30/07/2017

Crítica do filme: 'Que Dios nos Perdone'

A razão e a inconsequência. A inconsequência e a razão. Indicado em categorias importante no último prêmio Goya, Que Dios nos Perdone (sem previsão de estreia no Brasil) é instigante, investigativo e que detalha as feridas emocionais dos personagens captadas pelas lentes inteligentes de Rodrigo Sorogoyen, diretor do longa. Ao longo de um pouco mais de duas horas de projeção, somos envolvidos em um thriller alucinante com grandes atuações onde cada peça do quebra cabeça vai aparecendo aos poucos em meio aos conflitos morais e psicológicos dos investigadores de casos de assassinatos interligados.  

Na trama, conhecemos os investigadores da divisão de homicídio da polícia espanhola Velarde (Antonio de La Torre) e Alfaro (Roberto Álamo), uma dupla totalmente diferente em relação a personalidade que precisam buscar a prisão de um serial killer de idosas em meio a chegada do papa bento XVI na Espanha. Lutando contra seus próprios demônios internos, por conta de suas personalidades distantes, os policiais entrarão em um caminho praticamente sem volta onde a obsessão e a inconsequência farão parte de sua rotina.

A dupla de investigadores é totalmente oposta mas que se completam. Velarde (Antonio de la Torre) é minucioso, sofre com o preconceito de uma gagueira, nunca deixa de ser objetivo e busca realizar seu trabalho com todos os elementos investigativos que um bom policial precisa ter. Alfaro (Roberto Álamo) é inconsequente, bruto, violento que se coloca em situações agressivas a todo instante e sofre as consequências de seu temperamento diariamente. Um sendo a força o outro a razão, precisam trabalhar em conjunto para buscar um serial killer que violenta idosas em um bairro na Espanha.

Os personagens são intrigantes, se veem como vilões em suas vidas pessoais, imperfeitos como muitos, conseguem reunir peças de uma quebra cabeça envolvente focando na busca de um assassino misterioso, implacável e perigoso. Durante essa busca, precisam convencer o chefe do departamento a classificar as mortes que acontecem como assassinatos de uma mesma pessoa mas isso entra em conflito com a chegada do novo papa o que deixaria em pânico os inúmeros visitantes que estão na Espanha. Como não possuem bom relacionamento com todo o corpo de policiais de sua divisão, entram em conflito a todo instante. O estopim da obsessividade chega por uma traição à Alfaro e um conflito amoroso de Velarde, transformando os minutos finais do filme em pura adrenalina.


Que Dios nos Perdone é um grande achado, um longa com direção competente e atuações acima da média juntamente com um roteiro intrigante que esgota até a última linha para detalhar seus personagens e seus conflitos. O cinema espanhol sempre nos proporciona coisas boas quando procuramos minuciosamente nos inúmeros lançamentos dessa escola europeia fantástica ano pós ano. 
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Crítica do filme: 'O Estranho que Nós Amamos'

As tensões das emoções guardadas e suas erupções abruptas nas tomadas de decisão. Ganhadora do prêmio de melhor diretora no último Festival de Cannes por este trabalho, a cineasta norte americana Sofia Coppola (dos ótimos As Virgens Suicidas e Encontros e Desencontros) volta para atrás das câmeras após o polêmico Bling Ring: A Gangue de Hollywood para mostrar ao público uma história de época, já filmada pelo grande Don Siegel na década de 70 (e estrelada por Clint Eastwood), que fala sobre a tentação em muitas escalas explorada por um profundo isolamento social em época de guerra.

Na trama, ambientada durante a Guerra Civil Americana, durante uma caminhada próxima ao portão de onde mora, uma das moças de uma espécie de um internato feminino encontra um soldado da União chamado McBurney (Colin Farrell) que está ferido e à beira da morte. Querendo ajudar, a moça leva o soldado para o internato comandado por Miss Martha (Nicole Kidman) onde recebe todos os cuidados para sua breve recuperação. Durante sua estadia, nessa casa repleta de mulheres que vivem isoladas em tempo de guerra, uma grande tensão em muitos campos vai acontecendo aos poucos e também o medo de estarem ajudando um soldado da União, ele vai se tornando o grande centro das atenções.  

