24/09/2021

E aí, querido cinéfilo?! - Entrevista #522 - Letícia Ferrarezi


O que seria de nós sonhadores sem o cinema? A sétima arte tem poderes mais potentes do que qualquer superman, nos teletransporta para emoções, situações, onde conseguimos lapidar nossa maneira de enxergar o mundo através da ótica exposta de pessoas diferentes. Por isso, para qualquer um que ama cinema, conversar sobre curiosidades, gostos e situações engraçadas/inusitadas são sempre uma delícia, conhecer amigos cinéfilos através da grande rede (principalmente) faz o mundo ter mais sentido e a constatação de que não estamos sozinhos quando pensamos nesse grande amor que temos pelo cinema.

 

Nossa entrevistada de hoje é cinéfila, de Jaú (São Paulo). Letícia Ferrarezi tem 34 anos. É historiadora por formação e escritora por sorte e autora do livro “Pequenos Surtos Cotidianos”. Além disso, é cinéfila e acredita que o cinema seja além da sétima, a melhor arte.

 

1) Na sua cidade, qual sua sala de cinema preferida em relação a programação? Detalhe o porquê da escolha.

Na minha cidade só há um cinema dentro do shopping, então eu não tenho muita escolha.

 

2) Qual o primeiro filme que você lembra de ter visto e pensado: cinema é um lugar diferente.

Por morar em uma cidade pequena, só fui ao cinema com 15 anos de idade. O ano era 2002 e eu fui assistir Shrek. Foi a coisa mais legal do mundo, eu não queria sair mais da sala. Ali nada poderia dar errado, eu pensava. Foi bem especial.

 

3) Qual seu diretor favorito e seu filme favorito dele?

Ingmar Bergman. É difícil escolher, mas Sonata de Outono certamente é o meu favorito.

 

4) Qual seu filme nacional favorito e por quê?

“O que é isso, companheiro?”, de Bruno Barreto. Adoro a leitura de Bruno sobre qualquer coisa e dirigir um filme no contexto do Regime Militar parece fácil, mas não é. Excelente paráfrase do livro de Fernando Gabeira. A reconstrução do Brasil dos anos 70 foi incrível, a escolha de elenco é impecável. Assisti quando criança e na época achava que era ficção. Infelizmente não é...

 

5) O que é ser cinéfilo para você?

Ser cinéfilo é olhar com os olhos do outro. Você se deixa levar pela ótica de outra pessoa na condução de uma história que poderia ser diferente se fosse dirigida por outra ou por você, por exemplo. Cinema é se despir de você, é abrir mão de pontos de vista, convicções e acabar levando consigo tudo isso de outras pessoas. O cinema faz isso de forma única, acho bem bonito.

 

6) Você acredita que a maior parte dos cinemas que você conhece possuem programação feitas por pessoas que entendem de cinema?

Não. E não me importo tanto com isso. Eu sou cinéfila e adoro cinema estrangeiro, clássicos da Old Hollywood, mas eu entendo que outras pessoas têm uma relação com o cinema diferente de mim. Elas apenas querem assistir à um filme e pronto. E geralmente são blockbusters, que eu também adoro ver. Hoje é muito mais fácil você acessar os filmes mais cult do que antigamente, então eu não vejo por que reclamar. A pessoa mais inclinada a conhecer melhor a sétima arte, vai pesquisar, procurar e consumir outros produtos que não só os oferecidos pelo cinema de shopping. Mas não seria ruim se tivéssemos mais filmes atendendo a diversos públicos.

 

7)  Algum dia as salas de cinema vão acabar?

Acredito que não. O cinema passa pela mesma situação do mercado de livros, que seguem firmes e fortes, apesar de tudo. Pode ser que haja uma diminuição por diversos motivos, mas acabar não. Muita gente ainda precisa da mágica que acontece lá e os jovens estão conhecendo e fomentando essa magia. Uma pena ainda ser tão caro a ponto de muita gente nunca ter ido. É esse cenário que precisa mudar.

 

8) Indique um filme que você acha que muitos não viram mas é ótimo.

Cinema Paradiso. Uma ode à sétima arte, mas é difícil de encontrar para assistir, então conheço poucas pessoas que viram. Vale muito a pena, é emocionante.

