13/08/2017

Crítica do filme: 'Afterimage'

A imagem deve ser aquilo que você absorve. Escrito e dirigido pelo grande Andrzej Wajda, Afterimage, conta nessa cinebiografia a história sofrida de um dos maiores pintores da Polônia, um homem que criou o primeiro museu de arte moderna da Polônia, o segundo da Europa. Encontrando seu destino, escolhendo seu caminho, viveu obstáculos navegando em pensamentos ligados à natureza e ao centro de atenção que nos levam a observação. O roteiro é primoroso, caminhamos em uma Polônia quase destruída intelectualmente, Wajda capta magistralmente a dor e o sofrimento de maneira tão inversa ao superficial, um retrato marcante que fecha com chave de ouro a filmografia de um dos maiores diretores da Europa oriental.

Na trama, vencedora do Grande prêmio do Júri no último Festival de Cinema da Polônia, conhecemos parte da trajetória do pintor polonês Wladyslaw Strzeminski (interpretado pelo excelente Boguslaw Linda, em atuação inspirada), professor carismático e inspirador, parte de um seleto grupo de artistas, que enfrenta o Partido Comunista da União Soviética por conta de seus pensamentos e diretrizes políticas e acaba tendo parte de sua vasta obra retirada de museus e galerias e algumas até destruídas . Mesmo sofrendo essa repressão política, luta pelos seus ideais em uma espécie de reclusão, ao lado de sua única filha, o artista vai sentindo na pele os horrores de uma nova política no seu país.

Na arte e no amor, você só pode dar o que tem. Mesmo tendo um contexto melancólico e deveras triste, por tudo que cerca a vida do ilustre pintor após seus embates com os que comandam o pensamento em sua terra, o filme é poético ao abordar o amor pela arte e todos os inúmeros sentimentos que passa com sua arte. A força de Strzeminski vem de sua arte, que representa quem ele é, e também de seus fiéis alunos. O primeiro arco mostra essa união e toda a inspiração que representa aos estudantes de arte de uma escola referência, do qual foi fundador, em uma Polônia com novas diretrizes políticas e com pensamentos que prejudicam a liberdade artística de pintores e outros mestres da arte.

Na vanguarda de sua arte, impõe seus pensamentos sobre o que define ser uma obra artística. Deficiente de um braço e uma perna, oriundo de batalhas da primeira grande guerra, já no segundo arco começa a sofrer por seus ideias políticos e de pensamentos sobre o que é arte, levando-o a um caminho sem volta pela sobrevivência em uma época de recessão e medo. Sua relação com a família, nem tanto explorada, fica reduzido a Nika (Bronislawa Zamachowska), sua única filha que passa por todas as dificuldades com seu pai sempre demonstrando muito carinho e admiração por ele.


O filme, que estreou no Festival de Toronto, marca a despedida nas telas do grande cineasta Andrzej Wajda, um dos mais marcantes da filmografia europeia, que faleceu, aos 90 anos, em outubro do ano passado. Wajda, ganhador do Oscar Honorário pelo conjunto de sua obra no ano de 2000, sempre focou em suas obras na política e história da Polônia, levando para telas de todo mundo um pouco de sua visão sobre vários contextos históricos que seu país passou. Em Afterimage, título não traduzido que chega ao mercado exibidor brasileiro no próximo dia 17 de agosto, não é diferente. O fim de uma carreira emblemática, usando a sétima arte como ferramenta de denúncia e do não esquecimento sobre a história de um país que viveu de perto.