30/12/2017

Crítica do filme: 'Liga da Justiça'

Houve muita expectativa sobre esse projeto, a reunião de diversos super heróis famosos dos quadrinhos lutando contra um inimigo da humanidade. Exatamente o mesmo gancho de salvação do planeta visto em filmes da série Vingadores da Marvel. A preocupação de cinéfilos de todo o planeta era que a DC tinha apresentado até agora resultados insatisfatórios (exceto talvez o ótimo Mulher Maravilha), falando em cinema, com filmes longe de serem queridos. Em Liga da Justiça, jogam no liquidificador nerd diversas características humanas de seus personagens, liderados por um Batman melancólico e repleto de culpa interpretado por um surpreendente Ben Affleck. Esse trunfo se desenvolve muito bem, aliando cenas de ação empolgantes. O resultado é um filme bastante interessante, onde o brilho de cada super herói se sobressai em qualquer brecha para individualidade.

Na trama, subseqüente a morte do Superman (Henri Cavill) em Batman vs  Superman: A Origem da Justiça, vemos um Bruce Wayne/Batman (Ben Affleck) abatido e amargurado, com enormes sentimentos de culpa mas que precisa vestir a capa do morcego para combater um terrível vilão com enormes poderes. Para isso, ao lado de Diana Prince/Mulher Maravilha (Gal Gadot), resolve recrutar super heróis da terra que mapeia com a ajuda de Alfred (Jeremy Irons) em sua batcaverna. Assim, se juntam ao super herói mencionados, Barry Allen/ Flash (Ezra Miller), Arthur Curry/Aquaman (Jason Momoa) e Victor Stone/Cyborg (Ray Fisher). Assim, inicia-se o que chamaremos de A Liga da Justiça.

Os conflitos de Wayne em liderar a equipe são evidentes e marcantes, um Tony Stark bem elaborado da DC. Usando seus recursos financeiro ilimitados mas sem ter na prática um super poder, o homem morcego se vê em dúvida a todo instante, principalmente na ideia que molda as ações do longa, o resgate de uma peça chave para o sucesso de sua equipe. O recrutamento traz boas cenas e explicações sobre as origens dos personagens, principalmente o contexto de Cyborg e Aquaman. Flash, rapidinho até em sua história passa batido alguns pontos mas nada que atrapalhe o desenvolvimento. Esse último também fica com o cargo de ser a ponto cômica do filme, com piadas adolescentes exatamente da mesma maneira que enxergamos o Homem Aranha na turma dos Vingadores.


Por incrível que pareça, pelos caminhos que percorrem o roteiro de Liga da Justiça, a ação acaba ficando em um segundo plano, é mais um conflito de ser humano e suas emoções, em um desenvolvimento que preenche brechas de outros filmes transformando esse em um dos bons filmes baseado em quadrinhos. Esqueça a briga que existe entre Dc vs Marvel, por mais que se pareçam, essa competição só tem que ser vista de perto quando cada turma de super heróis a cada novo longa nos brinda com filmes com alma e essência desses inesquecíveis personagens que brindam nossas mentes a cada nova geração. 
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Crítica do filme: 'Bright'

Estimado em cerca de 90 milhões de dólares, a nova produção da Netflix Bright aborda um universo futurístico repleto de seres mágicos, onde orcs, elfos e humanos vivem em conjunto na sociedade. Dirigido por David Ayer (Esquadrão Suicida) e com roteiro de Max Landis (Poder sem Limites), o projeto é uma interessante jornada rumo a planeta com diversos paralelos com o mundo que vivemos hoje, cheio de desigualdades sociais, preconceito onde o bem e o mal andam lado a lado rumo a sobrevivência. Talvez o grave problema do filme seja na hora da contextualização desse universo mágico criado, pouco é falado sobre as origens, se pega em um recorte onde os protagonistas precisam resolver um certo mistério em meio a uma onda de sangue e violência.

Na trama, conhecemos Daryl (Will Smith), um policial não corrupto que se recupera de um tiroteio em que não foi ajudado pelo seu parceiro Nick (Joel Edgerton), um dos poucos orcs que são policiais. Voltando a ativa e logo nas semanas seguintes, a dupla de policiais precisarão resolver seus conflitos para decifrarem um caso misterioso de assassinato que envolve uma varinha mágica, uma jovem que está se escondendo e a divisão de magia da polícia federal (FBI) liderado pelo elfo Kandomere (Edgar Ramirez).

Um dos fatores positivos do projeto é a originalidade da história, reunindo seres mágicos com características pra lá de humanas o que nos envolvem em paralelos com a sociedade da maneira como vemos hoje. O desenvolvimento de Nick é bem detalhado, o que ajuda na compreensão de parte do contexto, possui um lado humano forte, cheio de certezas no cumprimento de suas obrigações como policial que protege a população mas não deixando margens para analisar situações que fogem de um certo controle. O contraponto é seu parceiro, o humano Daryl, repleto de características que agregam como dupla, possui um espírito de companheirismo, mesmo tendo um pé atrás com o parceiro, o protege.


O que pega na trama é a falta de entendimento sobre o que houve com o planeta. Essa falta de contextualização, deixa os entendimentos dos personagens comprometidos, conseguindo apenas deixar como paralelos com os dias de hoje com as ações que vemos ao longo das quase duas horas de projeção. 
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Crítica do filme: 'Lady Bird'

Escrito e dirigido pela atriz, roteirista e cineasta adorada pelos cinéfilos de todo o planeta, Greta Gerwig (Frances Ha), Lady Bird mostra os caminhos percorridos por uma jovem perto dos 18 anos que equilibra sua vida na linha tênue entre rebeldia e personalidade forte. O relacionamento conturbado com sua mãe fica no epicentro da história e nos brindam com interpretações inspiradas de Saoirse Ronan (Brooklyn) e Laurie Metcalf. Indicado a quatro prêmios no Globo de Ouro, Lady Bird deve conseguir algumas nomeações, merecidamente, ao prêmio mais badalado do ano, o Oscar.

Na trama, conhecemos Christine McPherson (Saoirse Ronan), uma jovem que gosta de ser chamada de ‘Lady Bird’ e reside em sacramento com a família, que passa por dificuldades financeiras. Sua mãe, Marion (Laurie Metcalf), é uma esforçada enfermeira em uma clínica psiquiátrica, seu pai Larry (Tracy Letts) está desempregado e não consegue voltar ao mercado de trabalho. Lady Bird tem mais dois irmãos que trabalham para ajudar a família. Perto de concluir o ensino médio, a protagonista passa por experiências emblemáticas como a perda da virgindade, a escolha para qual faculdade vai, e novas amizades que chegam para preencher lacunas desconhecidas mas não necessariamente positivas em sua vida.

Adorado por centenas de cinéfilos mundo a fora que já tiveram a chance de conferir esse trabalho, Lady Bird realmente é um filme especial. Além de atuações marcantes, explora o conceito da juventude na pré era dos celulares (o filme é ambientado no início dos anos 2000) na visão de uma garota que possui um ar de liberdade mas sem saber direito como chegar aos seus objetivos. Os conflitos entre mãe e filha contornam boa parte dos 90 minutos de projeção e dão a sustentação emocional que a história precisa, um cirúrgico recorte que explica bastante sobre uma família e a visão de toda uma sociedade que os cerca.


