30/09/2014

Crítica do filme: Los Hongos



O se encontrar na vida pode começar com um caminhar artístico sem esperança. O novo trabalho do cineasta Oscar Ruiz Navia, Los Hongos, é um filme que transpira pluralidades culturais e possui uma trilha sonora muito bem encaixada com a trama. Mas nem tudo são flores, a boa intenção em reunir muitos elementos artísticos na história dos personagens acaba deixando o roteiro mais descontrolado que as últimas interpretações de Nicolas Cage no mundo do cinema.

Na trama, somos jogados para dentro de uma grande cidade da Colômbia, onde conhecemos dois jovens amigos que possuem em comum o amor pelo grafite. Um deles, Calvin, cuida de sua carinhosa vovó em uma humilde casa, já Jovan possui muitos problemas familiares e se encontra desempregado, sem rumo. Ambos precisarão unir forças e sonhos para encontrar suas vocações e entender melhor o que os espera no futuro.

Los Hongos é recheado de boas intenções. Explora de maneira exarcebada gostos e costumes da cultura local, sempre sob a ótica dos jovens protagonistas. O exagero nesse preenchimento das características dos personagens, acaba deixando o filme sem ritmo e direção. Alguns arcos dramáticos são bem conduzidos, como a relação de Calvin com sua avó (melhor personagem disparada da trama). A trilha sonora é um show à parte e ajuda muito na condução de algumas cenas. Mesmo assim, muito pouco para o real potencial do filme.

Essa produção colombiana, infelizmente, não deve chegar ao circuito brasileiro. Talvez não tenha a força de outros bons filmes deste país, com pouca tradição no cinema, como La Playa e Crônicas do Fim do mundo que são dois filmes infinitamente superiores. Conhecer a cultura local de um país desconhecido em detalhes por muitos de nós é super legal mas quando falamos de cinema, esse trabalho deixa a desejar.
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Crítica do filme: 'Garota Exemplar'



Na vingança e no amor a mulher é mais bárbara do que o homem. Depois de conseguir o milagre de realizar um remake tão bom quanto o original no filme Millennium: Os Homens que Não Amavam as Mulheres, um dos melhores diretores em atividade no mundo do cinema, David Fincher (Clube da Luta, Seven), volta aos cinemas para mais uma adaptação de um livro, Garota Exemplar. Baseado nessa publicação de grande sucesso de Gillian Flynn (que também assina o roteiro desta produção), esse novo blockbuster de enormes 149 minutos é uma história cheia de guinadas, explosiva, bem trabalhada, com boas atuações e uma direção lúcida e detalhista do mestre Fincher. De longe, podemos cravar que esse é um dos melhores filmes do ano, não tenham dúvidas disso!

Na trama, conhecemos o boa praça Nick Dunne (Ben Affleck), um homem que possui um casamento de aparências com sua linda mulher Amy (Rosamund Pike). Certo dia, após acordar cedo e ir visitar a irmã no bar que possuem, Nick volta pra casa, vê objetos quebrados, sangue e não encontra Amy. Assim, resolve ligar para polícia. Depois disso, sua vida não vai ser a mesma, pois, conforme novas pistas e segredos vão aparecendo, muitos indícios vão ligando lentamente Nick ao sumiço de sua esposa.

Na ótica do protagonista ficam dúvidas a todo instante, o dinamismo do roteiro adaptado entra de acordo com os intensos momentos de flashbacks, elucidando a trama para o público. Mas o que surpreende é a ótica da esposa em relação a tudo que acontece desde seu sumiço. É fascinante, surpreendente, o que acontece daí em diante. Garota Exemplar é um filme que você não pode ir ao banheiro senão perde o entendimento e pistas para descobrir o mistério que é imposto de maneira brilhante. 

