26/09/2020

Crítica do filme: 'Seremos Ouvidas'


O cinema tem esse poder de fazer por exemplo a comunidade surda se sentir orgulhosa e representada com uma obra que rompe fronteiras das mais diversas que podemos imaginar. Segundo filme da cineasta Larissa Nepomuceno, Seremos Ouvidas mostra um pequeno recorte do movimento feminista surdo. Informativo e interessante para todos os públicos, o estudo da diretora foi amplo e bastante certeiro, assistiu muito filmes sobre surdez ou pessoas surdas e não perde o quadro, com as mãos e os troncos sempre visíveis para as pessoas surdas quando assistirem poderem entender o filme por completo.

Ao longo do filme, de 15 minutos, conhecemos três corajosas mulheres surdas. Conhecemos Gabriela, 28 anos, feminista, negra, mãe de dois filhos, trabalha com palestra sobre violências contra a mulher. Após estar sofrendo e amparada pela família, resolveu pesquisar sobre o machismo através de sessões de terapia e passou a entender melhor o tema e resolveu ajudar a outras mulheres que vivem ou viveram o mesmo drama. Também conhecemos Celma, psicológica, que atendeu vários pacientes surdos que explica de maneira bem simples que é preciso mostrar o sofrimento para se identificar. Tem também Klicia, de João Pessoa, professora de literatura surda. Cordelista, faz poesias sobe cultura nordestina. Ela já foi assediada duas vezes, e numa dessas perguntou como que iriam acreditar nela já que não existem meios de comunicação que façam o atendimento de maneira clara e detalhada de denúncias para pessoas surdas. Quando uma mulher que não é surda liga para denunciar um abuso ela consegue se comunicar facilmente e procurar proteção. E as mulheres surdas? Como vão agir se passarem por abusos? Klicia sugere um aplicativo para ajudar as mulheres surdas nessas horas.


Passando pelo movimento feminista de surdas e a violência que muitas mulheres sofrem, outra forte questão levantada e uma das conclusões que chegamos quando assistimos aos relatos é a de que há muita pouco informação sobre a comunidade surda. Falta acessibilidade, palestras e bom senso. Um filme importante, curto, mas que levanta ótimos debates.