26/06/2013

Crítica do filme: 'Dossiê Jango'

Em uma época de esperança onde um homem buscou a reforma agrária capitalista, entre outras melhorias para o país, um golpe é dado deixando o nosso país em estado de alerta e limitado durante alguns anos. Dirigido por Paulo Henrique Fontenelle, o documentário Dossiê Jango é, antes de tudo, uma grande aula de história que tem como protagonista um ex-presidente deposto.  Produzido pelo Canal Brasil e premiado no Festival do Rio como Melhor Documentário Júri Popular e na Mostra Tiradentes como Melhor Longa Metragem Júri Popular, o documentário pode ser definido como um thriller investigativo.

Na trama, conhecemos melhor a história de João Goulart, vulgo Jango, que governou o país até o congresso e os militares darem o golpe (de 64), com os norte americanos financiando pelos bastidores esse movimento. Nesse filme, muitas verdades escondidas são ditas. Impressionam os detalhes e a quantidade de argumentos, todos muito bem organizados. O ponto de interrogação convive na cabeça dos que sabiam as verdades por trás da história de João Goulart.

Dossiê Jango é um apoio aos que pedem uma investigação mais ampla sobre esse caso que marcou a caminhada política brasileira. Em um espaço de nove meses, três mortes de políticos que queriam retornar à democracia são expostas com provas e declarações polêmicas. A interminável busca por respostas sobre as dúvidas que permanecem é uma espécie de clímax intocável nesse relato vivo sobre a história política do Brasil.

Enquanto o Estado Brasileiro não lutar pela verdade, nunca vamos saber realmente o que aconteceu com um homem que lutou pelo Brasil. Essa indignação que é transposta em tela, frequentemente, transforma esse belo trabalho de Fontenelle e companhia em um documentário atemporal cumprindo com louvor ao que se propõe.


Essa produção mostra mais uma vez que o cinema pode complementar o que aprendemos em sala de aula. Em dias de revoluções nas ruas do nosso país, chega aos cinemas esse excelente documentário como uma ótima dica para o público conhecer um pouco melhor da nossa caminhada rumo à democracia. Mais um documentário muito bom feito no Brasil neste ano, bravo!
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Crítica do filme: 'Hannah Arendt'

Dirigido pela cineasta alemã Margarethe von Trotta (do inteligente Vision - Aus dem Leben der Hildegard von Bingen),  Hannah Arendt é um drama sobre uma mulher importante para o mundo da filosofia política que possuía um leve ar inconsequente. O roteiro é deveras interessante, se auxiliando de flashbacks e pensamentos, só deixando a desejar em relação a maiores explicações para os leigos em filosofia. Quem já conhece Hannah Arendt vai entender muito melhor as explicações dadas neste filme do que quem nunca ouvir falar sobre ela.

Numa época que pensadores originais não precisavam de diploma para lecionar, conhecemos a filósofa política alemã de origem judaica, Hannah Arendt que trabalhou como jornalista e professora universitária além de publicar obras importantes sobre filosofia política. Sempre rodeada por livros e textos que contribuíram para com a sua obra, somos apresentados aos amigos (alguns deles famosos pensadores) e a toda uma problemática pessoal provocada pelo seu pensamento que culminou na transformação de um julgamento em uma questão filosófica.

Entre um trago e outro, um clima de tensão vai moldando o filme do meio para frente. Considerada por muitos um poço de arrogância e insensibilidade, a prestigiada filósofa é diversas vezes questionada se realmente amava o povo a qual pertencia. Tudo por conta de um acontecimento emblemático, um julgamento que mobiliza uma legião de pessoas diretamente ou indiretamente afetadas pelas ações absurdas dos nazistas na segunda guerra.

Um dos recursos interessantes do filme é que vamos descobrindo sua maneira de pensar através de memórias que surgem para o público em forma de flashbacks pincelados de acordo com a cronologia da história. Acompanhamos a criação de um dos mais comentados livros do século XX, entendemos melhor a sociedade em que vivia a protagonista onde pensar era uma atividade solitária.

A atriz alemã Barbara Sukowa (Veronika Decide Morrer) ficou com a árdua tarefa de dar vida a protagonista, uma das vozes mais marcantes na sociedade daquela época. Passou com louvor no teste! Outro destaque, Janet Mcteer (Albert Nobbs) e sua presença sempre contagiante viram protagonistas de ótimas cenas. Impressiona como a atriz britânica de 51 anos rouba a cena quando aparece. Exatamente como fez no interessante Albert Nobbs, onde atuou como coadjuvante de Glenn Close.