Greta Gerwig volta a surpreender com um trabalho marcante. Impressiona a maneira como consegue criar universos de histórias que dizem tanto sobre o mundo de hoje, aproximando diversos tipos de público de suas criações.  Lady Bird deve estrear no Brasil somente em abril (talvez seja antecipado dependendo de nomeações em premiações), com o título de  Lady Bird: É Hora de Voar. Tirando a breguice que ficou esse subtítulo, o filme é uma delícia, algo para guardarmos em nossos corações cinéfilos. 
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26/12/2017

10 Melhores Filmes que vi em 2017 mas que não foram lançados (alguns ainda serão) no circuito brasileiro



Nós cinéfilos adoramos listas. J Todo ano olhamos nossas anotações e selecionamos os 10+ em várias categorias. Abaixo, seguem os 10+ que vi esse ano na categoria: Filmes que vi em 2017 mas que não foram lançados (alguns ainda serão) no circuito brasileiro

Me Chame pelo seu Nome

Se você fosse uma música seria as melhores notas. Baseado no livro homônimo, do autor André Aciman,Me Chame Pelo Seu Nome é um daqueles filmes emblemáticos que nos leva a década de 80, na belíssima riviera italiana e nos mostra em fragmentos poéticos todas as belezas da descoberta do amor na visão de um jovem inteligente e apaixonado. Dirigido pelo cineasta italiano Luca Guadagnino (Um Sonho de Amor) e com um elenco inspirado, podemos afirmar que poucas vezes nos últimos tempos assistimos uma obra tão delicada e profunda sobre o que com certeza é o amor. Vai estar, com toda certeza, indicado em muitas categorias do próximo Oscar.

Na trama, ambientada no início da década de 80 em algum lugar belíssimo do norte da Itália, conhecemos o jovem e inteligente Elio (Timothée Chalamet), que está passando férias na enorme casa que a família possui na Riviera italiana. Elio está na fase das descobertas, tem amigos mas prefere os livros, a música e uma calma solidão. Certo dia durante as férias, um estudante chamado Oliver (Armie Hammer), amigo de seu pai, o Sr. Perlmann (Michael Stuhlbarg), que é professor, chega para passar algumas semanas. Logo, Elio e Oliver começam a ver que possuem muitas coisas em comum, rapidamente se aproximam e sentimentos afloram de maneira intensa marcando para sempre as vidas dos dois.

A direção de Guadagnino beira a perfeição, rico em detalhes, explora as características dos personagens de maneira leve com ótimas pitadas cômicas aproximando o público do que acontece na telona a todo instante. Por ter altas carga de drama, o romance florece de maneira poética dando leveza as ações dos personagens. O roteiro inspirador, levanta a bandeira de todas as formas de amar.
É uma trajetória de começo, meio e fim de emoções viscerais onde somos testemunhas das belezas que é a sorte de amar. Essa construção do sentimento é feita de maneira intensa, sensual e com personagens carismáticos, inteligentes e com grande sede na arte do viver.

Impressiona a maturidade do modo de pensar, principalmente da família do protagonista que apoia seu filho em todas suas decisões. Em uma das cenas, talvez a mais impactante dentro do filme, somos brindados com um diálogo de Elio com seu pai de deixar um nó na garganta de tão profunda e emocionante. Michael Stuhlbarg larga na frente para a corrida ao Oscar de ator coadjuvante, baita atuação. Me Chame Pelo Seu Nome é um hino aos corações apaixonados e compreensão a todas as formas de amar.



Loveless


Não se pode viver em desamor. Na era dos selfies e das vitrines matrimoniais que a sociedade impõe para que a tal da incerteza da normalidade fique evidente e você não seja alvo de fofocas ou preconceitos, o novo trabalho do excepcional cineasta russo Andrey Zvyagintsev (dos excelentes Elena e Leviatã), Loveless, sensação nos festivais que fora exibido mundo a fora e um dos fortes candidatos ao Oscar de melhor filme estrangeiro, é um filme que fala sobre acima de tudo de família. Em uma Rússia dos tempos modernos, repleta de idas e vindas em relacionamentos, Zvyagintsev faz o espectador navegar nas emoções mais profundas quando nos sentimos olhando pelo buraco da fechadura.

Na intensa trama, conhecemos o casal Zhenya (Maryana Spivak) e Boris (Aleksey Rozin) que estão se separando em meio a muitas brigas. Eles tem um filho de 12 anos chamado Alyosha (Matvey Novikov) que sofre bastante pelas discussões diárias dos pais. Zhenya tanto Boris já estão em outros relacionamentos, o segundo inclusive já está esperando um outro filho com a nova namorada. Em meio a essa tumultuada relação, Alyosha some certo dia e os pais precisam reunir forças para enfrentar essa difícil situação.

Entendemos melhor as características emocionais dos personagens nos diálogos profundos que ambos possuem com seus novos parceiros, principalmente Zhenya, que possui uma dificuldade de relacionamento com a mãe, nunca amou o ex-marido e se joga completamente nessa nova relação. Seu cotidiano com o filho é distante e agressivo, a impaciência e o comportamento distante com o filho são reflexos da impaciência e solidão que vivia com seu ex-marido. Quando o jovem desaparece, tanto mãe quanto pai se sentem perdidos e começam a perceber aos poucos o quanto existia uma barreira entre todos eles.

A frieza da polícia na condução do início do caso chama a atenção. Durante o pequeno interrogatório com o grupo de salvação e resgate, fica nítido o grande descaso e falta de observação dos pais com o próprio filho, principalmente da figura materna. Alyosha sofria bastante com as brigas e principalmente com o que escutava dos pais. A ausência de amor, desafeição, desprezo, indiferença eram algumas das características que distanciavam os pais do filho.


Com belíssimas cenas de fundo e uma atmosfera melancólica que se envolve intensamente em pontos importantes, Loveless é um retrato humano, que assusta mas acontece, das imperfeições na roda familiar. Zvyagintsev se consagra mais uma vez com suas lentes que conseguem transmitir com muita intensidade o que acontece entre quatro paredes e nos mostrando os detalhes como se estivéssemos olhando pelo buraco de uma fechadura.

Her Love Boils Bathwater
A mãe compreende até o que os filhos não dizem. Chega do Japão um dos filmes mais sensíveis e emocionantes da temporada, uma mescla de comédia delicada com drama intenso que entra em nossos corações como uma flecha recheada de sentimentos bons. Her Love Boils Bathwater, ou no original, Yu wo wakasuhodo no atsui ai, é o indicado ao Oscar do Japão para a próxima cerimônia do Oscar e possui boas chances de conseguir uma vaguinha na lista final. Escrito e dirigido pelo cineasta Ryôta Nakano o filme apresenta a jornada de uma inesquecível personagem em busca do preenchimento de lacunas esquecidas em seu passado depois que descobre uma terrível doença. A sensibilidade que o filme preenche suas emoções é algo raro e transforma esse trabalho em um dos mais bonitos desses últimos meses.

Na trama, conhecemos a super querida Futaba (Rie Miyazawa, em uma atuação absolutamente fantástica) que mora sozinha com sua filha Azumi em uma casa humilde no delicioso Japão. Certo dia, Futaba descobre que tem uma doença terminal e quase paralelamente descobre onde seu ex-marido, que a abandonara, está morando. Vendo que precisa ter o ex-marido por perto, deixa ele voltar para a sua vida, sendo que o mesmo traz junto uma outra criança fruto de um caso que ele teve. Assim, os quatro embarcarão em uma jornada repleta de segredos para ajudar Futuba a realizar seus últimos desejos em vida.

