso filme Uma Lição de
Vida. Contando a saga de um homem em busca do simples objetivo em aprender
a ler e escrever – isso aos 84 anos – o diretor britânico Justin Chadwick (que
dirigiu o interessante A Outra)
conseguiu reunir todos os elementos para transformar esse trabalho em algo que
emociona até os corações mais duros que possam existir. A atuação de Oliver
Litondo, que interpreta o protagonista Maruge, é uma das coisas mais lindas que
vimos no cinema neste ano.
Esse trabalho entra naquelas longas listas de filmes que
devem ser usados por educadores de todo o mundo como forma de inspirar o
aprender. Rompendo barreiras, mostrando uma realidade distante de muitos nesse
planeta, o sentimento fala tão mais forte que ao final das sessões a emoção
toma conta da gente de uma maneira que vira algo marcante. Alguns se incomodam
pelos clichês que existem no filme e da maneira como foi conduzida essa
história. Mas meus amigos, acreditem, vocês precisam abrir o coração e deixar a
história contagiar vocês por inteiro. A direção é competente, preenche todas as
lacunas do passado do protagonista o que nos ajuda a entender a cada minuto
melhor essa grande história de superação.
02. Tudo Acontece em
Nova York
Se sonhar um pouco é perigoso, a solução não é sonhar menos
é sonhar mais. Lembram do filme, sucesso de público e crítica aqui no Brasil e
no mundo, Pequena Miss Sunshine?
Então, agora somem a uma história incrível como aquela, mais personagens
carismáticos e uma direção primorosa da dupla Ruben Amar, Lola Bessis. Tudo
Acontece em NY, ou para quem preferir o simpático título original Swim Little Fish Swim é uma comédia
dramática que possui um paralelo com a realidade da sociedade sonhadora que
impressiona. Há uma forte e profunda relação de afeto e carinho nos pontos de
interseções de cada personagem. Esse é um daqueles filmes que conquistam logo
de cara nossos corações.
O filme poderia cair na mesmice de diversos outros títulos
que sugerem crônicas de Nova Iorque mas não conseguem chegar a fundo nos
debates que surgem. Tudo Acontece em NY faz o caminho mais trivial possível
para trazer à luz discussões profundas sobre a sociedade moderna. Se prende nas
figuras emblemáticas das famílias e dão uma leitura diferente mas que você pode
encontrar em qualquer esquina do mundo. O pai de família Leeward é o epicentro
da trama, é nele que conseguimos enxergar uma humanidade louvável que fazem
todos se deliciar com cada ação desse rico personagem.
A Nova Iorque do filme, não é muito diferente da realidade.
Na verdade, é igualzinha. Uma terra de oportunidades, repleta de jovens
estrangeiros sonhadores (hoje em dia 36% da população da terceira maior cidade
da América é gringa), todos correndo atrás de suas realizações. Muito por
encontrar vários traços comuns com a realidade, por mais que leves clichês
contornem esse trabalho, Tudo Acontece em NY se torna aos poucos um filme tão
delicioso que ao término da fita sentimos aquela emoção gostosa, respiramos
fundo e pensamos: vimos uma pequena obra-prima!
01 – The Lunchbox
As pessoas entram em nossas vidas por acaso, mas não é por
acaso que elas permanecem. E vem da Índia o filme mais delicado do ano até o
momento. Escrito e dirigido pelo cineasta indiano Ritesh Batra, em seu primeiro
longa-metragem na carreira, The Lunchbox
teve uma estreia surpresa no circuito carioca o que fez com que editorias
especializadas em sétima arte corressem em pleno fim de semana para as salas de
cinema para poder dizer ao público o que esperar dessa surpreendente história.
Mesclando comédia, romance e um drama muito bem estruturado, o filme merece
aplausos de pé de todo mundo que ama cinema.
A narrativa é sensível, gostosa, leve, engraçada, conquista
o primeiro do primeiro ao último minuto com elegância e competência. Nos
sentimos nos delicados filmes de Fellini, nas conturbadas situações nos dramas
de Truffaut, nas boas e delicadas cenas cômicas de diversas comédias francesas.
Ritesh Batra consegue encontrar uma fórmula muito interessante de direção e
roteiro encaixando cada personagem de maneira harmoniosa com a história. Esse
filme é um daqueles que você paga para ver de novo.
The Lunchbox chegou ao circuito nacional para dizer
definitivamente aos preconceituosos de plantão que o cinema indiano pode ser
espetacular e não necessariamente precisa de dancinhas esquisitas no final de
suas histórias. Mas e se tivesse dancinhas? Qual o problema? É da cultura
alegre deles, isso é louvável. Vai dizer que vocês nunca pensaram em dançar
junto com o elenco ao final de Quem quer ser um Milionário?
O filósofo alemão Schopenhauer costumava dizer que o destino
embaralha as cartas, e nós jogamos. Não é verdade? O filme mostra exatamente
isso. Há uma ação do destino mas quem dá o final da história são ações dos
personagens. Esse ótimo longa-metragem indiano merece ser conferido por todo
mundo que acredita nos seus sonhos. Às vezes, o trem errado vai para a estação
certa. Nunca deixe de acreditar nisso!