26/06/2016

Crítica do filme: 'Uma Repórter em Apuros'



Quem sabe, muitas vezes não diz. E quem diz muitas vezes não sabe. O negócio é apurar. Dirigido pela dupla Glenn Ficarra e John Requa (ambos diretores do fraquíssimo Golpe Duplo), Uma Repórter em Apuros é baseado no livro The Taliban Shuffle, de Kim Barker. Até agora não dá pra saber se eles queriam fazer uma comédia meio sem noção, um drama cômico ou algo parecido com isso. O importante é que o filme tem uma consistência, tanto em roteiro quanto em direção e atuações que transformam esse projeto em uma grata surpresa. Óbvio que a ideia a princípio era aproveitar a veia cômica de Tina Fey (protagonista do filme) mas ao longo da projeção, que fala sobre um tema bem polêmico na área política norte americana, o filme ganha contornos emocionantes. 

Na trama, conhecemos a solitária Kim Baker (Tina Fey), uma editora que nunca teve nas frentes das câmeras e na necessidade de sua emissora de enviar alguém para cobrir a guerra no Afeganistão, acaba topando o desafio e embarca com sua chamativa mala para frente do conflito. Chegando lá, enfrenta muitas dificuldades que vão do alojamento precário da imprensa até um certo tipo de preconceito por ser uma das poucas mulheres cobrindo esse conflito. Mas aos poucos, Kim vai mostrando seu valor e conseguindo histórias muito interessantes que cercam esse conflito. 

Em um lugar onde até pessoas experiências tomam decisões erradas, Kim embarca em sua jornada tendo sempre como guarda costas Fahim Ahmadzai. Assim, o filme vai navegando em assuntos complicados como a relação da imprensa com personagens da zona de conflito, histórias emocionantes de militares norte americanos e a própria relação entre os repórteres de muitos países cada um mostrando ao seu público sua visão da guerra. Os diálogos entre os repórteres são excelentes. Contornam a trajetória de Kim, a jornalista Tanya Vanderpoel (interpretada pela beldade Margot Robbie), o hilário fotógrafo escocês Iain MacKelpie (Martin Freeman, em uma atuação pra lá de especial) e um caricato influente da região Ali Massoud Sadiq (Alfred Molina em uma de suas melhores atuações dos últimos tempos). 

Seria um absurdo dizer que o filme pega leve com o tema proposto. Tenta sair da superfície em diversos momentos, a protagonista tem muita empatia e isso ajuda muito. Quando o longa começa, parece que vamos ver um Borat de saias ou algo tipo mas aos poucos as peças vão se encaixando e a solidez do roteiro vira um alicerce importante para que o ritmo da trama não se perca. Uma Repórter em Apuros deve estrear em breve nos cinemas brasileiros e vale a pena dar uma conferida.
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Crítica do filme: 'X-Men: Apocalipse'



A amizade destaca a confiança, união de pensamentos e a esperança. Dirigido pelo nova iorquino Bryan Singer, o mesmo que dirigiu o filme anterior da sequência (X-Men: Dias de um Futuro Esquecido), X-Men: Apocalipse é um daqueles filmes de transição de uma grande história. Protagonizado mais uma vez por Jennifer Lawrence e companhia, a Equipe comandada pelo emblemático Professor Xavier (James McAvoy) mais uma vez volta a campo para lutar pelo bem estar na terra. O foco da trama é a ação. Nesse quesito, Singer comanda um show a parte. As cenas conseguem destacar todos os mutantes igualmente e todo mundo tem a chance de mostrar para o espectador seus poderes. 

Ambientado na década de 80, e contando um ponto mais profundamente a origem dos conhecidos mutantes do bem comandados pelo mestre cerebral Charles Xavier, X-Men: Apocalipse se passa alguns meses após os acontecimentos do último filme da franquia X-Men: Dias de um Futuro Esquecido. Com a chegada de Kurt Wagner (Kodi Smit-McPhee, do remake Deixe-me Entrar- 2010) como Noturno, Scott Summers, o Cyclop (Tye Sheridan) e o retorno de Mística (Jennifer Lawrence) os comandados de Xavier dessa vez precisarão enfrentar o poderoso Apocalipse (Oscar Isaac) e seus poderosos mutantes recrutas com destaques para o velho conhecido Erik Lehnsherr, o Magneto (Michael Fassbender) e a jovem Tempestade (Alexandra Shipp). 

