As tensões das emoções guardadas e suas erupções abruptas nas
tomadas de decisão. Ganhadora do prêmio de melhor diretora no último Festival
de Cannes por este trabalho, a cineasta norte americana Sofia Coppola (dos
ótimos As Virgens Suicidas e Encontros e Desencontros) volta para
atrás das câmeras após o polêmico Bling
Ring: A Gangue de Hollywood para mostrar ao público uma história de época,
já filmada pelo grande Don Siegel na década de 70 (e estrelada por Clint
Eastwood), que fala sobre a tentação em muitas escalas explorada por um
profundo isolamento social em época de guerra.
Na trama, ambientada durante a Guerra Civil Americana, durante
uma caminhada próxima ao portão de onde mora, uma das moças de uma espécie de um
internato feminino encontra um soldado da União chamado McBurney (Colin Farrell)
que está ferido e à beira da morte. Querendo ajudar, a moça leva o soldado para
o internato comandado por Miss Martha (Nicole Kidman) onde recebe todos os
cuidados para sua breve recuperação. Durante sua estadia, nessa casa repleta de
mulheres que vivem isoladas em tempo de guerra, uma grande tensão em muitos
campos vai acontecendo aos poucos e também o medo de estarem ajudando um
soldado da União, ele vai se tornando o grande centro das atenções.
A direção é impecável. Coppola consegue captar as emoções e
os conflitos internos, fruto da reclusão das jovens, de maneira inteligente e
objetiva. Durante boa parte do filme, suas lentes passeiam pelo internato onde
se passam a maioria das cenas, nos sentimos dentro daquela casa a todo
instante. O clima de tensão que cresce a cada nova virada na trama ajuda a
deixar o espectador com os olhos grudados na telona teorizando sobre como a
consequência das ações feitas pelos personagens terão o seu final.
O roteiro baseado no filme de Don Diegel já comentado e na
obra homônima de Thomas Cullinan acompanha o brilhantismo da direção em muitos
momentos, mesmo não sendo impecável. Ao longo dos 93 minutos, bastante
objetivos, explora a temática da tensão sexual que acaba surgindo de maneira
detalhista e até certo ponto delicada, contando com atuações seguras,
principalmente de Kirsten Dunst com sua enigmática Edwina e Nicole Kidman na
pele da exigente, protetora, Martha.
Longe de ser algo Jane Austen de ser, principalmente com
suas viradas interessantes que transformam um drama em quase um suspense com um
final emblemático, O Estranho que Nós
Amamos apresenta uma trama envolvente, com tons feministas e uma grande
diretora inspirada.