Um lugar onde ninguém queria estar. Em mais uma produção que traz recortes sobre o caos do maior dos conflitos da humanidade, o projeto norueguês Marinheiro de Guerra mostra a visão de participantes involuntários da Segunda Guerra Mundial, homens e mulheres que foram obrigados a estarem no conflito quando navios mercantes ficaram sob o comando da coroa norueguesa, servindo aos aliados nas frentes de batalhas. Escrito pelo norueguês Gunnar Vikene, Marinheiro de Guerra também abre espaço para a visão em terra das famílias e tudo que precisaram passar, com muita dificuldade, sem dinheiro e sem notícias dos parentes. Esse projeto marca mais uma página nos horrores da grande guerra.
Lá fora lançado como filme de quase três horas, aqui no
Brasil virou uma minissérie com três capítulos, inclusive foi o indicado da
Noruega ao último Oscar, Marinheiro de Guerra
segue a trajetória de Alfred (Kristoffer
Joner) um homem trabalhador que mora com a esposa e os três filhos na
cidade de Bergen, na Noruega. Com dificuldades de conseguir emprego em terra, e
contando com a ajuda do melhor amigo Sigbjørn (Pål Sverre Hagen), resolve embarcar em um navio mercante, onde fica
responsável pela cozinha, mesmo com receio de ir par ao mar pois o conflito da
Segunda Guerra Mundial já está em pleno vapor por mais que seu país, até aquele
momento, não estivesse em guerra. Só que, alguns meses após seu embarque,
quando Alfred e seus novos amigos estão no meio do oceano atlântico, a Alemanha
invade a Noruega. Nesse cenário, eles são obrigados a estarem em embarcações
que vão para frentes de batalhas e presenciam mais fortemente dias nebulosos
além de viverem traumas inesquecíveis. Em terra, a esposa de Alfred, sem
notícias dele, busca seguir em frente.
A coragem de fugir do medo. A contextualização de uma época
de conflitos intensos na Europa é muito bem feita em todos os três episódios.
Mesmo sem explicar a fundo o porquê da invasão alemã ao território norueguês (que
foi pelo minério de ferro, fato explicado bem melhor em outra produção da
Netflix, Narvik) seguimos a história
pela visão desses participantes involuntários. Vemos diversos dilemas que vão
desde salvar ou não um alguém no meio de um conflito, os pensamentos de
deserção e suas consequências, a agonia de estarem expostos e sem treinamento
militar o que os torna um alvo certo dos perigosos submarinos alemães, a
saudade da família. Passando por Liverpool, Malta, Nova Iorque, Canadá, e a cada
novo porto que conseguiam chegar, o protagonista e seus companheiros refletem sobre o que fazer e se voltariam para
seus lares como as mesmas pessoas de quando embarcaram, drama que milhares de
pessoas passaram nessa época de caos e desespero.
O projeto abre um espaço também para a visão da guerra por
quem ficou em Terra, aqui na visão da família de Alfred. Sua esposa Cecilia (Ine Marie Wilmann) cuida dos três
filhos, já com a Alemanha em território Norueguês, sofre com as incertezas, o
aluguel atrasado e terrores de bombardeios constantes ainda na cidade natal
deles, Bergen. Com o tempo que passa, essa parte da família de Alfred ganha
novos holofotes quando Sigbjørn involuntariamente se torna um vértice de um
improvável triângulo amoroso. Nesse surpreendente ponto, o projeto encosta em
um forte dilema, visto em alguns filmes, como no longa-metragem Brothers da cineasta dinamarquesa Susanne Bier.
Marinheiro de Guerra está
no catálogo da Netflix, se você curte recortes sobre a Segunda Guerra Mundial,
esse projeto tem muito a oferecer ao seu refletir.