Um dos pontos centrais da trama gira um pouco em torno da jovem Jean Grey, seu desenvolvimento e aperfeiçoamento dos poderes, até certo ponto, de maneira superficial é fundamental para as principais ações dentro da história, quando pensamos em elo. A jovem atriz britânica Sophie Turner, a Sansa Stark do seriado Game of Thrones, ganhou o papel para interpretar essa jovem mutante. Mais uma vez, Wolverine (Hugh Jackman) aparece de relâmpago e rouba todas as atenções em poucos minutos. O vilão, interpretado por Oscar Isaac, pouco adiciona e nem de longe é interessante o bastante para ter alguma relevância em nossa memória cinéfila. A cena que rouba completamente a atenção do pública é o resgate heroico de Noturno (Evan Peters), filho de Magneto. Essa sequência vale o ingresso. 

A questão política envolvendo os aparecimentos dos mutantes e o convívio dos mesmos com os humanos é feita de maneira bem na superfície, talvez pelo roteiro não conseguir ter força nesse sentido ou algum personagem nessa subtrama da história conseguir se destacar. Os meros esforços da história é tentar, dentro desse contexto, criar algum elo entre a ira e preconceito sofrido por Magneto. 

X-Men: Apocalipse não é nem de longe um dos melhores de super heróis feitos nos últimos anos mas possui uma trama em alguns momentos interessantes e boas cenas de ação.
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25/06/2016

Crítica do filme: 'Demolição (Demolition)'

Quase sempre é preciso um golpe de loucura para se construir um destino. Dirigido pelo ótimo cineasta canadense Jean-Marc Vallée (Clube de Compras Dallas, Livre) e com um excepcional roteiro escrito por Bryan Sipe, Demolição (Demolition) é com certeza uma das gratas surpresas deste ano. Falando sobre a solidão e a perda, o longa metragem estrelado pelo excelente ator Jake Gyllenhaal não deixa de ser uma viagem nas nossas emoções mais profundas e uma lição de que a vida é uma eterna caixinhas de surpresas. A trilha sonora é arrepiante, os arcos do roteiro são milimetricamente bem executados e nada, absolutamente nada é, deixado na superfície, as emoções acabam ganhando forma concretas em forma de metáforas que nos fazem refletir a cada cena.

Na trama, conhecemos o banqueiro bem sucedido Davis (Jake Gyllenhaal), um homem perto dos 40 anos que possui uma pacata vida ao lado de sua esposa que é filha de seu chefe. Após um terrível acidente de carro, Davis fica viúvo e a partir daí sua vida ganha um novo sentido, mesmo não sabendo como lidar com essa perda, e ele precisará passar por uma auto descoberta e começa a prestar mais atenção no mundo ao seu redor. Assim, acaba, inusitadamente, conhecendo Karen (Naomi Watts), uma solitária e mãe solteira atendente de um SAC de Vending machines. Juntos passarão dias se redescobrindo, quase um tratamento de como redescobrir o simples ato de viver.

O grande destaque da produção é o roteiro. Muito complexo e com diálogos inesquecíveis, cria uma originalidade para o gênero drama no mais alto nível. Sentamos na cadeira do cinema e embarcamos direto nas emoções do protagonista, uma difícil construção feita por Gyllenhaal, que exala simpatia do início ao fim da projeção. A relação dele com o sogro (interpretado pelo sempre ótimo Chris Cooper) - seus altos e baixos - as descobertas feitas sobre sua esposa que são uma conseqüência do relacionamento que tinham, a inusitada ação do destino que por meio de uma reclamação - que mais parece uma fuga para o momento que vive - faz entrar em sua vida uma mulher admirável, solitária quase um  alter ego, um ‘outro eu’ que Davis nunca imaginara que existia.


O desfecho é emblemático e faz muito sentido. Davis é um eterno paciente em busca de respostas sobre quem ele realmente é, um cidadão comum, um pouco solitário que também busca saber as razões de sua evidente solidão.  Ele entra em uma fase de loucura (daí a ideia do título provavelmente) que nada mais é que uma proteção anônima de seus sentimentos, que quando são encontrados fazem a vida ter um pouco mais de sentido. Demolição (Demolition) estreia no circuito brasileiro dia 04 de agosto e promete fazer bastante sucesso com o público. 
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23/06/2016

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Crítica do filme: 'A Comunidade (Kollektivet)'

Família! Família! Papai, mamãe, titia, Família! Família! Almoça junto todo dia, nunca perde essa mania. O novo filme do excepcional cineasta dinamarquês e criador do movimento Dogma 95 Thomas Vinterberg é um trabalho que fala sobre o sentimento forte da ideologia de mudança nas relações. Ambientado na década de 70 e cheio de assuntos a serem explorados, como a ‘política’ dos relacionamentos e as novas ideologias frutos de pensamentos inovadores sobre uma sociedade que está em constante crise, o longa-metragem transporta o espectador para uma viagem muito diferente sobre o ser humano e suas constantes ideias mirabolantes. Somos brindados também por uma atuação maravilhosa dos atores dinamarqueses Trine Dyrholm e Ulrich Thomsen, ambos que aturam no inesquecível clássico de Vinterberg, Festa em Família.