A direção é impecável. Coppola consegue captar as emoções e os conflitos internos, fruto da reclusão das jovens, de maneira inteligente e objetiva. Durante boa parte do filme, suas lentes passeiam pelo internato onde se passam a maioria das cenas, nos sentimos dentro daquela casa a todo instante. O clima de tensão que cresce a cada nova virada na trama ajuda a deixar o espectador com os olhos grudados na telona teorizando sobre como a consequência das ações feitas pelos personagens terão o seu final.

O roteiro baseado no filme de Don Diegel já comentado e na obra homônima de Thomas Cullinan acompanha o brilhantismo da direção em muitos momentos, mesmo não sendo impecável. Ao longo dos 93 minutos, bastante objetivos, explora a temática da tensão sexual que acaba surgindo de maneira detalhista e até certo ponto delicada, contando com atuações seguras, principalmente de Kirsten Dunst com sua enigmática Edwina e Nicole Kidman na pele da exigente, protetora, Martha.


Longe de ser algo Jane Austen de ser, principalmente com suas viradas interessantes que transformam um drama em quase um suspense com um final emblemático, O Estranho que Nós Amamos apresenta uma trama envolvente, com tons feministas e uma grande diretora inspirada. 
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29/07/2017

Crítica do filme: 'Real - O Plano Por Trás da História'

Money, Money, Money , Money. Plano real, bastidores da política brasileira de governos confusos passados, ritmo alucinante, as verdades ou não. Real - O Plano Por Trás da História, filme bastante polêmico que estreou no circuito brasileiro de exibição faz poucas semanas, chegou recheado de pedras lançadas por muitos por conta do momento de turbulência política que se encontra nosso amado país nos dias atuais. Falando de cinema, o longa metragem dirigido pelo cineasta Rodrigo Bittencourt, opta por dar evidência a um dos maiores economistas que o Brasil já viu, mesmo esse não sendo figura totalmente central (era mais um integrante da equipe) nos fatos ocorridos na realidade. O roteiro possui inflexões ligadas ao ritmo alucinante imposto.  Como um repórter apressado em busca de soltar uma notícia antes de apurar, para não deixar dúvidas, com um grande pente fino no que houve, o filme deixa brechas não preenchidas e principalmente argumentos superficiais.  

Na trama, conhecemos o personagem principal do filme, o famoso e competente economista Gustavo Franco (Emílio Orciollo Netto) que, no início da década de 90 durante o governo de Itamar Franco e após uma sequência de tentativas de planos econômicos confusos que acabaram atrasando demais o desenvolvimento econômico brasileiro chegando ao caos da hiperinflação, é selecionado para fazer parte de um mutirão de economistas renomados com uma única missão: criar uma nova moeda que se transformou no plano real usado até hoje. Ao longo de dias tensos, repletos de discussões e estratégias políticas o grupo precisará encontrar uma solução complicada e mostrá-la ao povo brasileiro, usando o dia após a data da final da copa do mundo vencida pelo Brasil em 1994.

Talvez, para deixar o enredo com mais cara de filme (na visão dos seus idealizadores), muitas coisas foram adicionadas à trama e que fogem da referência da obra 3.000 dias no bunker, de Guilherme Fiúza (de acordo com muitos, bastante fiel aos fatos que aconteceram de fato), de onde o roteiro fora inspirado. Um discurso acalorado do protagonista em cima de um caminhão de som em Brasília e um relacionamento amoroso complicado com a namorada são pelo menos dois fatos que podemos adicionar ao campo da invenção. Ao dar ênfase ao momento econômico histórico de nosso país, o filme procura preencher lacunas com muitos personagens (alguns caricatos como o petista interpretado por Juliano Cazarre) e algumas subtramas desnecessárias se afastando em alguns momentos do seu objetivo principal: mostrar o processo da criação do plano e deixar poucas dúvidas.