O roteiro possui uma sensibilidade gigante. O primeiro arco, meio morno, na verdade é a construção inicial com inserções de detalhes que serão descobertos apenas com o passar do pouco mais de duas horas de projeção. Após a descoberta da terrível doença, Futaba começa a abrir seus segredos mais escondidos e o filme ganha contornos emocionantes (preparem desde já os lenços). Impressiona a qualidade dessa história que além de emocionar, tem um poder de surpreender o espectador.


O papel da mãe é algo abordado no filme nas óticas dos coadjuvantes em relação a protagonista. Mãe de muitos, mesmo sendo de poucos, Futaba é o reflexo de todo o amor que pode ter uma família quando tem uma figura carinhosa, forte, corajosa, para combater e proteger todos ao seu redor. A relação que a personagem principal tem com todos que a preenchem com amor é algo grandioso, sublime. Transborda na tela as razões de todo seu amor e o público se sente próximo a personagem em todo momento. A inesquecível atuação de Rie Miyazawa ajuda a deixar essa personagem na prateleira do imaginário cinéfilo como sendo um dos mais belos do cinema oriental contemporâneo.

A Ghost Story
É muito mais difícil um fantasma não existir do que matar uma realidade. Escrito e dirigido pelo cineasta norte americano David Lowery, A Ghost Story é uma fábula engenhosa sobre a solidão da perda. O forte tom de sua sinistra trilha sonora, junto a planos longos (alguns angustiantes) transformam a atmosfera do filme em algo realmente impactante. Protagonizado por Rooney Mara e Casey Affleck, o projeto é bem complicado de se entender, longe do trivial, um quebra cabeça melancólico, minimalista e porque não dizer um exercício interessante sobre o abandono.

Na trama, conhecemos o casal C (Casey Affleck) e M (Rooney Mara), jovens com o futuro todo pela frente que moram em uma casa um pouco isolada, provavelmente no interior dos Estados Unidos. Certo dia, C se envolve em um acidente automobilístico e acaba falecendo. Mas, o inusitado acontece, C vira um fantasma e acaba retornando para sua casa onde sua esposa passa por dificuldades emocionais tentando seguir em frente com sua vida. Assim, o filme embarca em uma série de situações, sem comunicação (ou quase isso) entre o casal onde as dores da tragédia são uma estrada ilimitada de emoções.

Esquecer de tudo?  As dores do mundo?  Não quero saber quem fui mas sim quem sou. Quando o tabuleiro começa a se juntar, as peças nos mostram as verdades e surpresas do roteiro. A questão do fantasma, ou algo do tipo, do inusitado, é um mero detalhe coadjuvante. A lógica desse roteiro complexo gira em torno da questão do tempo e suas passagens rápidas em algumas situações e demoradas em outras, mas com pouca alteração do ambiente. Os protagonistas vivem um primeiro ato de felicidade que logo acaba em tragédia, e, assim, começamos a enxergar dramas e sofrimentos através de uma figura incomum que parece não conseguir se libertar de sua situação.


Você se sente a todo instante assistindo a um filme do Terrence Malick, principalmente por conta dos contornos da trilha sonora e seu impacto no ritmo da trama. Essa mescla de drama e fantasia, ou algo que une isso como gênero, é um dos pontos peculiares e diferenciais desse projeto que tem tudo para dar o que falar. Aos que tem pouca paciência, um tédio terrível pode chegar. Aos que conseguem se conectar com a essência da trama, o lado emocional dos personagens, A Ghost Story pode ser um filme para se ver e rever, além de refletirmos muitos sobre as dores do mundo.

Contratiempo
Se o mundo girasse ao redor de você? Como seria o mundo para as pessoas que o cercam? Explorando as ambições, instintos e os limites do bom senso do ser humano, Contratiempo foi lançado na plataforma netflix alguns meses atrás e aos poucos vem ganhando uma notoriedade importante. Dirigido pelo cineasta espanhol Oriol Paulo (do ótimo El Cuerpo) o longa metragem é um daqueles suspenses arrepiantes que a cada ato entrega mais peças para o tabuleiro instalado em nossas mentes nos levando a uma jornada intensa de 106 minutos rumo as verdades dentre muitas mentiras.

Na trama, acompanhamos Adrián Doria (Mario Casas), um jovem homem de negócios que está na crista da onda profissionalmente falando. Já em sua vida pessoal, há várias contradições. Acusado recentemente de matar sua amante Laura (Bárbara Lennie), em um episódio que ele jura que não é como todos estão pensando, ele tem a decisão dos rumos de sua vida quando chega para entrevistá-lo uma das grandes advogadas de defesa da Espanha. Durante as próximas horas, muitas idas e vindas nas versões do crime cometido são detalhados e uma outra importante subtrama é jogada a limpa na mesa. Certo dia, após passar algumas horas com sua amante em uma casa isolada em uma região distante, acaba se envolvendo em um acidente de carro culminando fatalidade para um outro jovem que estava no outro carro. Assim, aos poucos vamos descobrindo e desmascarando a verdade que é chocante.

Nesse espetacular suspense,  tudo funciona cirurgicamente rumo a um final arrebatador. Começa com um primeiro ato intrigante, onde descobrimos as primeiras versões do assassinato cometido, mas obviamente deixando várias lacunas em branco. As subtramas são apresentadas cercadas de muito mistério, principalmente a entrada dos pais do jovem envolvido no acidente de carro. Tudo é cercado de mentiras camufladas de verdades. A relação do protagonista com sua amante e todas as reviravoltas que passam juntos é angustiante, somos testemunhas da ótica dos dois personagens em relação aos acontecimentos, a parte de Laura detalhada pelas suposições da advogada colocada para ajudar Adrián.

É muito difícil saber onde está a mentira entre tantos argumentos fortes. Até as verdadeiras facetas de alguns personagens serem reveladas vamos somando uma série de peças para tentar chegar ao que de fato aconteceu. O engraçado e de criatividade sensacional é que uma grande reviravolta acontece já no desfecho deixando parte da trama ainda em aberto mas que nem importante mais pois um mistério maior ainda é revelado aos nossos olhos e nos deixam simplesmente pasmos por essa revelação.

Contratiempo é um dos melhores suspenses do ano, sem dúvidas. Reúne grandes atuações, um roteiro magnífico e uma direção detalhista. Nem tudo é o que parece nessa arrepiante história. Não percam, disponível na netflix.

The King (Deoking)
Quem abre o coração à ambição, fecha-o à tranquilidade. Depois de um hiato de quatro anos depois de seu último longa-metragem Gwansang (2013), o cineasta sul coreano Jae-rim Han volta as telonas com um filme explosivo que abre feridas bastante expostas sobre a corrupção no submundo jurídico/político de uma Seul repleta de polêmicas e grandes trocas no poder. The King (Deoking) é um daqueles filmes onde a adrenalina toma conta de várias sequências, aproximando o espectador de subtramas repleta de gângsters, chantagens e muita ambição. O filme, que estreou no oriente em janeiro desse ano, ainda não tem data para desembarcar em nosso país.