Na trama, conhecemos o professor de arquitetura Erik (Ulrich Thomsen) e sua esposa, a apresentadora de televisão Anna (Trine Dyrholm) que está se mudando para um enorme casarão com sua filha Freja (Martha Sofie Wallstrøm Hansen). Adeptos de idéias inovadoras e pensando que poderiam melhor seu cotidiano, a família resolve chamar amigos e conhecidos para morarem com eles, formando uma espécie de comunidade, assim dividem as despesas e passam a ter uma grande reunião diária, seja no almoço, seja no jantar. Porém, ao longo do tempo, Erik começa a se distanciar de Anna e acaba se apaixonando pela estudante Emma (Helene Reingaard Neumann) e para piorar os moradores da casa concordam em deixar a jovem morar com eles fazendo com que Anna tenha sua vida destruída em poucos dias.

Vinterberg é muito objetivo em focar no tema central de sua história (o roteiro foi escrito pelo diretor e por Tobias Lindholm – esse último teve seu último filme, como diretor, indicado ao Oscar deste ano, Krigen). Por mais que tenhamos muitos personagens entrando e saindo das cenas, a trama que se desenvolve passa mesmo pelo triângulo amoroso instaurado e uma história quase que paralela sobre o desenvolvimento da juventude da filha de Erik e Anna, Freja. Essa última, possui um olhar muito delicado e emocionado sobre o desenrolar dos fatos que acontecem com seus pais, é quase que um ponto de equilíbrio do casal, ela percebe tudo, ela vê tudo mas ainda possui uma imaturidade para lidar com tanta informação.

Uma coisa que se torna um pouco difícil durante as quase duas horas de duração do longa é determinar todos os reais motivos da criação dessa comunidade. Um fato forte e batido muitas vezes nos diálogos de Erik é a questão financeira mas não é só isso, ou talvez essa seja somente a visão dele. Em Anna, por outro lado, percebemos uma objetiva vontade de agregar valores ao cotidiano do casal mas logo percebe que a mais prejudicada nessa ideia foi a mesma.  


Com lançamento previsto para agosto deste ano nos cinemas brasileiros, A Comunidade (como deve ser mesmo chamado por aqui o filme), é um projeto que nos faz pensar sobre a sociedade e os impactos familiares que possamos ter quando deixamos de acreditar na união. Família êh! Família ah! Família! Família êh! Família ah! Família!
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Crítica do filme: 'Life - Um Retrato de James Dean'

Em vez de dinheiro e fama, me dê a verdade. Dirigido pelo cineasta holandês Anton Corbijn (do excelente O Homem Mais Procurado), Life - Um Retrato de James Dean é um longa metragem com ótimas atuações, um roteiro muito competente, além de uma trilha sonora pra lá de interessante. Ao longo dos 111 minutos de projeção, somos testemunhas de um recorte emblemático do início da trajetória do rebelde James Dean na indústria do cinema. No caminho para ser uma estrela de primeira grandeza, Jimmy (como era chamado por muitos), tem que saber jogar o jogo da indústria cinematográfica e principalmente do todo poderoso Jack Warner (Ben Kingsley).

Na trama, baseada em fatos reais e ambientado em meados da década de 50, conhecemos o jovem fotógrafo Dennis Stock (Robert Pattinson), que entre as revistas que o publicam está a badalada Revista Life. Durante uma festa de figurões da indústria hollywoodiana, conhece o jovem e promissor ator James Dean (Dane DeHaan) que na época ainda não tinha estourado para o estrelato e estava em um relacionamento atrapalhado com a bela atriz italiana Pier Angeli (interpretado pela igualmente bela Alessandra Mastronardi). Se aproximando aos poucos do futuro grande astro, Dennis resolve apostar suas fichas em um ensaio fotográfico com Dean que seria um dos marcos na trajetória deste astro.

