A razão e a inconsequência. A inconsequência e a razão.
Indicado em categorias importante no último prêmio Goya, Que Dios nos Perdone (sem previsão de estreia no Brasil) é instigante,
investigativo e que detalha as feridas emocionais dos personagens captadas
pelas lentes inteligentes de Rodrigo Sorogoyen, diretor do longa. Ao longo de
um pouco mais de duas horas de projeção, somos envolvidos em um thriller
alucinante com grandes atuações onde cada peça do quebra cabeça vai aparecendo
aos poucos em meio aos conflitos morais e psicológicos dos investigadores de
casos de assassinatos interligados.
Na trama, conhecemos os investigadores da divisão de
homicídio da polícia espanhola Velarde (Antonio de La Torre) e Alfaro (Roberto
Álamo), uma dupla totalmente diferente em relação a personalidade que precisam
buscar a prisão de um serial killer de idosas em meio a chegada do papa bento
XVI na Espanha. Lutando contra seus próprios demônios internos, por conta de
suas personalidades distantes, os policiais entrarão em um caminho praticamente
sem volta onde a obsessão e a inconsequência farão parte de sua rotina.
A dupla de investigadores é totalmente oposta mas que se
completam. Velarde (Antonio de la Torre) é minucioso, sofre com o preconceito
de uma gagueira, nunca deixa de ser objetivo e busca realizar seu trabalho com
todos os elementos investigativos que um bom policial precisa ter. Alfaro (Roberto
Álamo) é inconsequente, bruto, violento que se coloca em situações agressivas a
todo instante e sofre as consequências de seu temperamento diariamente. Um
sendo a força o outro a razão, precisam trabalhar em conjunto para buscar um
serial killer que violenta idosas em um bairro na Espanha.
Os personagens são intrigantes, se veem como vilões em suas
vidas pessoais, imperfeitos como muitos, conseguem reunir peças de uma quebra
cabeça envolvente focando na busca de um assassino misterioso, implacável e
perigoso. Durante essa busca, precisam convencer o chefe do departamento a
classificar as mortes que acontecem como assassinatos de uma mesma pessoa mas
isso entra em conflito com a chegada do novo papa o que deixaria em pânico os
inúmeros visitantes que estão na Espanha. Como não possuem bom relacionamento
com todo o corpo de policiais de sua divisão, entram em conflito a todo instante.
O estopim da obsessividade chega por uma traição à Alfaro e um conflito amoroso
de Velarde, transformando os minutos finais do filme em pura adrenalina.
Que Dios nos Perdone é
um grande achado, um longa com direção competente e atuações acima da média
juntamente com um roteiro intrigante que esgota até a última linha para
detalhar seus personagens e seus conflitos. O cinema espanhol sempre nos
proporciona coisas boas quando procuramos minuciosamente nos inúmeros lançamentos
dessa escola europeia fantástica ano pós ano.