Na trama, conhecemos, em um primeiro momento mais jovem, o brigão e relaxado Park Tae-su (interpretado pelo ótimo ator In-sung Jo), nascido na periferia da capital coreana, de família pobre, sendo criado por um pai trambiqueiro e que sempre arruma uma confusão. Estamos na década de 80 e aos poucos, via imprensa e por testemunhar seu pai desesperado implorando para um, cresce um desejo no protagonista em ser um promotor de justiça, cargo carregado de poder e influência em uma coreia recheado de casos violentos e corrupção em todos os escalões do poder. Assim, de preguiçoso e brigão, vira um estudioso intenso e consegue passar para a prestigiada faculdade de Direito se tornando um promotor. Chegando na nova função, nada do que sonhara (status, fama, dinheiro e poder) chega rapidamente e depois de insistir em um caso de abuso de um professor com uma aluna, acaba recebendo a chance de entrar para um grupo de promotores protegidos comandados por Han-Kang Sik (Woo-sung Jung) que exalam poder, fortuna e o controle do poder jurídico coreano. Vivendo agora do jeito que sonhou, acaba tendo também que sentir na pele as consequências de um lado sujo de sua profissão.

Tudo funciona muito bem no filme. O ritmo alucinante não deixa nem bebermos nosso refrigerante durante a sessão. Dividido milimetricamente em arcos poderosos, repleto de cenas com tons de humor dramático mesclando com dramas violentos, o filme conta em um pouco mais de duas horas a história do seu protagonista em décadas e toda a corrupção que a Coreia do Sul vive nesse tempo. O projeto não deixa de ser uma grande crítica ao sistema coreano mas que também pode ser ampliado a uma crítica mundial do setor. A troca de favores de pessoas influentes no campo jurídico/político, a escolha a dedo dos casos, a ligação com bandidos de alta periculosidade, tudo isso sabemos que acontece em muitas partes do mundo.


O filme tem méritos também por não fugir das responsabilidades do protagonista, e impor consequências severas pelos anos em que foi submisso a uma vida de riqueza de bens mas sem uma gota de compaixão humana. A transformação do personagem chega em torno de vingança, deixando o último arco com surpresas e cenas sensacionais, de tirar o fôlego. The King (Deoking) , sem previsão de estreia no Brasil (tomara que alguma distribuidora abra o olho para esse filmão) é um daqueles filmes que podemos dizer ser um dos melhores trabalhos do ano.

Trapped
A luta pela sobrevivência é uma questão de persistência. O drama camuflado de thriller Trapped (sem tradução para o Brasil), dirigido Vikramaditya Motwane é uma daquelas histórias inusitadas do cotidiano que acabam ganhando contornos épicos pelas lentes de um bom diretor e um ator protagonista inspirado. O filme, basicamente, fala sobre a sobrevivência, nossos instintos mais humanos e ainda provoca discussões no campo religioso. Diretamente na Índia, esse belo trabalho deixará você com os olhos grudados na tela e ainda imaginando teorias sobre seu final.

Na trama, conhecemos um jovem trabalhador chamado Shaurya (Rajkummar Rao) que após criar coragem consegue se declarar para uma outra jovem que trabalha  em uma empresa com ele. Só que tem um problema, a jovem está com data de casamento marcada com uma outra pessoa (o famoso casamento arranjado). Para tentar continuar com seu grande amor, o protagonista precisa encontrar um lugar para eles morarem em menos de dois dias. Por circunstâncias do destino, consegue um apartamento no último andar de um edifício em fase de espera do alvará para poder ser habitado. Na primeira noite que se muda para lá, quando acorda, Shaurya deixa a porta da rua bater com a chave do lado de fora. Totalmente sozinho, sem ter como sair do apartamento e em um prédio desabitado, ele precisará de muita criatividade e coragem para sobreviver.

O roteiro é cirúrgico. Define muito bem seus arcos, deixando um grande espaço de clímax em seu miolo onde explora as ideias criativas que surgem na cabeça do protagonista para sobreviver. Com apenas uma garrafa de água, ele monta um engenhoso sistema de resgate da água da chuva, faz um estilingue para tentar chamar a atenção dos vizinhos do prédio, mesmo estando a dezenas de metros de altura, precisa definir se vai contra sua religião ou sobrevive comendo um pombo. O filme não perde sua angústia em nenhum instante e isso é algo excelente pois nos conectamos rapidamente com o que acontece em cena tentando encontrar uma solução para o protagonista. Aliado a tudo isso, uma atuação assombrosa do ator Rajkummar Rao, praticamente sozinho em cena durante boa parte do filme, conquista a atenção do público.


Não é possível entender porque tantos poucos filmes indianos chegam no Brasil. Será falta de observação das distribuidoras nacionais? O último filme indiano que entrou no circuito exibidor que lembramos é o espetacular Lunchbox, lançado pela Imovision anos atrás. Um mercado tão influente na indústria como o indiano, com tantos cineastas excelentes, merece cada vez mais ter espaço por aqui. Pena que a maioria dos nossos cinemas que ainda continuam muito norte americanizados. 

Nocturama
Selecionado para alguns festivais pelo mundo e absurdamente sem a mínima chance de ser exibido pelo circuito exibidor brasileiro (talvez pela falta de faro de muitas distribuidoras), exceto em um festival ou outro, o novo e impactante trabalho do excelente cineasta francês Bertrand Bonello (L'Apollonide - Os Amores da Casa de Tolerância), Nocturama, é uma trama cheia de reviravoltas que expõe um confronto de ideias e a falta de limite que pessoas comuns podem ter. O filme é uma grande crítica e expõe argumentos fortes que fala de maneira bem efetiva sobre muitos dos conflitos que assombram países de todo o planeta.

Na trama, conhecemos jovens de diversas etnias que se espalham por uma grande cidade francesa tramando alguma coisa que é revelada aos poucos. Um pouco do cotidiano desses jovens, já no dia da ação, mostram que são pessoas comuns que não geram nem tipo de alerta da polícia. Com a chegada da noite, se reúnem em uma loja de roupas de vários andares, onde é exposto um plano aterrorizante de diversos atentados em lugares previamente estudados. Ao longo dessa noite, muitas questões serão abordadas e o roteiro volta em algo parecido com flashbacks para explicar um pouco de como eles chegaram até esse dia.

Fica claro, por diversos diálogos ao longo das sequências, que os jovens não aguentam viver na sociedade onde vivem, cada um com seu motivo. Isso gera um conflito interno muito grande, um jovem segurança de um edifício com andares desativados, um casal de namorados que tinham a vida toda pela frente, jovens com estruturas emocionais fortes outros nem tanto. Cada um a sua maneira vai deixando de tentar viver a vida como ela é e embarcam em um plano inconsequente. A ficha parece que só cai quando estão confinados em uma loja no fim da noite, discussões e ações, além do conflito de ideias, tomam conta dos diálogos e as incertezas e o medo apontam para todos eles.  Presos em seus próprios pensamentos, o não saber o que fazer dali para frente é uma verdade que eles não conseguem esconder.


Bonello, que dirige e assina o roteiro, mais uma vez volta às telonas com uma trama intrigante e corajosa que expõe uma parte da sociedade em crise de consciência e totalmente inconsequente que muitas vezes encontra refúgio no seu gritar em atitudes que impactam negativamente ao todo levando o medo para outras pessoas. Nocturama é um filme para ser visto, discutido e analisado. Uma aula de cinema desse cineasta francês que possui trabalhos interessantes em sua vasta filmografia.

