28/03/2017

Crítica do filme: 'A Glória e a Graça'

Melhor do que todos os presentes por baixo da árvore de natal é a presença de uma família feliz. Dirigido pelo experiente Flávio Ramos Tambellini, que volta a direção de um longa após seis anos, seu último trabalho foi o delicado Malu de Bicicleta (2010), A Glória e a Graça, entre muitas coisas, é um resgate na relação de dois irmãos que por circunstâncias do destino acabaram se separando durante boa parte de suas vidas. O entrosamento em cena de Carolina Ferraz e Sandra Corveloni, protagonistas do filme, é fundamental para que os diálogos ganhem contornos emocionantes e de aproximação com o público. Grande atuação das duas atrizes.

Na trama, acompanhamos a trajetória de Graça (Sandra Corveloni) uma mãe solteira que tem dois filhos e acaba descobrindo em uma eventual visita ao médico que possui um aneurisma inoperável na cabeça. Sem ter muito para onde fugir, nem com quem contar, Graça resolve entrar em contato com seu irmão que não vê a muitos anos. Chegando no encontro, Graça descobre que seu irmão agora virou travesti, e agora chama-se Gloria (Carolina Ferraz), dona de restaurante, poliglota, bem resolvida e bem sucedida. Após o surpreendente encontro com o irmão, Graça embarcará em uma viagem de reaproximação com seu único parente vivo.

O filme tinha tudo para cair num senso melo dramático mas se veste com uma maturidade impressionante para falar com seriedade de subtramas complicadas que vão do campo jurídico até o campo emocional. A relação da tia com os filhos de Graça é adorável, aprendizagem e muito experiência em uma troca para lá de emocionante, em quebra de tabus que ficam como lições para toda a vida. As surpresas que vemos pelo caminho, principalmente a causa da separação das duas irmãs, preenchem lacunas importantes para entendermos ao longo dos quase 90 minutos de projeção a formação da personalidade dos personagens. Os embates, em diálogos recheados de emoção, entre as duas protagonistas é intenso e conseguem ir além de muito mais que uma superfície, há uma profundidade aliada com humanidade.


A Glória e a Graça estreia nessa próxima quinta-feira (30) no circuito. É um drama comovente com atuações que são a cereja do bolo. Prestigie o cinema brasileiro, vá ao cinema ver esse belo trabalho.


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26/03/2017

Crítica do filme: 'O Dia do Atentado'

A solidariedade é o sentimento que melhor expressa o respeito pela dignidade humana. Dirigido pelo nova iorquino Peter Berg, baseado em relatos de policiais que presenciaram o fato  e também em uma reportagem investigativa de um famoso programa da televisão norte americana, O Dia do Atentado mostra em sua grande parte as horas seguintes ao terrível atentado ocorrido na linha de chegada da Maratona de Boston no ano dia 2013. Focando em policiais, autoridades políticas e as reações dos moradores de Boston, ao longo de 130 minutos de projeção, o filme contém alguns registros reais que foram feitos nesse dia triste para a humanidade.

Na trama, conhecemos o policial Tommy Saunders (Mark Wahlberg) que sofre com um problema no joelho e em breve irá conseguir reduzir sua jornada de trabalho. Tommy fica encarregado da segurança de uma parte da maratona mais antiga do mundo, a de Boston, cidade onde vive com sua esposa Carol (Michelle Monaghan). Perto do final da corrida, na linha de chegada, uma explosão é vista em um lugar e minutos depois em outro. Sem saber o que houve direito, Tommy e toda a força policial, FBI e Segurança nacional também, tentam proteger a multidão e partem em busca dos responsáveis, os irmãos Tsarnaev, em uma caçada pelas ruas de Boston que durará dias.

