29/01/2018

Crítica do filme: 'A Rede' (The Net/Geumul)

O outro lado da moeda. Dirigido pelo excepcional cineasta sul coreano Kim Ki-duk (Primavera, Verão, Outono, Inverno... E Primavera, Casa Vazia, Pieta), Geumul, no original, é um retrato atual de um conflito de anos. Os conflitos entre as duas coréias, suas visões diferentes de enxergar o planeta, o modo como a população de cada região vivem, os costumes, o consumo, tudo isso é pano de fundo para a trama desse belo projeto de um dos diretores mais corajosos do planeta, sempre com filmes importantes e debatendo assuntos da atualidade. Interpretando o protagonista, o ótimo ator Seung-bum Ryoo merece destaque.

Na trama, conhecemos um humilde pescador norte coreano chamado Nam Chul-woo (Seung-bum Ryoo), um homem que vive em uma casa super humilde e acorda cedo em busca do seu ganha pão. Certo dia, após o motor de seu barco (único patrimônio que possui e que demorou cerca de dez anos para conseguir) falhar no meio da fronteira com a Coreia do Sul, acaba indo parar do outro lado, na outra coréia e acaba sendo alvo de uma investigação criteriosa pelo lado sul coreano que quer saber se ele é algum espião enviado pelo outro lado. Sem saber direito como lidar com a situação, o pescador precisa agüentar a todo tipo de ameaça para conseguir impor a sua verdade.

Há muitas dúvidas deixadas no ar. Será o protagonista um espião? Como será a recepção do pescador quando e se voltar a sua Coreia? Quem está mentindo nessa história? O filme consegue ficar na linha tênue e complicada da imparcialidade. Como o fato narrado, outras histórias parecidas devem ter acontecido ao longo desses anos de divisão coreana. Como todos sabemos, na Coreia do Norte tudo é muito restrito, o filme navega nessa linha e a devoção do protagonista com sua bandeira é algo que notamos logo na chegada dele do outro lado. As diferenças de cultura, sentimos nas reações dele ao, por um breve período, conhecer de perto como as coisas são em um dos países mais desenvolvidos do planeta.

Recentemente fora vista que as duas coréias irão disputar uma modalidade olímpica juntas, um avanço nas relações desses dois países, completamente diferente mas que podem futuramente representar um só povo.

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28/01/2018

Crítica do filme: 'A Guerra dos Sexos'

Depois dos ótimos Pequena Miss Sunshine e Ruby Sparks - A Namorada Perfeita a dupla de cineastas Jonathan Dayton e Valerie Fari voltou às telonas no final do ano passado com A Guerra dos Sexos , filme baseado em uma história real que agitou o mundo dos esportes na década de 70. O projeto mescla os dramas pessoais dos atletas com as imposições e pressões do milionário universo do tênis mundial.

Na trama, conhecemos o ex-campeão de alguns torneios importantes do mundo de glamour do tênis profissional, Bobby Riggs (Steve Carell), um compulsivo apostador, fanfarrão que resolve desafiar uma tenista para uma partida de tênis. Após conseguir vencer a primeira partida contra uma ex-campeã, no jogo seguinte é desafiado pela sensacional jogadora Billie Jean King (Emma Stone), em uma partida que ficou conhecida: a batalha dos sexos. Essa partida também valeu para se solidificarem os direitos das mulheres no circuito mundial de tênis.

Steve Carell, que adora personagens complexos, e bem diferenciados, às vezes deveras excêntrico, encaixa bem na pele de Bibby Riggs que era bastante exagerado (como alguns papéis de Carell em sua vasta carreira entre flmes densos e comédias bobinhas). Mesmo o filme abrindo bastante espaço para seu pequeno show de comédia – muitas vezes em grande exagero - o roteiro possui arcos bem definidos mesmo que falte um pouco de carisma e uma apresentação mais ampla sobre o contexto dos personagens.