No auge de uma Hollywood entupida de sucessos – o filme não vai a fundo para mostrar as intensas lacunas desta indústria, se propõe a explorar seus personagens relacionados ao contexto da época - aos poucos vamos conhecendo um pouco da rotina de Dennis e Dean, o primeiro, esse fotógrafo corajoso que apostou todas as suas fichas na ascensão de Dean. O segundo, tímido, rebelde, desajeitado e totalmente vivendo em seu próprio mundo. O que mais deixa interessante essa história é o raio-x emocional desse combate a reclusão e o desabrochar de uma personalidade única que nas lentes de Stock possui muita vitalidade, Inteligência e simplicidade. O projeto toca também no conflito sobre o destino. Há um medo de ambas as partes em se arriscarem pela profissão. Um talvez pelas incertezas e dramas familiares, o outro por algumas peculiaridades bem distantes dos grandes astros de Hollywood.


Life - Um Retrato de James Dean estreia no Brasil no dia 21 de julho e promete agradar não só aos fãs de Dean mas a todos que gostam de uma boa história. 
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21/06/2016

Crítica do filme: 'Bessie'



A emoção do blues não é questão de você ser conhecido, é questão de você conhecer as pessoas para quem está cantando. Dirigido pela cineasta Dee Rees, Bessie, lançado diretamente na Televisão, conta a história de uma das grandes divas do Blues. Com uma atuação de gala da atriz norte-americana Queen Latifah, o longa metragem mostra a ascensão meteórica e a queda fulminante de uma das grandes cantoras que o mundo já viu. Produzido pela HBO, esse projeto conta com muita sabedoria grande parte da história da música nas décadas de 20 e 30. A trilha sonora é um arraso, nos transportam para uma época emblemática na música norte-americana. 

Na trama, conhecemos Bessie Smith (Queen Latifah), um furacão, um ego enorme e uma energia carismática que conquistava plateias por onde passava. Bessie teve uma infância pobre e lutou muito para chegar aonde chegou. Após romper com sua mestre Ma Rainey (mais um show de interpretação da impactante Mo'Nique), Bessie vai em busca de criar seu próprio show. Nas longas ferrovias que interligavam os Estados Unidos, a imperatriz dos blues segue sua trajetória de sucesso, porém, possui lembranças que ainda a assombram. 

Aquele som do trompete, aqueles leves toques no piano, as poderosas vozes de uma época que não voltará mais. Sempre ao lado de seu irmão e fiel escudeiro, Bessie criava canções maravilhosas, além de um carisma impactante nos palcos que se apresentava. Há um grande desenvolvimento da personagem ao longo do filme, antes tímida e sem coragem para se arriscar, se torna praticamente uma mulher de negócios produzindo com muita eficácia seus próprios shows. O filme mostra bem as difíceis negociações com os donos dos teatros na época que não valorizavam os artistas negros.

Seus muitos amores não são esquecidos, a bissexualidade forte e intensa de Bessie fica evidente ao longo das quase 2 horas desse belo longa metragem. O preconceito também é explorado ao longo dessa história, numa época onde a Ku Klux Klan perseguia negros intensamente, Bessie chegou até ao confronto físico, vias de fato, expulsando-os de uma tentativa de acabar com um de seus lotados shows.

Bessie infelizmente não chegará aos cinemas brasileiros, quem tem HBO poderá conferir este belo trabalho na programação. Em uma época distante aos nossos olhos, Bessie revolucionou a indústria fonográfica e a maneira como administrar o seu próprio talento. Vale a pena conferir!
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19/06/2016

Crítica do filme: 'L’attesa'



Como lidar com a dor e as com as consequências oriundas da mesma? Falando sobre a perda em uma escala intensa e com direito a um ritual de passagem do luto instaurado, o longa-metragem italiano L’attesa é filme denso que requer a atenção e paciência do espectador. Há um sofrimento evidente nos silenciosos primeiros minutos de projeção, além de uma metáfora quase que indecifrável em muitas das sequências desta obra. Um tom fúnebre percorre todos os 95 minutos de projeção que fica mais compreensível e deixa a perplexidade tomar conta dos sentimentos pelas atitudes inconsequentes de uma das protagonistas, interpretada pela estonteante atriz francesa Juliette Binoche.

