15/06/2018

Crítica do filme: 'As Boas Maneiras'


Olho grande, boca grande, mão grande. Uma das coisas que conquistam o público dentro de uma sala de cinema é quando na tela gigante a originalidade toma conta, produzindo uma corrente de emoções diferentes culminando em algo que beira ao inesquecível. Após o excelente Trabalhar Cansa, a dupla de cineastas Juliana Rojas e Marco Dutra retomam a parceria de sucesso, criando um enredo que vai se construindo aos poucos, como se lentamente subíssemos uma escada em direção ao surpreendente.

Ana (Marjorie Estiano) e Clara (Isabel Zuaa), dois universos que se encontram. Ana, cheia de dívidas, devendo o condomínio, cartões de créditos sem limites, brigada com a família, vive uma gravidez solitária, com noites difíceis de dormir, adepta do sertanejo dance como forma de ginástica, encontra em Clara uma amiga, uma companheira, para ajudá-la na fase final de sua gestação. Clara é uma trabalhadora brasileira que consegue um emprego na casa de Ana e aos poucos acaba se envolvendo de maneira intensa com ela, principalmente após descobrir segredos ligados ao sonambulismo e as noites de lua cheia. O mundo praticamente se fecha para as duas, e uma vai precisar da outra para combater qualquer tipo de obstáculo.

Com filmagens sendo realizadas nas cidades de São Paulo e Barueri além de ser dividido em arcos completamente opostos, As Boas Maneiras, com um orçamento beirando aos R$ 4 milhões, pode ser visto como dois filmes em um só. A competente atriz portuguesa Isabel Zuaa vira o centro das atenções nas duas partes, o grande elo de ligação, marcando uma das mais belas atuações em lançamentos no circuito desse ano. Tudo é muito detalhista, sempre em busca da originalidade. Segredos guiam a trama rumo ao misterioso. É o cinema de gênero fantástico brasileiro mostrando sua força e competência.

Não era pra você se apaixonar, era só pra gente ficar, eu te avisei, meu bem, eu te avisei. A fotografia, assinada pelo francês Antoine Héberlé é belíssima, traduz com bastante eficiência o sentimento da narrativa. E, falando nesse sentimento que envolve a trajetória dos personagens, o amor está exposto de diversas maneiras, também nas boas maneiras em que enxergamos ao próximo e nas singelas ações do dia a dia.