A Billie Jean King de Emma Stone é bem mais complexa e muito de sua personalidade é revelada. O caso homossexual com uma cabeleireira, a situação de não poder expor a situação por medo do preconceito, a posição do atual marido que meio que descobre sua traição após uma visita surpresa a um hotel em que estava hospedada por conta de jogos do circuito. King também aparece na sua luta contra os organizadores das partidas de tênis, criando, junto com outras atletas, mais à frente (e não mostrado tanto no filme) a WTA, organização que dura até hoje e cuida do tênis feminino no circuito mundial de tênis.

A Guerra dos Sexos, que passou voando pelo circuito, mostra a luta das mulheres para terem igualdade de direitos aos homens, em um esporte onde até os dias de hoje essa luta continua com polêmicas e declarações fortes de tenistas, de ambos os sexos, renomados. A luta iniciada por King anos atrás, continua até hoje.


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Crítica do filme: 'O Touro Ferdinando'

Após dirigir Rio 2, três anos trás, o cineasta brasileiro Carlos Saldanha, conhecido mundialmente por suas animações, volta às telonas com mais um projeto para a criançada, O Touro Indomável. Indicado recentemente ao prêmio de Melhor Animação 2018 no próximo Oscar, o filme vem fazendo uma trajetória interessante nos cinemas. É uma aventura repleta de delicadeza mas sem muita criatividade para contar o caminho dos curiosos personagens que aparecem buscando a atenção do público.

Baseado no livro homônimo do autor Munro Leaf, O Touro Ferdinando conta a história de Ferdinando em duas partes. Na primeira, é jovem tourinho que vê seu mundo desabar quando seu pai é selecionado para uma tourada e nunca mais volta. Assim, o protagonista resolve fugir e acaba encontrando a felicidade em um lar de um pai e filha, numa fazenda bonita repleta de flores e animais carismáticos. Ferdinando, já na segunda parte, vira um touro gigantesco e atrapalhado que acaba sendo capturado de volta a onde viveu sua infância, uma espécie de vila de treinamento de touros para serem selecionados para touradas.  

As características do protagonista principal são bem definidas e acabam sendo o alicerce do que vemos na telona. Um animal com visual gigantesco e até certo ponto assustador na história vira um sentimental, amante das flores, inteligente touro, isso cativa mas acaba ficando só nisso quando pensamos no filme como um todo. Por ser muito trivial, até na criação dos personagens que rodeiam o protagonista, o filme se rende apenas a pequenos stand-up comedy para crianças onde cada personagem tenta soltar sua simpatia. O desenvolvimento da história é sonolento, sem muita criatividade, principalmente quando pensamos em começo, meio e fim.


Não há como negar que o filme é fofo. Mas mesmo dentro de suas delicadezas com seu personagem carismático, o longa-metragem carece de uma história mais interessante. 
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Crítica do filme: 'The Post'

Nesse quinto trabalho dirigindo Hanks (O Resgate do Soldado Ryan, Prenda-me Se for Capaz, O Terminal e Ponte de Espiões), e o segundo dirigindo Streep (A.I. - Inteligência Artificial), o mundialmente conhecido cineasta norte-americano Steven Spielberg volta às telonas com o drama The Post. O roteiro, assinado pela dupla Liz Hannah (em seu primeiro roteiro para longa-metragem) e Josh Singer (Spotlight: Segredos Revelados) é cirúrgico ao analisar as sequências de acontecimentos que ficou conhecido como um emblemático episódio de vitória da democracia na figura da imprensa contra um governo cheio de segredos.

Baseado em fatos reais, em um caso famoso político/midiático conhecido como ‘Papéis do Pentágono’, ambientado na década de 70, o editor chefe do famoso jornal (na época nem tão famoso assim) The Washington Post Ben Bradlee (Tom Hanks) é informado por uma fonte de um de seus jornalistas que está de posse em documentos sigilosos do governo americano que atinge não só o presidente da época, Richard Milhous Nixon, mas graves informações sobre o governo norte-americano e seu papel com a Guerra do Vietnã. Assim, Ben precisa do apoio da atual manda chuva do jornal, Kay Graham (Meryl Streep) para publicar a matéria sem medo de serem perseguidos pelo governo norte americano.

