Quando o som traduz o sentimento. Direto e reto em seu discurso, o longa-metragem cearense Centro Ilusão ultrapassa as camadas superficiais com um nocaute nas levitações até o sonhar. Dando ênfase à cena cultural e musical nordestina, esse novo trabalho do excelente cineasta Pedro Diógenes também apresenta as diferenças do pensar no tempo, num choque de gerações, numa busca de um mesmo repouso para as interpretações dos momentos de devaneios.
Na trama conhecemos, Caio (Brunu Kunk) e Tuka (Fernando
Catatau), dois músicos, de duas gerações diferentes, que estão em uma
audição para uma vaga que pode mudar suas vidas. Na espera pelo resultado,
durante um tempo rodam pelo centro de fortaleza entre os sonhos e as desilusões
sobre o próximo passo na vida.
Há uma generosa poesia em cada momento de reflexão,
aproximando as verdades com a realidade. Num choque proposto entre o tanque
cheio para o sonhar e a pane seca acumulada por frustrações, somos testemunhas
de um encontro urbano tendo a música como um satélite que personifica os
conflitos emocionais de cada um dos personagens. Como um tradutor das camadas
emotivas, através de um roteiro que não se desgruda de contextos para validar o
presente, Diógenes joga para o centro do palco a angústia e muitas verdades de
duas almas artísticas.
Amores perdidos, abandono de relações em busca da carreira
musical, a luta diária pelo reconhecimento, confrontos com a família, as
incertezas e as muitas interpretações de um atual momento. Esses são alguns dos
muitos assuntos que ganham tons e ritmos através de números musicais marcantes,
alguns brilhantes. Em quase declamações, sem esquecer de imagens que contemplam
a cidade e seus movimentos, pegamos uma reta rumo ao valor da arte urbana, da
poesia das ruas, além de todo o significado que as marcas do passado podem ter
nas perspectivas de um futuro.
Vencedor do Prêmio de Melhor Longa da Mostra Competitiva
Novos Rumos da 26a edição do Festival do Rio, Centro Ilusão deve estrear em breve no circuito exibidor. Um filme
para você ficar de olho.