Real - O Plano Por Trás da História passou como uma flecha pelo circuito. Seria interessante saber o que os representados acharam do resultado. Tudo é muito corrido no roteiro, tentando buscar construir uma estrada para o caminhão das suposições passar.  
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23/07/2017

Crítica do filme: 'A Luta de Steve'

O amor nos faz viver, aprender e ter forças para os que nós amamos. Chegou aos cinemas brasileiros na última semana, um daqueles filmes emocionantes que contam a história de um pai, um herói, um atleta e um marido em forma de documentário. A Luta de Steve, Gleason no original, conta a história do ex-jogador de futebol americano da NFL Steve Gleason, um homem responsável por uma das jogadas mais marcantes da história desse jogo (que vem crescendo em audiência ano após ano no Brasil) e que ao se aposentar enfrenta um gigantesco drama por conta de uma doença ingrata. Ao longo de quase duas horas de filme, é impossível não se emocionar, e impossível não olhar para Steve e ver um exemplo do querer viver.

Nesse belíssimo documentário, somos apresentados ao personagem título, Steve Gleason, que aos 34 anos de idade e já aposentado de sua profissional de atleta de futebol americano do querido time New Orleans Saints, é diagnosticado com esclerose lateral amiotrófica, uma doença neuro degenerativa. Os médicos a princípio lhe deram poucos anos de vida, pois essa doença terrível vai tirando os movimentos do corpo aos poucos além de graves outros problemas pelo organismo. Dias após saber de sua doença, Steve descobre que vai ser pai e tem a ideia de fazer uma série de vídeos para seu filho além de criar uma grande iniciativa para tentar ajudar a outras pessoas com a mesma doença.
Uma grande lição de vida. Não temos como não definir dessa maneira esse lindo documentário. 

Alguns acharão exagerados, forte, mas essa é a realidade que Steve precisa conviver na realidade todos os dias. Com um enorme e inacreditável força para viver, o protagonista dessa linda história vai aos poucos se adaptando as suas novas rotinas conforme vai perdendo os movimentos de seu corpo. Os vídeos que faz para o filho acaba preenchendo lacunas de sua personalidade divertida e transparece um gigantesco amor e expectativa que tem pela chegada de seu filhão tão amado.

Os dramas com o restante de sua família não são deixados de lado. Cenas fortes de desabafos com o pai rígido, sobre fé e a maneira como foi criado recheiam o filme de emoção. Seu relacionamento com a sua esposa guerreira passa por diversos níveis mas o amor nunca falta. O reconhecimento de todos que conhecem sua história fazem com que Gleason crie uma associação chamada Team Gleason que ajuda pacientes com a mesma doença de Steve, além de prestar auxílio as famílias e realizar sonhos que nunca conseguiriam realizar sem ajuda.


A Luta de Steve é uma gigante redescoberta da vida que nos deixam reflexivos e dando um grande valor para todo o amor que ainda existe nesse mundo cheio de reviravoltas. 
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Crítica do filme: 'Um Contratempo'

Se o mundo girasse ao redor de você? Como seria o mundo para as pessoas que o cercam? Explorando as ambições, instintos e os limites do bom senso do ser humano, Contratiempo foi lançado na plataforma netflix alguns meses atrás e aos poucos vem ganhando uma notoriedade importante. Dirigido pelo cineasta espanhol Oriol Paulo (do ótimo El Cuerpo) o longa metragem é um daqueles suspenses arrepiantes que a cada ato entrega mais peças para o tabuleiro instalado em nossas mentes nos levando a uma jornada intensa de 106 minutos rumo as verdades dentre muitas mentiras.