O longa é desenhado para fazer o elenco brilhar. Isso, de fato, acontece. Hanks busca uma naturalidade em seu forte personagem, um workholic de marca maior que busca afirmação da sua profissão peneirando as notícias e participando de encontros importantes sobre os rumos do local onde trabalha.  Streep é detalhista na pele de Kay Graham, mostrando o seu desenvolvimento no mundo dos negócios após uma tragédia com seu ex-marido, uma das mais influentes mulheres do século passado. Mesmo não sendo nem de longe uma das melhores atuações de Streep – talvez um grande exagero ela ser indicada ao Oscar desse ano – é um trabalho competente da maior indicada ao mais famoso prêmio do cinema mundial.


The Post estreou na última quinta-feira no circuito e deve fazer um grande sucesso, não só porque a história é bem contada mas por contar com um elenco encabeçado por dois dos maiores astros do planeta. O projeto não deixa de ser, um minuto sequer, uma grande homenagem ao jornalismo, seus princípios e as recordações de pessoas influentes desse poder de mostrar ao público as verdades e os fatos sobre qualquer ocorrido.
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23/01/2018

Crítica do filme: 'Viva - A Vida é uma Festa'

Falar sobre outras culturas é algo mágico que o cinema transforma em inesquecível. Grande favorito para conquistar o próximo Oscar de Melhor Animação, a aventura Viva - A Vida é uma Festa é um daqueles filmes que realmente nos fazem emocionar com uma narrativa empolgante, personagens carismáticos com inúmeras mensagens do bem transmitida para todas as idades. O cineasta norte americano Lee Unkrich (de sucessos como Toy Story 3) leva a magia e a beleza de uma cultura rica em elementos transbordarem em carisma do lado de cá da telona.

Na trama, conhecemos o menino sonhador Miguel, um jovem que adora música mesmo sua família não gostando da ideia, pois, anos atrás um parente abandonou a família pela carreira musical e nunca mais voltou para casa. Durante uma pequena investigação descobre segredos desconhecidos da família e após tocar uma canção com um violão mágico, acaba indo para em uma terra dos mortos. Lá, descobre, nesse mundo fantástico e cheio de parentes que nunca conhecera, descobre mais sobre sua família e um novo segredo se torna um objetivo em sua busca constante em voltar para o mundo dos vivos.


O filme transborda alegria, tristeza, é um drama envolvente mas bastante delicado. Somos guiados pelas ações do forte protagonista, em busca de seus sonhos e não compreendendo restrições para ir em busca do que mais ama. As reviravoltas são ótimas e nos deixam cada mais apaixonados por essa singela trama que explora a cultura de uma parte do continente americano que pouco vemos na tela grande. Um dos trunfos dessa produção, elogiadíssima por cinéfilos mundo à fora, é conseguir envolver públicos de todas as idades. Há mensagens lindas de amor e família embutida em cada sequência dessa pequena obra prima. Impossível não se emocionar.  
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Crítica do filme: 'Jogos Mortais: Jigsaw'

Aproveitando anos de sucesso de público (apesar que nos últimos filmes já caíram bem a audiência), voltou aos cinemas faz pouco tempo mais um vértice da história do assassino Jigsaw. Jogos Mortais: Jigsaw é muito mais do mesmo, onde se perde o carisma da trama. Antes criativa e repleta de suspense, agora parece que o roteiro ligou o status da preguiça entregando ao espectador uma trama cheia de reviravoltas sem coerência e transformando os poucos mais de 90 minutos em algo bastante sonolento.