Peter Berg, que trabalhara com Wahlberg nos seus dois últimos trabalhos no cinema: Horizonte Profundo: Desastre no Golfo e O Grande Herói, consegue passar para o público muitas visões e reações desse que foi o maior ataque em solo norte americano após o 11 de setembro. Conseguimos sentir toda a dor e o sofrimento dos que estavam presentes nesse dia, sejam autoridades, políticos, moradores de Boston. O filme se tornar um thriller investigativo com a chegada do FBI, representado pelo agente especial Richard DesLauriers responsável por coordenar a caçada aos terroristas. E mesmo sem ir muito a fundo nas explicações que levaram os irmãos Tsarnaev a cometer esse ato terrível, o passo a passo deles após o atentado é bastante detalhado, reforçado pelos depoimentos de personagens importantes que estiveram contato com eles nesses dias.


Em seu desfecho, O Dia do Patriota apresenta relatos dos personagens que vemos no longa na vida real. As vítimas, as autoridades, os policiais em breves palavras resumem o que esse dia significou em suas vidas. O longa estreia em maio nos cinemas brasileiros.
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25/03/2017

Crítica do filme: 'Paterson'

Não é a altura, nem o peso, nem os pés grandes que tornam uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho. Depois de um hiato de três anos desde seu último trabalho, o excelente Amantes Eternos (2013), o veterano cineasta norte-americano Jim Jarmusch volta às telonas com o sensível longa Paterson. O filme, grande sucesso de crítica e público pelos lugares onde já fora exibido, como em Cannes ano passado, é uma grande jornada emocional com recheios poéticos onde atravessamos e somos testemunhas de uma alma quase solitária que busca em seu rotineiro cotidiano, sem grandes eventos, formas lindas de ver a tão pacata vida.

Na trama, com cortes que vão se segunda a segunda, conhecemos Paterson (Adam Driver), um simpático e tímido motorista de ônibus que mora na cidade onde nasceu, Paterson (sim, o nome da cidade também é Paterson), onde vive uma vida simples com sua esposa Laura (Golshifteh Farahani). O protagonista tem um hobby que é escrever poesias todos os dias, geralmente com idéias que chegam para ele pelos papos e personagens diferentes que circulam sua vida constantemente, entre uma viagem e outra.

Ainda não teve esse ano personagem tão amável quanto esse motorista que conquista todos nós por sua sensibilidade sem tamanho. Interpretado com grande maestria pelo ótimo ator californiano Adam Driver (Star Wars: O Despertar da Força), Paterson, é especial, bom amigo, um homem correto de alma sensível.  Expressa seus sentimentos através das palavras, mesmo essas não tendo som, é escutado de alguma forma pelo universo. Somos testemunhas ao longo das quase duas horas de projeção de encontros peculiares com personagens fascinantes, vendo as reações dele quando algo que estava em seu particular ganhar forma de certa maneira com situações e pessoas. Seu cotidiano é pacato, quase silencioso, e mesmo assim Paterson transforma sua vida em um lindo livro cheio de emoções e pensamentos que vão do amor às grandes forças da natureza.

Sua relação com a esposa, bastante explorada pelo roteiro, é causadora de pequenos momentos cômicos – muito por conta da excentricidade dela; seja nas pinturas preto e branco e circulares dos vestidos, das cortinas, das almofadas, seja nos dois sonhos de ser empreendedora no mercado de cupcakes e ser uma cantora country de sucesso começando com um violão (das cores que gosta) que gastou centenas de dólares comprando pela internet. A relação dos dois possui muito amor e compreensão, Paterson demonstra, às vezes, não gostar de uma coisa ou outra mas sempre elegante e carinhoso busca as melhores das palavras para encantar seu amor. Os dois vivem juntos com um lindo cachorrinho mas levada pra caramba que apronta talvez o mais terrível dos absurdos para uma alma tão sensível como a do motorista.

Paterson chega aos cinemas brasileiros no próximo mês de abril. Mais um presente de Jarmusch para todos que amam as delicadezas que encontramos na nossa forma de amar a vida. Afinal, como dizia o eterno poeta português Fernando Pessoa, o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.