Na trama, acompanhamos Adrián Doria (Mario Casas), um jovem homem de negócios que está na crista da onda profissionalmente falando. Já em sua vida pessoal, há várias contradições. Acusado recentemente de matar sua amante Laura (Bárbara Lennie), em um episódio que ele jura que não é como todos estão pensando, ele tem a decisão dos rumos de sua vida quando chega para entrevistá-lo uma das grandes advogadas de defesa da Espanha. Durante as próximas horas, muitas idas e vindas nas versões do crime cometido são detalhados e uma outra importante subtrama é jogada a limpa na mesa. Certo dia, após passar algumas horas com sua amante em uma casa isolada em uma região distante, acaba se envolvendo em um acidente de carro culminando fatalidade para um outro jovem que estava no outro carro. Assim, aos poucos vamos descobrindo e desmascarando a verdade que é chocante.

Nesse espetacular suspense,  tudo funciona cirurgicamente rumo a um final arrebatador. Começa com um primeiro ato intrigante, onde descobrimos as primeiras versões do assassinato cometido, mas obviamente deixando várias lacunas em branco. As subtramas são apresentadas cercadas de muito mistério, principalmente a entrada dos pais do jovem envolvido no acidente de carro. Tudo é cercado de mentiras camufladas de verdades. A relação do protagonista com sua amante e todas as reviravoltas que passam juntos é angustiante, somos testemunhas da ótica dos dois personagens em relação aos acontecimentos, a parte de Laura detalhada pelas suposições da advogada colocada para ajudar Adrián.

É muito difícil saber onde está a mentira entre tantos argumentos fortes. Até as verdadeiras facetas de alguns personagens serem reveladas vamos somando uma série de peças para tentar chegar ao que de fato aconteceu. O engraçado e de criatividade sensacional é que uma grande reviravolta acontece já no desfecho deixando parte da trama ainda em aberto mas que nem importante mais pois um mistério maior ainda é revelado aos nossos olhos e nos deixam simplesmente pasmos por essa revelação.

Contratiempo é um dos melhores suspenses do ano, sem dúvidas. Reúne grandes atuações, um roteiro magnífico e uma direção detalhista. Nem tudo é o que parece nessa arrepiante história. Não percam, disponível na netflix.
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Crítica do filme: 'O Círculo'

A vida é minha e eu só abro pra quem eu quiser. Baseado no livro homônimo escrito Dave Eggers, O Círculo é, antes de mais nada, uma tentativa de crítica social e tecnológica aos limites do bom senso. Jogando no liquidificador big brother, facebook e pitadas de show de truman, o projeto sofre com um primeiro ato bastante morno, cheia de lacunas para serem preenchidas no decorrer da trama. Os personagens não são carismáticos, há uma grande corrida para o clímax o que acaba deixando brechas importantes, as famosas pontas soltas, no roteiro. Dirigido pelo cineasta norte americano James Ponsoldt (dó ótimo The Spectacular Now e do interessante Smashed: De Volta a Realidade) tinha tudo para ser um grande filme, possui momentos interessantes, mas acaba parando nos clichês e fazendo o espectador acreditar que o livro possa ser melhor.

Na trama, conhecemos Mae (Emma Watson), uma jovem que trabalha em um lugar onde não gosta e vive com seus pais em uma casa humilde em uma cidade norte americana. Certo dia, consegue uma grande oportunidade de uma entrevista em uma empresa nova, famosa ligada a tecnologia, informações, dados e redes sociais chamada o Círculo. Chegando lá, sua primeira impressão é estar no paraíso, o ambiente de trabalho é maravilhoso e sempre acontece várias atividades ‘extra job’ como shows de músicas e variadas festas. Conforme o tempo passa, a protagonista percebe que nem tudo é mil maravilhas, principalmente como passa a viver como se estivesse em um reality show e toda sua vida é transmitida ao vivo todos os dias da semana. Percebendo a furada em que se meteu e com a ajuda do criador da ideia da empresa que vive agora imperceptível e quase escondido Ty (John Boyega), Mae tentará achar uma solução para o abuso digital cometido pela empresa.