Orçado em cerca de 10 milhões de dólares e já arrecadando, só na janela cinema, cerca de 100 milhões de dólares pelo mundo, Jogos Mortais: Jigsaw mostra mais uma tentativa de alguém em recriar o universo sangrento do assassino Jigsaw, reunindo pessoas em jogos mortais lutando pela sobrevivência ao limite mais extremo possível. Os personagens dessa vez são: um detetive cheio de problemas em sua ficha, um médico e sua assistente que estudam os corpos das vítimas e um policial, ex-militar, que busca as verdades pois como em todo filme da franquia, alguém está mentindo.

Provocando uma expectativa até certo ponto grande, o novo filme da franquia apresenta uma história ‘rivotrialna’, onde não prende a atenção em nenhum momento. É como se uma franquia de fast food não respeitasse as receitas de sucesso da matriz e quisesse ter criatividade suficiente em criar seus próprios produtos. Tudo é muito incoerente na trama, além dos personagens para lá de nada carismáticos.


Para quem curte filmes de terror, obviamente existem outros bons filmes. Um novo filme foi feito exatamente para se lucrar em cima de histórias passadas, pois ao longo dos anos essa franquia mostrou-se ser extremamente rentável e mesmo com filmes de médio orçamento. Tem que se pensar sempre em algo mais além de dinheiro, nossos olhos pagam por qualidade.  
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02/01/2018

Crítica do filme: 'O Rei do Show'

O espetáculo de um sonhador que nunca desiste. Tentando sair do papel a cerca de dez anos, o musical The Greatest Showman, no original, finalmente ganhou sua oportunidade e estreou recentemente no circuito brasileiro de exibição. Contemplando a estreia na direção de um longa metragem do agora cineasta Michael Gracey, O Rei do Show é um musical empolgante, que narra uma história de uma época pelas entrelinhas de um sonhador e sua busca constante em surpreender seu público. No papel principal, um dos maiores atores showman do circuito hollywoodiano/Broadway, o australiano, eterno Wolverine, Hugh Jackman, que mais uma vez mostra que consegue emocionar numa tela grande.

Na trama, situada no início de 1800, conhecemos o esforçado, vindo de família humilde, P.T. Barnum (Hugh Jackman) que faz de tudo para sobreviver e dar uma vida digna para sua esposa Charity (Michelle Williams) e suas duas filhas. Mas o protagonista é um grande sonhador com veia empreendedora e logo após ser demitido de um trabalho burocrático, resolve investir tudo o que possui e criar uma espécie de museu de curiosidades, tendo como foco diversos e peculiares artistas. Assim, consegue aos poucos reunir a atenção de muitos e vai se consolidando como um grande empresário nacionalmente conhecido.

Um dos méritos do roteiro, assinado por Bill Condon (Kinsey - Vamos Falar de Sexo) e Jenny Bicks (Rio 2), é tratar de todo um preconceito forte da época, representado pelo pai de Charity que nunca aceitara o casamento da filha, e por parte do público que se manifestava violentamente em relação aos astros do show de Barnum. Como todo musical, O Rei do Show é repleto de músicas encantadoras, com performances espetaculares de seus intérpretes. É um filme bem cantando mas sem perder o sentido e direção, toda música explica uma situação, uma emoção, recurso adotado com louvor pelos carismáticos personagens.


Longe de ser longo demais, provoca emoções instantâneas, há uma proximidade muito grande do público com o que acontece em cena. Ótima oportunidade para quem nunca viu um musical, ou apenas diz que não gosta, conferir esse belíssimo trabalho que pode ganhar alguma indicação no Oscar 2018. 
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Crítica do filme: 'Três Anúncios para um Crime'

Até aonde vai a dor de uma perda? Indicado em seis categorias ao Globo de Ouro 2018, eleito pelo público o Melhor Filme do Festival de Toronto e com grandes chances de ter mais de cinco indicações ao próximo Oscar, Três Anúncios para um Crime explora uma tragédia de maneira intensa, com uma narrativa envolvente, trilha sonora fantástica, uma bela direção, e atuações memoráveis de três atores fantásticos: Frances McDormand, Woody Harrelson e Sam Rockwell. O filme que deve estrear no circuito brasileiro de exibição no final de janeiro, é uma jornada de dor e sofrimento com três óticas e sentimentos sobre um assassinato brutal, sem solução, que acontece em uma cidade do interior no sul dos Estados Unidos.

