É complicado retratar a depressão e a falta de sentido da
vida com personagens tão diferentes e mesmo assim ser um filme interessante. Gente de Bem, filme que estreou no
último Festival Internacional de Toronto e lançado após na rede de streaming
Netflix, sem dúvidas não é um filme para qualquer um. Escancara a realidade
modelando seu ritmo com pitadas de humor depressivo nos diálogos, situações
constrangedoras e atitudes para lá de polêmicas. No papel principal, o
excelente ator australiano Ben
Mendelsohn (Reino Animal, Jogador
Número 1) que mais uma vez mostra todo seu talento em um excêntrico e
bastante peculiar personagem.
Na trama, dirigido pela cineasta Nicole Holofcener (À Procura
do Amor – 2013) e roteirizado pela mesma, a partir da obra The Land of Steady Habits de Ted Thompson, conhecemos o recém
separado Anders (Ben Mendelsohn), um
homem que largou o emprego e partiu para uma aposentadoria antecipada mudando
os rumos de sua vida e de toda sua família já que pede divórcio da esposa Helene
(Edie Falco) ao mesmo tempo. Certo
tempo depois, encontramos Anders desolado, sem saber ao certo se as decisões
que tomou foram as melhores, já que a ex-esposa encontrou um novo amor, seu
único filho parece ser um recém graduado sem rumo na vida e a única pessoa que
consegue dialogar com ele por muito tempo é o filho de um casal amigo de sua
família que passa por um fase de drogas e sumiços. Tentando direcionar melhor
seus rumos, Anders passará por situações inusitadas em busca de seu melhor
entendimento sobre o que é viver.
Muito parecido com Beleza
Americana, principalmente na hora de escancarar os problemas que acontecem
na vida real da sociedade norte americana, Gente
de Bem bate na tecla da família, seus segredos e todo o julgamento de
terceiros sobre situações que acontecem em quatro paredes. Os personagens são
muito bem escritos, além do complexo protagonista, enxergamos as óticas dos
dois jovens que navegam na história, um sem futuro certo após a formatura e
morando com a mãe próximo aos 30 anos e um outro completamente abandonado pelos
pais, que não conseguem enxergam e encontrar soluções para um problema grave
que afeta não só o seu filho mas todo um planeta.
Mas a luz principal cai toda para cima de Anders, um fator
de interseção de todas as subtramas. Vamos entendendo melhor ao personagem a
partir dos olhos de outros e toda a dor que acaba causando onde passa, fruto de
todas as escolhas que fez nos últimos tempos. Escolhas, verdades, mentiras, são
premissas que são jogadas no liquidificador desse belo trabalho que merecia
ganhar as telonas.