O mundo vive um grande paradoxo de avanço de funcionalidades básicas que facilitam um simples pagamento de conta até a criação de elos de amizades instantâneos via assuntos incomuns (muitas vezes). Os livros de verdade estão sendo aos poucos substituídos por tablets e e-books, as relações interpessoais estão sendo cada vez mais ‘curtidas’ e um simples abraço ou aperto de mão está virando algo quase obsoleto. Isso é bom ou ruim? Tudo é filmado, postado, compartilhado. A informação virou questão de segundos. No segundo ato do filme, abordando as relações variadas num universo digital sem filtros, o longa metragem tem seu melhor momento, com argumentos variados para um problema que enfrentaremos bem mais forte futuramente.

Eles pedem perdão mas não pedem permissão. O cotidiano da protagonista muda bastante conforme vai crescendo na linha de comando e estratégia do Círculo. Suas reuniões com seus chefes, um deles interpretado pelo ganhador do Oscar Tom Hanks, são intensas e cheias de entusiasmo, fato que muda bastante aos olhos de Mae pois as consequências para a quebra de privacidade são inúmeras e sentidas na pele pela personagem. Por conta do abuso da tecnologia e a falta de limites sobre a privacidade alheia, Mae se afasta dos pais, da melhor amiga Annie (que a colocou dentro da nova empresa), e vive via ‘live’ um trágico episódio com um amigo de infância, Mercer (Ellar Coltrane de Boyhood: Da Infância à Juventude).


O Círculo, talvez, possa ter o papel para refletirmos nossa sociedade globalizada de hoje em dia. É um exercício sobre privacidade alheia e um tom agudo de abuso de tecnologia para obter o controle de muitos, por poucos. 
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17/07/2017

Crítica do filme: 'Okja'


A amizade não se busca, não se sonha, não se deseja; ela exerce-se. Escrito e dirigido pelo genial cineasta sul coreano Joon-ho Bong (dos espetaculares Expresso do Amanhã, Mother e The Host), Okja é uma baita crítica à indústria dos alimentos além de uma metáfora poética sobre a amaizade. Com personagens fascinantes, principalmente o fofíssimo Okja, um super porcão carismático (se fosse da Disney já encontraríamos bonequinhos à venda pelas prateleiras) , um roteiro cirúrgico que escancara argumentos profundos sobre os limites de mega indústrias e o caótico arranjo da indústria alimentícia esse projeto é um dos filmes inesquecíveis desse ano de 2017.

Na trama, conhecemos Mija (Seo-Hyun Ahn), uma jovem alegre e determinada que mora no alto de uma montanha na capital da Coreia do Sul. Mija foi praticamente criada junto com um super porco chamado Okja, esse, projeto de uma mega indústria liderada pela misteriosa Lucy Mirando (Tilda Swinton) que enviou no ano de 2007 vários porcos gigantes para serem criados por fazendeiros de todo o planeta para que depois de 10 anos haja uma eleição de melhor super porco. Com os dez anos passados, já em 2017, chega a hora de Okja voltar para as mãos da empresa, só que Mija não deixará essa viagem ser fácil e lutará para ficar com seu grande amigo.

Com um ar de sensibilidade absurda, com uma fotografia belíssima, Okja é o melhor filme do ano até agora não lançado nos cinemas. Em seus arcos, muito bem definidos, passeamos por críticas a indústria dos alimentos, o papel da imprensa na revelação de determinados fatos, o valor da amizade aos olhos de uma jovem com um coração gigante, toda uma cultura oriental representada muito fortemente pela figura do avô de Mija, ideologias de grupos de combate as explorações dos animais, os falsos limites de poder representados por Lucy Mirando (Tilda em atuação destacada buscando originalidade em sua personagem). Em cerca de duas horas de projeção esses e outros temas são captados de maneira bastante inteligente pelas lentes de Joon-ho Bong.


