Os verdadeiros escritores encontram as suas personagens
apenas depois de as terem criado. Citando o escritor búlgaro Elias Canetti, começamos
a escrever sobre esse novo trabalho do experiente diretor chileno Jorge Durán, Romance Policial, uma mistura de drama
sobre um homem e sua razão de ser, embolado em uma trama de suspense, triângulo
amoroso e assassinato. O roteiro é circunspeto,
beira ao estouvamento e no fim acaba convencendo pela força de seus personagens e os seus mistérios.
Na trama, conhecemos o escritor Antônio (Daniel de Oliveira),
um homem sequioso para escrever uma nova história que resolve viajar sozinho
para o Chile, mais precisamente para o Deserto do Atacama. Durante seus dias de
hospedagens, passa horas e horas caminhando para um nada cheio de areia,
procurando alguma boa ideia para começar o novo texto. Certo dia, horas após
aceitar carona de um homem, durante uma dessas caminhadas que fazia, encontra
um corpo no chão e acaba sendo suspeito do assassinato pela polícia local.
Assim, surge em sua vida a chilena Florencia (Daniela Ramírez) com quem terá
momentos calientes e que o ajuda a resolver o mistério em que se meteu.
Uma coisa é a literatura, uma coisa é a vida, ou são a mesma
coisa? Inocente ou culpado, a vida do protagonista não seria mais a mesma. Ele
sabia disso. Romance Policial é o
público acompanhando os passos de um forte personagem, que tem uma bela
interpretação de Daniel de Oliveira. Apaixonado por Florencia e pelo personagem
que era ela, Antônio encontra as respostas que tanto queria mas sabe que não
pode ter tudo o que queria. É um personagem real, que podemos encontrar em
qualquer esquina, isso aproxima o espectador, gera empatia. Além de Antônio, outro personagem, o detetive chileno, interpretado por Alvaro
Rudolphy, que aparece na história para ser um dos vértices do triângulo amoroso
instaurado, é ótimo! Se mete em muitos diálogos burlescos com o protagonista.
No arco inicial, contextos e formação de características do
personagem principal possuem uma concepção muito rasa, dificulta-se a leitura e
própria interpretação pelo público. A lentidão com que a história caminha,
talvez para entregar bem mastigadinho cada detalhe que se tornaria útil na
montagem do quebra-cabeça, atrapalha um pouco (não há como negar), porém, de certa
forma, você não consegue tirar os olhos da tela. Talvez seja a fotografia
(maravilhosa, por sinal), ou o deleito de ver Daniela Ramírez na telona, ou
mesmo a história quando veste a camisa do suspense.