14/06/2021

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Crítica do filme: 'Acqua Movie'


No fundo a gente é tudo índio! Falando sobre o luto, relacionamento distante entre mãe e filho, a terra, os indígenas, o extremismo, a conversa na bala, rituais culturais, nordeste semiárido, Acqua Movie, dirigido pelo cineasta pernambucano Lírio Ferreira mostra também a poesia e as metáforas da vida, como conseguem ser reunidas pelos simbólicos momentos da água, quase um plano dentro dos planos, nos conflitantes diálogos, nos momentos de análise e entendimento sobre um monte de porquês que o filme se coloca como reflexão. Protagonizado pela excelente atriz Alessandra Negrini (uma das melhores atrizes do cinema brasileiro), esse road movie vai à fundo nas questões indígenas, no olhar desconfiado e violento do homem branco.


Na trama, acompanhamos Duda (Alessandra Negrini), uma mãe que volta para casa às pressas após a morte inesperada do pai de seu filho Cícero (Antonio Haddad Aguerre), um jornalista renomado da televisão. Mas a tensão está no olhar, na expressão, mesmo em poucas falas entendemos que a relação entre os dois é bem distante por conta dos inúmeros compromissos que sua Duda possui no seu lado profissional, como documentarista, inclusive tendo uma equipe de filmagens esperando ela na Amazônia para rodar um documentário. Buscando uma reaproximação com o filho, a protagonista resolve embarcar junto com o filho, de carro, rumo a cidade de origem do pai de Cícero para deixar lá as cinzas dele. Passando por lindas paisagens, percebem as belezas da natureza mas também a ganância do poder bem evidente.


Aquele que julga também é aquele que será julgado. Dentro do Road Movie, principalmente nos arcos intermediários, vamos conhecendo mais o semiárido nordestino, mais precisamente a cidadezinha de Nova Rocha em Pernambuco, quase separada por um rio da Bahia, que substituiu uma cidade que fora tomada pela água e onde nasceu o pai de Cícero, comandada pela família do pai, que domina essa região no interior de Pernambuco faz muitos anos, o que gera conflituosos momentos com a mãe.


Uma busca por inventar o instante contínuo como se fosse algo acoplado às ações dos personagens é um grande mérito de Ferreira que além de tudo joga uma lupa numa relação nada amistosa de uma mãe distante e um filho com dúvidas sobre o mundo. O projeto navega pela crítica, pelos desdobramentos dessa relação conflituosa entre mãe e filho, pela questão indígena. Mais do que qualquer livro, que muitas vezes não chegam na profundidade pedida para determinadas questões, o jovem Cícero passa por grandes aprendizados pois aprenderá que é difícil fingir que está tudo bem vendo os momentos reais de uma luta pela existência que nada mais é algo que sua mãe acredita e denuncia pelo seu trabalho.