 

9) Você acha que as salas de cinema deveriam reabrir antes de termos uma vacina contra a covid- 19?

Não. De jeito nenhum. Agora com a vacina, podemos usufruir do cinema mais tranquilos, mas ainda seguindo os protocolos necessários. Fique 1 ano e meio sem ir ao cinema. Foi muito difícil, pois é uma coisa que amo, mas a saúde de todos em primeiro lugar.

 

10) Como você enxerga a qualidade do cinema brasileiro atualmente?

Eu sou uma grande fã do cinema brasileiro. A nossa linguagem é incrível, cativante, única, original, irreverente. Tivemos bons momentos no cinema como nos anos60/70 e nos anos 90. Atualmente tem muita coisa boa acontecendo e muita gente lutando dentro de um mercado com poucos recursos e valorização. Estou otimista em relação à isso e muitos filmes brasileiros terão seu papel destaque. Temos muita história para contar.

 

11) Diga o artista brasileiro que você não perde um filme.

Eu não perdia nenhum do Paulo Gustavo, por exemplo. Era um cara que fazia eu ir ao cinema sem pensar, porque me identifico com o humor que ele fazia. Mas o Marco Nanini é um cara que eu assisto qualquer filme se ele estiver no elenco. Nunca me decepcionei. Versatilidade alta.

 

12) Defina cinema com uma frase:

Magia.

 

13) Conte uma história inusitada que você presenciou numa sala de cinema.

Quando morava em BH, eu ia no cinema praticamente todos os dias e acabei indo ver sozinha “Eclipse” da sala Crepúsculo. Sala de cinema pra mim sempre foi sinônimo de silencio e achei inusitados os gritos das adolescentes em toda cena que o Taylor Lautner aparecia sem camisa. Achei bizarro e na época fiquei bem incomodada. Hoje em dia eu não me importo tanto, mas ainda prefiro o silêncio.

 

14) Defina ‘Cinderela Baiana’ em poucas palavras...

Clássico brasileiro injustiçado.

 

15) Muitos diretores de cinema não são cinéfilos. Você acha que para dirigir um filme um cineasta precisa ser cinéfilo? 

Não. E acho que deve ser até melhor se não fossem. Sei disso porque sou escritora. Eu sou uma leitora voraz, mas que não se prende a muita coisa do mercado editorial. Não sei se é resistência ou natureza mesmo...na hora de criar eu me sinto mais livre, tudo soa mais original e a comparação é menor também. Acredito que o mesmo ocorra com os diretores. Mas claro, não acho válida uma alienação total.

 

16) Qual o pior filme que você viu na vida? 

T.O.C da Tatá Werneck. Eu já vi muito filme ruim, mas esse contempla tudo o que há de pior numa produção cinematográfica. Cinderela Baiana ainda garante boas risadas por ser muito trash, mas esse nem isso. Gosto da Tatá, mas esse filme foi um tiro no pé, para mim nada se salva.

 

17) Qual seu documentário preferido? 

Como historiadora eu já vi muitos documentários e preciso dizer que os streamings têm feito um ótimo trabalho em relação à isso. Não tenho um favorito, mas gostei muito de Generation Wealth, da fotógrafa Lauren Greenfield. Conta a relação das pessoas com dinheiro, luxo, sexo e fama nos E.U.A, especialmente em Los Angeles.

 

18) Você já bateu palmas para um filme ao final de uma sessão? 

Não, nunca!

 

19) Qual o melhor filme com Nicolas Cage que você viu? 

Cidade dos Anjos é um filme muito importante para mim. Fez parte da minha infância e por incrível que pareça eu assisto com olhar de criança e não consigo criticar, então é o melhor para mim.

 

20) Qual site de cinema você mais lê pela internet?

São muitos. Ultimamente o IMDB e Rotten se transformaram em vício, mesmo diante das polêmicas. Aqui no Brasil sigo muitos como o Omelete, Adoro Cinema e CinePOP.

 

21) Qual streaming disponível no Brasil você mais assiste filmes?

Prime Video, Disney Plus e Netflix, embora muita coisa tenha saído de catálogo. Para assistir a Old Hollywood, eu indico o Cinema Livre focado apenas nesses filmes. É bem legal.