Ben Affleck encaixou como uma luva no papel de Nick Dunne. Ingênuo, explosivo e em determinado momento enigmático, brinda os cinéfilos com uma atuação bem acima da média comparando com outros trabalhos de sua vasta carreira no cinema. Já Rosamund Pike, pode ter comprado sua passagem para a cerimônia do Oscar ao ter aceitado esse poderoso papel. Linda, deslumbrante e mostrando uma baita competência escondendo seu personagem como um jogador de pôquer blefando em uma mão ruim, deixa o público perplexo em alguns momentos.

Lembram que os sul-coreanos conseguiram criar certo dia um grande filme chamado Oldboy? Até hoje, nenhum outro filme tinha conseguido definir tão bem o que é uma vingança numa telona. Bem, Fincher conseguiu. Se superando mais uma vez, brinda os cinéfilos com uma aula audiovisual, macabra e aterrorizante que atinge seu clímax quando percebemos todas as verdades por trás dos fatos. Se surpreenda, não deixem de conferir essa obra-prima. Bravo!
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29/09/2014

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Crítica do filme: 'Coração Mudo'



Depois de belíssimos trabalhos comandando filmes europeus de qualidade, o diretor Bille August volta às telonas, dessa vez, para dirigir um drama contundente, cheio de reviravoltas e emoção. Coração Mudo é uma espécie de Festa em Família com uma roupagem diferente mas com as mesmas surpresas e personagens intrigantemente fascinantes.

Na trama, conhecemos Esther (Ghita Nørby), uma senhora de idade avançada que em certo momento resolveu dar um fim à sua vida, antes porém, resolve passar um último final de semana com sua família (que está por completa ciente do eminente suicídio). Quando chega o fatídico dia, ações e emoções descontroladas começam a tomar conta da história, com muitos personagens mudando de opinião a todo instante sobre a situação.

Conflitos, dor e sofrimento estão contidos em cada um dos numerosos e árduos diálogos que contém a fita. Entendemos a situação inusitada do suicídio/eutanásia pela ótica de cada um dos personagens. Cada momento dramático é construído de maneira inteligente e nunca o filme se torna maçante. É fácil se envolver por essa história, o epicentro da trama é uma atitude corajosa e bastante polêmica. Coração Mudo é o clássico filme onde as atuações precisam ser muito convincentes para a fórmula do roteiro dar certo. Felizmente, isso acontece do primeiro ao último minuto.
Paprika Steen esbanja competência mais uma vez com sua recatada, descontrolada e emotiva Heidi. 

Os detalhados momentos cômicos ficam à cargo do ótimo ator Pilou Asbæk que dá vida ao confuso mais carismático Dennis. Mas quem rouba a cena é a protagonista Esther, interpretada pela maravilhosa Ghita Nørby (A Diane Keaton da Dinamarca). Em simples diálogos ou em momentos de total força emotiva em cena, a experiente artista dá um verdadeiro show. Não seria um absurdo dizer que essa atuação é uma das melhores entre atrizes dos filmes deste Festival do RJ. Grande filme, grandes atuações! Bravo!
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Crítica do filme: 'Mãos Sujas'



A arte da sobrevivência as vezes nos leva à atos violentos difíceis de superar. Um dos poucos filmes colombianos desta edição do festival do RJ de cinema, Mãos Sujas, é um filme pequeno, de apenas 87 minutos, que surpreende pela direção quase impecável do diretor  Josef Wladyka. Através das lentes desse inteligente cineasta, o público é testemunha de uma grande luta pela sobrevivência em meio as águas perigosas dos rios colombianos.

Na trama, acompanhamos a história de dois rapazes de origem humilde que moram em um lugar de bastante pobreza e com poucas oportunidades. Assim, entram rapidamente no mundo do contrabando de drogas pelas águas turbulentas de uma cidade colombiana dominada pelo narcotráfico. Em uma dessas missões, seus valores mudarão, quando precisam correr desesperadamente atrás de uma mercadoria roubada.

