Sangrento, pulsante, imprevisível. Vamos falar agora sobre o novo filme protagonizado por Liam Neeson que entrou recentemente na prime video, Na Terra de Santos e Pecadores. Exibido no Festival de Veneza ano passado, nesse projeto somos apresentados a um choque entre a frieza e as desilusões pelo olhar de um protagonista, um clássico anti-herói, em total crise existencial que se vê envolvido em um último conflito ligando seu passado à vida que quer abandonar. O longa-metragem é dirigido pelo norte-americano Robert Lorenz, em seu terceiro projeto atrás das câmeras após uma carreira de sucesso como produtor de alguns filmes de Clint Eastwood, como: Sobre Meninos e Lobos e Menina de Ouro.
Na trama, ambientada em meados da década de 70, conhecemos o
assassino de aluguel Finbar (Liam Neeson),
um homem já amargurado pelo seu passado que após a morte da esposa vem aos
poucos começando a repensar suas escolhas e os rumos para o futuro. Morando
numa vila de poucos habitantes, longe dos agitados dias de tensão política na
outra parte da Irlanda, ele enfim resolve se aposentar. Mas a chegada ao local
de um grupo associado ao IRA, liderado por Doireann (Kerry Condon) faz Finbar repensar algumas questões.
O ar fúnebre se mistura as reflexões sobre ideologia, dentro
do contexto de uma guerra política que causou caos a terceira maior ilha da
Europa. A narrativa é empolgante, com o ritmo dosado, explicando de forma
trivial paralelos interesses, como um contorno do discurso que bate de frente
com o clássico Crime e Castigo de Dostoiévski. Numa linda paisagem, o
contraste com o violência é uma marca e assim vamos aos poucos entendendo as
crises existenciais que se amontoam, toda essa parte é muito bem conduzida pelo
olhar detalhista de Lorenz que consegue extrair não só os dilemas mas preenche
as lacunas de muitos porquês.
Esse é um filme onde os personagens se mostram muito
presentes em cada espaço. E nesse campo aberto rumo ao imprevisível, já
inserido na iminência de uma guerra civil, de um lado um assassino experiente
em crise existencial, já não sabendo mais lidar com o ganha pão que escolheu,
do outro um grupo de jovens imersos nos limites emocionais de sua incursão à
revolução que escolheram, um modo de vida instável sempre à espera das
consequências dos atos que se seguem. Heróis e vilões ganham interpretações
diversas. Ajudam a contar essa história três excelentes artistas irlandeses
indicados ao Oscar: Liam Neeson, Kerry Condon e Ciarán Hinds.
Algo que o cinema faz como muitas artes, não deixar cair no
esquecimento, se junta à força de um discurso. Esse projeto, mesmo sendo uma
total ficção, é mais um capítulo na vasta história que liga o famoso grupo
paramilitar IRA, que passou por diversas modificações ideológicas desde seu
início lá em 1919, à conflitos por toda a Irlanda.