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Crítica do filme: 'O Filho de Joseph'

A maternidade é um fato, a paternidade é uma incógnita. Explorado o universo das artes, cortes de arcos citando passagens bíblicas e um humor para lá de peculiar o experiente cineasta nova iorquino Eugène Green volta às telonas brasileiras após o ótimo La Sapienza, dessa vez falando sobre a paternidade e todos os seus caminhos. Ao longo de quase duas horas de projeção, com direito a curtas aulas sobre artes e ampliando nossa visão sobre a cultura, Green volta a todo vapor com mais esse belo trabalho.

Na trama, conhecemos o tímido adolescente Vincent (Victor Ezenfis) que colocou em sua cabeça que quer conhecer o pai. Vivendo com sua mãe Marie (Natacha Régnier), uma enfermeira que trabalha meio período, Vincent embarca uma jornada bastante peculiar em busca do paradeiro de seu pai. Nessa caminhada acaba encontrando por acaso o desiludido Joseph (Fabrizio Rongione), que por acaso é o irmão de seu verdadeiro pai, assim começa uma amizade bastante paternal.

A cultura, a bíblia, a alta sociedade, Eugene Green e sua visão peculiar do planeta dão tons de filme nonsense a essa interessante fita. A trama inicial se transforma em grandes ensinamentos para o jovem protagonista que se desenvolve e se constrói através dos poderosos diálogos com Joseph que bem poderia ser seu pai, mas não é. A questão da decepção acerca de seu verdadeiro pai, um editor metido, machista e egocêntrico interpretado pelo ótimo ator Mathieu Amalric, é aliada a chegada de Joseph à trama. Essa substituição no universo de Vincent o transforma em uma pessoa mais tranqüila acerca do assunto da paternidade.


Nos arcos inicias, Green busca mostrar o cotidiano de Vincent, seja com os estranhos amigos que estão em sua rotineira vida, seja com as dificuldades de expressar seus sentimentos à sua mãe. O roteiro como um todo é bastante interessante, se transforma em um recorte em forma de analogia com muitas histórias da vida real mesmo com o método particular ‘Eugene Green’ de criar uma obra na telona.

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Crítica do filme: 'Logan'

A adversidade é um trampolim para a maturidade. Dirigido pelo cineasta nova iorquino James Mangold (Johnny & June, Garota, Interrompida), um dos filmes mais aguardados do ano, enfim, chegou aos cinemas de todo o mundo e mostra como um desfecho de um icônico personagem, antes dos quadrinhos e agora das telonas, pode ser muito marcante. Logan é o capítulo final da surpreendente saga de Wolverine – incrível ser rabugento mutante oriundo dos X-Men – e sua eterna busca por redenção. Hugh Jackman, encarando pela sétima vez o mesmo personagem nos cinemas, faz de tudo para deixar sua marca, usando e abusando de sua versátil habilidade como ator. Grande atuação.

Na trama, somos jogados para alguns anos à frente onde os mutantes foram quase instintos da Terra, após um acontecimento pouco explorado nesse filme mas que envolve o grande mentor dos X-Men, Charles Xavier (Patrick Stewart). Assim, Logan/Wolverine (Hugh Jackman) vive afastado de grandes centros, mais precisamente próximo à fronteira com o México, onde trabalha como ‘Uber de Limousines’. Logan ainda mantém contato com o Professor Xavier, na verdade, o protege das altas autoridades deixando-o praticamente enclausurado em um espaço seguro sendo cuidado pelo também mutante Caliban (Stephen Merchant). Certo dia, Logan é procurado por uma enfermeira que diz que precisa que ele salve uma criança chamada Laura (Dafne Keen) que está sendo protegida por ela, e, assim, o eterno Wolverine volta aos campos de batalha dessa vez para lutar contra um bando de mercenários sanguinários.

O roteiro, escrito pelo debutante em longas-metragens David James Kelly e por Michael Green, o mesmo de Lanterna Verde (2011), explora a maturidade do protagonista em uma fase quase sênior onde foi perdida a vontade de viver por conta de todo um passado ligado a guerras e destruições. Wolverine está cansado, sofre por dentro, passa o cotidiano sem ser o protagonista de sua própria história. A única coisa que o mantém em alerta e porque não dizer vivo, é seu comprometimento em proteger seu grande professor e amigo Charles Xavier, esse que na faixa dos 90 anos está com a saúde deveras debilitada e lutando também contra seus poderes e as catástrofes que causou por conta de seu gigantesco poder.