Um prato cheio para quem curte discussões sobre questões sociais, existenciais e que realmente quer conhecer a fundo o mundo da filosofia. Não deixem de conferir esse bom trabalho!  
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24/06/2013

Crítica do filme: 'Os Amantes Passageiros'

Escrito e dirigido pelo mundialmente conhecido cineasta espanhol Pedro Almodóvar (A Pele que Habito), Os Amantes Passageiros é um drama puxado para a comédia exagerada. As peculiaridades de Almodóvar são expostas na telona sem nenhum filtro. O roteiro flutua nos sobejos sobre sexualidade e situações que fogem do possível. É praticamente um delírio cinematográfico descompromissado com a realidade.

Nessa história, que encosta na loucura e no absurdo a quase todo instante, conhecemos algumas pessoas que estão presas em um avião sem conseguir aterrissar por conta de uma falha no trem de pouso. Aos poucos vamos conhecendo melhor a cada uma das pessoas, seus dramas e conflitos e assim uma série de situações inusitadas acontecem.

A comédia é inteligente (não há como negar), provoca risos intensos na platéia. Algumas inserções de atualidade, como um funcionário do aeroporto que adora twittar, diálogos afiados tendendo aos papos sobre sexualidade e as conturbadas vidas particulares de cada uma das pessoas à bordo vão moldando o roteiro que pode ser visto como genial por alguns e chato por outros.

Antonio Banderas e Penélope Cruz (que nunca haviam trabalhado juntos em um filme de Almodóvar), aparecem pouquíssimos segundos em cena. Os artistas conhecidos do grande público dão lugar a rostos novos e deveras competentes. Joserra é um personagem excelente, dita o ritmo das confusões naquele avião. Mais uma atuação fantástica do experiente Javier Cámera (Fale com Ela). Vale o destaque também para os nem tanto conhecidos Carlos Areces e Raúl Arévalo que participam da maior parte das cenas.


Qualquer filme de Pedro Almodóvar podemos previamente classificar como polêmico. Esse não foge à esse raciocínio. A única certeza que temos sobre Os Amantes Passageiros é a de que dividirá opiniões do público que vai correr para os cinemas e assistir a esse aguardado novo trabalho do sempre polêmico Pedro Almodóvar.
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18/06/2013

Entrevista com Lúcia Murat que fiz para o Portal Núcleo do Cinema

Em meio a ondas de revolução espalhadas pelo Brasil, com direito a protestos de paz e reivindicações da sociedade, chegou aos cinemas na semana passada (14/06) o drama nacional A Memória que me Contam. Dirigido pela experiente cineasta Lúcia Murat, o filme autoral coloca em discussões temas como a Ditadura Militar, a Luta armada e o passado de muitos personagens que viveram dentro de uma das fases mais conturbadas de nossa Pátria. Para contar algumas curiosidades sobre esse novo trabalho, fomos conversar com a diretora.  

Núcleo do Cinema: Você acredita que seu filme vai conseguir conquistar todo tipo de público?

Lúcia Murat: Na experiência que eu tive nas projeções, fiquei muito surpresa, os jovens se encantam muito pelo filme. Normalmente esse tipo de projeto não tem personagem jovem mas nesse tem. Acabou gerando uma empatia por parte de muitos, por ver essa juventude na tela de maneira não caricata. Isso foi muito surpreendente, principalmente na Mostra Tiradentes onde sentimos de perto a reação do público. Como qualquer filme autoral, esse trabalho tem várias camadas de leituras, as pessoas que viveram na época vão ter uma interpretação, as pessoas mais jovens outra. Eu espero que todos consigam ter a sua leitura. Todo mundo já perdeu alguém e o filme trata de perdas, então, isso está provocando uma empatia com o público.


Núcleo do Cinema: Como você chegou aos nomes de Irene Ravache, Simone Spoladore e Franco Nero para o filme?

Lúcia Murat: Em relação à Irene (Ravache), o filme foi escrito para ela. Sobre a Simone, eu queria muito uma pessoa que tivesse essa capacidade de transmitir um olhar triste, além de ser uma excelente atriz. Com o Franco Nero, eu tinha um personagem italiano no filme e eu queria um ator oriundo desta terra para fazer o papel (não queria um ator brasileiro com sotaque italiano), assim, listei alguns nomes e cheguei ao nome do Franco.


Núcleo do Cinema: Ainda é muito difícil fazer cinema no Brasil? Alguns diretores da nova geração ainda encontram obstáculos para colocar o filme nos cinemas.

