Com apenas um mês de filmagens, um tempo bem curto na média
para um projeto de produção cinematográfica, Muitos Homens num Só é uma livre adaptação baseada no livro Memórias
de um Rato de Hotel (1912), de João do Rio. Contando com uma direção que
possui bons momentos, um roteiro que deixar a desejar principalmente quando
resolve preencher as lacunas investigativas que a história pede por historinhas
de amor novelescas e um elenco que desenvolve seus personagens de maneira
consciente mas sem ser muito profunda, o filme vem fazendo uma carreira
interessante no circuito nacional. Às vezes sendo suspense, às vezes sendo um
drama romântico, Muitos Homens num Só comete
um pecado capital: se perde em seu
caminho que tinha tudo para ser vitorioso.
Na trama, conhecemos Arthur (Vladimir Brichta), uma alma
inquieta, um homem com um olhar atento que faz provar a teoria de que a
política da vida está no improviso de cada dia. No início do Século XX, Arthur
se especialista em furtar pertences de moradores e turistas dos mais badalados
lugares da cidade maravilhosa. Certo
dia, em um roubo em que se meteu para pagar uma dívida de um amigo, acaba se
apaixonando por Eva (Alice Braga), uma desenhista que vai mudar de vez sua
vida. Paralelo a isso, o investigador Félix Pacheco (Caio Blat) começa uma caça
ao ladrão, utilizando alguns métodos inovadores para a época, como a impressão
digital.
Arthur, tinha tudo para ser um dos personagens mais
marcantes do cinema nacional neste ano. Não possui armas, somente a habilidade.
Em uma sociedade machista de anos atrás se dedica ao exercício da vadiagem. Observa
o que ninguém vê mas que está diante de nossos olhos. O motivo é simples, o mundo
que o cerca é intrigante. Porém, o roteiro assinado pela dupla Leandro Assis e
Nina Crintzs se perde no clichê de tentar preencher lacunas extras na
historinha de amor que é projetada na história, deixando de lado a interessante
investigação feita pelo ótimo personagem interpretado por Caio Blat, Félix
Pacheco.
Talvez o ponto mais positivo do filme, a trilha sonora é
assinada pelo ex-guitarrista da Legião Urbana, Dado Villa-Lobos (que já havia
composto a trilha de Malu de Bicicleta
e O Inventor de Sonhos) é simplesmente
ótima. Villa-Lobos deveria fazer essa incursão ao universo cinema mais vezes. De
resto, Muitos Homens num Só é mais
um filme nacional com potencial gigantesco que acaba naufragando.