O carisma da protagonista é algo maravilhoso, junto com Okja, embarcam em uma aventura eletrizante (com cenas de ação muito bem produzidas, empolgantes) sem nunca deixar de abrir os olhos do público para as entrelinhas feitas pelas inúmeras críticas ao sistema/regime dos alimentos que todos nós acabamos tendo culpa pois somos consumidores. Muito bacana a Netflix produzir filmes e tal, mas esse em especial merecia um alcance de uma tela de cinema.
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15/07/2017

Crítica do filme: 'Despedida em Grande Estilo'

O que fazer quando você está já na terceira idade e vê seu mundo desabar quando descobre que o dinheiro de aposentadoria, merecido por toda uma vida trabalhando, não vai mais existir mês que vem? Dirigido pelo ótimo ator e cineasta Zach Braff (do inesquecível Hora de Voltar) Despedida em Grande Estilo é uma deliciosa comédia, com roteiro impecável e um trio de grandes atores (Morgan Freeman, Alan Arkin e Michael Caine) como protagonistas. Estimado em cerca de 25 milhões de dólares (o cachê desse trio não deve ter sido nada barato) o longa coloca seu foco na saga cômica criminosa sobre homens trabalhadores injustiçados buscando seus direitos tirados. Resultando em 96 minutos de grande diversão para o público.

Na trama, conhecemos os amigos e aposentados Willie (Morgan Freeman), Joe (Michael Caine) e Albert (Alan Arkin), três homens que estão em dificuldades financeiras e em situação de risco para o futuro, pois, suas aposentadorias irão ser cortadas por conta de uma manobra macabra da empresa onde trabalhavam. Chateados e não tendo mais nada a perder, resolvem assaltar um banco e assim conseguir buscar a estabilidade financeira que tanto precisam. Só que a missão não será nada fácil e eles precisarão ralar muito para que tudo ocorra da maneira que eles querem.

O roteiro é costurado através do desejo dos personagens em buscar uma redenção por conta de sua aposentadoria ser praticamente extinta pela empresa onde trabalharam a vida toda. A partir daí vemos como a ideia surge, a entrada de ótimos personagens coadjuvantes na história, subtramas delicadas e cheias de emoção como a relação de dois deles com suas netas. Já no desfecho e sua respostas de como conseguiram o grande feito, o roteiro é cirúrgico, muito parecido com as respostas perfeitas de O Plano Perfeito.

A trilha sonora acelerada, nos coloca no ritmo que o filme propõe. Os preparativos para o grande assalto são hilários, com o trio de velhinhos tentando buscar uma boa forma física para fazer uma coisa que nunca pensaram em fazer. Tudo funciona com simples perfeição. As atuações são ótimas sendo buscando o lado cômico mesmo nas situações dramáticas.

Despedida em Grande Estilo estreou em alguns cinemas semanas atrás. Não teve o alcance que merecia. Em breve nos canais a cabo, provavelmente. Podemos dizer que é uma louvável homenagem a esses três grandes atores já em final de carreira que muito fizeram pela diversão de nós cinéfilos.
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14/07/2017

Crítica do filme: 'Transformers: O Último Cavaleiro'

Dirigido novamente pelo cineasta californiano (e grande destruidor de cenários) Michael Bay (Armageddon, A Rocha) Transformers: O Último Cavaleiro volta em partes no tempo para explicar melhor o início de uma das franquias mais famosas do mundo baseada na linha de brinquedos da marca Hasbro. Rodado em boa parte em Cuba (Velozes e Furiosos 8 também foi rodado lá), o longa busca explicar origens da franquia e saga dos heróis robôs carros que acumulou mais de um bilhão e bilheteria mundo a fora nos quatro últimos filmes. Mark Wahlberg volta ao papel de Cade Yeager, um dos protetores dos bons transformers, dividindo o protagonismo com a bela atriz britânica Laura Haddock (a Meredith Quill  dos dois filmes até aqui lançados de Guardiões da Gálaxia) que interpreta Vivian Wembley, uma professora de Oxford que é peça chave dessa nova história. O grande Anthony Hopkins faz uma boa participação com seu misterioso personagem.