Na trama, conhecemos Mildred (Frances McDormand), uma mulher de idade quase avançada que trabalha em uma lojinha e recentemente perdeu sua filha de maneira aterrorizante. Tentando pressionar as autoridades que a sete meses não conseguem ter uma única pista do assassino, resolve publicar em três outdores em sequência uma mensagem para a polícia, principalmente para o chefe da delegacia Willoughby (Woody Harrelson), esse que está com um câncer terminal. Assim, tentando descobrir novas pistas sobre o ocorrido e pressionando cada vez mais os policiais, Mildred divide opiniões na cidade onde tudo ocorre.

A protagonista é uma mulher corajosa que se sente culpada pela morte da filha, não entendendo como sequer um nome ainda não foi ligado a tragédia que aconteceu na sua família. Separada, o marido tem uma nova namorada bem mais nova, com um filho ainda para criar, reúne todas as forças que possui para tentar alguma solução para o caso. O longa tem uma pegada irmãos Coen, talvez, Frances McDormand se encaixou tão bem no papel por já conhecer esse universo que lhe deu o Oscar por Fargo anos atrás. Os coadjuvantes são peças fundamentais no tabuleiro de surpresas e reviravoltas de personalidade que vão aparecendo a cada frame.

Cada um dos personagens que mais vemos em cena possuem dramas pessoais com a tragédia do assassinato sem solução sendo um ponto de interseção. Sam Rockwell e seu Dixon, um policial preconceituoso e totalmente sem noção é o que mais passa por transformação chegando ao desfecho sem sabermos direito o que será de seu futuro. Peça chave nas viradas do roteiro, Willoughby (Woody Harrelson brilhando novamente) vai se revelando aos poucos ao público com suas cartas que mudam de trajetória essa curiosa trama de roteiro afiado, um dos melhores nas listas de filmes que serão indicados nas grandes premiações em 2018.


O cineasta britânico Martin McDonagh (Sete Psicopatas e um Shih Tzu, Na Mira do Chefe) é o responsável pela direção e roteiro. Cumpre seu papel com muita eficiência nesse universo que poucos em Hollywood tiveram a coragem e competência de entrar.
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Crítica do filme: 'Uma Mulher Fantástica'

Um dos fortes concorrentes ao prêmio de melhor Oscar de Filme Estrangeiro na cerimônia de 2018 é sem dúvidas esse belíssimo trabalho sul americano. Uma Mulher Fantástica, nova obra prima do excepcional cineasta chileno Sebastian Lelio (Gloria, que deve ganhar um remake norte americano protagonizado por Julianne Moore em breve) é um projeto que desperta inúmeras emoções, nossos olhos são guiados por uma protagonista forte, valente, fantástica, que luta pelo seu grito de liberdade quando perde o grande amor de sua vida. Sensação em diversos festivais que fora exibido, esse belo trabalho é um dos dez melhores filmes que foram exibidos no circuito brasileiro no ano de 2017.

Na trama, conhecemos Marina (Daniela Vega), uma jovem transexual, garçonete, que mantém um sonho em ser cantora lírica. Sua vida amorosa está muito feliz, mantém um relacionamento com um homem mais velho chamado Orlando (Francisco Reyes) e o carinho é imenso de ambas as partes. Após uma noite agitada, o casal volta para casa e durante a madrugada Orlando começa a passar mal e acaba falecendo horas depois no hospital. Completamente abalada, Marina precisará enfrentar o preconceito da família de Orlando para poder se despedir do seu grande amor.