Bad Genius
Um dos filmes mais eletrizantes do cinema asiático dos últimos anos e representante da Tailândia ao Oscar 2018 na categoria Melhor Filme Estrangeiro, ‘Bad Genius’, dirigido pelo ótimo cineasta Nattawut Poonpiriya, contorna as emoções de maneira sublime para explicar uma história que envolve estudantes, as pressões pelas provas que podem mudar uma vida e um outro lado que se descobre quando determinadas portas de oportunidade se abrem. Tudo é muito bem encaixado no excelente roteiro de assinado pelo diretor, Tanida Hantaweewatana e Vasudhorn Piyaromna. Uma excelente surpresa e infelizmente ainda sem data de estreia no circuito brasileiro de exibição.

Na trama, conhecemos a doce, inteligente, concentrada e tímida Lynn (Chutimon Chuengcharoensukying) uma estudante do ensino médio tailandês que consegue, depois de muito esforço de seu pai (Thaneth Warakulnukroh), um professor de classe média baixa, ingressar em uma famosa escola para terminar os seus estudos e conseguir uma boa formação. Lynn é super dotada, tira notas altas e rapidamente vira bolsista 100% da escola. Em uma sessão de fotografias para livros da escola, conhece a ingênua Grace (Eisaya Hosuwan), com quem logo começa uma amizade. Vendo a dificuldade da amiga nos exames da escola, Lynn resolve ajudar em uma das provas passando uma cola das respostas. Logo após esse episódio, Lynn encontra Pat (Teeradon Supapunpinyo), um filhinho de papai rico que propõe a ela um imenso plano onde a protagonista passaria as respostas das provas para um grande número de alunos utilizando uma maneira criativa em troca de dinheiro de todos eles. Com esse primeiro plano dando certo, Lyyn, Grace e Pat resolvem ir além e burlar um dos exames mais difíceis do mundo que dá vagas em universidades norte americanas. Só que para isso, precisarão contar com Bank (Chanon Santinatornkul), um rejeitado bolsista, tão genial quanto Lynn. Assim, o quarteto parte em busca do plano que pode mudar suas vidas para o bem ou para o mal.

O longa tem mais de duas horas de duração mas nem vemos passar o tempo. A adrenalina é absurdamente detalhista e faz com que nós, meros espectadores, não tiremos os olhos desse complexo plano. Para entender todas as ações do projeto, precisamos entender os porquês, principalmente da protagonista. Lynn, é criada com todo esforço por seu pai, não tem mãe. Tudo que conquistou veio da disciplina no estudo tendo pouco tempo para amizades. Quando percebe as dificuldades do pai mais de perto para sustentar os custos que possui isso inflama nela uma maneira de ajudar, aliando a oportunidade na hora certa mesmo ela sabendo que a punição maior será de sua consciência. Os detalhes e as angústias de Lynn durante todo o filme é muito bem mostrada pelas lentes de Poonpiriya. Uma bela atuação de sua intérprete, a jovem Chutimon Chuengcharoensukying.
Outra peça importante nesse tabuleiro é Bank, talvez o personagem que mais apresenta transformações de caráter ao longo do tempo. É nele que o plano corre o maior risco por conta de situações que o levam a aceitar fazer parte dessa trama engenhosa. Do segundo arco em diante, reviravoltas emocionantes acontecem no pré plano, na execução dele e no pós plano, deixando o público surpreso em muitos momentos.

Bad Genius é um dos fortes candidatos a conseguir estar entre os cinco finalistas ao prêmio de Melhor filme estrangeiro da academia em 2018, um filme empolgante e com um final pra lá de simbólico e surpreendente.

Loving
O casamento é o fim do romance e o começo da história. Dirigido pelo excelente cineasta Jeff Nichols (dos ótimos Midnight SpecialAmor Bandido e O AbrigoLoving fala, além de qualquer outra coisa, de maneira impactante, sobre o mais forte dos sentimentos humanos: o amor. O tom do filme é algo lindo, gera metáforas fabulosas mas sempre com uma verdade impressionante. A atuação dos protagonistas Ruth Negga e Joel Edgerton é algo inesquecível, marcante. Exibido no último Festival de Cannes, o longa possui alma e muita verdade também ao falar dos obstáculos que ambos precisam enfrentar por conta de seu casamento, numa época de muito preconceito em boa parte dos Estados Unidos.

Na trama, baseada em fatos reais e ambientado no final da década de 50 no Estado da Virgínia nos Estados Unidos, conhecemos o casal Mildred (Ruth Negga) e Richard (Joel Edgerton),  dois seres humanos apaixonados que resolvem oficializar seu amor se casando quase que secretamente em uma cerimônia bem simples. Mas as autoridades do local onde vivem começam a persegui-los, pois, por serem um homem branco e uma mulher negra, naquela época o casamento entre eles, naquela cidade, era proibido. Assim, enfrentando todo um preconceito de uma região, eles irão enfrentar a todos sempre fortalecidos pelo maior de todos os sentimentos do mundo, o amor.

Produzido por dois grandes do cinema da atualidade, o ator Colin Firth e o cineasta Martin Scorsese, Loving possui personalidade própria principalmente por conta de sua narrativa deveras lenta mas muito rica em detalhes e expressões. Jeff Nichols é um mestre em captar sentimentos e detalhes de contextos dramáticos e/ou situações complexas. Mas nesse filme seu principal papel foi dar o toque de genialidade em suas lentes para as impressionantes atuações dos protagonistas. O Richard de Joel Edgerton é comovente, com seu jeitão duro e ao mesmo tempo seu amoroso coração deixam o público impressionado com tanta empatia. A Mildred de Ruth Negga é forte, repleta de esperanças que busca todo seu refúgio nos braços do seu adorável marido. Loving entrega ao espectador uma das duas melhores atuações do ano e que deve ser lembrada na próximas lista do Oscar.


Loving ainda não tem previsão para desembarcar por aqui em nosso país. É uma linda história de amor, com grandes atuações, uma direção primorosa que fala com toda a verdade sobre a luta contra um preconceito absurdo que existia (e infelizmente ainda existe) em alguns cantos do planeta.
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10 Melhores Filmes lançados no circuito brasileiro no ano de 2017



Nós cinéfilos adoramos listas. J Todo ano olhamos nossas anotações e selecionamos os 10+ em várias categorias. Abaixo, seguem os 10+ que vi esse ano na categoria: Filmes lançados no circuito brasileiro no ano de 2017



La La Land: Cantando Estações

O futuro pertence àqueles que acreditam na beleza de seus sonhos. Filme de abertura do último Festival de Veneza ano passado, La La Land - Cantando Estações é um daqueles filmes que dificilmente sairão de nossa memória.  Falando sobre a magia de Hollywood, o impactante som do Jazz e principalmente sobre as inúmeras tentativas do ser humano em alcançar os seus sonhos mais lindos, o longa metragem, que deve ser o grande vencedor do próximo Oscar, é uma aula em como fazer o público se divertir através do olhar de protagonistas (interpretados magistralmente por Ryan Gosling e Emma Stone) que louvam o amor. O jovem cineasta Damien Chazelle (do impressionante Whiplash) mais uma vez brinda os cinéfilos com uma pequena obra prima.

