Olho grande, boca grande, mão grande. Uma das coisas que
conquistam o público dentro de uma sala de cinema é quando na tela gigante a
originalidade toma conta, produzindo uma corrente de emoções diferentes
culminando em algo que beira ao inesquecível. Após o excelente Trabalhar Cansa, a dupla de cineastas Juliana Rojas e Marco Dutra retomam a parceria de sucesso, criando um enredo que
vai se construindo aos poucos, como se lentamente subíssemos uma escada em
direção ao surpreendente.
Ana (Marjorie
Estiano) e Clara (Isabel Zuaa),
dois universos que se encontram. Ana, cheia de dívidas, devendo o condomínio,
cartões de créditos sem limites, brigada com a família, vive uma gravidez
solitária, com noites difíceis de dormir, adepta do sertanejo dance como forma
de ginástica, encontra em Clara uma amiga, uma companheira, para ajudá-la na
fase final de sua gestação. Clara é uma trabalhadora brasileira que consegue um
emprego na casa de Ana e aos poucos acaba se envolvendo de maneira intensa com
ela, principalmente após descobrir segredos ligados ao sonambulismo e as noites
de lua cheia. O mundo praticamente se fecha para as duas, e uma vai precisar da
outra para combater qualquer tipo de obstáculo.
Com filmagens sendo realizadas nas cidades de São Paulo e
Barueri além de ser dividido em arcos completamente opostos, As Boas Maneiras, com um orçamento beirando
aos R$ 4 milhões, pode ser visto como dois filmes em um só. A competente atriz portuguesa
Isabel Zuaa vira o centro das atenções nas duas partes, o grande elo de
ligação, marcando uma das mais belas atuações em lançamentos no circuito desse
ano. Tudo é muito detalhista, sempre em busca da originalidade. Segredos guiam
a trama rumo ao misterioso. É o cinema de gênero fantástico brasileiro
mostrando sua força e competência.
Não era pra você se apaixonar, era só pra gente ficar, eu te
avisei, meu bem, eu te avisei. A fotografia, assinada pelo francês Antoine Héberlé é belíssima, traduz com
bastante eficiência o sentimento da narrativa. E, falando nesse sentimento que
envolve a trajetória dos personagens, o amor está exposto de diversas maneiras,
também nas boas maneiras em que enxergamos ao próximo e nas singelas ações do
dia a dia.