Na trama, voltamos ao universo Transformers, onde Cade Yeager (Mark Wahlberg) vive escondido em uma área distante dos grandes centros junto com sua equipe e seus robôs que falam. O mundo está em atenção total por conta de segredos desse universo que acabam culminando em uma quase extinção de nosso planeta. Para salvar a todos nós, Sir Edmund Burton (Anthony Hopkins) , ex-oficial da marinha britânica e guardião do segredo dos Transformers, precisará juntar Yeager e a jovem professora Vivian Wembley (Laura Haddock), essa última, parente viva de um famoso personagem que todos conhecemos até por outros filmes. Assim, a turma, junto com os robôs do bem se reúnem para uma batalha pela sobrevivência da Terra.

As cenas de ações são a grande marca dessa história e de toda a franquia, nesse quinto filme não é diferente. Há um superficial e interessante contexto, falando de Rei Arthur, Merlin mas fica nítido que o roteiro acelera para se chegar nas cenas de ação e aventura que realmente são muito bem feitas. Há um nítido cuidado para que o filme agrade a toda família, desde a nova geração até a geração mais velha. Cumpre seu papel quando pensamos em entretenimento e fica quase impossível dizer que esse quinto trabalho não terá uma grandiosa bilheteria novamente, mesmo que um pouco cansativo no caso desse último longa.

O ar de comédia que de vez em quando embarca na história não funciona como em outros filmes da saga Transformers, esse filme de 2017 tem um ar mais sério, bem puxado pro lado sombrio. É uma fórmula que funciona até certo ponto, deixa lacunas em branco e muitas explicações parciais, talvez para serem explicadas em futuros longas. Uma válvula de escape importante é vista já dentro dos créditos, deixando uma margem bem grande para construção de novas histórias. Realmente há muito o que se explicar ainda, a história como um todo fica bastante confusa em alguns pontos.


Com quase duas horas e meia de duração, com muitas cenas de ação empolgantes e um roteiro apenas mediano, Transformers: O Último Cavaleiro é o famoso pipocão hollywoodiano de ação: foco total nas cenas de destruição e combates, embarca nos clichês, busca identidade própria de maneira bem superficial e acaba deixando lacunas em aberto para serem exploradas em concretos futuros filmes.  
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04/07/2017

Crítica do filme: 'Tour de France'

A amizade duplica as alegrias e divide as tristezas. Exibido na Quinzena dos Realizadores no Festival de Cannes ano passado, Tour de France usa a amizade para falar sobre preconceito e questões profundas entre pais e filhos. Quarto longa metragem do ator e diretor  Rachid Djaidani, o filme busca por meio de uma linguagem bastante jovem, com elementos musicais fortes, reproduzir uma história de afeto e esperança em uma França repleta de descriminação e preconceito.

Selecionado para o Festival Varilux de Cinema Francês desse ano, Tour de France conta a história de Far'Hook (Sadek), um jovem músico introspectivo que arruma confusão com invejosos outros músicos e acaba tendo que buscar refúgio na casa do pintor Serge (Gérard Depardieu), pai de seu produtor. Assim inicia-se uma jornada em torno de uma amizade que vai nascendo e onde as diferenças vão sendo postas aos poucos de lado conforme vão cruzando parte da França em busca de uma reprodução de quadros de um famoso pintor.