O destaque que mais chama a atenção neste simples e profundo trabalho, sem dúvidas, é a condução dessa história pelas mãos do ótimo Wladyka. Com um profundo conhecimento sobre os detalhes da trama, o diretor consegue jogar o público para dentro da história, principalmente nas cenas de ação que preenchem boa parte da metragem desta fita.

Ultimamente no circuito nacional, ótimos bons filmes vem ganhando oportunidade de exibição, casos do profundo Pelo Malo (Venezuela), do surpreendente 7 Caixas (Paraguai), do sensível Crônicas do Fim do Mundo (Colômbia) e do impactante La Playa (também da Colômbia). Cada vez mais precisamos torcer para que esse novo cinema latino ganhe chances no nosso engessado mercado exibidor.

Tem drama, tem ação, tem emoção. Esses são os pontos que funcionam como alicerce deste belo trabalho que muito provavelmente, infelizmente, não deve entrar no nosso circuito comercial. Se tiverem a chance de conferir esse trabalho algum dia, não percam!
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26/09/2014

Crítica do filme: 'Frank'



A solidão é o preço que temos de pagar por termos nascido neste período moderno, tão cheio de liberdade, de independência e do nosso próprio egoísmo. Uma das sensações do Festival de Sundance deste ano, onde recebeu diversos elogios de crítica e público, Frank, é um projeto corajoso que fala sobre as peculiaridades das pessoas e a eterna fábula contemporânea do achar o seu lugar no mundo. Dirigido pelo cineasta irlandês Lenny Abrahamson, esse drama conta com uma atuação inspirada do excelente ator Michael Fassbender  que interpreta cerca de 80% das cenas usando uma enorme cabeça feita de papel machê.

Na trama, conhecemos Jon Burroughs (Domhnall Gleeson), um jovem que está desiludido com a vida que leva. Sua rotina absurdamente chata no seu trabalho de escritório, sem um grande amor e com um sonho escondido de ser um grande músico de uma banda de sucesso. Tudo muda quando encontra um grupo de músicos da banda Soronprfbs que o convidam para gravar o novo cd deles na Irlanda. Assim, entre um tweet e outro, Jon embarca em uma viagem de descobertas em busca de encontrar definitivamente seu lugar no mundo.

O filme se aproxima do ótimo Quase Famosos de Cameron Crowe quando analisamos a partir das novas experiências de um amante do universo musical que por mais que respire música, nunca esteve de fato nos bastidores ou no palco de um grande evento. Essa mescla entre sonhos e desejos são incorporados no ótimo roteiro de Jon Ronson e Peter Straughan de forma inteligente, leve e divertida. A narrativa é lenta, induzida e também regida pelos objetivos conflituosos entre Jon e seus novos amigos. O protagonista tenta de todas as formas pertencer a esse novo mundo que acabara de conhecer e muitas vezes se precipita nesse desejo. 

Os personagens são ótimos, nada caricatos. E o interessante é que existe um grande conflito em cada um deles e o filme tem o mérito de explorar com eficácia isso ao longo dos 100 minutos de fita. Nos casos mais complexos, chegamos em Frank (Michael Fassbender), o líder da banda, um pós jovem músico brilhante que talvez para se esconder da realidade assustadora que enxerga vive dias e noites com uma enorme cabeça feita de papel machê. Toda essa peculiaridade em volta do líder da banda, tornam Frank um personagem enigmático, único, cheio de imperfeições explícitas muito bem modeladas pelo excelente Michael Fassbender.

O filme estreou no badalado Festival de Sundance deste ano e o mais legal nessa exibição foi que o público ganhou máscaras semelhantes à usada por Frank no filme o que tornou essa première ainda mais especial. Será que acontecerá isso no Brasil também? Seria o máximo! No mais, o que falar de um filme que fala sobre sonhos, música e conta com uma direção e atuações excelentes? Não percam, a arte do sonhar está dentro de todos nós! Viva Frank! Viva o cinema!
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