Lúcia Murat: A grande dificuldade hoje é a distribuição. Tem mais ou menos uma estabilização da produção, que vem desde a retomada. Mas as dificuldades de distribuição, principalmente para filmes autorais, de identidade, filmes que buscam alguma coisa está muito difícil. O mercado se reduziu tremendamente, o número de salas que exibem esse tipo de trabalho reduziu muito.


Núcleo do Cinema: Quais os seus próximos projetos ligados a cinema?

Lúcia Murat: Estamos trabalhando! (risos) Tem um documentário que vamos rodar em breve sobre a retomada dos índios ligados ao Brava Gente Brasileira, 15 anos depois do que houve com eles.


A Memória que me Contam está concorrendo ao trigésimo quinto Festival de Cinema de Moscou e se tornou uma boa opção aos jovens brasileiros para, quem sabe, entenderem melhor um outro Brasil, em outros tempos de revolução. 
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Crítica do filme: 'Minha Mãe é uma Peça'

O estreante cineasta Andre Pellenz tinha uma difícil missão de transformar uma peça de teatro em um filme que se diferenciasse das entediantes comédias nacionais dos últimos tempos. Minha Mãe é uma Peça se distancia de qualquer outra obra desse tipo, apostando no ótimo roteiro (escrito pela dupla, Paulo Gustavo e Fil Braz) que envolve situações engraçadas de uma família que mora em Niterói e aproveita as melhores características da personagem principal, interpretado pelo genial humorista Paulo Gustavo (De Pernas pro Ar 2).

O filme mostra a história de Dona Hermínia e sua família. Dona de casa, separada e com dois adolescentes, a jovem senhora se mete nas maiores confusões sempre pensando em proteger seus filhos. Assim, fazemos uma viagem ao passado dessa família, focando na relação entre pais e filhos. Por meio de flashbacks, somos apresentados a esse grupo que se mete em diversas situações cômicas. Temas como: primeiro namorado, obesidade, sexualidade são abordados de maneira leve e descontraída. É um grande stand up comedy de Paulo Gustavo, o ator domina sua criação do começo ao fim.

O roteiro encosta na comédia pastelão mas se recupera, focando nos dramas cômicos dos personagens, encontrando uma fórmula de sucesso e por isso se diferenciando das outras comédias nacionais do gênero. Os parênteses que são abertos, se fecham com certo dinamismo, como todo bom roteiro deve ser.
Alguns vão achar que o longa metragem parece um seriado de televisão. Há momentos que temos a sensação de que colocaram a primeira temporada de uma série e apertaram o play mas surpreendentemente isso não é algo que fica ruim na telona. Dona Hermínia, uma mulher de atitude, dos tempos de Woodstock, é uma personagem genial. Só por esse fato o filme ganha forças e segue em frente.

A escandalosa personagem criada por Paulo Gustavo conta com personagens coadjuvantes que preenchem muito bem as lacunas deixadas. A grande Suely franco se encaixa muito bem no da tia da protagonista, aparecendo em um dos arcos do filme. A única que parece estar perdida é a personagem de Alexandra Richter que não encontra sua função na trama, fato que é esquecido quando colocamos tudo no liquidificador das licenças poéticas.

Os risos são garantidos. Com impagáveis créditos finais (onde conhecemos a verdadeira inspiração para o personagem principal), Paulo Gustavo e companhia conseguem reproduzir nas telonas o grande sucesso do teatro, Minha Mãe é uma Peça já levou mais de um milhão de pessoas aos teatros e com certeza o público vai voltar para conferir nos cinemas as novas aventuras da Dona Hermínia. Gosta de rir? Não perca esse bom trabalho made in Brasil!



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10/06/2013

Crítica do filme: 'O Lugar Onde Tudo Termina'

Com um projeto corajoso, praticamente cortaram o filme em três fatias generosas, o cineasta americano Derek Cianfrance (do adorável Namorados Para Sempre) chega aos cinemas brasileiros na próxima sexta-feira com o drama, ao melhor estilo Crash, O Lugar Onde Tudo Termina. Em cena, rostos conhecidos do grande público tentam segurar a história que sobrevive aos olhos do espectador por conta dos ganchos deixados ao fim de cada história.

Na trama, somos apresentados primeiro a um motoqueiro experiente chamado Luke (Ryan Gosling), craque no globo da morte, que descobre ser pai do filho de uma garçonete, Ramona (Eva Mendes), e resolve assaltar bancos para dar uma vida melhor ao menino. Após alguns acontecimentos trágicos, conhecemos o inexperiente policial Avery (Bradley Cooper) que após perseguir um assaltante e matá-lo, consegue prestígio e rapidamente sobe na carreira mesmo com conflitos árduos com sua família. Para fechar o ciclo de histórias que se encontram, conhecemos dois jovens que viram amigos mas possuem, sem saber, um passado que os condena.