Os dois lados da moeda. A figura do protagonista, interpretado pelo rapper Sadek (em seu primeiro papel em um filme), representa o alcance do preconceito, tanto religioso como social, sua luta durante todo o longa é buscar seus objetivos descobrindo um novo mundo aos olhos de seu novo e mais velho amigo. Já Depardieu, em bela atuação, representa a força da amargura por erros no passado e a figura do preconceito. Durante boa parte do filme, situações vão fazendo esses dois mundos repensarem o país onde vivem, sejam nas representações de outras culturas, seja por atos de terceiros. Há uma bela construção e desconstrução dos personagens, Depardieu nas cenas leva o novato como um professor de dança ensinando a um aluno sua arte.

As subtramas conseguem um certo alcance dentro da história. Principalmente a do filho (o produtor de Far’Hook) que não fala mais com o pai (Serge). Quando conhecemos melhor a história de Serge, o filme cresce e muitas pontas soltas do roteiro são rapidamente amarradas deixando o filme transbordar em emoção. Talvez por ter uma linguagem bastante jovem, muito pelo foco demasiado em alguns momentos captados pelo diretor, o filme demora um pouco a entrar no ritmo. A variação de tipos de imagens, com câmeras de celulares em alguns momentos, deixam o filme com uma grande personalidade e originalidade.


Tour de France entra em circuito no próximo dia 13 de julho, é um filme para se refletir, faz força em falar sobre como o mundo estão nos dias de hoje, tudo isso pelos olhos de intrigantes personagens.
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Crítica do filme: 'Julho Agosto'

Família, família, papai, mamãe, titia. Escrito e dirigido pelo cineasta francês Diastème, Julho Agosto é um delicado retrato sobre a juventude e como é na realidade o relacionamento de pais e filhos. O longa metragem, com previsão de estreia no Brasil já na próxima semana (13), tem ótima direção o que nos coloca bem próximos dos personagens, suas angústias e resoluções das consequências são bem exploradas pelas lentes do diretor.

Na trama, conhecemos as irmãs Laura (Luna Lou) de 14 anos e Joséphine (Alma Jodorowsky) de 18 anos, que precisam passar suas férias em dois tempos. A primeira parte com sua mãe Anne (Pascale Arbillot), que acaba de saber que está grávida, e, seu padrasto endividado, o editor Michel (Patrick Chesnais), em uma casa linda onde curtem sempre as férias. No segundo momento, as irmãs viajam de trem até a casa de seu pai Franck (Thierry Godard) que passa por um momento de solidão em uma região fria e está apaixonado pela garçonete de um dos restaurantes da região. Assim, ao longo das férias, as irmãs, cada uma com sua visão do mundo, irão viver aventuras e conhecerem melhor o significado da palavra família.

O dom de educar é extremamente complicado e o entender os filhos mais ainda. Esse reflexo é aplicado na história pelos olhos da complicada Laura, uma menina com síndrome de adulta que faz de tudo para conquistar a atenção dos pais, do padrasto e principalmente da irmã. Já Joséphine é uma jovem entrando na idade adulta, se envolve em um romance com um pequeno criminoso da região, se preocupando pouco com a família e sentindo na pela as consequências dos seus atos. O pai e a mãe das meninas possuem um carinho eterno, tem uma cena linda onde o primeiro viaja quilômetros só para dar um abraço na ex-companheira que agora está grávida do terceiro filho. Unidos pelo entendimento das meninas, tentam a todo custo fazer do cotidiano delas positivo, algo que elas levem para toda vida.

Nesse grande aulão sobre a juventude e a maneira às vezes complicada que buscamos nos comunicar com nossos filhos, vale observar o papel do padrasto das meninas que de sua forma mais simples tentar passar ensinamentos e ajudar no que elas precisam. Já com a pretendente do pai, a irmã menor sente um grande ciúme já a maior apoia. Essa gangorra de opiniões junto com a personalidade desses personagens fascinantes transformam esse projeto em uma pequena obra prima com foco na família.


Julho Agosto é bem objetivo em seus 96 minutos de projeção, quase duas histórias em uma só mas que se complementam perfeitamente. Uma história com reviravoltas e passagens marcantes no cotidiano de uma família onde o amor reina.
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