A solidão e as emoções do homem/criatura. Cinco anos após
seu último filme - e que belo filme - O
Sonho de Wadjda, a cineasta Haifaa Al-Mansour, a primeira saudita a filmar
em Hollywood, volta as telonas agora com o desafio de recriar o contexto
histórico e um importante período da vida de uma das grandes escritora britânica
da história, a criada do clássico Frankenstein, Mary Shelley. O longa, é um retrato histórico de um tempo distante,
onde assistimos, cena pós cena, a trajetória de uma mulher à frente de seu
tempo. No papel principal, a jovem Elle Fanning que consegue absorver e
transmitir toda delicadeza e certezas da protagonista.
Na trama, conhecemos a jovem Mary Wollstonecraft Godwin
(Elle Fanning), filha do reconhecido William Godwin (Stephen Dillane) que vive
nos tempos passados, em uma sociedade conservadora, o que mexe muito com a
personalidade de Mary, bastante evoluída para sua época. Sua vida entra em
constante mudança quando conhece o também jovem poeta Percy Shelley (Douglas
Booth) por quem se apaixona instantaneamente, e por isso acaba sendo expulsa de
casa pelo pai e vai viver esse intenso amor. Durante o início dos anos com
Percy, Mary vive situações que nunca vivera, além de conhecer personagens que
influenciarão sua grande futura obra prima, Frankenstein.
Uma das histórias mais adaptadas para o cinema, Frankenstein
é um conto de agonia e solidão. Exatamente o reflexo do período que conhecemos Mary Shelley. Um dos méritos do filme é
encontrar um ponto de empatia entre toda a tristeza e incertezas que vive a
protagonista com o contexto histórico que somos testemunhas. Completamente
atemporal, infelizmente, os absurdos do preconceito e mandamentos machistas levam
a jovem personagem a buscar sua própria identidade sofrimento pós sofrimento. O
homem que escolheu para amar, Percy, por mais que tenha carinho por ela, quer
ser livre, viver em uma boêmia diária enquanto as dívidas se acumulam. Sua ‘irmã’
e sua ambiguidade de carência, por vezes parece estar em um relacionamento com
seu marido, pois os três não se desgrudam.
Todas essas variáveis, fora outros personagens que aparecem na
vida de Mary, influenciam a escritora a explorar as emoções, escrevendo com
bastante detalhe e sem medo sobre a solidão e os monstros que enfrenta. Seus
medos viram personagens, sua defesa são suas palavras. Elle Fanning interpreta
com muita delicadeza mas sem deixar de transparecer a coragem, marca maior
dessa mulher bem a frente do seu tempo.