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15/06/2025

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Crítica do filme: 'Nem Toda História de Amor Acaba em Morte' [CINEPE 2025]


A rotina que mata. Trazendo um importante olhar para a surdez e acessibilidade gerando uma representatividade importante e ainda pouco vista nos produtos audiovisuais brasileiros, o longa-metragem paranaense Nem Toda História de Amor Acaba em Morte, entre beijos e feridas, num cair e levantar, busca um retrato sutil do cotidiano das relações.

Sol (Chiris Gomes) está em um casamento na iminência do fim. Quando resolve tomar essa decisão, acaba conhecendo Lola (Gabi Grigolom), uma jovem atriz surda. Quando as duas resolvem embarcar de forma definitiva nesse relacionamento, conflitos com o ex-marido de Sol se tornam presentes.  

Uma nova fase da vida e os sussurros dos que cismam em não entender, se tornam alguns dos contrapontos que se chocam numa narrativa com um abre alas com o freio de mão puxado mas que de alguma forma utiliza um trunfo interessante, um papo reto, uma mensagem objetiva, que deixa o filme leve, com momentos cômicos e com fácil identificação.

Nessa tragicômica jornada, que ganha força à medida que se afasta de seu início, acompanhamos uma protagonista em crise, descobrindo novas formas de amar e de enxergar as relações. O roteiro adota uma estrutura quase episódica, como pequenas esquetes que se costuram em busca de simplificar o que é, por natureza, complexo. Embora nem sempre alcance maior profundidade e por vezes se embarace em suas próprias propostas, a narrativa mantém um tom leve e agradável que convida o espectador a seguir até o fim.

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11/06/2024

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Crítica do filme: 'Geografia Afetiva'


Poético, tocante, através de memórias recriadas por lembranças. Falaremos agora do ótimo documentário Geografia Afetiva. Exibido no último dia de exibições do CINEPE 2024, o longa-metragem paulista encontra sentido nas descrições dos sentimentos, nos encontros e desencontros de uma família com conexões entre Brasil, Canadá e El Salvador. Contando parte da sua própria história, a cineasta Mari Moraga leva ao público de forma cativante e honesta os desabafos dos tempos de guerra, o sofrimento da distância, a satisfação dos reencontros. Marcas que acompanham toda uma vida.

O primeiro recorte, logo na abertura, é a base do discurso, algo que a narrativa preenche com poesia, imagens e movimentos que fazem total sentido, uma busca por respostas após a dor de uma perda. Aos poucos, passando por dilemas, dramas e escolhas, algumas lacunas são preenchidas, algo que a realizadora divide com o espectador de forma honesta e delicada, abrindo a porta da sua família para que todos possam refletir sobre muitas questões. Em certo momento entendemos que nem todas as respostas seriam ditas mas o que viesse já era o suficiente.

Junta-se à narrativa um olhar curioso que mostra o elo da geografia com as descobertas, algo feito de forma elegante, sucinta, também trazendo um interessante paralelo com a natureza. A aparente superficialidade em alguns temas na verdade se mostra um convite à pesquisa, o início de um refletir, um exercício que o espectador pode se aprofundar futuramente. Através de uma espécie de road movie, onde cada ponto no mapa afetivo é detalhado através de relatos objetivos dos entrevistados, entendemos contextos mais amplos, políticos, sociais, econômicos, de décadas atrás e os reflexos hoje.

A planta da emoção chega como um registro. Vou explicar: uma folha de cartolina com detalhes de lugares onde familiares fixaram raízes no início de trajetória. Uma mapa que mostra uma história. Nesse ponto, marcas de um passado difícil que logo flertam com o adeus se tornam o combustível de um dia caminharem de volta. Logo, estamos de frente para o passado e o presente, um choque que traz suas questões, um momento esperado por décadas no coração de cada integrante dessa família.

Geografia Afetiva encontra a beleza no reencontro, na necessidade de um registro definitivo de uma história familiar que começa num lugar e avança para outros. Um ciclo que nada mais é do que a jornada de uma vida, com altos e baixos, mas com a vontade de voltar mais uma vez e relembrar.

 

 

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08/06/2024

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Crítica do filme: 'Memórias de um Esclerosado'


Um retrato honesto, corajoso e emocionante. Filme de abertura da mostra competitiva de longas-metragens do CINEPE 2024, o documentário gaúcho Memórias de um Esclerosado nos leva para uma intensa viagem de um homem em busca de registrar suas memórias após ser diagnosticado com esclerose múltipla. Em uma belíssima construção narrativa, colocando na tela um poderoso pulsar de alguns pontos marcantes de toda uma trajetória até uma notícia avassaladora, encontramos uma estrada que percorre o real sentido dos sonhos que aqui ganham força em imagens e movimentos.

Na trama, conhecemos o cartunista Rafael Côrreas, que 14 anos atrás, recebeu o diagnóstico de esclerose múltipla. Com o avanço da doença, resolve ir atrás de um registro sobre momentos importantes de sua vida, até mesmo personificações importantes do abstrato mundo das emoções, que traçam paralelos com o mix de sentimentos que entra em ebulição de forma dilacerante em uma enorme inquietante e produtiva conversa com o espectador.

Passando pelo karma de um acontecimento quando criança, em um antes e depois imersivo, a narrativa busca fugir do lugar comum e tratar o epicentro do discurso de mãos dadas com os medos que chegam. Esse exercício de linguagem interessante, se soma a uma metalinguagem cirúrgica, algo que traz o refletir para perto a todo instante. O desfecho inesquecível, dentro do campo da infinidade de possibilidades criativas que a sétima arte abraça, vira poesia nas mãos competentes da cineasta Thaís Fernandes.  

Estima-se que no Brasil mais de 40.000 pessoas foram diagnosticada por essa doença neurológica. É papel do cinema ser um caminho para mostrar essa realidade que sempre nos trazem reflexões sobre tudo que envolve um tema tão delicado, com ligação aos importantes debates sobre acessibilidade.


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