Na trama, ambientada em Los Angeles, conhecemos o pianista Sebastian (Ryan Gosling), um amante do Jazz que vive buscando seu espaço em meio a mudanças constantes que a vida coloca em seu caminho. Rabugento e completamente sozinho, de maneira inusitada, acaba conhecendo a sonhadora Mia (Emma Stone), uma jovem que partiu para Los Angeles para buscar a difícil carreira de atriz mas que hoje trabalha em uma espécie de Starbucks dentro de um famoso Estúdio de gravações de filmes. Logo o amor entre os pombinhos acontece e, entre as estações do ano, precisarão compreender como é viver a vida a dois e o tamanho que o sonho de cada um tem na vida do outro.

Cidade de estrelas, você está brilhando só para mim? Em pouco mais de duas horas de projeção – que desejamos que nunca acabe – o roteiro, também assinado por Chazelle, navega na busca pelo sonho tendo um inesquecível amor que nasce de plano de fundo. Todas as fases do relacionamento entre os protagonista é decifrada de maneira nua e crua, real. Sentimos toda a dor e sofrimento, que são aliviadas, talvez, pela atmosfera musical que o filme se completa. O amor de dois sonhadores pode nem sempre terminar em um final feliz mas outras possibilidades existem e a grande cereja do bolo maravilhoso de Damien Chazelle é exatamente apresentar para nós meros cinéfilos um leque de possibilidades para esse desfecho numa sequência final que deixa a todos nós praticamente sem conseguir respirar e onde a emoção transborda até mesmo nos corações mais durões.

É este o início de algo maravilhoso e novo? Ou mais um sonho? O filme também presenteia o público com uma singela homenagem aos musicais e a uma Hollywood e sua magia que sempre fizeram parte do imaginário de todos que amam a sétima arte. A poesia do filme e todos os sentimentos expostos pelos brilhantes personagens é algo mágico, um sentimento que somente o cinema pode proporcionar, toca bem profundo em nossas emoções. A trilha sonora é digna de prêmios e adicionamento em nossas playlists para uma eternidade. As atuações são magistrais, Gosling e Stone cantam, dançam e emocionam em interpretações históricas, marcantes. 

La La Land - Cantando Estações estreia nos cinemas brasileiros na próxima semana e sem dúvidas será um grande sucesso de público. Amor, Jazz, charme, Hollywood, sonhos, escolhas. Louvando Hollywood, o filme mostra que a realidade nem sempre é como nos filmes. Esse projeto é um Oasis em nossos corações sofridos, uma chance de encararmos a realidade com muito mais leveza.


Monsieur & Madame Adelman]


Se você fosse um livro, pensaria nas melhores palavras. Debutando na direção de um longa-metragem após trabalhos como roteirista e ator, o cineasta Nicolas Bedos (também um dos protagonistas desse filme) pisa com o pé direito em sua estreia. Monsieur & Madame Adelmané contagiante, sensual, levanta polêmicas e argumentos importantes sobre inusitadas visões sobre relacionamentos, seja esse como for. Com uma trilha sonora absolutamente fantástica e um casal de protagonistas praticamente impecáveis, o longa percorre décadas de um relacionamento sem deixar de mostrar todo o contexto de um planeta que viveu muitas modificações ao longo do tempo, assim como essa linda história de amor.

Na trama, logo em seu início tem um funeral de um escritor importante no mundo da literatura francesa, por isso, um jornalista é enviado até lá para entrevistar a companheira dele de toda uma vida. Com o gravador ligado, começa essa inesquecível história, com muitas verdades e uma impactante reviravolta. Assim, conhecemos mais detalhadamente Victor (Nicolas Bedos) e Sarah (Doria Tillier) um casal apaixonado que vão viver juntos durante décadas em busca de realizações, um lar feliz, desejos profissionais sempre um dando muito apoio ao outro mesmo com todos os problemas que ocorrem. Essa saga de romance moderno (feminista com boas pitadas), começa na década de 70, onde, Sarah conhece Victor em uma decadente boate de Paris e se apaixona perdidamente. Nos meses seguintes, há o primeiro desencontro e eles voltam a se encontrar para viverem toda uma vida tendo o outro ao lado. O longa é dividido em 14 capítulos, ao longo de 120 minutos de projeção, tem uma pegada sexy, é envolvente, misturando hilários diálogos e situações inusitadas. E, talvez o melhor de tudo, um final arrebatador que deixará o público bastante surpreso.

Você se parece com você. É linda como você. Antes de mais nada, é importante frisar: Monsieur & Madame Adelman é uma história de amor. Nas idas e vindas desse casal e todos os fatos preponderantes na vida deles, principalmente os sucessos literários do romântico e complexo Victor (que escreve muitas vezes em primeira pessoa, escrevendo sobre muitos que o cercam causando certo receio e atitudes impensadas de alguns), Sarah se torna o centro dessa saga romântica pois todo oímpeto desajustado de Victor chega com impacto nas emoções da protagonista. O roteiro, longe de ser delicado, opta pela verdades de seus personagens, sem esconder uma vírgula de personalidade, erros e acertos. As viradas na trama são abruptas e chocantes onde o público fica ansioso aguardado o próximo passo desses inesquecíveis personagens. Somos testemunhas de uma autópsia cruel e árdua sobre a arte de manter um relacionamento.

O que cerca os personagens chega por meio de atitudes dos mesmos. Os altos e baixos de Victor, muito incompreendido por sua rica família se vê amado pela família de Sarah e assim fica mais seguro para seguir no relacionamento. Vemos cenas lindas de declarações ao longo desse tempo que ficam juntos, brigas também fazem parte e atitudes desesperadas/incontroladas de um jovem escritor que desafia suas angústias e sua baixo estima a todo instante mesmo tendo uma forte, fiel e companheira ao seu lado. Os desabafos de Victor com seu psicólogo ao longo do tempo são hilários e passam um verdadeiro raio-x sobre a personalidade conturbada do escritor, suas angústias e o reflexo das situações que vai vivendo refletem em uma última cena hilária com seu psicólogo mais velho no leito de um hospital. Já no último arco, na terceira idade e com a saúde de Victor debilitada podemos notar mais claramente o trabalho impressionante de maquiagem.

As ações de Sarah são preponderantes na vida do casal, ela comanda o cotidiano seja no lado profissional do marido, seja no lado familiar do casal. Com a chegada dos filhos, com tratamento oposto de Victor em relação ao primeiro filho do casal principalmente, Sarah segue firme e forte na luta por uma boa harmonia. Há uma linha de interseção entre sucesso e desastre que é bastante explorada, tornando-se um paralelo às antigas tragédias gregas que muito conhecemos. Segredos são revelados já no desfecho e assim conseguimos juntar as últimas peças que faltavam desse relacionamento que rompeu barreiras em busca de uma certa felicidade.

Lançado na França bem recentemente, em meados de março desse ano, Monsieur & Madame Adelman chega ao Brasil no próximo dia 06 de julho. Podemos considerar, já na metade de 2017, que esse belo trabalho é um dos filmes inesquecíveis que você verá esse ano nos nossos cinemas.



Como Nossos Pais


Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos ainda somos os mesmos. Falando sobre a dura rotina impossibilitada do sonhar de uma mulher perto dos quarenta anos que descobre segredos de família e precisa lidar com um casamento em declínio, Como Nossos Pais, novo trabalho da excelente cineasta Laís Bodanzky (Bicho de Sete Cabeças), é um filme que emociona e gera reflexões, aliada a uma impactante atuação da atriz Maria Ribeiro que consegue prender a atenção do público do início ao fim. A Rosa de Laís Bodanzky é tão ou mais forte que a Clara de Kleber Mendonça Filho. É lindo ver dois dos grandes filmes nacionais dos últimos anos terem protagonistas femininas tão marcantes, inesquecíveis.