As histórias são movidas pelo sentimento de perda/culpa. Cada personagem consegue demonstrar de uma maneira diferente suas reações que vao se enfrentando dentro das consequências desses atos executados. A imaturidade e a falta de referência são um ponto em comum entre todos os personagens que circulam nos 130 minutos de projeção. O filme é profundo e circula longe do vazio existencial, muito por conta do ritmo de algumas sequências que deixam o público com os olhos atentos a cada segundo.

O roteiro é o grande diferencial mas também pode ser analisado como o grande problema do projeto. Pelo lado ruim, o longa parece uma peça de teatro com 3 intervalos, isso pode distanciar o público. Muitos alegarão que o roteiro sofre problemas por conta desses cortes secos com poucos pontos de intercessão. Pelo lado bom, os desfechos se encontram e servem como início da próxima história, quem consegue se segurar nessa premissa gostará muito do filme.


Não é um filme americano comum. É um trabalho diferente, além disso, conta com boas atuações de seu excelente elenco. Gosta de novidades?  Não deixe de conferir!
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Crítica do filme: 'O Grande Gatsby'

Quando o amor domina seu futuro. Mais uma vez, o cineasta australiano Baz Luhrmann (do espetacular Moulin Rouge – Amor em Vermelho) nos leva para dentro de uma fábula romântica (baseada na obra de F. Scott Fitzgerald), delicadamente bem narrada, composta de personagens instigantes que divertem o público com seus diálogos bem humorados e seus dramas profundos. O Grande Gatsby fala sobre a realização de um sonho, um desejo de um milionário, escondido a sete chaves. Quando o público entende o sentido das ações dos personagens, quando os mistérios vão caindo um a um, se vê dentro de uma experiência inesquecível.

Na trama, somos jogados para dentro de uma história que mais parece um conto de fadas trágico, narrada pelo jovem e talentoso escritor Nick Carraway envolvido até o pescoço com o universo glamuroso em que seu vizinho Jay Gatsby vive. Aos poucos, vamos descobrindo junto com Carraway os mistérios de Gatsby, seu amor e sua obsessão que o leva ao limite.

O empolgante filme, todo rodado em 3D, se sustenta na excelente adaptação de Craig Pearce (Romeu + Julieta) e Baz Luhrmann onde é explorado todo o universo misterioso que pertence ao personagem título da história. Podemos classificar o longa como um musical disfarçado de drama. Os números musicais são impecáveis tecnicamente, você ri e se emociona em instantes quase simultâneos. Não é nada difícil se conectar com a história que tem um começo um pouco lento mas que entra em uma empolgante interação com o público antes de chegar na metade.

Tobey Maguire rouba a cena Di Caprio. Seu personagem, Nick Carraway, tem a importante missão de ser o narrador da fábula. Para isso, o artista escolhido não podia perder a personagem em nenhum segundo. Foi arriscado apostar no já veterano ator californiano? Sim, foi! Mas o ex- homem aranha domina Carraway com certa maestria. Talvez, o melhor trabalho de Maguire depois de Regras da Vida, que chegou aos nossos cinemas no distante ano de 1999.

Leonardo Di Caprio está ficando craque em aparecer no meio dos filmes e quase roubar a cena. O ator melhora a cada longa metragem e não resta dúvidas que se tornou um grande artista de sua geração. As últimas sequências de seu personagem são sensacionais. Quem não acha Di Caprio um grande ator pode estar sofrendo de miopia cinéfila grave!

Amanda Seyfried, Rebecca Hall, Rachel McAdams, Keira Knightley, Blake Lively, Abbie Cornish, Michelle Williams, Natalie Portman, Eva Green, Anne Hathaway, Olivia Wilde, Jessica Alba e Scarlett Johansson foram as concorrentes de Carey Mulligan para interpretar Daisy Buchanan. Nenhuma dessas seria uma melhor escolha do que a feita. Mulligan dá um show, sempre boas atuações, impressionante. Vale o destaque também para Joel Edgerton, em um papel que era para ser de Ben Affleck, que interpreta um vilão cheio de trejeitos que enriquecem os diálogos.


Empolgante, emocionante, fabuloso. Não deixem de conferir. Afinal, quem nunca teve um sonho? Bravo!
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