As analogias e referências sobre a maturidade e os ensinamentos da vida vão desde a menção ao clássico da década de 50, dirigida por George Stevens, Os Brutos Também Amam até a forma como o mundo olha para o que foram os heróis, onde eles estão e porquê não podem ter um final feliz sempre. A personagem Laura, carismática e com cenas espetaculares, é o elo com essa parte dramática da história. Vinda de um projeto parecido com o que criara Wolverine anos atrás, com suas garrinhas, a pequena personagem é apaixonante e nos faz emocionar em vários momentos, principalmente no arco final.


Hugh Jackman fez de tudo o que podia para deixar de vez seu nome marcado nesse universo dos heróis que são transportados para as telonas. Assim como Downey Jr é Tony Stark, com certeza, Hugh é Logan. As cenas finais são repleta de tons emocionais, somente um grande ator como esse australiano de 48 anos para nos fazer chorar num desfecho tão emblemático de um personagem marcante.  Logan é fabuloso, um filme maduro com referências maravilhosas para explicar o que muitos não conseguem encontrar: a arte de viver.


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07/03/2017

Crítica do filme: 'Para Sempre' (Another Forever)

A vida é a perda lenta de tudo o que amamos. Falando sobre os conflitos da dor e da perda, o cineasta Juan Zapata percorre os caminhos da alma para falar sobre uma mulher que tem seu mundo devastado quando o grande amor vai embora. O Cinema tem essa magia de se tele transportar, da alma para a tela. E o caminho inverso é o mesmo. Para Sempre cumpre muito bem sua investigação com leveza e objetividade ao longos dos curtinhos 71 minutos de projeção. A fotografia e a trilha sonora também merecem elogios, bons destaques no projeto.

Na trama, conhecemos a brasileira Alice (Daniela Escobar) uma mulher que vive amargurada após um trauma recente ter consumido sua vida e memórias ao lado de seu grande amor. Ao longo dos curtos minutos de projeção vamos vendo como a protagonista lida com essa dor profunda e suas novas descobertas que chegam para tentar dar uma luz nos seus sentimentos vitais.  

A dor da perda e a necessidade de conseguir seguir em frente. Através do olhar investigativo de Zapata sobre a alma, suas raízes e a dor da perda vamos sendo envolvidos nesse pequeno conto de um cotidiano sempre em conflito. A protagonista se descontrói e novamente se constrói tendo nossos olhos atentos como testemunha. A sensibilidade como o tema é tratado tem diversas camadas profundas e fazemos paralelos com lembranças de nossa vida no mundo real.


Em breve em algumas salas de cinema de todo o Brasil, Para Sempre (Another Forever) poderia muito bem ser um episódio de um seriado sobre a forte protagonista. Esse recorte em forma de película deixa um gostinho de quero mais.


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Crítica do filme: 'Papa Francisco – Conquistando Corações'

Que o teu orgulho e objetivo consistam em pôr no teu trabalho algo que se assemelhe a um milagre. Dirigido pelo experiente cineasta espanhol Beda Docampo Feijóo, Papa Francisco – Conquistando Corações conta em vários recortes parte da trajetória e o modo de pensar de Jorge Mario Bergoglio (interpretado brilhantemente pelo sempre ótimo ator argentino Darío Grandinetti), o 266.º Papa da Igreja Católica e atual Chefe de Estado do Vaticano, talvez, o papa mais querido da história. O filme possui uma direção competente e um roteiro corajoso que vai da fé à política usando como palco central à telona, consegue com louvor mostrar que o cinema é uma linguagem universal, que une diversos modos de pensar, não importa sua religião.