Marina é cativante. Enfrenta todo o preconceito de uma sociedade com valentia. Também sente medo, mas passa por cima. Quando se vê envolvida com Orlando, ambos resolvem não buscar a exposição de sua relação, vivem amorosamente e feliz, fazendo planos de viagens e com declarações a todo instante. Tudo muda quando Orlando falece. Marina precisa se expor para defender seus direitos como a companheira de seu amor, mesmo com o olhar atravessado da polícia, da ex-esposa, do filho. Sofre preconceitos com agressões verbais e físicas, mas nunca desiste. Daniela Vega empresta suas emoções e uma doação inacreditável a sua carismática Marina, em uma das personagens mais impactantes e fantásticas do cinema em 2017. Vega merecia muitos prêmios, quem sabe até uma indicação ao Oscar na categoria Melhor atriz. É inesquecível o que vemos ao longo dos 104 minutos de projeção.


Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim na categoria melhor roteiro,  o longa de Sebastian Lelio toca nossos corações do começo ao fim. Mas um impactante trabalho desse cineasta chileno que agora vai rodar projetos nos Estados Unidos. Seus próximos filmes são: Disobedience (com a dupla de Rachels mais famosa de Hollywood atualmente McAdams e Weisz) e o remake norte americano de Gloria). 
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01/01/2018

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Crítica do filme: 'Madame'

Escrito e dirigido pela cineasta e roteirista parisiense Amanda Sthers, Madame, é uma deliciosa comédia , uma fábula moderna sobre o amor e as infidelidades que a vida constrói na alta sociedade ou não. Tudo funciona com gigantesco carisma. Toni Colette e sua vilã metida a esperta é uma delícia de personagem, e faz um par grandioso com o sedutor milionário vivido por Harvey Keitel. O roteiro é muito bem feito, faz valer o ingresso.

Na trama, conhecemos Maria (Rossy de Palma), uma espanhola que trabalha na casa de Anne (Toni Colette) e Bob (Harvey Keitel) um casal de norte americanos na França. Quando Anne decide dar um jantar para a alta sociedade, percebe que um convidado faltará. Para não ficar um lugar na mesa, ou alguma espécie de ‘toc’ com o número 13, convida Maria a vestir uma de suas belas roupas e se juntar a mesa. Tudo corre bem até Anne perceber o interesse do ricaço David (Michael Smiley) em Maria. A partir daí, uma mescla de mentira e uma linda história de amor é instaurada, lutando contra os trambiques e inveja de Anne e Bob.

O acreditar no amor. A história se desenrola de maneira a la conto de fadas. A empregada que se apaixona por um milionário, e vice versa, mas com uma mentira que pode mudar tudo. Por mais que a trama centrada seja essa, os olhos do público se voltam várias vezes ao casal Anne e Bob. A situação de Maria, cai como um raio em cima deles, que possuem um casamento falido, com traições de ambas as partes e sem muitos momentos de intimidade. Anne principalmente, interpretada pela sempre ótima Toni Colette, se torna a grande vilã da história, usando de uma delicadeza sarcástica para atrapalhar a vida de dois corações apaixonados.


90 minutos de puro carisma, diálogos engraçados e situações inusitadas. Um ambiente Woody Allen, fora dos Estados unidos. Muito frescor nessa grata surpresa. Não é uma obra prima mas é um delícia de filme. Estreia em março no Brasil.
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Crítica do filme: 'Depois Daquela Montanha'

Nem sempre reunir dois ótimos atores transformam um longa metragem em algo inesquecível. Lançado no final do ano passado no circuito brasileiro, Depois Daquela Montanha é aquele tipo de filme que com certeza estará na sessão da tarde daqui alguns anos. Bastante água com açúcar, sem muita originalidade, dirigido pelo cineasta israelense Hany Abu-Assad (dos espetaculares Paradise Now e Omar) com roteiro baseado na obra de Charles Martin (The Mountain Between Us), o projeto cai nas armadilhas dos clichês em todos os seus arcos.