Na trama, conhecemos Rosa (Maria Ribeiro) uma mulher guerreira que está em crise no casamento com seu marido Dado (Paulo Vilhena), infeliz no emprego que tem e ainda é pega de surpresa com uma notícia atordoante de sua mãe Clarisse (Clarisse Abujamra) que seu pai Homero (Jorge Mautner) na verdade não é seu pai. Essa notícia mexe bastante com a protagonista que passa por uma grande transformação ao longo de todos os 102 minutos de projeção.

Uma super heroína dos nossos tempos, Rosa, precisa conciliar seu tempo com a educação de suas filhas pequenas, tentar ajustes em seu casamento recheado de desconfiança e crise financeira, e uma perturbação inquieta para tentar se encontrar com seu verdadeiro pai que possui um alto cargo do governo. Rosa é o reflexo da força feminina nos dias de hoje. Como para todo ser humano as atitudes, chegam em forma de inconsequência, como a aproximação com o pai de um dos alunos da escola de suas filhas e as explosões em diálogos emocionantes e marcantes com sua mãe. Em uma atuação irrepreensível, Maria Ribeiro dá não só vida a personagem, a torna muito real e, assim, em nossas lembranças mais curtas podemos encontrar uma Rosa em cada esquina.

Na parede da memória, a lembrança é o quadro que dói mais. Epicentro, estopim, da virada na história e quando acontece a virada da personagem, a dúvida de ir ou não atrás do pai biológico chega ao mesmo tempo que memórias com seu pai de criação, o maluco beleza Homero (Jorge Mautner) afloram em seus pensamentos mesmo que entrando em conflito com as atitudes irresponsáveis dele na vida.

Nessa última semana estreou Mulher-Maravilha nos cinemas. Mas a história muito mais marcante, talvez a verdadeira Mulher-Maravilha, a da vida real, que troca a luta com super poderes por tentativas diárias de conseguir esticar as 24 horas do relógio e ser feliz chega aos cinemas brasileiros no final de agosto e você simplesmente não pode perder.



Cidadão Ilustre

Vencedor do prestigiado prêmio Goya esse ano na categoria melhor filme Iberoamericano e nomeado ao disputado Leão de Ouro na categoria melhor filme no Festival de Veneza do ano passado, o longa metragem argentino O Cidadão Ilustre mescla o desenrolar da reclusão às cômicas e inusitadas consequências de um retorno para o primeiro lar transformando as duas horas de projeção em momentos tragicômicos que ficarão na memória dos cinéfilos mundo a fora. Oscar Martínez, que interpreta o protagonista dessa história, merece muitos créditos pela sua bela interpretação. 

Na trama, conhecemos o recluso e porque não dizer rabugento escritor argentino Daniel Mantovani (Oscar Martínez), um senhor de idade que mora a cerca de 40 anos na Europa e ganhou recentemente o grande prêmio Nobel de Literatura. Certo dia, recebe um convite da prefeitura de sua cidade natal, Salas, na Argentina, para ser homenageado. Depois de muito pensar, acaba aceitando o convite e embarca em uma jornada alucinante onde colocará em prova tudo o que representa para os habitantes do local e alguns velhos conhecidos.

O roteiro, assinado por Andrés Duprat (do ótimo O Homem ao Lado), é cirúrgico. Consegue prender o espectador do primeiro ao último minuto. A história está longe de ser um show de simpatia dos personagens, pelo contrário, o protagonista enfrenta todo tipo de opinião sobre sua pessoa, que vão desde de um pai pedindo ajuda para seu filho deficiente (como se fosse a obrigação do escritor ajudar) até o curioso secretário ligado às artes que o persegue por conta de um veto de Daniel em um simples concurso de pintura. O filme arranha um novelão quando um antigo amor aparece mas consegue driblar qualquer dramalhão mexicano com situações para lá de engraçadas, uma em particular,ótima, envolvendo a filha de sua ex-amada.

A mudança na maneira de pensar acompanha o protagonista do segundo arco em diante quando acaba cedendo em algumas situações, muito provocado por dívidas que são criadas com seu passado. O lado emocional do famoso escritor acaba tendo uma virada, sem saber o que esperar quando chega na cidade, acaba percebendo em alguns momentos que virou alvo de seus próprios contos. No resumo de sua história, podemos afirmar que um homem percorre o mundo inteiro em busca daquilo que precisa e volta a casa para encontrá-lo: uma boa história para contar.



Paterson


Não é a altura, nem o peso, nem os pés grandes que tornam uma pessoa grande, é a sua sensibilidade sem tamanho. Depois de um hiato de três anos desde seu último trabalho, o excelente Amantes Eternos (2013), o veterano cineasta norte-americano Jim Jarmusch volta às telonas com o sensível longa Paterson. O filme, grande sucesso de crítica e público pelos lugares onde já fora exibido, como em Cannes ano passado, é uma grande jornada emocional com recheios poéticos onde atravessamos e somos testemunhas de uma alma quase solitária que busca em seu rotineiro cotidiano, sem grandes eventos, formas lindas de ver a tão pacata vida.

Na trama, com cortes que vão se segunda a segunda, conhecemos Paterson (Adam Driver), um simpático e tímido motorista de ônibus que mora na cidade onde nasceu, Paterson (sim, o nome da cidade também é Paterson), onde vive uma vida simples com sua esposa Laura (Golshifteh Farahani). O protagonista tem um hobby que é escrever poesias todos os dias, geralmente com idéias que chegam para ele pelos papos e personagens diferentes que circulam sua vida constantemente, entre uma viagem e outra.

Ainda não teve esse ano personagem tão amável quanto esse motorista que conquista todos nós por sua sensibilidade sem tamanho. Interpretado com grande maestria pelo ótimo ator californiano Adam Driver (Star Wars: O Despertar da Força), Paterson, é especial, bom amigo, um homem correto de alma sensível.  Expressa seus sentimentos através das palavras, mesmo essas não tendo som, é escutado de alguma forma pelo universo. Somos testemunhas ao longo das quase duas horas de projeção de encontros peculiares com personagens fascinantes, vendo as reações dele quando algo que estava em seu particular ganhar forma de certa maneira com situações e pessoas. Seu cotidiano é pacato, quase silencioso, e mesmo assim Paterson transforma sua vida em um lindo livro cheio de emoções e pensamentos que vão do amor às grandes forças da natureza.

Sua relação com a esposa, bastante explorada pelo roteiro, é causadora de pequenos momentos cômicos – muito por conta da excentricidade dela; seja nas pinturas preto e branco e circulares dos vestidos, das cortinas, das almofadas, seja nos dois sonhos de ser empreendedora no mercado de cupcakes e ser uma cantora country de sucesso começando com um violão (das cores que gosta) que gastou centenas de dólares comprando pela internet. A relação dos dois possui muito amor e compreensão, Paterson demonstra, às vezes, não gostar de uma coisa ou outra mas sempre elegante e carinhoso busca as melhores das palavras para encantar seu amor. Os dois vivem juntos com um lindo cachorrinho mas levada pra caramba que apronta talvez o mais terrível dos absurdos para uma alma tão sensível como a do motorista.

Paterson chega aos cinemas brasileiros no próximo mês de abril. Mais um presente de Jarmusch para todos que amam as delicadezas que encontramos na nossa forma de amar a vida. Afinal, como dizia o eterno poeta português Fernando Pessoa, o poeta é um fingidor, finge tão completamente, que chega a fingir que é dor, a dor que deveras sente.