Na trama, acompanhamos a chegada da jovem e bela Jeanne (Lou de Laâge, a nova musa do cinema francês) a um casarão no interior da região de Sicilia. Chegando lá, a francesa se depara com uma reunião de luto e fica angustiada para encontrar com Anna (Juliette Binoche), dona da casa e mãe de seu namorado Giuseppe. Assim, percebemos que Jeanne saiu da França e chegou na Itália para encontrar seu namorado. No aguardo da chegada de Giuseppe, as duas mulheres, de duas gerações completamente diferentes, vão criando um pequeno laço maternal até as descobertas de alguns segredos que vamos sabendo aos poucos.

A abertura do filme, em forma de raio-x de bagagens de aeroporto já traça o primeiro paralelo com a trama em si. Somos convidados pelo diretor de primeira viagem em longas-metragens, o italiano Piero Messina, a uma viagem rumo ao universo enigmático das emoções e como as reações que tomamos, ou que não conseguimos tomar, nesses momentos acarretam uma infinidade de consequência para as pessoas ao redor. Falar que Juliette Binoche é uma excelente atriz é redundante mas nesse filme ela praticamente louva o público com uma Masterclass de atuação. Impecável. Perdida na própria solidão, sua personagem Anna é o espelho da amargura como se não tivesse mais forças para acreditar em dias melhores. Tudo muda com a chegada de Jeanne que revitaliza nela a presença do filho distante que tanto ama. Por meio de uma mentira escancarada, somos testemunhas, se projeta rumo ao desabrochar de seu estado de luto sem pensar em consequências pelos seus atos.

Na outra ponta do Iceberg, Jeanne. Durante os dias de estadias na casa de Anna, percebemos um amadurecimento da jovem, seus olhos azuis não querendo enxergar o que seria evidente para muitos projeta um ar de ingenuidade e ao mesmo tempo de querer embarcar em um espírito de liberdade. Mesclando uma sensualidade delicada e momentos de intensa reflexão, Lou de Laâge é a companheira de cena perfeita para a professora Binoche. 

L’attesa estreou na Itália dia 17 de setembro do ano passado, após desfilar sua forte trama por vários festivais importantes mundo a fora. Na Brasil, já foi comprado por uma distribuidora e em breve deve estar brindando os cinéfilos nas grandes telas das melhores salas do Brasil. Belo filme, não percam.
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Crítica do filme: 'Irmão de Espião'



Bobeira é não viver a realidade. Depois de alguns papéis um pouco mais sérios, em produções hollywoodianas, o humorista britânico Sacha Baron Cohen volta ao seu lar: o das comédias sem noção que gostam de gerar polêmica atrás de polêmica.  Irmão de Espião (Grimsby), sem previsão de estreia nos cinemas daqui, é um longa-metragem politicamente incorreto que envolve espionagem, ação e comédia. Dessa vez, dirigido pelo francês Louis Leterrier (Truque de Mestre) e contando com um elenco de peso com nomes como Mark Strong e Penelope Cruz, o Sr. Cohen usa e abusa de sua maneira de contar histórias, dessa vez com direito até a piadinha sem noção com o intérprete do Harry Potter. Mas uma vez está provado que Sacha possui seu próprio universo e você vai amá-lo ou odiá-lo. 

Na trama, conhecemos o agente especial do MI6 Sebastian (Mark Strong), um espião que se vê metido dentro de uma conspiração que planeja um assassinato e acaba sendo acusado por um crime que não cometeu. Assim, acaba reencontrando seu irmão Nobby (Sacha Baron Cohen), um fanático por futebol inglês que possui muitos filhos e vive em uma cidade longe do grande centro. Juntos, eles vão redescobrir memórias e traçar um plano para livrar Sebastian de todas as acusações. Mas para isso acabam se metendo em situações constrangedoras como ficar no meio de um sexo entre elefantes.

O filme é totalmente sem noção, como já esperávamos. Você até consegue rir de algumas cenas mas percebe-se um exagero além, o longa tá longe de ter a essência de Borat. Em uma das cenas mais constrangedoras, lembramos da letra dos inesquecíveis mamonas assassinas: ‘Os animal, tem uns bicho interessante. Imagine o tamanho que é o pinto de um elefante’. Nessa sequência, a mais maluca do filme com toda certeza, onde os personagens, fugindo de assassinos que os perseguiam, acabam se escondendo dentro de uma elefanta e de repente começa um sexo entre elefantes. O mais inacreditável é como um ator como Mark Strong aceitou esse papel.

Talvez a alma do negócio talvez seja não levar o filme muito a sério. Na tentativa de criar um universo 007 diferente, Sasha (um dos que também assinam o roteiro) não consegue criar uma receita de sucesso. Embarcar em suas ideias, ainda mais nos dias atuais, está cada vez mais difícil.
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