Na linda história, baseada no livro Francisco: Vida y Revolucion, de Elisabetta Pique, conhecemos Jorge Mario Bergoglio (Darío Grandinetti), ou como gosta de ser chamado até hoje, o Padre Jorge. Somos testemunhas de sua trajetória desde o início de seu desejo em se tornar padre e todas as dificuldades que enfrentou como Arcebispo em Buenos Aires. Conflitos que vão desde o enfrentamento da ditadura militar na Argentina até a luta pelos que moram em bairros pobres em sua cidade de coração. Padre Jorge sempre seguiu seus instintos e nunca teve medo de ameaças, assim, chegou à reunião do sacro colégio de cardeais, convocado para eleger um novo pontífice (conclave) em meio a uma batalha não comentada entre os conservadores e o progressistas, se tornando Papa Francisco, sucedendo o Papa Bento XVI, que abdicou ao papado em 28 de fevereiro de 2013. Uma jornalista chamada Ana (Silvia Abascal) acompanha essa trajetória por meio de entrevistas e coberturas sobre a votação do novo Papa.

Por meio de longas e curtas passagens de tempo, conhecemos melhor Jorge, suas dúvidas, seus conflitos, o modo sozinho com que passava grande parte do seu tempo. Na adolescência, abdicou de um desejo da mãe para ser médico para entrar de vez no estudo religioso. Passando por várias fases políticas conflituosas de uma Argentina sufocada por corrupções e violência por todos os lados, se tornou Arcebisco de Buenos Aires e assim conheceu mais ainda seu povo e muitos países, sempre com sua humildade, marca forte de sua personalidade.

Cheio de frases de feito, o protagonista é uma figura emblemática para todos que acreditam em sua fé. De acordo com esse pensamento, a jornalista embutida na história representa muitos olhos de todos nós, instigados por histórias de superação e coragem que nos fazem acreditar em um mundo melhor a cada dia. Se essa jornalista existiu ou não, não sabemos, o importante é que ela se torna uma grande interseção com as verdades do mundo real.


Histórias que refletem a realidade e conseguem objetivos que mexem com a nossa maneira de pensar e sentir o mundo em que vivemos merecem ser conferidas.
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05/03/2017

Crítica do filme: 'El hombre de las mil caras'

O risco de uma decisão errada é preferível ao terror da indecisão. Vencedor de dois prêmios Goya (uma espécie de Oscar espanhol) nesse ano, nas categorias melhor ator revelação e melhor roteiro adaptado, El hombre de las mil caras é um suspense policial embasado em uma trama extremamente detalhista e com muitas surpresas em seu curso. Dirigido pelo ótimo cineasta espanhol Alberto Rodríguez (do excelente e recentemente lançado no Brasil Pecados Antigos, Longas Sombras) a fita lembra muito filmes antigos de espionagem e promete agradar grande parte do público. A história é baseada em fatos reais, o protagonista, ex-espião Francisco Paesa, realmente existiu.

Na trama, acompanhamos a vida de Francisco Paesa (interpretado pelo veterano ator Eduard Fernández), um homem que era usado como agente secreto do governo espanhol e acaba tendo que fugir do país após ser reconhecido. Anos mais tarde ele volta a Espanha, sem dinheiro e com a vida pessoal com problemas. Mas uma oportunidade cai do céu quando um figurão do governo espanhol Luis Roldán (Carlos Santos) é pego de acusações e precisa de proteção. Aí que Paesa entra em ação em jogos típicos de trapaceiros e impostores que sempre estão um passo a frente das autoridades.

Adotando uma narrativa muito interessante, contada por um dos amigos de Paesa, Jesús Camoes ( José Coronado), um piloto que se tornara o braço direito do protagonista, o filme passa um raio-x em algumas das mais intensas operações secretas do governo espanhol nos últimos anos. O roteiro, baseado no livro homônimo de Manuel Cerdán, é impressionante, narra detalhes profundos no jogo de gato e rato da espionagem espanhola além de seus conseqüentes escândalos políticos que afetaram todo um governo.