Na trama, conhecemos a jornalista e fotógrafa Alex (Kate Winslet) que está tentando viajar para chegar a tempo de seu casamento. Ben (Idris Elba), é um médico cirurgião que está voltando para casa de uma conferência médica. Ambos iriam embarcar no mesmo avião mas o vôo é cancelado. Com pressão para chegarem aos seus destinos, resolvem alugar um avião de pequeno porte. Mas o imprevisível acontece, o piloto do avião sofre um ataque durante a trajetória e ambos caem no meio de montanhas geladas cobertas de neve. Assim, usando todos os recursos possíveis, precisam se unir para sobreviver enquanto não conseguem ajuda.

Tem coisas no cinema que não dá pra entender. Depois de trabalhos excelentes em filmes passados, o cineasta israelense Hany Abu-Assad resolve ir tentar a sorte pegando um blockbuster hollywoodiano. Parece que a sua essência se perde a cada diálogo sonolento. O desenvolvimento dos personagens é feito de maneira romance dos anos 90, onde tudo se encaixa perfeitamente. Parece filme de produtor, que adota fórmulas de outras histórias para convencer o espectador de que o romance proposto possui alguma força.


Mesmo tendo Idris Elba e Kate Winslet, dois grandes nomes do cinema mundial atualmente, o filme não convence. Falta desenvolvimento na trama, tudo parece muito corrido. O clichê principal, já no fim do filme mostra que o livro deve ser bem melhor que o filme. 
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Crítica do filme: 'Eu, Tonya'

Dirigido pelo excelente diretor australiano Craig Gillespie (do inesquecível A Garota Ideal) , Eu, Tonya é antes de tudo um filme sobre as oportunidades perdidas, oriundo de uma formação familiar desproporcional, onde a personalidade e a inocência imatura andam lado a lado nas conseqüências da vida. Baseado em fatos reais, um verdadeiro escândalo com grande atenção da mídia, o projeto, cotado para alguma indicação no próximo Oscar, conta com uma inspirada interpretação de Margot Robbie e Allison Janney, onde são guiadas por um dos melhores roteiros dessa primeira metade do ano assinado por Steven Rogers (P.S. Eu Te Amo).

Na trama, conhecemos por meio de relatos, um recorte importante na vida da patinadora artística norte americana da década de 90, Tonya Harding (Margot Robbie). Desde a sua infância complicada, sendo educada por uma mãe (Allison Janney) desequilibrada e cheia de regras, até seu auge na profissão que escolheu, executando um salto nunca realizado por uma patinadora norte americana em campeonatos. Mas nem tudo eram flores na vida de Tonya, casada com um marido violento e totalmente instável, interpretado pelo ótimo Sebastian Stan, acaba se envolvendo em uma história de agressão a outra patinadora perto da seletiva para as olimpíadas de inverno.

A composição dos personagens é algo que chama a atenção. O roteiro dividido em arcos bem definidos, enchem o público de argumentos para o clímax. Tem uma pegada meio irmãos coen, meio Fargo, preza pela originalidade na entrega de sua narrativa. Tudo gira ao redor da protagonista mas as lacunas são preenchidas com louvor pelos ótimos coadjuvantes.


Tonya é o reverso da Apollo 13, nesse caso do triunfo ao desastre. A narrativa adotada por Gillespie é eficaz, apresenta os personagens de maneira inteligente reunindo características no campo da emoção que são importantes para entendermos o clímax da história. Em uma espécie de documentário baseado em relatos, a ficção toma conta das lentes de Gillespie de maneira harmônica, ao longo de 120 minutos são apresentados os argumentos para o público julgar quem de fato foi Tonya: vilã ou vítima de uma história que mexeu com as estruturas do programa norte americana de patinação artística.
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