Mulheres do Século 20


Viver é a coisa mais rara do mundo. A maioria das pessoas apenas existe. Após o tocante Toda Forma de Amor, o cineasta e roteirista californiano Mike Mills volta às telonas, seis anos depois de seu último trabalho, para apresentar ao público, provavelmente, sua grande obra prima no mundo mágico da sétima arte. Mulheres do Século 20, roteiro que emociona os corações mais durões, suas atuações acima da média um desenrolar em forma de retrospectiva que faz análises de uma cultura pop que marcou gerações e debate com muita inteligência a visão de diversas pessoas de idades diferentes sobre o tão complicado e revigorante é o simples ato de viver. 

Na trama, ambientada no final da década de 70 nos Estados Unidos, acompanhamos a complexa saga de Dorothea Fields (Annette Benning, em atuação deslumbrante) que precisa criar seu filho Jamie (Lucas Jade Zumann) sozinha e enfrenta as inúmeras transformações da fase adolescente do mesmo. Ao mesmo tempo, aluga quartos em sua casa para duas almas solitárias: a amante de fotografia, ex-moradora de Nova Iorque, Abbie (Greta Gerwig) que vem enfrentando uma doença ingrata e incertezas sobre seu futuro, e também, William (Billy Crudup) um faz tudo que teve diversos relacionamentos e vira uma espécie de faz tudo para sobreviver. Mesmo não alugando quarto, nem sendo filha de Dorothea,  Julie (Elle Fanning) é uma peça importante do quebra cabeça principalmente por sua forte relação com o filho da protagonista. Todos esses personagens passarão por diversas situações e buscarão ajuda uns nos outros para vencer todos os obstáculos sempre à procura da tão sonhada felicidade.

Adepta da ideia de que ter uma decepção amorosa é uma ótima maneira de entender melhor o mundo, revisando suas ações todos os dias sem largar seu hábito de fumar, usando papete (uma sandália estilo antigo) porque é uma contemporânea, nunca namorando o mesmo homem por muito tempo , a incrível protagonista deste belíssimo trabalho, Dorothea, debutando a maternidade já na casa dos 40, busca a cada ano que passa entender melhor seu filho adolescente. As situações que passa são inúmeras: a cena punk da década já mencionada, suas visões e ações sobre o tão falado feminismo, a política e suas posições. Passa por uma transformação quase radical quando resolve adotar a todos que circulam sua casa na criação de seu meu amor no mundo. Dorothea é uma mulher forte, de atitude e ao longo das quase duas horas de projeção vamos vendo ela se reinventando e redescobrindo sonhos perdidos. Uma super heroína da maternidade, uma mulher à frente de seu tempo. 

Como complemento à saga da personagem principal, vemos um olhar perdido mas muito inteligente de Abbie que adiciona diversas lições a essa história. Correndo pela beirada e sem muito destaques mas com muitos momentos em fortes e emocionantes diálogos com os que os cercam, William, um homem gentil que tenta a cada dia entender melhor as mulheres. Talvez uma das peças mais complexas nesse quebra cabeça sobre a vida, Julie, que possue uma forte ligação com a família da protagonista mas que em sua própria casa se sente distante, invadindo o quarto de Jamie quase todas as noites, onde se sente bem e feliz com a simples amizade (na visão dela). Já Jamie é cercado de todas essas histórias com alguma experiência, vive meses de grandes descobertas buscando marcar seu lugar no mundo. 

O filme, que estreia no final de março no circuito exibidor brasileiro e foi absurdamente esquecido em várias categorias do Oscar deste ano, é uma grande lição de vida, apresenta mais argumentos aos debates sobre o feminismo tudo isso e mais um pouco reunidos em um roteiro sublime que nunca deixa suas lacunas sem argumentos convincentes. Sem dúvidas, esse trabalho é um daqueles que não serão esquecidos facilmente pelos milhares de corações que ficarão emocionados com essa linda história. Resumindo, o coração cinéfilo sempre fala mais alto sobre qualquer premiação.


Toni Erdmann


Sábio é o pai que conhece o seu próprio filho. Depois de um hiato de sete anos na direção de um longa-metragem, a cineasta alemã Maren Ade volta à telona em grande estilo com a hilária e doce dramédia Toni Erdmann. Contando a história de um pai cheio de impulsos cômicos na busca constante pela atenção de sua sisuda filha, o projeto, indicado a muitos prêmios internacionais e um dos favoritos para ganhar o próximo Oscar de Melhor filme Estrangeiro é um daqueles filmes imensos (2 horas e 40 de projeção) mas que não desejamos que acabe nunca, sempre à espera da próxima gracinha que Toni Erdmann vai aprontar.

Na trama, acompanhamos a árdua saga de Winfried Conradi (Peter Simonischek), um dedicado pai que muito se entristece com o distanciamento na relação com sua única filha Ines (Sandra Hüller), essa última, uma jovem em ascensão na empresa onde trabalha o que a transforma em uma Workholic sem limites. O problema é que Ines trabalha demais e pouco tempo de sua agenda é dedicada à sua família. Quando o o cachorrinho de Winfried morre, ele decide encarar o desafio de ter mais atenção de sua filha e para isso, entre outras coisas, viaja para vê-la quando ela está a trabalho e desenvolve um personagem, um Alter ego de nome Toni Erdmann. Não é preciso nem dizer as inúmeras e hilárias que esses dois vão se meter ao longo desse complexo processo de melhoramento na relação pai e filha.

Escolhido o Melhor Filme Estrangeiro de 2016 pelos críticos de Nova York, um dos sinais de sua provável indicação ao próximo Oscar, Toni Erdmann navega pelo humor para mostrar o cotidiano de um relacionamento conturbado entre pai e filha. De personalidades completamente diferentes, os dois embarcam em uma jornada basicamente de auto descoberta. Aos poucos, após uma quantidade absurda de insistência, Ines vai conseguindo se reconectar com seu pai, o que provoca uma cena de desfecho para lá de emblemática. Mesmo tendo quase três horas de duração o que dificulta sua entrada no circuito de cinema brasileiros, talvez um dos pontos para nenhuma distribuidora ter ainda comprado os direitos no filme no Brasil, o filme é uma delícia de assistir e essas horas passam voando.

 O foco no primeiro arco é a personalidade forte de Ines em paralelo as trapalhadas e atos incompreendidos de Winfried. Tudo começa a fazer mais sentido, praticamente a virada na trama, quando chega o Sr. Toni Erdmann, com sua peruca para lá de chamativa e dentes falsos para lá de explícitos. Esse Alter Ego transforma demais a visão de Ines sobre a personalidade cativante de seu pai. Assim, o longa-metragem cresce demais em emoção, o inusitado começa a ter sentido e fica num tom cômico na medida conforme as antes constrangedoras agora com sentido situações. Toni Erdmann, rouba a cena, transforma o mais difícil dos conflitos paternos em uma aula de amor e afeto.


O filme, que não tem previsão de estrear no Brasil, ainda é forte concorrente a alguns prêmios esse ano. Merece todos os prêmios, da direção ao roteiro e atuações, a produção joga por música, mexe com nossas emoções e transforma esse filme de quase três horas em algo obrigatório para todos que amam o bom cinema. Bravo!

Dunkirk
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