O clímax da história é situado na década de 90 no famoso Caso Roldán. Paesa viu a oportunidade de enganar a tudo e a todos e bolou um plano maquiavélico que envolveu dezenas de pessoas, um estudo e experiência profundos em como fugir da burocracia de bancos, políticos e até mesmo do próprio contratado. É claro que há uma mescla de fatos reais e fatos fictícios quando transformam uma história real dessas para o cinema, mas os pontos principais foram mais ou menos o que realmente aconteceram na realidade. Destaque para o ótimo elenco e principalmente Carlos Santos (que interpreta Roldán, obs: não é o Javier Cámara) e Eduard Fernández (o protagonista).

Sem previsão de estreia nos cinemas brasileiros, torcemos para que chegue algum dia por aqui, El hombre de las mil caras é um dos melhores filmes policial/espionagem feitos nos últimos anos. Não percam!



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04/03/2017

Crítica do filme: 'Um Homem Chamado Ove'

O mau-humor é quando nem imaginam o quanto você necessita de um amigo. Uma das grandes surpresas na listas de indicados a melhor filme estrangeiro no último Oscar, o longa metragem sueco Um Homem Chamado Ove é uma daquelas fábulas modernas que usa da característica marcante de seu protagonista, o mal humor, para sorrir e emocionar centenas de plateias mundo a fora. Dirigido pelo cineasta sueco Hannes Holm, o filme que ainda está em cartaz em parte do circuito brasileiro, gera diversas lições que envolvem a amizade, a vivência em comunidade e o amor.

Baseado no livro A Man Called Ove, de Fredrik Backman, Um Homem Chamado Ove conta a história de um senhor já na terceira idade chamado Ove (Rolf Lassgård, que fez o excelente Depois do Casamento de Susanne Bier) que vive seu cotidiano isolado de todos e vivendo em um conjunto habitacional que ele mesmo ajudou a fundar. Já sem muitas alegrias, principalmente pelo abalo que o falecimento da esposa causou em sua vida, tenta a todo instante cometer o suicídio e sempre algo acontece na hora do ato final. A vida desse personagem, completamente rabugento, começa a mudar um pouquinho com a chegada de seus novos vizinhos e Ove começa a repensar melhor sobre o simples ato de viver.

Tudo nessa história gira em torno de seu complexo protagonista. O elo de ligação com o público chega por meio de flashbacks onde aos poucos vamos conhecendo melhor esse já grande personagem do cinema sueco. Suas tristezas, a emoção do primeiro encontro com a esposa e o momento decisivo em sua vida com o falecimento da mulher que sempre o entendera e transformava seu mundo em um lugar feliz. O paralelo com o presente chega na figura dos novos vizinhos, completamente amáveis, que transformam os últimos anos de vida de Ove em algo parecido com felicidade e bem estar.


Um pouco longo demais talvez, por conta dos detalhados flashbacks que acompanham o roteiro, cerca de duas horas de filme, Um Homem Chamado Ove exala lições, mexe com nossos corações e dá uma baita vontade de ligar para nossos avós para saber se está tudo bem. Um filme que definitivamente vai ter um lugar marcado em nossas memórias cinéfilas.


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Crítica do filme: 'Mine'

Matamos o tempo, o tempo nos enterra. Debutando em longas metragens, os cineastas italianos Fabio Resinaro e Fabio Guaglione conseguem passar com louvor nesse primeiro teste. Unindo um clima de tensão com metáforas psicológicas pra lá de convincentes, Mine é um daqueles filmes surpreendentes que precisam de uma boa atuação de seu protagonista para que a mágica aconteça. E acontece. Ao longo dos 106 minutos, kafkianos e labirínticos portas de possibilidades se abrem em meio a uma situação inacreditável vivida pelo protagonista, interpretado pelo ator Armie Hammer.

Na trama, conhecemos o sargento do exército norte americano Mike (Armie Hammer), um homem que fora mandando para lutar em território inimigo. Em uma missão, jutamente com seu colega de pelotão Tommy (Tom Cullen), acaba enfrentando um grande desafio quando, precisando andar a pé para o ponto de resgate pelo restante de seu pelotão, acaba pisando em uma mina terrestre em meio a um deserto de sol escaldante. Lutando contra o tempo e usando apenas as ferramentas que tem em seu uniforme, sem tirar o pé da bomba, precisará contar com muita força mesmo quando memórias cruéis o assombram durante essas horas de terror.

O filme é angustiante em grande parte do seu tempo. O protagonista é um homem atormentado por seu passado, problemas com o pai, o falecimento da mãe o relacionamento conturbado com a namorada. Tudo isso volta que nem um vulcão em cada segundo das intensas horas que passa no deserto completamente sozinho em grande parte desse tempo. A atuação de Armie Hammer é digna de elogios, passa para o público uma dor incansável e toda a agonia do momento, principalmente quando o fator psicológico do personagem começa a falhar e alucinações vindas em forma de metáforas, dignas de longas horas com um psiquiatra, começam a aparecer.

A luta pela sobrevivência em situações extremas é algo bastante complexo de ser filmado, e nesse caso com mil possibilidades de o filme cair em armadilha tão complexa quanto a enfrentada pelo protagonista, mas essa é exatamente a margem que o roteiro alcança para preencher com informações sobre o passado de Mike o que eleva a qualidade do filme. A direção é bem detalhista, principalmente no primeiro arco, com poucos recursos consegue ser magistral em seu enredo e definições finais de todos os elementos envolvidos na trama.


Mine não tem data para estrear no Brasil mas torcemos para que o filme chegue ao circuito exibidor. Em meio a tantas possibilidades que ficam no meio termo entre blockbuster e filmes independentes, esse é um filme que você não pode perder.


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Crítica do filme: 'Insubstituível'

O melhor médico é aquele que mais esperança infunde. Chega aos cinemas brasileiros na próxima quinta-feira (09) o drama com pitadas cômicas Insubstituível. Escrito e dirigido pelo cineasta francês Thomas Lilti (do interessante Hipócrates), o longa metragem de 102 minutos é filme maduro sobre a última idade e o profissionalismo em uma carreira onde o carinho precisa ser um dos complementos diferenciais. No papel principal, o astro francês François Cluzet, em ótima atuação.

Na trama, conhecemos o experiente médico Jean-Pierre Werner (François Cluzet), um homem que enfrenta uma grave doença e precisa se reinventar no seu lado profissional onde cuida com visitas a domílicio, e, em um pequeno consultório, de pacientes das mais diversas idades de uma região afastada dos grandes centros no interior da França. Buscando um pouco de descanso em sua meticulosidade que beira ao perfeccionismo, Jean-Pierre precisa de um substituto para tantas funções que exerce e assim chega ao lugar a ex-enfermeira e agora quase doutora Nathalie (Marianne Denicourt) que precisará enfrentar a rabugentice detalhista do experiente doutor para provar seu valor.

Um dos méritos desse bom trabalho é ser bem objetivo em seu roteiro. Temos no primeiro arco, um pouco extendido, preenchimentos de lacunas que moldam a personalidade séria do protagonista. Suas angústias e sua maneira de lidar com os problemas causam bastante impacto nessa personalidade, explorada mais pra frente na narrativa. O filme carece de um grande clímax o que poderia ter uma maior identificação com o público e mais rapidamente. Os últimos arcos, com algumas camadas profundas, outras nem tanto, deixam a tela toda para o grande brilhar de François Cluzet e sua notável atuação. Nomeado ao César (uma espécie de Oscar Francês) desse ano por esse trabalho, o veterano ator francês se entrega ao seu carrancudo personagem com muita delicadeza e honestidade. Uma das inúmeras belas interpretações desse gigante artista que ficou muito mais conhecido após seu inesquecível papel no filme Intocáveis.


Insubstituível não é um filme feito para rir, as camadas cômicas são bem leves e objetivas, as emoções vão contaminando nossos corações aos poucos fruto das lições que o filme carrega no saber lidar com cada subtrama (a dos pacientes) com muita delicadeza, assim, entendemos melhor o valor da maturidade e o reflexo de nossas ações perante a comunidade que vivemos, talvez, o grande e importante paralelo com muitas outras histórias da vida real.


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